Na segunda vez que fui a Le Mans, fiz equipa com o brasileiro Thomas Erdos e o inglês Mike Newton. O Erdos, pelas quatro da manhã, ficou desidratado e incapaz de continuar a conduzir. Por isso, eu tive que fazer a parte dele. Não sei quantos turnos fiz, mas estive ao volante umas 12 horas, o que não é pêra- doce numa pista como Le Mans, onde o Saleen chegava a atingir os 322 km/h. A corrida acabava pelas quatro horas da tarde e, quando faltavam uns 45 minutos para o fim, em Mulsanne, a curva em ângulo recto a seguir à recta das Hunaudières, ouvi uma enorme explosão e fiquei em roda livre. Nessa altura,
estava a guiar cinco a dez segundos mais lento do que o normal, que é o que toda a gente faz, quase no final da corrida e quando não há já nada a perder ou a ganhar – apenas se quer chegar ao fim. Estava a sair da curva, meti 2ª, depois 3ª e… pum! O “cockpit” ficou cheio de pó e eu, de tão cansado que estava, não tinha a mínima ideia do que tinha sucedido.
Encostei fora da pista e nem sequer me lembrava como tinha feito a curva, se tinha ou não subido o corrector, por exemplo. Estava eu ainda dentro do carro, que tem uma janelinha minúscula, aí com um palmo, quando um comissário, vestido com o fato do ACO, que organiza aprova, se abeirou e perguntou, em bom português: “Então Pedro? Está tudo bem?”. Aí é que fiquei mesmo baralhado: não só não sabia o que tinha sucedido, como nem sequer sabia onde estava, se no Estoril ou noutra pista qualquer!