WTCR, Itália: Competição em apuros após vergonhosa corrida 1
A saúde do WTCR não era a melhor, mas o que observamos na corrida 1 em Vallelunga foi um triste espetáculo e a prova que algo tem de mudar e depressa na Taça do Mundo de Carros de Turismo. As polémicas sucedem-se e este fim de semana poderá ter sido um dos golpes mais rudes na competição da FIA, talvez ainda mais do que o cancelamento da ronda alemã (devido a problemas nos pneus Goodyear que não garantiam a segurança dos pilotos para o desafiante traçado alemão). Hoje, em Vallelunga, vimos vários pneus a falharem, o que colocou em causa a questão da segurança.
A corrida começou de forma surpreendente, com os cinco carros da Lynk & Co a fazerem apenas a volta de lançamento, entrando nas boxes em vez de alinharem na grelha de partida. A Cyan Racing já ameaçara que poderia não correr, pois os pneus Goodyear não dava garantias de segurança. Aliás, Tiago Monteiro também se queixou de um comportamento estranho dos pneus na qualificação. A Lynk & Co fez simulações e concluiu que os pneus conseguiram aguentar as exigências da qualificação, mas não conseguiriam aguentar a corrida:
“A nossa decisão foi tomada porque não acredito que possamos completar uma distância completa de uma forma segura”, disse Fredrik Wahlén, director de equipa da Cyan Racing, citado pelo touringcartimes.com. “Fornecemos informação a todos os intervenientes do WTCR de que a situação combinada do peso [do carro] e dos pneus torna a equação impossível. Não é a decisão que queríamos tomar, mas uma solução adequada para esta questão não foi encontrada desde o início do fim de semana de Vallelunga até agora”.
A equipa jogava pelo seguro e também fazia jogo político pois a questão do BoP e do lastro de sucesso desagrada à equipa. Assim, a corrida começava apenas com 11 carros, para desagrado de Yann Ehrlacher que vê assim as contas do título complicarem-se sobremaneira.
Quando a corrida começou, Nestor Girolami (Honda) largou bem e manteve-se na frente, mas melhor arranque para Mikel Azcona (Hyundai) que tentou passar o Honda do argentino, sem sucesso. Girolami e Azcona afastaram-se de Nathanael Berthon (Audi), que era pressionado por Giles Magnus (Audi), que seguia à frente de Norbert Michelisz (Hyundai), Mehdi Bennani (Audi), Esteban Guerrieri (Honda), Attila Tassi (Honda), Tom Coronel (Audi) e Rob Huff (Cupra). Monteiro era 11º.
As posições estabilizaram-se, mas quando faltavam 20 minutos para o fim da prova, Tiago Monteiro e Mehdi Bennani apareceram com os respetivos pneus dianteiros esquerdos desfeitos. Os engenheiros dos pilotos da frente avisavam para o risco de furos, olhando ao que aconteceu a Monteiro e Bennani, com Tassi também a parar pouco depois com um furo. Tassi e Bennani regressaram à pista pouco depois, tal como Tiago Monteiro, pois havia pontos em jogo, mas a questão dos pneus marcava de forma indelével esta corrida. Ainda não tínhamos passado o meio da prova.
A 15 minutos do fim Berthon também saiu de pista com um furo, exatamente no pneu dianteiro esquerdo. Berthon regressou à pista e a ordem na frente era Girolami, Azcona, Magnus, Michelisz, Guerrieri, Coronel, Huff, Tassi, Berthon e Bennani. Rob Huff parou com dez minutos para o fim, também com problemas no pneu dianteiro esquerdo e passávamos a ter uma corrida de sobrevivência.
O Safety Car foi acionado a oito minutos do fim da prova, para limpar a pista da muita gravilha e detritos que estavam em pista. A corrida recomeçou quando faltavam pouco menos de 2 minutos para o fim, no que seria um sprint até a bandeira de xadrez. Girolami recomeçou bem e afastou-se de Azcona, mas o espanhol aproximou-se do Honda e desferia um ataque final, enquanto Magnus se defendia de Michelisz, numa altura em que Guerrieri também tinha problemas no seu Honda (não ficou claro que se foi pneu ou outra questão técnica).
O final da corrida foi também atribulado pois a bandeira de xadrez não foi mostrada quando era esperado o que causou confusão. Girolami acabou por vencer (sem ver a bandeira de xadrez), seguido de Azcona e Magnus.
Foi uma corrida 1 péssima para o espetáculo e para a competição. Uma grelha de 11 carros numa competição FIA é grave, uma equipa não correr com receio que os pneus não aguentem é ainda mais grave. Pior só mesmo a confirmação dos receios da equipa, vendo 6 furos numa corrida sprint. Para a corrida 2, agendada para as 16, muitas dúvidas. Será que a Lynk & Co corre? Será que outras equipas tomam a mesma medida? O WTCR atravessa uma tempestade perfeita e pode não sair vivo desta época.
E eu a pensar que Indianapolis 2005 nunca se repetiria… Outra competição, outra fornecedora de pneus, outra localização, mas o mesmo drama. Incrível, é o menos que se pode dizer.