O que se passa com o WTCR?

Por a 24 Julho 2022 12:32

O WTCR atravessa uma fase negra. A competição maior de carros de turismo da FIA levou um golpe tremendo com a pandemia e procura recuperar a forma de 2019. Mas o caminho não tem sido fácil, repleto de pedras que têm motivado tropeções.

O WTCR em 2019 era uma competição pujante, com grelhas cheias, por vezes em demasia até, tirando o máximo partido dos TCR, que foram a salvação dos turismos, depois da era dos TC1, máquinas impressionantes mas demasiado caras para a realidade de muitas equipa privadas. Com os TCR, os custos diminuíram, os interessados aumentaram e as grelhas foram ficando cada vez mais cheias. Em 2019, 28 pilotos pontuaram para a competição e mais 15 foram admitidos como Wild Cards. O WTCR era interessante de seguir e parecia ter saúde para dar e vender. Mas a Covid 19 roubou o ímpeto à Taça do Mundo.

A pandemia obrigou equipas e competições a gastarem dinheiro sem grande retorno, uma vez que os calendários tiveram de ser repensados e encurtados e as medidas de segurança tiveram de ser reforçadas. O mundo do WTCR de 2019 deixou de existir, muitas equipas deixaram a competição e muitas marcas repensaram o envolvimento. Basta ver que de 2019 para cá, vimos a saída do Grupo VAG da competição (menos 4 carros a tempo inteiro), da Romeo Ferraris (menos dois carros), assim como o desinvestimento da Cupra (menos dois carros) e Hyundai (menos dois carros). A saída das equipas semioficiais, apoiadas pelas marcas não foi colmatada com equipas privadas, que também tentam encontrar formas de se reerguer depois do choque da pandemia, que ainda se faz sentir e que foi agravado com a guerra na Ucrânia.

O cenário não é o melhor para a Taça do Mundo, mas tem piorado e a culpa também é do promotor. Para começar há a questão do calendário. Estamos em finais de julho e ainda não temos um calendário completo para o WTCR, uma vez que a ronda asiática, que passaria pela Coreia do Sul, China e Macau foi cancelada mais uma vez, com as restrições de acesso a esses países ainda demasiado severas. Era uma situação que já se adivinhava, mas que não foi acautelada devidamente e agora as equipas não sabem como e onde vai terminar a Taça do Mundo FIA. Uma indefinição destas é fatal para quem quer atrair patrocinadores e parceiros. Mais ainda, os custos da competição subiram muito e o AutoSport ficou a saber na ronda de Vila Real que uma época ronda agora os 1,2 milhões de euros (na Comtoyou). Muito dinheiro para um retorno questionável, tendo em conta que a grelha tem 17 carros (o promotor terá ajudado a entrada de última hora da Zengo para garantir o número mínimo de carros na grelha – 15). Há equipas que ponderam seriamente mudar-se para o TCR Europe.

O TCR Europe, que tem como líder o português Paulo Ferreira, continua a correr bem, com grelhas boas, circuitos interessantes e com um custo muito menor. É por isso que as marcas e equipas olham para a competição promovida pelo português como a opção ideal se o WTCR não melhorar. Houve até rumores que as equipas queriam abandonar o WTCR aquando do cancelamento da ronda alemã.

Esperava-se que este ano, para compensar a falta de pilotos a tempo inteiro, veríamos mais wild-cards mas até ao momento, apenas 1 se apresentou, na primeira ronda. Mais uma vez, os custos de entrada são demasiado elevados para que pilotos privados tentem a sua sorte. E os Wild-cards são importantes pois basta lembrar que José Maria Lopez e Esteban Guerrieri mostraram-se ao mundo quando foram wild-cards no WTCC.

Por fim, a questão dos pneus e do BoP. O BoP vai ser sempre motivo de polémica com os prejudicados a questionarem a validade da medida. Mas desta vez o cenário é diferente. A Lynk & Co continua a ser uma das mais prejudicadas e não camufla o seu desagrado. Em Vallelunga mostrou que tem muito peso e se a equipa resolver sair a meio, a Taça do Mundo pode parar, pois a equipa opera cinco carros ( os regulamentos foram contornados, pois na verdade só poderia operar 4 carros). Com o boicote à corrida 1 italiana, motivada pelo problema nos pneus, a grelha ficou apenas com 11 carros. Para piorar, a Goodyear não encontrou ainda uma fórmula certa para os pneus. Em Nordschleife as corridas foram canceladas por falta de condições de segurança e em Itália os pneus cederam (seis furos), com a Lynk & Co de fora constatando os seus receios.

O WTCR tem de encontrar um rumo muito rapidamente. Parece faltar liderança, desde que François Ribeiro passou para CEO da Discovery Events e Jean-Baptiste Ley assumiu as rédeas da competição. A única ronda que realmente esteve ao nível de uma competição FIA foi a de Vila Real, uma grande festa. Mas o presidente da Câmara já avisou que, ou o promotor ajuda mais, ou as portas de Vila Real podem fechar-se ao WTCR, pois há mais interessados. E se o WTCR perde Vila Real, fica mais pobre ainda. Basta ver o calendário deste ano e constatar que tirando Nurburgring, Hungaroring e Vila Real (pela festa que faz), o WTCR passa por palcos secundários (ao contrário do TCR Europe, que visita sempre pistas de topo da Europa). Esperemos que não seja o canto do cisne desta competição, que faz todo o sentido e tem muito potencial, mas é preciso fazer mais e melhor, ou arriscámo-nos a ver o WTCR abandonado por marcas e equipas. 

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