WEC – Títulos entregues nas 8h do Bahrein
Chegou ao fim a época 2021 do Mundial de Resistência da FIA, primeira com os Hypercar em pista, mas o desfecho não foi diferente das anteriores, com a Toyota a vencer. Nos LMP2 não tivemos título para Portugal desta vez mas, como sempre, boas prestações e em LMGTE Pro, o caldo entornou.
Depois de na semana passada ter recebido a prova de 6 horas, o Circuito Internacional do Bahrein recebeu a última prova do ano do WEC, as 8h do Bahrein. Com o título de construtores já entregue à Toyota, faltava entregar os títulos de pilotos em Hypercar e todos os restantes títulos. Nas contas portuguesas, António Félix da Costa, no #38 (R. Gonzalez / A. Da Costa / A. Davidson) da JOTA ainda podia sonhar com o título, mas as contas não eram fáceis de fazer enquanto Filipe Albuquerque, no #22 (P. Hanson / F. Scherer / F. Albuquerque), apenas podia ajudar Phil Hanson a revalidar o título, pois a ausência na prova de Portimão tirou o piloto de Coimbra da luta.
Qualificação – #7 foi o mais rápido, Albuquerque fez a pole em LMP2
Nos treinos, a superioridade dos Toyota foi clara, mas o que nos animava era ver o andamento dos carro #38 e #22 que estiveram sempre na frente nos treinos livres.
Na qualificação, Kamui Kobayashi aos comandos do Toyota #7 (M. Conway / K. Kobayashi / J. Lopez), conquistou a última do ano nos Hypercar (1:46.250), levando a melhor sobre o Toyota #8 (S. Buemi / K. Nakajima / B. Hartley) com Brendon Hartley ao volante, por 0.290s. O Alpine, conduzido por André Negrão, ficou com o terceiro melhor tempo, a 0.775s da marca do piloto japonês da Toyota.
Nos LMP2, Filipe Albuquerque conquistou a pole position, com uma excelente volta e António Félix da Costa o terceiro melhor tempo da sessão. O piloto português da United Autosports, no Oreca #22, completou o seu melhor registo em 1:49.525s, mais rápido que o Oreca #70, com Norman Nato ao volante. O carro da Realteam Racing ficou à frente do #38 da JOTA, com o António Félix da Costa a rodar na sua melhor volta em 1:19.910s.
O carro #31 da WRT (R. Frijns / F. Habsburg / C. Milesi), que liderava o campeonato da classe, conquistou apenas o sétimo melhor tempo e o carro #28 (S. Gelael / S. Vandoorne / T. Blomqvist) da JOTA, candidato ao título, o 9º.
Nos GTE Pro, sem surpresa o Porsche #92 (K. Estre / N. Jani / M. Christensen)surgiu no topo da tabela de tempos, mas o Ferrari #51 (A. Pier Guidi / J. Calado) conseguiu intrometer-se entre os dois Porsche, conquistando o segundo melhor tempo da sessão. Em GTE Am, o Ferrari 488 GTE Evo #47 da Cetilar Racing foi o mais rápido da qualificação e sai na frente da classe para a corrida de amanhã.
Hypercar – (Mais uma) Corrida fácil
No final da corrida, Kazuki Nakajima disse que tinha sido uma prova dura, mas ficou a clara sensação que não terá sido o caso. O piloto japonês despediu-se da competição com uma vitória do seu Toyota #8, enquanto o #7 celebrou o bicampeonato. A história da corrida é fácil de contar e apesar do #36 da Alpine ter passado para a frente da corrida no arranque, a superioridade das máquinas nipónicas falou mais alto e cedo o #7 passou para a frente da corrida com o #8 a subir ao segundo lugar. Para piorar a situação, o #36 teve problemas nas passagens de caixa ainda na primeira hora, o que atirou a máquina francesa para a garagem perdendo três voltas e qualquer esperança de se intrometer entre os GR010. O último momento mais emocionante foi a ultrapassagem do #8 ao líder, assumindo a frente da corrida de onde nunca mais saiu. A tripulação do #8 festejou a vitória, o #7 de José Maria Lopez, Mike Conway e Kamui Kobayashi, festejou o campeonato, todos foram contentes para casa e nós ficamos a ansiar pela chegada das novas marcas para animar este campeonato.
LMP2 – Época de sonho para a WRT
Os LMP2 são a classe mais importante de seguir no WEC, e sem dúvida a mais empolgante, com lutas renhidas, grandes pilotos e máquinas de igual valia (algo lógico, pois são todas iguais – Oreca – 07). O segredo do sucesso está na qualidade dos pilotos e na forma como se afinam as máquinas. No ano passado a United Autosports limpou tudo, quer no ELMS, quer no WEC, e este ano voltou a acontecer o mesmo, mas desta vez. foi uma equipa estreante, a WRT, a dominar. A estrutura belga competiu pela primeira vez em LMP2 e venceu no ELMS, com o carro #41 e no WEC, com o carro #31 que demonstrou novamente no Bahrein a sua superioridade face à concorrência. As primeiras três horas foram excelentes, com muitas lutas em pista e muita variabilidade estratégica, mas já perto do meio da prova, o #31 tinha chegado ao topo da tabela e não parecia ter concorrência à altura.
Animou então a luta pelos restantes lugares do pódio. O #22, com a preciosa ajuda do sempre rápido Albuquerque, tentou ainda um lugar no top 3, algo que o ritmo do carro não permitiu, mas o fim da prova deu-nos um confronto entre o #28 e o #38. Com o #31 já longe e com uma penalização a meio da corrida para o #38, restava a luta pelo melhor lugar possível e aí, Félix da Costa mostrou-se mais uma vez. A equipa guardou-o para os últimos stints e o ataque final foi feito pelo português. Félix da Costa estava em terceiro nos últimos minutos da prova, mas numa manobra musculada, passou pelo seu colega de equipa do #28 e conseguiu terminar a corrida no segundo posto, um prémio de consolação para o português e uma despedida bonita para Anthony Davidson que deu por terminada a sua carreira como piloto profissional. Robin Frijns, Ferdinand Habsburg e Charles Milesi tornaram-se campeões do mundo em LMP2, tal como a WRT.
A Racing Team Nederland, que como de costume, se imiscuiu nas lutas na frente do pelotão no arranque, o que já é habitual em Giedo van der Garde, que passou para a frente, no começo da prova. A valia das outras equipas fez-se notar mas o #29 terminou em quinto lugar e reclamou o título LMP2 Pro/Am no processo. Um verdadeiro feito para Frits van Eerd, que se manteve consistente nesta temporada no caminho para o título.
LMGTE PRO – Final intenso e polémico
Se as lutas pelos outros títulos foram algo desprovidas de tempero, a luta em LMGTE Pro teve picante para dar e vender. O final foi polémico e o resultado foi protestado pela Porsche, e ainda muita tinta vai correr. Resumindo os incidentes antes da corrida, a Ferrari foi prejudicada com uma mudança do BoP antes da corrida do fim-de-semana passado, o que impediu os carros vermelhos de lutarem contra as máquinas germânicas. Isto e a pole conquistada pelo #92, significou que os dois primeiros (#92 e #51) foram para a corrida final com os mesmos pontos, para um Grand Finale. Com as queixas da Ferrari a surtirem (parcialmente) efeito o BOP foi revisto, diminuindo o handicap dos 488 GTE Evo, face aos 911 RSR-19.
A corrida foi espetacular, com trocas constantes pela liderança com o #51 e o #92 a oferecerem-nos um grande final de época. Mas nos últimos minutos da prova tudo mudou. Numa jogada estratégica nas boxes, o Porsche passou para a frente da corrida, mas com um duplo stint e com pneus mais gastos. A Ferrari trocou os pneus traseiros apenas e Alessandro Pier Guidi passou ao ataque a Michael Christensen (terceiro piloto para as provas longas). Mas numa dobragem de um LMP2, Christensen travou de forma mais brusca e Pier Guidi não evitou o toque, que atirou o Porsche em pião. A direção de corrida foi rápida a pedir ao #51 para deixar passar o #92, mas quando o italiano levantou o pé para isso, Christensen entrou nas boxes, para um Splash and dash final. Na volta seguinte foi o Ferrari a ir às boxes, mas quando regressou, não cedeu o lugar ao Porsche e ficou instalada a confusão. O #51 cruzou a linha de meta em primeiro, vencendo a corrida, mas o desagrado do lado da Porsche era evidente. Para já, uma vez que foi feito um protesto por parte da Porsche, o Ferrari #51 venceu, a Ferrari sagrou-se campeã de marcas e Pier Guidi e James Calado são campeões do mundo.
LMGTE AM – Ferrari #83 volta a fazer a festa
Podíamos ter tido uma grande luta também nos LMGTE AM mas a corrida não o proporcionou. o Ferrari 488 GTE Evo #83 da AF Corse (F. Perrodo / N. Nielsen / A. Rovera) tinha uma boa margem para o Aston Martin Vantage AMR #33 da TF Sport (B. Keating / D. Pereira / F. Fraga), mas ainda havia uma hipótese do título cair para o #33. Mas logo no arranque a questão complicou-se e um toque entre o #33 o Aston Martin #98 originou um furo que atrasou a equipa TF Sport. O #83 foi impondo a sua lei ao longo da corrida, com o #33 a tentar recuperar o tempo perdido mas um incidente já na segunda metade da prova, com Ben Keating a falhar uma travagem, atirou o Aston para as boxes para reparações demoradas que não foram concluídas a tempo. Vitória e título para o #83, segundo campeonato consecutivo para François Perrodo e Nicklas Nielsen e o primeiro título para Alessio Rovera, tripla que no próximo ano tem um novo desafio, a subida aos LMP2 (regresso de Perrodo aos protótipos) para lutarem pelo título nos Pro AM.
Filipe Albuquerque: “Não tínhamos andamento para os mais rápidos”
Filipe Albuquerque terminou a última jornada do Campeonato do Mundo de Resistência no Bahrein na quarta posição entre os LMP2. Um resultado idêntico ao da semana passada neste mesmo circuito e que não satisfez o piloto português. Para quem no ano passado se habituou a ser sempre dos mais rápidos, Albuquerque admitiu que o inverno será passado a tentar encontrar soluções.
Apesar de terem largado da ‘pole position, Albuquerque e os seus companheiros de equipa, não conseguiram o andamento que lhes permitisse discutir a vitória como era o objectivo: “Apesar de ter sido um fim-de-semana melhor que o anterior, o resultado acaba por ser o mesmo na corrida e o que queríamos era ganhar. Mas não tínhamos andamento para os mais rápidos. Ficámos a apenas quatro segundos dos pilotos da frente e a determinada altura ainda estivemos a lutar pelo segundo lugar. Mas infelizmente não deu. Melhorámos o carro, mas não o suficiente e isso reflecte-se no resultado”, começou por referir o piloto português. “Não revalidámos o título mas tivemos momentos muito bons. Temos de ter a humildade de aceitar que não vamos ganhar sempre nem vamos ser sempre os melhores em todas as pistas. Um fim-de-semana duplo e consecutivo numa pista que não nos favorece como o Bahrein não ajuda. Preferia que fossem dois fins-de-semana em Spa e aí a história seria outra. Mas estas eram as regras do jogo, tudo fizemos para ultrapassar este ‘handicap’, mas não deu. Ainda assim fizemos duas ‘pole positions’, arrancámos quatro vezes da linha da frente, ganhámos duas corridas e fizemos três pódios. Não foi suficiente, mas foi bom. Tivemos sempre na luta, agora que venha o próximo ano…”, concluiu o piloto de Coimbra que parte agora para os Estados Unidos onde irá disputar a última prova do Campeonato Norte Americano de Resistência.
Félix da Costa: “ Este pódio é dedicado ao Anthony”
Numa prova marcada pela competitividade na luta do top 5, acabou por ser o factor regularidade a ditar o vencedor. Tanto Gonzalez, como Davidson e Félix da Costa estiveram em excelente nível, mas uma penalização por drive through, acabou por impedir que a equipa do carro #38 lutasse pela vitória. Ainda assim, coube a Félix da Costa a tarefa de terminar a corrida, garantindo um excelente 2º lugar final e com isso a 3ª posição no Mundial dos LMP2.
Logo na qualificação ficou bem evidente o excelente andamento de Félix da Costa, que mesmo utilizando apenas um jogo de pneus novos (estratégia de guardar pneus novos para a corrida), garantiu a 3ª melhor marca, o que abria boas perspectivas para a prova. Com Gonzalez a ter a tarefa de efetuar o arranque, o mexicano voltou a dar conta do recado, realizando um turno muito sólido e sem erros. A corrida foi-se desenrolando com o #38 sempre na luta pela vitória, mas uma penalização de drive through fez com que as contas se complicassem. Ainda assim na parte final da corrida, vimos novo grande duelo pelo pelo 2º lugar final, com Félix da Costa a levar a melhor já nos minutos finais sobre Tom Blomqvist, numa manobra de grande nível na abordagem à curva 1. No final AFC mostrava-se “contente e orgulhoso de todo o trabalho da equipa JOTA e dos meus colegas de equipa. Lutámos até à última volta desta corrida e apesar de não termos conseguido o título, sinto que saímos com a cabeça levantada. Todos demos o nosso melhor na corrida de hoje, que foi um pouco parecida à semana passada e nos momentos finais sabia que tinha de atacar para chegar ao 2º lugar, correu bem a manobra na curva 1 consegui passar o Tom (Blomqvist). Quero sem dúvida agradecer a confiança da equipa, foi um grande prazer para mim partilhar o carro com dois colegas de equipas que considero amigos e este pódio é dedicado ao Anthony, que realizou hoje a última corrida da carreira dele. Confesso que é um misto de emoções despedir-me de alguém com quem tive tanto prazer em trabalhar, aprendi muito com ele e sempre nos demos muito bem dentro e fora do carro. Quanto ao futuro, vamos ver o que me reserva as corridas de endurance em 2022, fomos 2º no campeonato do mundo em 2020, agora 3º em 2021, fica a vontade de voltar para lutar pelo título Mundial em 2022!”
Porsche protestou o resultado
Como seria de esperar, a Porsche protestou de imediato o resultado final das 8h do Bahrein. No seu protesto, a Porsche alegou que a colisão não foi comunicada aos comissários e que o assunto foi tratado unicamente pelo diretor de corridas do WEC, Eduardo Freitas, o que vai contra o Código Desportivo Internacional. No entanto, o protesto foi rejeitado. De acordo com um boletim que detalhava o protesto, uma investigação sobre a alegação concluiu que “todas as decisões relacionadas com o incidente” foram comunicadas aos comissários pelo diretor da prova. As decisões foram então investigadas e tomadas pelos comissários”. Isto foi apoiado por vídeo e provas verbais. No entanto a Porsche não se conforma e segundo a publicação sportscar365, a decisão final sobre os resultados da prova e, consequentemente, do Campeonato Mundial de GTE, irá provavelmente para o Tribunal Internacional de Recurso da FIA, na sequência de uma outra moção apresentada pela Porsche.
O vice-presidente da Porsche Motorsport Thomas Laudenbach descreveu as 8 Horas do Bahrain como um “dia triste” para o departamento de corridas da marca, depois de ter perdido o campeonato no que a equipa considerou serem circunstâncias injustas:
“É um dia triste para a Porsche Motorsport”, comentou Laudenbach. “Não conseguimos compreender porque é que o diretor da corrida começou por aplicar uma penalização e depois retirou-a. Os nossos pilotos e equipas merecem o maior respeito. Todos fizeram uma corrida justa e limpa durante oito horas e deram aos espectadores um grande espectáculo. Gostaria de lhes agradecer a todos por isto. Até ao final, a corrida foi realmente uma grande promoção para as corridas de automóveis”.
Neel Jani disse à Sportscar365 que o incidente ensombrou o que de outra forma tinha sido um duelo cativante entre os dois protagonistas do título GTE-Pro.
“Eles podem atirar-nos para fora de pista, receber uma penalização e nós perdemos na mesma”, disse Jani. “Alguma vez se viu uma corrida ou um campeonato em que eles não recebem um drive-through por algo assim? Ele danificou o nosso carro, partiu o nosso difusor, o escape,danificou os pneus. Ele devia ter devolvido a posição. Onde é que já viu isso? Todos os outros campeonatos, como na Fórmula 1, recebem cinco ou dez segundos de penalização por estas coisas, ou um drive-through. Não sei o que dizer. Nunca vi uma decisão como esta. Isto não foi justo. Isto não foi correto. Ofusca tudo. É uma vergonha”.
Já Alessandro Pier Guidi, piloto Ferrari, disse que não podia ter feito mais nada e que tentou sempre ser o mais justo possível:
“Fomos sempre justos. Não esperava que ele travasse tão forte. Ele teve um momento com um protótipo. Ele estava a tentar aproximar-se do protótipo. Quando me disseram para esperar por ele, isso foi justo, e eu estava à espera, mas depois ele entrou para as boxes. Nessa altura foi me comunicado que o diretor da corrida disse que podíamos continuar. Naquele momento, o que poderia eu fazer? Eu esperei por ele e perdi muito tempo, mas depois ele foi para as boxes. Do meu ponto de vista, não gostei, mas com certeza não era minha intenção fazer nada de mal. E eu não podia fazer nada”.
James Calado partilhou o seu ponto de vista sobre o incidente: “Demos uma grande luta durante toda a corrida”, disse ele. “Obviamente que não é o final que todos queriam. Mas, do nosso ponto de vista o #92 fechou a porta ao protótipo, voltaram à trajetória e o Ale não tinha para onde ir e, por isso, bateu-lhe. É uma infelicidade. Obviamente lamentamos, mas no final é assim que às vezes acontece”.