Vila Real: A primeira vez na TV em direto
Em 1970 a televisão tinha, pela primeira vez, transmitido em directo o principal evento do programa, mas a falta de emoção na segunda metade da prova convenceu os organizadores a reduzirem a distância novamente para metade no ano seguinte, rondando agora a de um Grande Prémio. Aberto na mesma a carros entre os Grupos 3 e 6, traduzir-se-ia por um dos eventos mais emocionantes disputados em solo nacional até então, com a luta pela vitória entre René Herzog, Nicha Cabral e Jorge de Bagration a durar quase até ao fim, com a vantagem a ir para este último, herdeiro da casa real da Geórgia e nascido no exílio em Espanha, aonde conseguiu uma longa, versátil e bem-sucedida carreira. Mantendo o mesmo formato, mas agora já sem os Grupo 6, banidos do Mundial de Marcas, a prova-rainha de Vila Real traduziu-se por um enorme lote de favoritos e uma grande imprevisibilidade, disputada até ao fim, e que seria vencida – com alguma sorte, diga-se na verdade – pelo quase desconhecido Claude Swietlick em Lola T290. 1973 foi o verdadeiro apogeu dos Sport-Protótipos em Vila Real, já que mesmo não contando para qualquer campeonato, reuniu quase todo o plantel do ultracompetitivo Campeonato Europeu de 2 Litros. Entre as estrelas internacionais destacavam-se Dave Walker, Peter Gethin, Vic Elford, Jean-Louis Lafosse, Jorge de Bagration, José Maria Juncadella, mas também os portugueses Nicha Cabral, Ernesto Neves e os dois Lola T292 da Team BIP, para Carlos Santos e Carlos Gaspar. Finalmente o vencedor foi um português – Carlos Gaspar – depois de uma prova extremamente inteligente em que nunca deixou fugir Walker e Gethin, e aplicou a pressão no momento certo, pulverizando no processo o record de volta à pista.
Ironicamente, este sucesso foi também o “canto do cisne” da Vila Real internacional até ao Século XXI. Os encargos com a organização e manutenção da pista, assim como com os prémios para atrair plantéis de tal nível, tornavam-se gradualmente incomportáveis, e a Crise Petrolífera de 1973-1974 levou à suspensão de todo o desporto motorizado em território nacional. Pouco depois, a Revolução do 25 de Abril abriu um período de enorme instabilidade política e económica, e com as nacionalizações de importantes patrocinadores-base, não havia condições para possibilitar um regresso do desporto automóvel à cidade transmontana. No entanto, a Revolução teve também o papel de renovar parte das estruturas dirigentes, tanto a nível nacional como local, e com a gradual estabilização após as eleições de 1976, os entusiastas vila-realenses começaram a discutir a criação de um clube organizador permanente, independente do poder autárquico e da Comissão de Festas da Cidade. Assim, em 1978, nasceria o Clube Automóvel de Vila Real (CAVR), que ainda de forma incipiente fez as motas regressarem ao traçado em 1978, e de imediato lançou “mãos à obra” para trazer de novo os carros no ano seguinte. A pista foi alvo de importantes melhoramentos, nomeadamente relacionados com as crescentes exigências a nível de segurança e com um novo tapete de asfalto, e introduziu-se pela primeira vez uma chicane, à entrada da ponte metálica.