WTCR: Época encurtada, mas espetáculo garantido

Por a 5 Setembro 2020 11:25

Está prestes a começar a época 2020 da Taça do Mundo de Turismos da FIA. O WTCR está de volta com um calendário muito diferente do inicialmente previsto e com uma grelha reduzida. No entanto a qualidade mantém-se, assim como o nosso Tiago Monteiro.

2019 deu-nos provavelmente aquela que foi a melhor colheita do WTCR, no segundo ano com este formato. Depois da estreia auspiciosa em 2018, 2019 trouxe ainda mais carros, mais pilotos de renome e mais apoio das marcas, proporcionando um excelente espetáculo que, no fim, coroou Nobert Michelisz o agora dono da taça. O sucesso da fórmula era claro e por isso foi com alguma surpresa que vimos o WTCR perder alguma pujança no começo deste ano. A Volkswagen deixou de apoiar a competição a nível oficial, tal como a Audi, o que implicou a saída da competição da Sebastién Loeb Racing, que correu com quatro Golf GTi TCR em 2019 e da WRT, que também alinhou com dois RS3 LMS. Nomes como Jean-Karl Vernay, Rob Huff, Johan Kristoffersson, Mehdi Bennani ficavam, sem máquina para continuar.

O cenário não era tão animador quanto o que vimos em 2019 e ficou pior com a entrada em cena da Covid-19, que atropelou todos os planos do mundo do desporto motorizado e o WTCR não foi excepção. Os adiamentos e cancelamentos foram-se sucedendo e as dificuldades financeiras que a crise provocou, ameaçava o número de inscrições. Mas, como sempre, o WTCR soube reinventar-se e encontrar soluções interessantes e, desta vez, com a dose certa de pragmatismo, criando um calendário encurtado, com um formato revisto, para permitir atrair mais interessados, diminuindo os custos. O resultado deverá proporcionar uma competição com todos os ingredientes que temos visto desde a introdução do WTCR, apesar das limitações.

O calendário

Em 2020, o WTCR terá apenas seis datas, num calendário que irá de setembro a novembro, com a particularidade de todas as provas serem realizadas em solo europeu. Todas as equipas inscritas nesta época tem sede em países da Europa e a Eurosport Events, quis reduzir ao máximo o custo e como tal eliminou as longas viagem para fora do velho continente. Para manter o estatuto de taça do mundo teve de pedir a bênção da FIA, pois para manter esse estatuto tem de passar por, pelo menos, três continentes diferentes. Vimos uma alteração de última hora da prova abertura, com com os responsáveis de Salzburgring a decidirem de um momento para o outro não receber a taça do mundo (algo que irá levar a uma ação judicial por parte do promotor da competição), passando a primeira ronda do ano a ser em Zolder, juntamente como TCR Europe. Eis o calendário para esta época:

Zolder, Aragão e Adria são novidades para o WTCR, três palcos novos e distintos que colocarão as equipas e os pilotos à prova de forma muito diferente. Destacam-se obviamente as ausências de Macau e Vila Real, dois dos circuitos mais exigentes e espetaculares do calendário, mas que por força da pandemia tiveram de ficar de fora. Salta à vista também a diminuição do número de corridas passando de 30 para 16.

Formato com mudanças

Os fins de semana do WTCR incluirão sessões de treinos, uma qualificação com três fases e corridas sprint mantendo as grelhas invertidas para aumentar a emoção.

O formato da qualificação contará com uma Q1 (20 minutos) em que serão atribuídos pontos aos cinco primeiros ( 5-4-3-2-1). Os 12 mais rápidos garantirão presença na Q2 (10 minutos) que irá definir os cinco mais rápidos que irão para a Q3 e que terão uma volta lançada para fazer o melhor tempo e conquistar a pole, sendo novamente atribuídos pontos, da mesma forma como na Q1.

As grelhas serão formadas da seguinte forma:

Nos fins de semana com três corridas, a grelha da Corrida 1 será definida pelos resultados da Q1, na Corrida 2 teremos a grelha invertida como habitualmente (10º tempo da Q 2 terá pole e o mais rápido da Q3 sairá de décimo) e a Corrida 3 usará a ordem obtida na Q3 para os cinco primeiros, sendo os restantes lugares ocupados de acordo com os tempos feitos na Q2 e Q1.

Nos fins de semana com apenas duas corridas o formato será já familiar para os fãs do WTCC com a Corrida 1 a ter grelha invertida a corrida 2 a usar a ordem obtida na Q3, Q2 e Q1.

A corrida 1 na Alemanha é decidida pela classificação final de qualificação com as posições 1-10 alinhando na ordem inversa. A grelha da corrida 2 decidida pela ordem de qualificação. Os cinco mais rápidos marcam pontos (10-8-6-4-2).

Além disso, existirão medidas que visam a redução de custos e que incluem:

  • Um dia de teste oficial em Zolder antes da corrida WTCR da Bélgica
  • 15% de redução no número de funcionários, com um máximo de 6 elementos por carro
  • Redução de 30% na alocação de pneus Goodyear (16 novos para o primeiro evento, 12 novos para o segundo evento, 16 novos para cada evento posterior)
  • Redução de 30% no custo do combustível para € 4 por litro
  • Os eventos incluem 2 sessões de treinos livres, 1 qualificação e 3 corridas (2 corridas na Bélgica e Alemanha)
  • O acesso ao circuito não é permitido até o final da tarde do dia anterior à verificação

Goodyear passa a ser fornecedor oficial

A Goodyear será a fornecedora de pneus, substituindo Yokohama após quatorze anos ao serviço da competição. A Yokohama decidiu focar-se no desenvolvimento de pneus para os campeonatos Super Fórmula e Super GT. É assim mais uma aposta forte da marca americana, depois de regressar em força ao endurance, apostando num mercado inesperado, mas que pode ser proveitoso para ambas as partes.

Lastro de compensação revisto:

Assim que a temporada de 2020 estiver em andamento, os tempos de volta da corrida não serão mais considerados para os cálculos do lastro de compensação, o que significa que apenas os tempos da qualificação contarão. Além disso, os cálculos serão feitos sem levar em consideração o efeito do lastro. Em vez disso, será aplicada uma correção aos tempos das voltas, de acordo com o lastro transportado nas provas anteriores.

As alterações nos regulamentos foram feitas para desencorajar as equipas a definirem tempos por volta mais lentos na corrida para ajudar a limitar a quantidade de lastro adicionado nas provas seguintes. Espera-se que os cálculos sejam mais precisos, com menos flutuações e mais próximos do desempenho real de cada carro.

Novos troféus para apimentar as corridas

Além dos títulos principais (para o piloto e para as equipas), serão atribuídos troféus ao rookie (estreante) do ano. Pilotos com menos de 23 anos poderão ser agraciados com este título, desde que não tenham competido em mais de três fins de semana de corrida na série antes desta temporada.

O WTCR reforçou a sua oferta para os pilotos privados e criou um troféu reservado exclusivamente para pilotos sem apoio das marcas. Apesar da regulamentação TCR não permitir o envolvimento direto das marcas, o WTCR cedo se tornou numa competição “semi-oficial” com as estruturas das marcas presentes em força para apoiar as equipas privadas. Além do apoio técnico, as marcas também ajudam fornecendo os seus pilotos de fábrica. Mas com a saída da VW e da Audi, e com uma grelha a diminuir de tamanho, o WTCR traz de volta a famosa competição para os pilotos privados, numa espécie de “remake” do troféu WTCC que foi atribuído de 2005 a 2017. A Eurosport Events determinará os pilotos elegíveis para o Troféu WTCR . Os pilotos que ganharam anteriormente um título no FIA WTCC ou WTCR não serão elegíveis. A lista de pilotos para o troféu será publicada antes da corrida de abertura.

Os participantes nestes troféus terão cobertura mediática a condizer e serão identificados com logótipos que ajudarão os fãs a entender quem compete nos referidos troféus.

Os artistas e as máquinas

Apesar da lista poder sofrer alterações, à hora a que este texto é escrito, temos 20 pilotos confirmados para esta época, longe dos 26 pilotos que foram confirmados no início da época passada, mas ainda assim um número mais que suficiente para proporcionar boas corridas, não esquecendo a possibilidade de vermos inscrições únicas o que poderá aumentar mais a grelha. Eles pilotam carros TCR que representam as marcas Audi, Cupra, Honda, Hyundai. Lynk & Co e Renault, que usam motores turbinados com um limite de potência de 360 cv e uma velocidade máxima de 260km/h.

Lynk&Co – Apenas uma mudança

Em equipa que ganha não se mexe e a Lynk&Co tinha poucos motivos para mudar o seu alinhamento. Andy Priaulx resolveu dar mais atenção à carreira do seu filho e saiu da estrutura, ele que foi também o piloto que menos se evidenciou do quarteto da marca chinesa em 2019. Yvan Muller e Yann Ehrlacher serão a dupla da Lynk&Co Cyan Racing, e Thed Bjork terá como novo colega de equipa Santiago Urrutia. O uruguaio impressionou nos testes que fez com a equipa e assegurou o lugar na Cyan Performance Lynk & Co (em teoria são duas equipas, mas na prática é apenas uma) Um alinhamento muito forte que garante claramente condições para lutar pelo titulo de piloto e por equipas.

Hyundai – Dois campeões e uma nova esperança

A Hyundai, que tem sido a marca referência no WTCR, manterá a aposta em quatro carros, mantendo a dupla campeã, Gabriele Tarquini e Norbert Michelisz (ambos com um título na competição, em 2018 e 2019, respetivamente), correndo pela BRC Hyundai N Lukoil Squadra Corse. Os outros dois Hyundai ficarão a cargo de Nick Catsburg e a grande novidade, Luca Engstler, filho de Franz Engstler e tido como uma das grandes promessas dos turismos para o futuro. A Hyundai mantém assim uma dupla fortíssima e experiente e acrescenta juventude com muito potencial, na Engstler Hyundai N Liqui Moly Racing Team, mantendo Catsburg que apesar de alguns incidentes em 2019 mantém toda a sua qualidade e reforçando a aposta no jovem Engstler que vai dar que falar.

Honda – Tudo igual na marca nipónica

A Honda mantém a o seu alinhamento para 2020. Esteban Guerrieri, Nestor Girolami, Attila Tassi e Tiago Monteiro são os pilotos para este ano. Qualidade, experiência e talento, com alguma juventude à mistura, permitirão à Honda sonhar finalmente com títulos este ano. Ao contrário do ano passado, em que os apenas os argentinos ficaram com a Münnich Motorsport, este ano os quatro pilotos ficarão sob os cuidados da estrutura germânica, após um ano dececionante com a KCMG, que não foi capaz de dar as mesma condições a Tassi e Monteiro desde o início da época. Guerrieri e Girolami ficam na ALL-INKL.COM Münnich Motorsport enquanto Tassi e Monteiro ficam naALL-INKL.DE Münnich Motorsport. Claros candidatios ao título, a Honda deverá ser uma ameaça bem maior à Hyundai e à Lynk&Co em 2020.

Audi – sem apoio oficial mas ainda com três carros

A Audi retirou o apoio oficial, mas irá ser representada com três carros assistidos pela Comtoyou, que irá trabalhar exclusivamente com máquinas alemãs este ano (em 2019 assistiu dois Cupra TCR). Nathanaël Berthon, e Tom Coronel já são caras conhecidas a quem se junta Gilles Magnus que depois de uma época no TCR Europe dá o salto para um palco maior. Não se espera que a esta equipa lute regularmente por vitórias, mas quem sabe se nas grelhas invertidas poderemos ver um Audi a dar nas vistas.

Cupra – Zengo de regresso

A Zengo está de volta ao palco maior dos turismos, depois de uma ausência de um ano. A equipa húngara irá assistir os novíssimos Cupra Competición TCR, a nova máquina da marca espanhola para as pistas. A equipa aposta novamente (como é habitual) em pilotos húngaros com Bence Boldizs e Gábor Kismarty-Lechner a fazerem a estreia no WTCR. O terceiro piloto será Mikel Azcona, o talentoso espanhol que no ano passado foi o melhor estreante e mostrou grande potencial. Cairá sobre ele a responsabilidade de mostrar do que é capaz a nova máquina.

Alfa Romeo – Apenas um carro este ano

A Team, Mulsanne que assiste os Alfa Romeo construidos pela Romeo Ferraris não tinha planeado competir em 2020, estando a apostar forte no projeto do ETCR, mas como os custos foram reduzidos a equipa voltou atrás e irá colocar um carro em pista com um nome de peso ao volante. Jean-Karl Vernay terá como missão mostrar que o Giulietta Veloce TCR é capaz de se intrometer na luta pelos lugares cimeiros, tarefa que se antevê difícil para o talentoso piloto francês.

Renault – A grande novidade

Pela primeira vez veremos um Renault nas pistas do WTCR com a estreia do Mégane RS TCR nas pistas da taça do mundo. A máquina construída pela Vuković Motorsport teve uma série de melhorias quer a nível aerodinâmico quer a nível de motorização que ajudarão nesta estreia num palco bem mais exigente que o TCR Europe onde competiram em 2019. Jack Young, campeão da Clio Cup britânica e que está ligado à equipa suíça desde o ano passado, será a aposta deste ambicioso projeto que vem trazer mais variedade à grelha.

Tiago Monteiro – Mais perto da glória

2019 foi um ano de altos e baixos para Monteiro. O piloto português fez o regresso a tempo inteiro à competição, mas não teve a vida facilitada. Além de ter de recuperar ritmo competitivo, teve ao seu serviço uma equipa sem experiência no WTCR e que pagou caro por essa inexperiência nas primeiras rondas do ano. Agora com a Münnich Motorsport, que deu todas as ferramentas para Guerrieri lutar pelo título até ao fim da época, Monteiro espera mostrar com mais regularidade o que fez em Vila Real, com uma vitória épica e um dos momentos mais altos do desporto motorizado em 2019. Monteiro tem a experiência, o talento e o conhecimento necessários para estar no topo e agora tem a equipa certa para conseguir lutar por pódios, apesar da concorrência ser muito forte. Num ano que tem sorrido tanto ao automobilismo nacional, era bom vermos mais um candidato a um titulo internacional. Os ingredientes estão reunidos. Basta esperar e ver se a receita resulta.

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