Audi nas 24 Horas de Le Mans: os 13 anéis de Nibelungo

Por a 28 Agosto 2024 16:47

A Audi escreveu um capítulo único na História das 24 Hors de Le Mans. Estreando-se em 1999, desde 2000 a Audi levou os seus pilotos ao triunfo uma dúzia de vezes…mais uma. Até hoje – e nenhuma outra marca conseguiu uma proeza semelhante em tão curto espaço de tempo, desde que a prova começou, em 1923.

Mas não foi só isto: nestes anos, a Audi foi pioneira também no investimento tecnológico, aquilo a que chama ‘Vorsprung durch Technik’ e que tinha vindo a desenvolver, de forma consistente, desde que se estreou.

Exemplos? Em 2001, estreou em Le Mans a injeção direta a gasolina (TSFI) – e ganhou. Depois, em 2006, tornou-se o primeiro construtor de automóveis a vencer em Le Mans com um motor Diesel, através da reconhecida tecnologia TDI. E, em 2012, foi também a primeira marca a vencer em Le Mans com um carro usando a tecnologia de motores híbridos ‘e-tron’. Em 2013, a Audi usou, pela primeira vez, tecnologia de visão noturna a laser, melhorando a visibilidade nessas condições de forma exponencial, assumindo-se cada vez mais como um laboratório experimental, de cada vez que corre em Le Mans. E venceu outra vez. Que saudades a Audi deixou na mítica prova…

2000 – Emanuele Pirro (I)/Tom Kristensen (DK)/Frank Biela (D) – Audi R8 LMP900

Um ano depois da sua estreia, a Audi dominou por completo as 24 Horas de Le Mans. Na verdade, praticamente sem adversários, depois do abandono da Mercedes, chocada pelos voos dos CLR, em 1999, e da BMW e Toyota, mais interessadas na F1, a marca alemã acabou por não ter grandes adversários nesta edição. Os Panoz e os Courage privados nada puderam fazer contra o maior poderio tecnológico e a experiência dos homens da equipa oficial Audi Sport Team Jöst e, no final das 24 horas, foram três os R8 que a ocuparem os três lugares do pódio, com Tom Kristensen a conquistar a que era, então, ‘apenas’ a sua 2º vitoria na prova, sendo acompanhado por Frank Biela e Emanuele Pirro. O trio fez mais uma volta à pista de Le Mans do que o R8 nº 9 (Laurent Aiello/Allan McNish/Stéphane Ortelli) e três que o nº 7 (Christian Abt/Michele Alboreto/Rinaldo Capello), que terminaram logo a seguir. O primeiro ‘não-Audi’ foi o Courage da Pescarolo Sport, mas já a 21 (!) voltas do… 3º classificado!

2001 – Emanuele Pirro (I)/Tom Kristensen (DK)/ Frank Biela (D) -Audi R8 LMP900

Segundo triunfo consecutivo da Audi e precisamente através da mesma equipa, formada por Tom Kristensen, Emanuele Pirro e Frank Biela. O trio bateu por uma volta o R8 ‘gémeo’, partilhado por Laurent Aiello, Rinaldo Capello e Christian Pescatori, ficando o pódio completo pelo Bentley EXP Speed 8 (que, mecanicamente, não passava de um… Audi R8 ‘disfarçado’, pesar de inscrito na categoria LMGTP) do Team Bentley, pilotado por Andy Wallace, Butch Leitzinger e Éric van de Poele, que ficou já a 15 voltas do vencedor. Na realidade, os dois primeiros foram os únicos R8 a chegarem ao fim, já que os privados da Johansson Motorsport (Stefan Johansson/Tom Coronel/Patrick Lemarié) e da Champion Racing (Johnny Herbert/Didier Theys/Ralf Kelleners) ficaram pelo caminho muito cedo.

2002 – Emanuele Pirro (I)/Tom Kristensen (DK)/Frank Biela (D) – Audi R8 LMP900

Terceira vitória consecutiva do Audi R8 da equipa Audi Sport Team Jöst… e da tripla formada pelos pilotos Emanuele Pirro, Tom Kristensen e Frank Biela! Na História da prova, este foi um feito que nunca antes tinha sucedido – e não voltou a acontecer até aos dias de hoje! Uma vez mais a Audi monopolizou as três posições do pódio, com o segundo R8 – da Audi Sport North America, que tinha feito a ‘pole’ pelo segundo ano seguido – a ficar a uma volta dos vencedores e o terceiro – o outro R8 da equipa oficial – a classificar-se a três voltas. O R8 da Audi Sport Japan Team Goh teve alguns problemas e terminou em 7º lugar, atrás dos Dallara da Oreca, que foram os principais adversários dos Audi, mas sem hipóteses reais de lutar pelo trunfo e do Bentley oficial, que foi 4º e voltou a ganhar entre os LMGTP, com os mesmos pilotos do ano anterior.

2004 – Rinaldo Capello (I)/Tom Kristensen (DK)/Seiji Ara (J) – Audi R8 LMP1

A incógnita antes da partida para essas 24 Horas de Le Mans era simplesmente “qual dos Audi irá vencer?”, pois não havia dúvida na mente de todos os espetadores que seria um carro da marca alemã a triunfar mais uma vez na pista francesa.

Com a Audi a não interferir nas diferentes estratégias das equipas que utilizam o ‘seu’ R8, quem acabou por vencer foi o da Audi Sport Japan Team Goh, o único a ter uma corrida livre de problemas (com exceção de uma pequena saída de pista, que lhes fez perder duas voltas ainda durante a tarde de sábado, e a um pequeno incêndio no domingo de manhã, prontamente debelado). Isso permitiu a Tom Kristensen, que foi o mais rápido no carro, conquistar a sua sexta vitória em Le Mans, igualando o recorde estabelecido em 1982 por Jacky Ickx, além de ser a primeira vez que um piloto ganha as 24 Horas cinco vezes consecutivas.

Os outros três Audi R8 tiveram problemas. O nº 88, da Veloqx, pilotado por Jamie Davies, Johnny Herbert e Guy Smith, liderou a prova durante 17 horas, mas perdeu duas voltas com um problema de suspensão caindo para o segundo posto. Pior foi o que se passou entre o nº 8, também da Veloqx, e o nº 2, da Champion Racing que, no final da segunda hora, passaram por cima da mesma poça de óleo, fazendo com que Lehto (no carro da Champion) embatesse em Allan McNish (no Veloqx). Ambos conseguiram voltar à pista, mas perderam várias voltas (horas no caso da Veloqx) nas boxes. Felizmente, ambos conseguiram aproveitar a velocidade e fiabilidade para recuperar para 3º (Champion) e 5º (Veloqx), este último conduzido apenas por Kaffer e Biela na fase final, já que Allan McNish se queixava de dores de cabeça após o acidente.

2005 – JJ Lehto (FIN)/Tom Kristensen (DK)/Marco Werner (D) – Audi R8 LMP1

Nos treinos, os carros da equipa de Henri Pescarolo foram sempre os mais rápidos, com Emmanuel Collard a estabelecer a pole-position em 3m34,715s, seguido do outro Pescarolo com 3m35,555s, enquanto os Audi apenas apareciam dois segundos mais atrás. No entanto, a experiência da Audi com o R8 acabou por prevalecer, com o carro da Champion Racing, pilotado por JJ Lehto, Marco Werner e Tom Kristensen, a conseguir aquele que foi o derradeiro triunfo do Audi R8 em Le Mans. Para Kristensen, este foi também um triunfo muito especial, já que foi a sétima vez que subiu ao lugar mais alto do pódio (além de ser a sexta vitória consecutiva), batendo o recorde de vitórias à geral, que até aqui partilhava com Jacky Ickx. O Pescarolo nº 16, que Collard partilhava com Jean-Christophe Boullion e Stéphane Ortelli, atrasou-se com problemas de caixa de velocidades ainda no sábado, mas a sua velocidade permitiu-lhe recuperar algum terreno durante a noite, para terminar a prova em segundo, com uma volta de atraso e à frente dos outros dois Audi.

2006 – Emanuele Pirro (I)/Frank Biela (D)/Marco Werner (D) – Audi R10 TDI LMP1

Um Audi voltou a ganhar à geral, mas não foi o Audi que todos estavam à espera, pois um problema na fase inicial da corrida impediu Tom Kristensen de conquistar o oitavo triunfo. A marca alemã chegou ao circuito francês com o objetivo único de conquistar o primeiro triunfo de um carro com motor Diesel na clássica prova de resistência, e se o Dr. Ulrich Bez, diretor da Audi Sport, bem o pensou, Reinhold Joest, “team manager”, melhor o fez. O Audi R10 TDI, apesar de ser um carro completamente novo, foi criado aproveitando os ensinamentos aprendidos durante anos com o bem-sucedido R8.

Batida pela Pescarolo nos ensaios de pré-qualificação, a Audi não achou muita graça e quis demonstrar logo a partir dos treinos que esta corrida era para si e para mais ninguém. Os dois carros foram logo dois segundos mais rápidos que o melhor dos Pescarolo C60H, com vantagem de um décimo do carro nº 7, pilotado por Rinaldo Capello, Tom Kristensen e Allan McNish, sobre o carro nº 8, entregue a Frank Biela, Emanuele Pirro e Marco Werner. O início de corrida parecia bem encaminhado para que Kristensen partisse a caminho da sua oitava vitória, mas Biela conseguiu fazer uma ultrapassagem excecional a McNish na curva Tertre Rouge ainda durante a primeira hora, quando os dois Audi navegavam por entre tráfego mais lento, e a partir daí o Audi nº 8 ficou com o caminho livre.

A corrida do líder ficou mais facilitada quando também os seus perseguidores foram acometidos de problemas, apesar de os dois R10 TDI também terem perdido algum tempo durante a madrugada, ao trocarem de transmissão, uma operação que demorou apenas cerca de dez minutos, pois a Audi é famosa pela sua habilidade de trocar toda esta secção do carro. Quando o sol se levantou, o Audi nº 8 viu-se no comando com uma confortável vantagem de três voltas sobre o Pescarolo nº 16, enquanto o Audi nº 7 completava o pódio, depois de ter recuperado várias posições, tendo terminado classificados por esta ordem.

2007 – Emanuele Pirro (I)/Frank Biela (D)/Marco Werner (D) – Audi R10 TDI LMP1

A Audi não teve vida fácil na 75ª edição das 24 Horas de Le Mans. Apesar de ter inscrito três carros, acabou por ter que se defender da ameaça Peugeot com apenas um R10 TDI. Mas, felizmente para a equipa dirigida por Reinhold Joest, os 908 HDi sofreram problemas relacionados com a juventude do projeto.

Os Audi foram batidos nos treinos, mas estavam apenas a guardar-se para a corrida. Logo no início, os R10 ultrapassaram os Peugeot, depois de um erro de Sébastien Bourdais, para de imediato começarem a ganhar terreno aos carros franceses. Ainda assim, os pilotos dos três carros sofreram a pressão da ameaça francesa e, logo nas primeiras horas de corrida, Mike Rockenfeller perdeu o controlo do Audi nº 3 na curva Tertre Rouge, acabando aí a sua corrida, causando a ira bem visível de Wolfgang Ulrich, diretor da Audi Sport. O piloto alemão foi apanhado pelas condições distintas em pontos diferentes da pista (asfalto seco na reta da meta, molhado nas Hunaudières).

Com o Peugeot de Pedro Lamy (na altura com Sarrazin ao volante) a entrar nas boxes durante a quinta hora, com um problema no semi-eixo, os rostos nas boxes da Audi ficaram menos crispados, já que os seus dois carros sobreviventes ficaram nas duas primeiras posições, passando toda a noite no comando. Quando a manhã chegou, o líder tinha quatro voltas de vantagem sobre o primeiro Peugeot e sete voltas sobre o segundo. Mas em Le Mans, nenhuma certeza é absoluta até cair a bandeira de xadrez. E se a Audi e Peugeot contavam levar os seus dois carros incólumes, estavam enganados. A marca alemã foi a primeira a sucumbir, com Rinaldo Capello a sair de pista no início da manhã, devido à perda de uma roda, embatendo violentamente no muro de pneus e terminando aí a prova. Como consequência, o seu colega Tom Kristensen falhou mais uma vez a conquista da oitava vitória em Le Mans, e Frank Biela, Emanuele Pirro e Marco Werner puderam repetir a vitória conquistada em 2006.

2008 – Rinaldo Capello (I)/Tom Kristensen (D)/Allan McNish (GB) – Audi R10 TDI LMP1

A edição de 2008 das 24 Horas de Le Mans foi uma raridade no desporto automóvel, já que, com o desenrolar da corrida, tornava-se cada vez mais difícil prever com exatidão quem seria o vencedor. Até à conclusão da primeira metade da corrida, a Peugeot havia encabeçado os acontecimentos, embora sem os ter verdadeiramente dominado. Isto porque, enquanto os 908 HDi contavam essencialmente com a sua velocidade para ganhar terreno aos Audi R10 TDI, estes precisaram de fazer um número inferior de paragens nas boxes para reabastecimentos e trocas de pneus. Quando se esperava que o lusco-fusco desse lugar aos primeiros raios de luz matinal, descobriu-se que a claridade estava encoberta por nuvens a prometer chuva.

Foi aqui que a Audi passou para a frente da corrida, com o carro de Rinaldo Capello, Tom Kristensen e Allan McNish, que foi aquele que rodou sempre mais perto do ritmo dos Peugeot e o que teve menos problemas durante toda a corrida. Ainda assim, os pilotos do R10 TDI nº 2 tiveram que passar grande parte de olhos no espelho, não fosse o Peugeot nº 7, pilotado por Marc Gené, Nicolas Minassian e Jacques Villeneuve, recuperar a meia volta de atraso para o líder. Mas, no final, enquanto os Peugeot sofriam com problemas de sobreaquecimento e eram vítimas de erros da equipa técnica na altura de trocar de pneus, o Audi mostrou ser até capaz de sobreviver incólume a uma altercação com um concorrente retardatário.

2010 – Timo Bernhard (D)/Romain Dumas (F)/Mike Rockenfeller (D) – Audi R15+ TDI LMP1

A hecatombe que atingiu os carros da Peugeot, que tinha ganho a edição anterior, acabou por permitir à Audi alcançar um inesperado ‘triplete’ nas 24 Horas de Le Mans, conquistando assim a sua 9ª vitória na clássica da resistência. Mais: a falta de fiabilidade que apanhou todos os 908 HDI permitiu que a Audi tenha colocado todos os seus R15 TDI no pódio, depois de passar a prova… a esperar, para ver o que poderia suceder com os carros franceses, que, mais rápidos, começaram por dominar os acontecimentos a seu bel-prazer.

Os Audi R15 TDI eram regularmente dois a três segundos mais lentos que os Peugeot, mas os pilotos da marca alemã nunca forçaram o andamento, até porque o carro dos veteranos e múltiplos vencedores Tom Kristensen, Rinaldo Capello e Allan McNish já tinha perdido algum tempo ao evitar uma colisão. Assim, quem ganhou foi a tripla de pilotos com a média de idades mais baixas, confirmando a aposta da Audi neste grupo de pilotos que foi recrutar à Porsche: Timo Bernhard, Romain Dumas e Mike Rockenfeller. Este foi o nono triunfo da marca, que igualou o número de vitórias absolutas da Ferrari.

2011 – André Lotterer (D)/Benoît Tréluyer (F)/Marcel Fässler (CH) -Audi R18 TDI LMP1

Uma Audi em desvantagem numérica bateu a Peugeot por muito pouco, no que foi a vantagem de tempo mais curta na história das 24 Horas de Le Mans. Desde que a prova francesa passou a ser cronometrada em tempo em vez de distância percorrida, os 13 segundos que separaram o Audi R18 de Marcel Fässler, André Lotterer e Benoit Tréluyer e o Peugeot 908 de Pedro Lamy, Sébastien Bourdais e Simon Pagenaud passaram a ser a distância em tempo mais curta na história das 24 Horas, num resultado que foi uma completa incógnita do princípio ao fim.

Durante a madrugada e até pouco depois do nascer do sol, o Audi nº 2 (o futuro vencedor) e o Peugeot nº 9 proporcionaram ao público uma animada discussão pela vitória, com o Peugeot nº 7, mais atrasado na altura, a servir de força de bloqueio, dando origem a algumas ultrapassagens menos ortodoxas. Com o passar do tempo, as hipóteses de vitória das duas marcas foram ficando reduzidas a um candidato cada, mas enquanto a Peugeot conseguiu levar os três carros até ao final, a Audi teve apenas um a cortar a meta – e na frente! Os outros dois Audi R18 abandonaram em dois aparatosos acidentes, que miraculosamente não resultaram em ferimentos.

2012 – André Lotterer (D)/Benoît Tréluyer (F)/Marcel Fässler (CH) – Audi R18 e-tron quattro LMP1

A 80ª edição das 24 Horas de Le Mans prometia ser um conflito eletrizante, com a Audi e a Toyota a proporem ser os primeiros construtores a vencer a prova com um modelo híbrido. Aproveitando a experiência acumulada nos anos anteriores, os alemães preferiram combinar um propulsor Diesel com um motor elétrico colocado nas rodas dianteiras (criando assim um protótipo de quatro rodas motrizes), enquanto os japoneses usaram um propulsor a gasolina, com motor elétrico ligado às rodas traseiras. Por segurança, a Audi também apresentou dois R18 Diesel convencionais.

A Toyota, regressada a Le Mans depois de 13 anos de ausência, pareceu capaz de acompanhar a Audi quando Nicolas Lapierre colocou o TS030 à frente do R18 e-tron de André Lotterer. Infelizmente para a marca japonesa, a sua fortuna mudou rapidamente. Na sexta hora, o carro de Anthony Davidson levantou voo quando colidiu com um Ferrari que tentava dobrar, resultando em duas vértebras partidas para o piloto inglês. Até ao início da noite, o segundo carro danificou o alternador quando Nakajima atirou o DeltaWing para fora de pista, e depois abandonou com problemas de motor.

Com a Toyota fora de ação, não sobrou ninguém que pudesse incomodar a Audi… exceto os próprios. Três dos quatro carros tiveram saídas de pista (o nº 3 até saiu duas vezes) que obrigaram a reparações na carroçaria, embora a maior surpresa tenha sido a resistência dos carros a embates. A seis horas do fim, os nº 1 e 2 chegaram a discutir a liderança, deixando o patrão da equipa, Wolfgang Ulrich, incomodado com a situação. Quando o nº 2, dos veteranos Capello, McNish e Kristensen, saiu de pista, a vitória ficou assegurada para a mesma tripla do ano passado: Marcel Fässler, André Lotterer e Benoit Tréluyer. Mesmo assim, os veteranos ainda lideram o Campeonato do Mundo de Endurance.

2013 – Loïc Duval (F)/Tom Kristensen (DK)/Allan McNish (GB) – Audi R18 e-tron quattro LMP1

Teria sido uma grande festa para a Audi, se a prova – que deveria ter sido de celebração dos 90 anos desde a sua criação – não tivesse sido marcada pelo trágico acidente que vitimou o dinamarquês Allan Simonsen, logo no primeiro quarto de hora, lançando uma nuvem negra sobre o nono triunfo do seu compatriota e amigo, Tom Kristensen, e 12º da marca alemã.

O triunfo da Audi ficou em perigo a meio da sétima hora de prova, quando Benoit Tréluyer teve dificuldades em sair das boxes. Uma volta depois, o carro nº 1 regressou às boxes, enquanto o nº 3 fazia uma volta devagar, com um furo. E embora tenha sobrado o nº 2, pilotado pelos veteranos Tom Kristensen e Allan McNish e por Loïc Duval, de repente, a marca alemã viu-se na posição de ter que lidar com dois Toyota em segundo e terceiro, e na mesma volta do líder.

E foi apenas ao início da manhã que a Audi conseguiu recuperar o tempo perdido, com o comandante da corrida a restabelecer a volta de avanço. Entretanto, alguns erros mais impetuosos de Kazuki Nakajima e Nicolas Lapierre custaram o terceiro lugar ao Toyota nº 7, enquanto o nº 1 chegou a recuperar duas das voltas de atraso que tinha perdido nas boxes. Uma avaria no sensor tinha levado os técnicos da Audi Sport Team Joest a trocar o alternador, uma operação que tomou 43 minutos.

2014 – Marcel Fässler/André Lotterer/Benoit Tréluyer Audi-Joest/Audi R18 e-tron

A experiência bem aplicada ganha sempre. Na Audi, sabem aplicar essa experiência e direcioná-la na resolução de problemas, pois problemas é algo que vai haver pelo menos uma vez nas 24 Horas de Le Mans. E é assim que se consegue conquistar a 13ª vitória em 15 anos, sem ser preciso andar sempre mais depressa que a concorrência.

Ninguém em Ingolstadt vai pensar que o número 13 é o número do azar. Aliás, vão pensar que o azar é coisa que acontece a quem não está prevenido. A Audi está sempre prevenida. Há muitos anos que perceberam que pode sempre acontecer qualquer coisa, qualquer detalhe, mesmo pequeno, que fará todos os objetivos ruírem. Assumindo que vai acontecer algo de mau, todos os sport-protótipos da Audi são desenhados para serem de fácil acesso a qualquer peça e para poder resolver qualquer avaria em minutos. E a Audi bem precisou.

Logo no início da segunda hora da corrida, a equipa alemã perdeu o carro nº 3, que Filipe Albuquerque iria pilotar mais tarde, mas que nessa fase tinha Marco Bonanomi ao volante. Bonanomi foi vítima da estranha manobra à chuva de Sam Bird, ao volante de um Ferrari, que não travou quando tinha começado a cair um forte aguaceiro, e abalroou tanto o Audi de Bonanomi como o Toyota de Stéphane Sarrazin. Mas enquanto Sarrazin conseguiu voltar às boxes, Bonanomi ficou pelo caminho. O Audi R18 nº 2 ficou horas no segundo lugar, quase sem capacidade para recuperar a diferença. O R18 devia tirar melhor proveito dos pneus com a descida de temperatura durante a noite, mas nesta fase o Toyota nº 7 era consistentemente mais rápido. O nº 1, esteve envolvido numa batalha pelo terceiro lugar com um dos Porsche 919.

Mas pouco antes do sol nascer, começaram os problemas. Primeiro, mal passaram as 12 horas de corrida, o carro nº 1 teve uma avaria na injeção, perdendo alguns minutos e caindo novamente para trás do Portugal. Duas hora depois, o Toyota que liderava a corrida abandonou, permitindo ao nº 2 entrar para o comando pela primeira vez. E o nº 1 vinha logo atrás, a tentar reduzir a diferença para o Porsche. Formava-se a dobradinha… Mas foi sol de pouca dura, pois teve que entrar nas boxes para trocar um turbo, uma operação raríssima nos dias de hoje.

Foi então que o nº 1 passou o Porsche e voltou para o comando. Tom Kristensen estava finalmente a caminho do seu décimo triunfo e só faltavam quatro horas das 24. Só que quatro horas é muito tempo para acontecer qualquer coisa. Também este carro teve que entrar nas boxes para trocar o turbo. Parecia que tínhamos voltado aos anos 70, a fiabilidade era coisa que não era garantida, e entretanto a Porsche estava na frente outra vez, uma felicidade que não durou 20 minutos, ficando unicamente com potência elétrica. Faltavam duas horas e Benoit Tréluyer já não teve problemas. Foi a terceira vitória para o francês e para os seus colegas, Marcel Fässler e André Lotterer, que já tinham vencido em 2011 e 2012. No segundo lugar ficaram Kristensen, Marc Gené e Lucas di Grassi, no carro que tinha sido destruído nos treinos e reconstruído em 24 horas. Gené não contava neste carro, mas teve que substituir Loïc Duval, impedido de correr pelos médicos depois do acidente nos treinos.

Hélio Rodrigues, In Memoriam

FOTOS Arquivo AutoSport

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