Circuito de Vila Real, José Silva: “Não são estes percalços que nos vão fazer desistir”

Por a 6 Julho 2023 16:39

Na semana passada, a notícia do cancelamento da prova extra campeonato de 6h das 24h Series, competição promovida pela Creventic, causou espanto nos fãs nacionais da velocidade. A 15 dias de um dos eventos mais aguardados do ano, a prova cabeça de cartaz caiu, com uma lista de inscritos demasiado pequena para a envergadura do evento. Na passada segunda-feira foi feita uma conferência de imprensa para explicar o que se passou, mas o AutoSport falou com José Silva, para tentarmos entender um pouco melhoro que se passou e qual o futuro do circuito.

Para começarmos a conversa, quisemos fazer uma “revisão da matéria” e quisemos saber como surgiu a hipótese Creventic e a prova de 6h:

“A escolha da Creventic surgiu depois de um contacto dos promotores com a APCIVR. Falaram a primeira vez connosco há dois anos, mais ou menos, e desde essa altura que eles têm mantido contactos regulares para organizar uma prova de resistência em Vila Real. A vontade inicial deles era fazer um segundo fim de semana em Vila Real, com uma prova de longa duração. Dissemos desde início que era impraticável fazer um segundo fim de semana de competição, mais ainda porque eles propunham uma prova de 12h. 

No ano passado estiveram cá em Vila Real a assistir ao evento e ficaram maravilhados com o que viram. Mostraram surpresa por verem que uma organização amadora consegue montar um evento desta dimensão e desta qualidade. E ficaram também surpreendidos com a paixão do público e o ambiente que se vive nas corridas. 

A Creventic desde início que nos quis inserir no campeonato deles. No entanto, estávamos focados no DTM e andamos em conversações durante muito tempo com os promotores germânicos. Sem fechar portas, dissemos que não era possível avançar com um acordo com a Creventic. Com a sucessão de acontecimentos que já é conhecida, em março voltamos a conversar com eles e demonstraram interesse imediato para vir a Vila Real. Fomos assistir ao vivo a uma prova deles em Itália e vimos grelhas cheias, com bons carros, muitos deles GT3. Com o que vimos, achamos que valia a pena arriscar.”

“A expetativa era receber entre 25 a 30 carros”

Arriscar a vinda de uma competição, para um evento extra campeonato, num traçado citadino, depois da época estar definida há algum tempo foi uma jogada arriscada, mas do lado da APCIVR e da Creventic, havia a convicção que se conseguiria uma boa grelha:

“Todos sabíamos que nesta altura era impossível incluir a prova no campeonato deles. Ainda se falou da hipótese de desistirem do Estoril para ficarem com Vila Real, mas não era exequível por dois motivos: pelo facto da prova do Estoril ser de 12h e a de Vila Real de 6, já com contratos firmados para um determinado tempo de pista; E, acima de tudo, por uma questão de princípio, pois se já havia acordo com o Estoril, não seria correto da nossa parte fazer com que rasgassem o contrato. A nossa postura é sempre construtiva em prol do desporto motorizado e não queremos prejudicar ninguém. 

A preocupação com o número de inscritos está sempre presente, independentemente das competições que recebemos, quer seja o WTCC, WTCR e até o CPV, além da qualidade dos carros, como é óbvio. E foi com essa preocupação em mente que escolhemos esta data, pois a Creventic visitava o Estoril e os interessados em correr em Vila Real tinham assim a vida facilitada e seria mais fácil convencer equipas e pilotos. A expetativa era receber entre 25 a 30 carros e a Creventic tinha a convicção que iria conseguir uma boa grelha. Só assim arriscariam como fizeram, pois Vila Real foi uma aposta forte deles. Eles anunciaram a prova aos quatro ventos e este cancelamento afeta-os muito também. Se tivéssemos a informação da parte da Creventic que seria difícil completar uma grelha com os números pretendidos, por certo não teríamos arriscado.”

“Falou-se na possibilidade de não fazer corridas, mas essa questão nunca foi equacionada”

Não foi um ano fácil para a APCIVR, que tentou várias soluções para trazer competições internacionais a Vila Real. Algumas pessoas defenderam que o ideal seria não fazer corridas este ano e apostar forte em 2024, mas José Silva afirmou que esse cenário esteve sempre fora de hipótese e que as corridas são um “dado adquirido”:

“Falou-se na possibilidade de não fazer corridas este ano e houve sugestões de algumas pessoas nesse sentido.  Mas para nós essa questão nunca foi equacionada, pois as corridas são um dado adquirido. O presidente Rui Santos [presidente da Câmara Municipal], o grande responsável pelo regresso das corridas e pela força que tem agora, nunca pensou em não fazer a prova. Mesmo nas reuniões da APCIVR, a grande maioria apontava para se fazer a prova este ano, independentemente de termos ou não uma prova internacional. O principal objetivo da APCIVR e também do município, é que o nome Vila Real fale mais alto. Que as corridas sejam vistas como uma grande festa no seu todo, independentemente das competições que estejam em pista. Sabemos que há provas que são mais apelativas que outras, mas queremos verdadeiramente que as pessoas queiram vir a Vila Real, mesmo sem conhecerem quem vem correr cá.”

“Chegamos a ter 22 pré-inscrições”

O processo que levou ao cancelamento da prova foi muito rápido. Apesar de a lista de pré-inscritos ter dado ânimo, quando as inscrições abriram, o número ficou aquém do esperado e foi preciso decidir com celeridade, como explicou José Silva:

“Fomos seguindo a par e passo a evolução da lista de inscritos, quase de uma forma diária. Quando a Creventic disse que iria fazer custo zero nas inscrições, revelou da parte do promotor uma grande vontade e um grande investimento. Eles foram-nos comunicando os pré-inscritos e a lista chegou às 22 pré-inscrições, com perspetiva de serem mais, isto talvez uma semana e meia antes do cancelamento. Quando as inscrições abriram, apenas foram feitas 15. E desde aí que houve muita preocupação por parte da Creventic e claro está, da nossa parte, pois assim, os números teriam tendência a diminuir. Houve inscrições que foram feitas e que depois foram retiradas, e a lista começou a diminuir cada vez mais. Quando nos disseram que apenas tinham 10 inscritos e que a perspetiva era de diminuir ainda mais, não houve outra solução senão cancelar a prova. E chegamos ao ponto em que tínhamos de tomar uma decisão para termos tempo de mudar o evento, decisão que foi tomada por nós e pela Creventic, sempre em consonância”. 

“Com a Creventic, conseguimos um acordo em que pagávamos zero”

Na conferência de imprensa de segunda-feira, foi referido um potencial acordo para trazer o TCR World Tour a Vila Real (competição que substiui o WTCR e que usa provas já estabelecidas de campeonatos regionais e nacionais para fazer um ranking. Desse ranking os melhores irão a uma final, onde se decidirá quem é o vencedor do World Tour). Algumas pessoas defenderam que essa seria sempre a melhor opção, mas José Silva explicou porque não houve World Tour em Vila Real:

“O World Tour foi-nos oferecido aquando das negociações com o promotor do ETCR. O François Ribeiro, com quem trabalhamos no WTCC e no WTCR, apresentou-nos um contrato que já tive oportunidade de mostrar, em que o TCR World Tour seria uma corrida de suporte, e que o ETCR seria corrida cabeça de cartaz. O “fee” a ser pago por nós seria de 100 mil euros. Como exigimos fazer parte do campeonato, eles propuseram, em contrapartida, sermos uma prova extra, mas com pontuação máxima para o TCR World Ranking. Continuamos a negar essa hipótese e então eles disseram que iríamos fazer parte do campeonato. Foi aí que recebemos a proposta que referi. Mas a FIA suspendeu o ETCR, e o promotor do evento, François Ribeiro, foi afastado. Outro promotor passou a assumir o World Tour e nessa altura, através de um contacto de um piloto de Vila Real, aconselhou-nos a contactar o promotor do TCR Europe. Falamos com ele, e de seguida falamos com o novo promotor do World Tour. Havia interesse em Vila Real, mas fizeram-nos uma proposta em que teríamos de pagar um “fee” de meio milhão de euros. Se antes tínhamos uma proposta com o World Tour e o ETCR por 100 mil, não podíamos aceitar uma proposta apenas com o World Tour por meio milhão. Com a Creventic, conseguimos um acordo em que pagávamos zero. A única despesa com a Creventic eram cerca 25 mil euros para combustível, dependendo do número de carros. E outra coisa que foi dita e que é falso, é que nós não pagamos a pilotos. Nos casos do Tiago Monteiro e do Tom Coronel, que foram falados, não iríamos pagar a nenhum deles. O Tom Coronel estava inscrito e vinha com um Porsche GT3 e tinha um patrocinador. O Tiago Monteiro tentou também, mas essa hipótese nunca chegou a ser fechada. Mas tínhamos outros pilotos internacionais interessados em vir e só não aconteceu porque havia sobreposição de provas. Não vou dizer quem são, mas espero que possam vir em breve”. 

A questão dos bilhetes já foi acautelada e quem quiser devolver o bilhete pode contactar a Ticketline, ou então dirigir-se à APCIVR para tratar do reembolso:

“Se as pessoas quiserem devolver o bilhete, nos devolveremos o valor. Antes de anunciarmos o cancelamento, demos logo instruções para que os bilhetes, que custavam 45 euros, passassem a custar 35 euros. Significa que as pessoas que compraram os bilhetes por 45, receberão a diferença. Para quem quiser devolver o bilhete, pode contactar a Ticketline ou dirigir-se à APCIVR e nós devolveremos o dinheiro.”

“Vamos continuar a ter provas internacionais em Vila Real”

Quanto ao futuro do Circuito, há várias opções em cima da mesa, segundo José Silva. A porta da Creventic continua aberta, mas há outras opções que estão agora a ser equacionadas:

“Temos em mãos várias possibilidades. Percebemos também as dificuldades que enfrentamos para trazer algumas competições. A incerteza no desporto automóvel é grande e torna-se quase impossível fazer planos a longo prazo com algumas competições. Vimos isso no caso do WTCC e do WTCR que acabaram em pouco tempo. São situações que não controlamos. Mas estamos a estudar várias hipóteses e algo que está assegurado é que vamos continuar a ter provas internacionais em Vila Real. Podemos ter um ano ou outros em que surjam mais dificuldades e que não possamos ter provas internacionais. Mas estamos sempre a trabalhar nesse sentido, pois essas provas são importantes para as pessoas que nos visitam e para os pilotos, as equipas e os campeonatos nacionais, que assim têm uma montra ainda maior para mostrar o seu talento.

Quanto ao futuro ainda teremos de tomar uma decisão. Se quisermos em 2024  fazer parte do calendário da Creventic, é apenas uma decisão nossa, pois temos as portas abertas, nos moldes da prova deste ano (3h+3h). Mas esta é apenas uma hipótese entre outras que estamos a estudar”.

“Independentemente da prova, teremos sempre competições nacionais em pista”

A provas nacionais passaram a ser o foco da edição deste ano, algo que agrada à APCIVR, apesar da ausência de uma prova internacional. José Silva vincou que Vila Real tem sempre em atenção as provas nacionais e que algumas críticas à falta de divulgação são injustas:

“As críticas não são justas. Sempre tivemos um excelente relacionamento com os pilotos, as equipas e os promotores nacionais. E eu tenho um acordo de cavalheiros com o presidente da FPAK, Ni Amorim, que independentemente da prova que venha a Vila Real, teremos sempre competições nacionais em pista. Com o DTM tínhamos asseguradas vagas para algumas competições nacionais, uma imposição nossa. Isto mostra a nossa vontade de receber as competições portuguesas. Mas claro que, para efeitos de marketing, anunciar a prova internacional tem mais impacto.”

“Não são estes percalços que nos vão fazer desistir”

A entrevista encerrou-se com uma mensagem forte por parte do presidente da APCIVR. Apesar dos contratempos, nada demove a associação, o município e o Clube Automóvel de Vila Real de continuarem a fazer uma das maiores festas do desporto motorizado do país:

“Sabemos que a esmagadora maioria dos vilarealenses querem as corridas. Mas sabemos que há pessoas que não gostam, de forma legítima. E há outras pessoas que esperam que o circuito não tenha sucesso. Mas para essas pessoas a mensagem a simples: nós não vamos desistir nunca. Nunca equacionamos não fazer corridas em Vila Real. Enquanto depender de nós, vamos ter corridas em vila Real e não são estes percalços que nos vão fazer desistir”. 

Fotos: Micael G. Liberato

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