WEC, Mick Schumacher: Um novo capítulo, de olho na F1
Depois de um ano afastado da competição, tendo sido piloto de reserva da Mercedes, Mick Schumacher regressa às pistas, agora no WEC, para ser piloto Alpine. O piloto alemão esteve em Portimão para testar com a sua nova equipa e falou com meios de comunicação portugueses, onde esteve incluído o AutoSport.
Mick Schumacher, filho do grande Michael Schumacher, teve uma passagem pouco conseguida pela F1. Depois dos títulos na FIA Formula 3 European Championship e na F2, o piloto alemão entrou no Grande Circo pela porta da Haas. Esse presente acabou por se revelar “envenenado”. No primeiro ano, sem concorrência interna e com um carro nada competitivo, arrastou-se no fundo da grelha. No segundo ano, passou de um colega de equipa sem experiência e sem valor (Nikita Mazepin), para um piloto de qualidade (Kevin Magnussen) e com experiência. Os resultados começaram a pender de forma clara para Magnussen e Schumacher não conseguiu dar a volta a uma série de maus resultados. O apoio dentro da equipa não terá sido o melhor e a saída acabou por acontecer. Schumacher passou a ser piloto Mercedes, sendo reserva de Lewis Hamilton e George Russell, mas sem vagas para 2024, optou por dar um passo diferente, apostando no WEC, depois do convite feito por Bruno Famin.
Um novo mundo
Em Portimão, Schumacher admitiu que este é um novo mundo, com muito para aprender e descobrir. O piloto explicou como acabou por se tornar piloto da Alpine e não escondeu que se mantém interessado na F1. Isso é claro, pois o seu papel de reserva da Mercedes sobrepõe-se ao de piloto Alpine. Se Schumacher for chamado para substituir Hamilton ou Russell, irá cumprir o seu papel, mesmo que isso signifique que a Alpine fica sem piloto, tendo de recorrer ao piloto de reserva que ainda não foi escolhido.
Schumacher revelou-se muito grato pela oportunidade e espera aprender com os seus novos colegas de equipa:
“É a minha primeira vez neste departamento das corridas, com corridas mais longas em que se partilha o carro. Até agora tudo está a correr bem, é um processo de adaptação. A minha experiência de anos passados, assim como da F1, nada tem a ver com isto, pelo que se trata de um começo do zero, um novo desafio. Estou muito grato por poder partilhar o carro com cinco grandes pilotos e a equipa e estou certo que aprenderei muito com eles e crescerei neste desporto”.
O piloto alemão explicou como esta oportunidade acabou por se materializar. O interesse da Alpine, manifestado desde cedo e a falta de opções na F1 abriram a porta ao mundo da resistência:
“Vários pontos tornaram o WEC no local ideal para competir, depois de um ano sem corridas. Um ponto importante que posso partilhar é que posso manter a minha ligação com a F1 e a filosofia destes carros e destas equipas e, de certa forma, similar à F1. A forma como se afina o carro, a organização, as ferramentas ao nosso dispor. Há coisas novas para mim, como o controlo de tração, mas ainda assim, há muitas similaridades que me poderão ajudar a aumentar o meu conhecimento.
Fui abordado bastante cedo na época pelo Bruno [Famin] que me apresentou esta opção de pilotar aqui. Ainda estava muito ligado ao sonho da F1, mas essa porta foi-se fechando para 2024 e tive de encontrar outra solução. Com toda a franqueza, acho que este é o melhor lugar onde posso estar, para crescer, correr e evoluir, independentemente de isso levar-me ou não de volta para a F1″.
Dois mundos diferentes
Desafiado a comparar a forma como pilota um F1 e um LMDh, Mick admitiu que são dois mundos diferentes:
“Não é possível comparar os dois carros ao nível da condução. O estilo de condução, as ferramentas disponíveis, o que se exige do piloto, é tudo completamente novo. Há todo um novo conjunto de competências que tenho de adquirir, como piloto, para ser rápido. Qualquer um pode ser rápido, mas os que se destacam são os que lidam melhor com o tráfego, com a gestão dos pneus, do carro e dos elementos exteriores. Por isso estou muito contente de estar nesta posição e de ser colega de um grande grupo de pilotos com muito talento. É a primeira vez num carro fechado e senti-me um pouco claustrofóbico. Foi um pouco estranho, mas o que mais me surpreendeu foi o sistema de arrefecimento no banco, o que me deixou confuso porque senti ar nas minhas costas”.
F1: uma história por contar
Schumacher não esconde que está no WEC para ganhar ritmo competitivo e mostrar-se de novo ao mundo. O alemão acredita que haverá muitas mudanças em 2025 e que poderá ser opção para uma das vagas que poderá surgir:
“Acredito que haverá muitas mudanças em 2025, por isso estou à espera que essa “bomba” rebente. Não vejo porque não haverá uma oportunidade para mim, mas agora quero focar-me apenas em trabalhar bem no que vou fazer em 2024, no WEC, com a Alpine, para tentarmos vencer Le Mans. Quando tiver algum tempo livre pensarei no que acontecerá depois disso. Talvez a minha passagem pelo WEC seja o que preciso para mostrar novamente ao mundo e à F1 que sou capaz de fazer bem o trabalho e que foi um erro não ter uma oportunidade durante dois anos”.
Confrontado com o tratamento que recebeu na F1 e se considerava que tinha sido um algo injustiçado, Schumacher foi lacónico:
“Temos o campeão da F2 de 2020 que não está a correr na F1 e os terceiros e o sexto ainda estão a correr e isso deve dar uma indicação de como me sinto em relação a isso”.
WEC mais para puristas
Schumacher ainda não teve contacto com o paddock do WEC, mas do que lhe foi dito, acredita tratar-se de um desporto mais frequentado por puristas, que olham para a corrida e não para o “show”. Um mundo onde os pilotos são mais valorizados:
#Do que me foi dito, este é um ambiente mais para puristas. Os fãs vêm as corridas para ver as corridas e não para o espetáculo em si. A F1, como está na moda, recebe muitas pessoas que estão mais interessadas em outras coisas que não a competição, como os eventos paralelos à corrida. Ambas são apelativas, à sua maneira. A F1 será sempre o pináculo do automobilismo e as corridas são especiais. Se for à F1 pelas corridas, vai adorar. Mas acho que no Endurance temos os fãs hardcore que ficam na pista durante 24h, a dormirem nos sacos-cama. Eu pessoalmente acho que seria incapaz de ver uma corrida por 24h, mas consigo ver-me a pilotar numa corrida de 24h. As pessoas talvez consigam respeitar e entender mais o porquê de estarmos na competição”.
Mick Schumacher é um excelente piloto. Ninguém vence a F3 e a F2 sem talento. O peso do nome, que terá aberto muitas portas, também pode ter pesado, mas faltou mais apoio e mais tempo a Schumacher para mostrar mais. No WEC, procura nova oportunidade. Procura mostrar-se ao mundo, aprender e convencer a F1 que ainda tem muito para dar. Se isso não acontecer… está no melhor campeonato da atualidade no que diz respeito a número de marcas envolvidas. O WEC vai ganhar força e qualquer piloto olha para a resistência como um excelente palco. Schumacher quer ainda provar o seu valor na F1. O ambiente mais familiar e com menos pressão do WEC, deverá trazer de volta o sorriso do jovem germânico, que poderá voltar a mostrar o melhor de si. A Alpine fez uma aposta inteligente, trazendo um jovem talento com vontade de vencer, que traz velocidade, visibilidade e uma postura a toda a prova.
Não é um mau piloto, com certeza, mas não para a F1.
Sucesso na WEC, embora ache que não retornará à F1.