Crónica: ‘O’ ano de Tiago Monteiro

Por a 5 Abril 2016 11:45

No final de 2015, em Barcelona, num evento da Honda no circuito de Castelloli relacionado com o Civic Type-R, Tiago Monteiro interrompia a primeira sessão de testes ao volante do novo Civic para o WTCC para se assumir como o convidado-estrela dos automóveis, juntando-se a um painel de luxo composto por Marc Marquez, Dani Pedrosa e Toni Bou.

A comitiva integrava essencialmente jornalistas da Península Ibérica, daí não ser de admirar a escolha final. Mas na verdade Tiago seria sempre o representante óbvio do departamento das quatro rodas (no limite, os pilotos da F1 Jenson Button e Fernando Alonso, embora a associação seja mais rebuscada quando se pretende fazer a correspondência  do carro de competição, Civic WTCC, com o carro do dia-a-dia, Civic Type-R). E sê-lo-ia porque conquistou esse título por direito próprio.

Fala fluentemente quatro ou cinco línguas, é reconhecido pelos seus pares pelo seu enorme profissionalismo e já participou no desenvolvimento de outro tipo de viaturas (o New Stratos de Michael Stoschek é um bom exemplo). Tem ainda uma excelente conduta fora da pista, é pai de dois filhos e junta a tudo isso uma grande disponibilidade e simpatia.

Depois, com a saída de Gabriele Tarquini, tornou-se efetivamente no homem em quem a Honda deposita maior confiança (e responsabilidade, naturalmente) no desenvolvimento do carro e no ataque ao título do WTCC, além de estar a celebrar o seu quarto ano de ligação à família japonesa, longevidade que também diz muito sobre as suas qualidades.

Tiago Monteiro, Dani Pedrosa e Marc Marquez

Recordo-me que nesse evento Tiago mostrava um certo optimismo. Pode dizer-se que todos os anos é a mesma conversa, e que todos os anos surgem promessas que depois não são cumpridas. Mas muito do profissionalismo também vem de ‘proteger a marca’ quando se tem as mãos ‘atadas’. O Civic Type-R, por mais bonito que possa ser, foi sempre penalizado pelo formato da carroçaria ‘hatchback’ e por ter à sua disposição um motor menos potente quando comparado com os seus rivais. E a JAS, por maior experiência que tenha no desenvolvimento de carros de corrida, não se pode comparar a uma Citroën Racing, com a agravante de haver comunicação paralela entre Itália e Japão (e já se sabe que os nipónicos, na mecânica, são obsessivamente controladores), enquanto os franceses tratam de tudo no mesmo sítio e na mesma língua, sem falhas de interpretação  e sem ‘paternalismos’.

Não estou aqui a defender o Tiago, até porque ele não precisa de ser defendido. O seu trajeto fala por si. Ninguém sem talento participa em mais de 200 corridas de um dado campeonato, neste caso o WTCC. Mas, regressando a Barcelona, o entusiasmo era desta feita diferente. E havia razões para isso. A Citroën tinha anunciado a sua saída do Campeonato do Mundo de Carros de Turismo, e a Honda, ao mesmo tempo, tinha chegado à conclusão de que era preciso investir mais para sair na frente. Primeiro passo? Apostar em três carros, coisa que a Citroën sempre teve e que, desta feita, ironia do destino, não tem. Segundo, desenvolver muito mais a viatura. Por fim, ‘agitar’ a equipa, com a saída de Tarquini, amigo pessoal, e a entrada meritória de Norbert Michelisz e do campeão de 2012 Robert Huff.

Acredito que este pode ser ‘o’ ano de Tiago Monteiro. E que a sua posição saiu reforçada com estas mudanças. Se até aqui contou sempre com um carro desenvolvido por Gabriele Tarquini, desta feita pôde influenciar o Civic com outro ‘peso’ graças ao fortalecimento do seu estatuto no seio da Honda. Depois, quis provar que, independentemente do(s) companheiro(s) de equipa, e sem o ‘conforto’ da amizade do italiano, é capaz de ser tão rápido como os demais.

Os primeiros resultados são muito animadores, e após a ronda inaugural de Paul Ricard o português ocupa o segundo posto do campeonato. Só que a Citroën continua na dianteira, até porque ‘carrega’ o lastro que a Honda (ainda) não tem. Robert Huff acredita ter condições para ser campeão com a Honda, mas o segundo e quarto lugares de Tiago Monteiro na jornada francesa são uma ameaça real, com o próprio Lopez a mostrar-se surpreendido com a determinação e andamento do nº18.  “Early days”, como dizem os ingleses. Mas muito positivos.

 

Veja também:

Vídeo: Tiago Monteiro faz balanço da temporada de 2015 – 1ª parte

Vídeo: Tiago Monteiro faz balanço da temporada de 2015 – 2ª parte

 

 

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4 Comentários
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can-am
can-am
8 anos atrás

Simpático é, e isso tem sido uma das chaves para se manter no meio durante tantos anos , o problema é que nunca se caracterizou propriamente por ser um piloto muito rápido, e veja-se no Domingo onde o Huff estreante na equipa ganhou logo à primeira. Não é bom para o Monteiro que já lá anda há tantos anos.

Kimi Iceman
Kimi Iceman
Reply to  can-am
8 anos atrás

Se bem que o Huff ganhou mas foi na grelha invertida, o Monteiro teve que apanhar com o Muller e o Lopez.

thetouringcarguy
thetouringcarguy
8 anos atrás

Se o Tiago realmente quer ser campeão este ano tem que conseguir ganhar e colocar-se á frente do campeonato já na Eslováquia antes que o Honda fique mais pesado ou o citroen fique mais leve

thetouringcarguy
thetouringcarguy
8 anos atrás

desculpem a minha ausência durante os últimos tempos.

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