Entrevista a Tiago Monteiro – O homem dos desafios

Por a 5 Abril 2020 12:02

Por Fábio Mendes

Tiago Monteiro é um nome incontornável do desporto automóvel nacional. Em entrevista exclusiva ao AutoSport, falou da situação atual, do passado e do futuro.

Tiago Monteiro conseguiu o que muitos sonham mas poucos conseguem… uma carreira de sucesso no mundo do desporto motorizado. Apesar do plano de vida inicial não contemplar as corridas, a paixão e o talento levaram um jovem Monteiro a apostar tudo num desporto difícil, onde se conseguiu impor, sendo o seu nome um dos mais respeitados.

Com 22 anos de carreira, tendo passado pelos maiores palcos do mundo, é no WTCR que Monteiro continua a sua arte. A conversa começou, inevitavelmente com a situação que vivemos, com o Covid-19 que entrou de forma violenta nas nossas vidas e no desporto motorizado. As consequências desta pandemia fazem-se sentir todos os dias e irão fazer-se sentir mesmo quando terminar: “Esta situação veio alterar tudo no desporto em geral, na vida de todos, nos negócios… Quando isto acalmar, o mundo não vai ser o mesmo e a forma como os eventos vão ser organizados vai mudar muito na minha opinião. Todos os desportos vão sofrer, algumas empresas vão morrer, as equipas vão sofrer. Há equipas que não vão aguentar uma paragem destas, quer no WTCR, quer nos GT, quer na F1 e falei recentemente com um diretor de equipa de ele disse que as coisas estão muito negras nesta fase.”

O WTCR vinha a acumular notícias negativas com várias marcas e equipas a sair da competição, mas Monteiro não vê isso com alarmismos: “O nosso campeonato vinha numa fase de transição. Não lhe chamo espiral negativa, pois creio que todos os campeonatos atravessam ciclos e este era mais um ciclo que estávamos a iniciar. Há três anos, o campeonato tinha 16 carros, o ano passado tivemos 30 carro e este ano tudo apontava para 20 ou 22 carros no máximo, com menos equipas a participar. Pessoalmente prefiro uma grelha com 20 carros e boas corridas do que a confusão que vimos no ano passado. Talvez desse boas imagens na TV, mas era muita gente na qualificação, na corrida e muita confusão. O nível era muito alto e cada pequeno erro pagava-se caro, especialmente em qualificação o que levava alguns pilotos a arriscar em demasia nas corridas.”

Soluções para esta crise

Dia-a-dia é a palavra de ordem. A cada dia surgem novidades e a incerteza é o denominador comum nesta fase: “Neste momento há muita indefinição. Não sabemos quando vamos voltar e quando voltarmos não sabemos quantas equipas terão sobrevivido. Claro que as equipas apoiadas pelas fábricas devem continuar, já as equipas privadas… Não sei como será, mas muitas vão sofrer mesmo. Neste momento vemos que estão a adiar os eventos e não a cancelar. O que significa que quando regressarmos em junho ou julho, teremos muitas corridas seguidas e os eventos que se mantiverem poderão ter três ou quatro corridas. É isto que tanto o WTCR como outros campeonatos, como a Fórmula E, estão a pensar fazer. No fundo, usar as corridas que sobram para ter um campeonato com um número de corridas decente.”

“É uma solução viável e talvez a única solução disponível neste momento para ter um campeonato com 18 ou 20 corridas. Claro que se calha num circuito que não nos favorece tanto é pena, se for num circuito onde somos fortes é bom. Eu pessoalmente não me importava de fazer três ou quatro corridas em Vila Real, Marraquexe ou circuitos citadinos.

Desafiado a colocar-se no papel de presidente da FIA, Monteiro falou de soluções para o futuro: “Para já, não quero ser presidente da FIA, nem tenho essa ambição porque é uma tarefa muito complicada. Nunca vais agradar a todos e haverá sempre a alguém a criticar e contra as decisões tomadas. É uma vida muito complicada que não me interessa. Mas obviamente tenho uma opinião e ideias. A questão do dinheiro e dos custos sempre existiu e vai existir. O desporto motorizado tem custos elevados por implicar muita gente, deslocações, aluguer de pistas, tecnologia. O limitar de custo é a grande questão. O que eu faria para já, era limitar a quantidade de campeonatos. Tantos campeonatos dispersam os meios. Creio que se devia manter a escada que já existe dos regionais, nacionais, campeonatos da Europa e do mundo, fazendo escalões com os mesmo regulamentos. Creio que teríamos mais gente, mais qualidade e daria para diluir mais os custos. Claro que isto é utópico porque nem todos os campeonatos são da FIA e todos querem o seu negócio. A regulamentação TCR, tal como a regulamentação GT3 pretende isso, limitar os custos e o nível de desenvolvimento dos carros. E os responsáveis estão a tentar fazer isso e temos o exemplo do ECU global no TCR, que será aplicado aos GT em breve, vai limitar muito o que se pode fazer ao nível da eletrónica.”

“Os novos regulamentos da F1 são interessantes”

Se há um campeonato onde se gastam grandes quantidades é na F1. O principio de que a tecnologia faz parte da competição e é cara, existe há muito tempo mas para o piloto português, há gastos desnecessários: “Na F1 há milhões de euros que são gastos que poucos sabem o que faz, muito menos o público. E qual a utilidade? Estamos a falar de dezenas de milhões de euros gastos em coisas mínimas que não ajudam ao espetáculo ou à evolução. São coisas que, por serem permitidas, todos têm de o fazer e fazer bem, mas contrata-se gente para desenvolver coisas que não trazem nem mais espetáculo nem evolução tecnológica relevante. Sim, demasiadas limitações na F1 seria prejudicial. A F1 sendo o topo do desporto automóvel tem de ter liberdade para desenvolver e criar. Mas há muita coisa que podia ser igual para todos, com custos reduzidos e ninguém veria a diferença. Esse é um tema muito falado nas conversas que tenho com alguns chefes de equipa e há coisas que não se percebem porque ainda estão implementadas.”

Os novos regulamentos que estavam previstos para 2021, pretendiam diminuir os custos e tornar a F1 mais sustentável, algo que agrada a Monteiro: “Os novos regulamentos são interessantes por causa disso. As melhores equipas vão continuar a ter os melhores carros, apesar das limitações. Algumas das equipas do meio da tabela podem dar o salto e serem uma surpresa, mas as equipas da frente serão as mesmas, porque tem muito talento, muitos recursos e arranjam sempre forma de dar a volta. Apesar de não estar por dentro dos pormenores, creio que os regulamentos novos são positivos, não irão desvirtuar o carro ao nível de performance, a componente tecnológica terá ainda muito relevo e o piloto continuará a ter de fazer a diferença.”

O equilíbrio entre tecnologia e custos é difícil de atingir, mas o #18 acredita que há dois campeonatos que o conseguem: “Neste momento há duas competições que têm esse equilíbrio: o WTCR e a Fórmula E. Os dois campeonatos conseguem, até agora, equilibrar bem as máquinas. No WTCR, por exemplo, tínhamos mais de vinte pilotos em menos de um segundo nas qualificações. É verdade que tínhamos muitos pilotos profissionais, mas ninguém consegue estar tão junto se as máquinas tiverem andamentos muito diferentes. Neste caso isso era conseguido pelo regulamento e pelo BoP. Na FE, há uma abertura cada vez maior nos regulamentos a cada ano mas, ainda assim, ainda estão a conseguir grelhas muito juntas onde o piloto faz a diferença. O meu único receio é ver os orçamentos subir de forma incrível nos últimos dois/ três anos e poderemos ter um problema semelhante ao que vemos na F1, com equipas muito a frente de outras e diferenças tecnológicas muito grandes. Mas creio que são os dois campeonatos mais bem geridos.”

A luta F1 vs FE começa a ganhar forma, mas olhando para o panorama atual, ambas têm lugar, segundo Monteiro: “Olhando para a situação, antes de tudo o que está a acontecer agora, a F1 será F1 para sempre, a não ser que o novo regulamento seja um desastre. A F1 irá manter-se como exponente máximo do automobilismo, com os construtores a trabalhar a tecnologia para uma maior eletrificação, se o futuro passar por aí. Se o futuro for elétrico a F1 será elétrica, se o futuro for o hidrogénio a F1 usará hidrogénio. A FE está a crescer de uma forma incrível e com mérito pois estão a trabalhar muito bem. Eu sou um grande fã do tipo de organização e do espetáculo que a FE faz. A FE continuará o seu crescimento e poderá chegar a ser tão forte quanto a F1, mas não irá substituir a F1. As duas competições terão o seu lugar no desporto motorizado. Mas isto olhando apenas ao que sabíamos há um mês, pois agora com esta situação é muito complicado saber o que vai acontecer.”

“Estava muito entusiasmado para esta época”

A época 2020 será a segunda de Monteiro no WTCR, depois do seu fantástico regresso no ano passado. As expetativas são altas com a entrada na Munnich, que este ano irá operar os quatro carros da Honda: “Estava muito entusiasmado para esta época e continuo pois espero que a competição regresse no verão. Tivemos já alguns testes e estavam agendados para esta fase mais doze dias de testes. Ia ser um verdadeiro programa de testes nas pistas quase todas da Europa, China, Malásia… Estávamos com um programa muito bom e a motivação na equipa era enorme. Já testei com a minha nova equipa e notei logo muitas diferenças em relação ao ano passado. Mais ainda, os quatro pilotos da Honda iriam trabalhar em conjunto e não uns contra os outros o que é mais uma vantagem.”

As maiores diferenças são a filosofia adotada por cada equipa ficaram claras depois dos primeiros testes: “As diferenças não eram muito grandes e a partir do meio da época passada, na KCMG, começamos a igualar o andamento da Munnich ALL-INKL, mas claro o nosso papel já era ajudar na luta pelo título. As grande diferenças foram nas três ou quatro primeiras corridas, percebemos qual era a diferença e agora percebo ainda melhor. Na Munnich focaram-se muito mais no trabalho nos pneus, eles passaram o inverno todo a trabalhar para a qualificação. 80% do trabalho feito foi para qualificação e 20% corrida. E faz sentido pois uma vez que largas da frente, ou tens um set up muito mau ou então aguentas as posições. Na KCMG havia uma visão mais global e não tão focada na qualificação e os meios disponíveis eram diferentes. Por exemplo o número de pneus usados em cada testes não tem comparação, e na ALL-INKL o número é muito superior, o que nos permite trabalhar o dia todo a qualificação. E como falamos de diferenças de um, dois ou três décimos que é aquilo que separa a pole de um lugar abaixo do top 10 por vezes, todos estes pormenores fazem a diferença. Por isso as grandes diferenças que vi, para já, são mesmo essas, um foco maior na qualificação, maior capacidade financeira (a Honda apoia todas as equipas da mesma forma mas cada equipa tem a sua capacidade financeira).

Creio que este ano vamos ter ainda mais condições para lutar pelo título, até pelo trabalho mais próximo entre os quatro pilotos da Honda. Há maior troca de informação e de ideias, algo que não acontecia no ano passado, apesar de algumas pessoas dizerem o contrário. Isso era um grande trunfo. Quanto à concorrência, a Lynk&Co já tinha começado a testar mas a Hyundai ainda não fez qualquer teste e iam começar apenas no final de março. Creio que este ano estaríamos mais bem preparados.“

O BoP é um tema frequente no WTCR, que leva a ameaças de algumas equipas, nada que surpreenda: “O BoP implica muito jogo político e esse jogo político acontece em qualquer campeonato. A Hyundai ameaçar sair é claramente uma estratégia deles. Já quando algumas pessoas que estão à frente da Hyundai, estavam na Honda a estratégia era a mesma, por isso conheço muito bem essa estratégia. Ameaçam até obter o que lhes interessa. Cada um tenta forçar o regulamento até chegar onde querem. E quando tive a minha equipa percebi a quantidade de coisas que se passam nos bastidores, a força política que é preciso para ser bem sucedido e isso pode fazer a diferença. Não tenho dúvida que a Hyundai, mesmo que continue a queixar-se, vai continuar a correr. Há equipas que o fazem bem e há outras que não o fazem. A Honda, por exemplo, não entra nesse tipo de jogos, nem que entrar.

“Cada piloto tem as suas dificuldades”

Monteiro sabe bem o que é preciso para ter sucesso e a força mental é fundamental para chegar ao topo: “Nunca é fácil para ninguém e o que tenho vindo a perceber ao longo destes 22 anos de carreira é que cada piloto tem as suas dificuldades. Claro que há um piloto que consegue vencer, mas todos passam por desafios e os que vencem talvez tenham tido desafios menos intensos, ou conseguiram enfrenta-los melhor. Basta ver o Norbert Michelisz, que esteve muito perto de vencer o campeonato em 2017 e por um problema nos travões não conseguiu, estando ele mais rápido nesse fim de semana. Tento aceitar as dificuldades, lutar contra elas para dar a volta. Mesmo nos anos que correm bem enfrentamos muitas adversidades e o que faz a diferença é como gerimos essas dificuldades. Eu escolhi a KCMG porque me parecia a melhor opção, não fiquei frustrado quando as coisas não correram bem e apenas me foquei em encontrar soluções para sair do momento menos bom e depois a meio da época conseguimos.

Todos os problemas tornaram-nos mais forte se conseguirmos lidar com eles psicologicamente. Qualquer atleta só consegue ter sucesso se tiver capacidade para gerir e lidar com os problemas que surgirem. O Lewis Hamilton por exemplo, embora não seja fã dele, considero que é um dos melhores atletas da modalidade, não só pelo talento mas acima de tudo pela sua capacidade psicológica para gerir as dificuldades. Enquanto que o Nico Rosberg, que era tão rápido quanto o Hamilton, não tinha a mesma capacidade. É nisso que me foco muito e o trabalho que desenvolvo com a minha equipa passa também pelo trabalho mental.“

Mesmo com os jovens pilotos ao seu encargo, Monteiro foca-se muito na vertente mental e física: “A parte que trabalho mais com os pilotos é mental e física. Na parte técnica há pessoas que o fazem melhor que eu e são essas pessoas que o fazem. Onde ajudo mais é na parte física e mental. É o que pode diferenciar um bom piloto de um piloto de top. Há muita gente com talento, mas além do talento é preciso uma capacidade mental muito grande para ter sucesso.

A estreia na F1 com 40 graus de febre

22 anos de carreira, tendo passado pelos melhores campeonatos do mundo, é algo ao alcance de poucos. A restropetiva da sua carreira é acompanhada com um óbvio sentimento de orgulho: “Olho para trás e orgulho-me do que consegui e do que conquistei, partindo do nada. Não nos podemos esquecer que não tinha isto programado. Comecei a correr aos 19 anos, quando estudava gestão hoteleira, nunca tinha andado de kart e a primeira corrida que faço nos karts, já estava na F1, foi algo completamente anormal. Quando vejo os resultados que tive e por onde passei, tenho sempre orgulho, mas quero sempre mais. Procuro sempre mais para mim e sinto sempre que posso fazer mais.

Um dos momentos mais marcantes terá sido o primeiro contacto com um F1 e toda a aventura que se seguiu a esse momento: “Lembro me perfeitamente do primeiro contacto com um F1, que foi num teste em Barcelona com a Renault que ganhei depois da temporada na Fórmula 3000. Lembro-me muito bem de tudo e do impacto que foi quando o motor começou a trabalhar. O ir para a pista e o sentir algo tão impressionante, quer na potência, quer no poder de travagem. Uma força tremenda, algo quase inimaginável, não dá para esquecer. Assim como não dá para esquecer os testes com a Jordan, a primeira corrida na Austrália quando dou por mim no grid ao lado de nomes como o Michael Schumacher, Fernando Alonso… semanas estava a jogar na Playstation com eles e naquele momento estava com eles em pista. E nesse fim de semana estava doente, com 40 graus de febre, por causa do lançamento na Praça Vermelha e passei o fim de semana a injeções. Só pensava para mim ´estou aqui na F1, doente e se fosse noutro caso estaria num hospital e agora vão me injetar para poder correr´.

A desclassificação que nunca chegou

Monteiro teve vários grandes momentos na F1, um dos quais o famoso pódio no GP do EUA, mas há outro momento marcante que quis partilhar connosco: “O pódio claro é um momento marcante, mas aquele ponto que fiz em Spa também foi marcante. Foi uma corrida impressionante em que arranquei de 16º, e começou logo mal, porque houve alguém na minha frente que não foi para a grelha, mas ninguém me avisou pelo que ocupei um lugar à frente do que devia. Quando fui avisado já estava parado e não podia fazer nada. Arranquei para a corrida convencido que iria ser penalizado, mas a corrida acabou e não aconteceu nada. A corrida foi de loucos com chuva, condições difíceis, Ultrapassei o Juan Pablo Montoya, o Ralf Schumacher o Jarno Trulli e até tive um toque com ele durante a corrida. Acabei em oitavo mas sabia que ia ser penalizado. Tínhamos um avião privado para Londres pois havia um evento nessa noite e depois dos festejos fui para o avião. Quando estávamos prestes a descolar recebo uma chamada que pensava seria da minha desclassificação, mas afinal era a confirmação do resultado.”

O piloto português já pilotou grandes máquinas, das melhores do mundo mas, esquecendo os F1, há um carro que marcou Monteiro: “O Champ Car também me marcou e tenho muitas saudades desse carro. Era um carro “à bruta”, muita potência, um bom chassis (nada comparado com a F1) e pista exigentes. Adorei a minha estadia nos Estados Unidos e adorei o carro. Ainda consegui uma pole no México e apesar de sermos uma equipa pequena, ainda fizemos alguns brilharetes. Por isso, tirando o F1, foi o carro mais impressionante que guiei. Os LMP1 também são, mas se tiver de escolher seria o Champ Car.

Desafiado a escolher as pistas preferidas, as escolhas foram óbvias: Vila Real, Spa, Macau são pistas incríveis. Gosto também de Sonoma, Road Atlanta. Há pista muito giras no mundo inteiro.

“Gostava de fazer Bathurst e estou com um projeto para breve”

Quanto a desejos para o futuro, há ainda provas que o #18 quer fazer, estando o Dakar incluído: “Eu estive inscrito no Dakar naquele ano em que foi cancelado por isso esta ainda está atravessada, quero participar e já tenho falado com o António [Félix da Costa] sobre essa possibilidade. Gostava de fazer Bathurst e estou com um projeto que poderá fazer com isso aconteça em breve. Gostava de fazer Daytona, nos protótipos, mas não me importava que fosse em GT, desde que numa equipa boa. “

O futuro parece ser elétrico, com o ETCR e Tiago Monteiro quer fazer parte dele, mas para já não tem nada em cima da mesa: “Eu tenho um dilema com o ETCR pois a Honda não está envolvida nem está interessada. Eu sou apologista dos elétricos, e se for bem feito podem vingar no desporto automóvel. Não quero deixar para trás o motor de combustão, até porque o teremos de manter, mas acredito que o elétrico pode ser viável e vai vingar no desporto automóvel. E gostava muito de estar envolvido no ETCR, mas a Honda para já não quer entrar. Visto o que eles anunciaram com corridas algo atípicas estilo ralicross… não sei se será o formato ideal. Entendo que não quisessem copiar o WTCR mas porque não fazê-lo? Podiam fazê-lo sem comparar as performances dos carros pois inicialmente os ETCR serão mais lentos e apesar da maior potência o carro é muito pesado. Podiam fazer em pistas diferentes ou então nas mesmas pistas e assumir a diferença que todos reconhecem existir. Agora mudar completamente o formato acho arriscado. Mete-me um bocado de medo que estejam a complicar demasiado as coisas para tentarem ser diferentes.”

O conselho de Villeneuve

A vida no desporto de alta competição é dura e certos conselhos tornam-se importantes. Um dos que mais marcou foi dado por Jacques Villeneuve: “Um conselho que me deram e que é difícil seguir quando estás lá, foi me dado pelo Jacques Villeneuve. Eu era amigo dele antes de ser campeão e passei muito tempo com ele nesse ano e ainda nem corria nessa altura. Quando comecei a correr ele disse-me uma coisa: ´daqui para a frente, se tiveres sucesso vais ter muita gente a querer deitar-te abaixo, com inveja e a falar mal de ti e a falar do que não sabe. A primeira coisa que deves fazer é não ler jornais e não falar com ninguém que não seja do teu circulo de pessoas de confiança. Concentra-te apenas no que fazes e dá sempre o teu melhor e a partir dai ninguém te pode criticar. E é verdade que quando estamos lá por vezes é frustrante ler e ouvir certas coisas e agora ainda mais com as redes sociais, de pessoas que não sabem nada do que realmente se passa. Eu também digo isso aos meus pilotos; durante o fim de semana não leiam as redes sociais não liguem a nada disso e concentrem-se apenas no que estão a fazer. “

Falar com Tiago Monteiro é sempre um privilégio. Não é um piloto que olha apenas para o que se passa dentro de pista. Além do talento ao volante, tem a inteligência de entender o mundo que o rodeia e de aproveitar as oportunidades que surgem. Também por isso é respeitado por onde passa. Um dos nossos melhores representantes portugueses que muito tem ainda para dar e que nos vai mostrando um pouco mais do que é o desporto automóvel por dentro.

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Cágado1
4 anos atrás

Boa entrevista. Ajuda a preencher a quarentena. Obrigado.

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