Velocidade: Um novo élan nas pistas nacionais?
No fim de semana do WEC tivemos o arranque da Porsche Sprint Challenge Ibérica (PSCI) em Portimão, a primeira de seis rondas do campeonato ibérico, com duas jornadas em Portugal. Nos dias seis e sete de maio o CPV / ISE começa a época, também em Portimão. E do que vemos nas listas de inscritos, há motivos para nos animarmos.
A velocidade nacional tem produzido alguns dos maiores talentos do desporto motorizado português, mas já há muito tempo que se atravessava um marasmo que parecia difícil de ultrapassar. Depois de avanços e recuos, temos agora uma velocidade em Portugal que pode produzir bons espetáculos. As competições da ANPAC já nos habituaram a serem bem organizadas, o que tem promovido boas e bem preenchidas grelhas. As competições da CRM colocam-se de forma inteligente em zonas que podem atrair pilotos, com as competições KIA Picanto e Cee´d a serem excelentes portas de entradas para quem vem dos karts para os automóveis. Os Super Seven são uma classe quase à parte com boas e renhidas corridas, onde pilotos jovens e mais experientes trocam argumentos em máquinas onde o talento faz a diferença. A MotorSponsor aposta num conceito mais acessível de corridas com o sucesso dos C1, além da Car & Vibes Cup (antigamente Civic Atomic Cup). Não temos razão de queixa no que diz respeito a categorias ditas “secundárias”, sem qualquer tipo de desrespeito por quem promove e quem compete. Mas todos admitirão que o topo da Velocidade nacional não pode ser qualquer uma das competições mencionadas. E aqui, a lacuna era grande. Agora há duas opções que ganham força: A PSCI e o CPV / ISE.
O primeiro ano da GT3 Cup foi um sucesso e tivemos boas corridas. O segundo ano, faltando alguns dos pilotos que animaram o primeiro ano, foi menos positivo do ponto de vista desportivo, mas a organização conseguiu o selo de qualidade da Porsche, sendo agora uma competição oficial da marca de Weissach. A primeira amostra foi muito boa. Nomes sonantes para abrilhantarem a festa, como Dylan Pereira e até Bernardo Sousa e o primeiro capítulo de uma luta que promete entre Pedro Salvador e Francisco Mora. Mas outros pilotos como Manuel Alves, Vasco Barros, José Barros podem trazer ainda mais cor à luta.
No CPV a lista de inscritos vai ganhando mais volume, com quantidade e qualidade. Nomes como Francisco Carvalho, Nuno Batista, Carlos Vieira, Manuel Gião, Francisco Abreu, José Carlos Pires, Patrick Cunha, Jorge Rodrigues entre muitos outros (para não tornarmos a lista exaustiva) garantem um pelotão com quantidade e qualidade.
O que faltava à velocidade nacional? Um rumo bem definido e isso parece ser agora o caso com a PSCI que a nível regulamentar deverá manter estabilidade o que dá confiança aos investimentos. No caso do CPV, o promotor disse várias vezes que pretende manter a médio prazo a aposta nos GT4 / TCR e essa promessa parece atrair agora estruturas que estavam afastadas do CPV e novos projetos que podem dar mais interesse à competição.
A nível da promoção, começa-se a fazer um trabalho mais cuidado, com a informação a sair em tempo útil e com a possibilidade de podermos ver as corridas na TV ou nas redes sociais. Foi difcil, mas começamos a chegar ao ponto que todos desejavam. Em 2022, o retorno da velocidade em Portugal foi de 8.134.322€, atrás do TT (12.449.274€) e dos ralis (65.075.150€). Sendo evidente que os ralis são a categoria rainha em Portugal, não deixa de ser interessante ver que a Velocidade, que durante muito tempo andou sem rumo, não ficou muito longe do TT que é um campeonato de nível mundial. O que se pode conseguir se tivermos boas rivalidades em pista? Se os pilotos tiverem uma postura mais proativa na sua comunicação e na forma como abordam os OCS? Se não houver medo de pisa a linha do politicamente correto? As pessoas querem ver boas lutas e temos artistas para isso. E finalmente parece haver palcos para que possam mostrar o que podem fazer. Esperemos que este novo élan seja aproveitado da melhor forma. Pois ainda há artistas parados que podem trazer ainda mais qualidade à festa.
E se um dia, todos rumarem para o mesmo lado? Se tivermos apenas um campeonato, onde os melhores correm, todos reunidos na mesma pista, em busca do melhor lugar. Se os atritos da pista de Braga forem resolvidos, tendo quatro circuito para receber corridas (contando com Vila Real). É uma visão algo utópica, mas poderemos ter um campeonato de facto bom de seguir. Se um dia os interesses coletivos forem colocados em primeiro lugar, todos poderão ficar a ganhar. Até lá, vamos vivendo na esperança que esta nova semente que germina dê os frutos desejados.