Circuito de Vila Real não está garantido para 2023
O presidente da Câmara Municipal de Vila Real agendou uma conferência de imprensa no último dia de festa. Esperava-se uma declaração positiva em que provavelmente se iria enaltecer o regresso da festa transmontana que mobilizou milhares de pessoas nas ruas da cidade. No entanto, o tom do discurso foi bem mais sombrio e pouco entusiasmante. Rui Santos reuniu os media presentes no evento para deixar um aviso bem claro: ou todos fazem um esforço, ou o Circuito de Vila Real não acontecerá em 2023.
E quando se disse a todos, Rui Santos apontou o dedo especificamente à CCDR-Norte, ao Turismo de Portugal, às forças políticas da cidade, FPAK e Discovery Sports Events (promotor do WTCR).
O presidente da autarquia não garante neste momento a realização do CIVR em 2023, afirmando ainda que “esperava mais da Discovery Sports Events” no regresso da Taça do Mundo de Carros de Turismo ao evento com mais público do calendário.
O custo da vinda do WTCR a Vila Real tem crescido ao longo dos anos, mas nem por isso o espetáculo tem melhorado. Se compararmos 2019 a 2022, há um claro decréscimo no número de inscritos (17, contra 28 da última edição pré pandemia), houve pouco esforço extra para promover aquele que é um dos maiores, senão o maior evento do calendário do WTCR e as exigências para com a organização nacional continuam as mesmas. Mas Rui Santos apontou também o dedo às entidades governamentais, argumentando que se há dinheiro do Turismo de Portugal para eventos como a F1, faz sentido que haja também um financiamento maior para Vila Real, que consegue todos os anos números impressionantes de público a assistir às corridas.
Outra das entidades visadas foi a FPAK, nomeadamente o ‘fee’ que é dado à federação para que se possa receber a Taça do Mundo.
Rui Santos questionou o dinheiro que é pago à federação, quando é o evento que mais retorno dá, onde as inscrições são mais caras e onde as grelhas estão mais preenchidas. O autarca pretende que a FPAK reveja o dinheiro que recebe de Vila Real e que haja um tratamento de acordo com a importância da prova no panorama nacional e internacional.
Ni Amorim falou ao AutoSport e referiu que entende as preocupações do presidente vilarealense. Reconhecendo a importância do evento, o presidente da FPAK explicou que a taxa que recebe é das mais baixas e que fez questão de confirmar com o seu homólogo espanhol o valor que foi pago na ronda de Aragão do WTCR, dizendo que a federação espanhola recebeu bem mais do que a FPAK no caso de Vila Real.
Mais ainda, mostrou-se disponível para encontrar soluções e mais apoios para ajudar a organização e que a FPAK já faz esse esforço de encontrar apoio governamentais (pelo IPDJ) e que se podia ir mais além, mas que esse esforço depende do governo e que há outros desportos que têm mais facilidade em receber dinheiro.
Ni Amorim declarou que a FPAK recebeu deste evento 240 mil euros, dos quais 170 mil foram entregues à FIA e 70 mil ficaram com a federação portuguesa.
Realçou no entanto que não recebe dinheiro das inscrições dos pilotos e que é a APCIVR que faz o preço aos promotores que depois debitam esse valor nas inscrições dos pilotos.
Ni Amorim destacou que, tal como a vinda de outras competições internacionais, a vinda do WTCR é onerosa e além das taxas da FIA há também a responsabilidade das homologações.
Do lado do WTCR, Jean-Baptiste Ley (responsável pela competição), mostrou total abertura para se sentar à mesa e tentar encontrar soluções para a manutenção de Vila Real no calendário da Taça do Mundo.
Admitindo que a situação de Vila Real não é fácil e que enfrenta dificuldades económicas, o que não surpreende olhando para o panorama mundial e que entende perfeitamente a posição dos responsáveis vilarealenses. Admitindo que Vila Real é um dos “parceiros mais fortes” do WTCR, Ley deixou bem claro que o WTCR tentará o tanto quanto puder encontrar soluções, sejam elas de cariz financeiras ou outras, para que o WTCR possa manter um dos eventos mais mediáticos do ano.
Em resumo, os responsáveis de Vila Real querem mais apoio. Mas não se trata apenas de apoio das entidades ligadas ao evento, mas também apoio de toda a cidade e todos os fãs.
O que Rui Santos pediu é que se respeite e se acarinhe um evento que é feito em condições muito próprias, com o esforço de muitos.
E um evento que consegue reunir perto de 200 mil pessoas ao longo de três dias merece ser visto como algo de importante para uma região e para o país. Mas não se trata de apenas mais apoio, mas sim mais condições para que o evento possa continuar a melhorar e a crescer, ficando a ideia que se não for para melhorar, os responsáveis preferem terminar em grande, do que cair no marasmo. Um aviso que deve ser visto com atenção pois a velocidade nacional e o WTCR não se podem dar ao luxo de perder o seu maior evento.