Como João Barbosa começou a construir o sucesso nos ‘States’
João Barbosa recebeu um dia um convite: ser piloto de testes na Terra do Tio Sam. Hoje, assume ter sido irrecusável. Na altura, já a vida de um piloto profissional era complicada na Europa. E, apesar da distância, que o colocava longe de todas as suas referências, aos 24 anos não teve grandes hesitações. Ao fim e ao cabo, era a Terra das Oportunidades e, sediando-se em Palm Beach por uns anos, consolidou uma reputação que como bem se sabe hoje, deu frutos. Na altura foi, sem dúvida, um passo de gigante, de que nunca se arrependeu. Eis o caminho que percorreu, contado na primeira pessoa. Uma história muito sentida, ou não fosse ele do Porto.
João Barbosa nasceu no Porto a 11 de Março de 1975. Estreou-se na competição no Karting, em 1987, na Categoria Primavera. A partir daí, não mais parou e, hoje em dia, assume-se como piloto profissional.
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KARTING (1988 A 1990)
João Barbosa tem já uma longa carreira, como piloto de automóveis. Tinha apenas 12 anos quando tudo começou. “O início lógico – no karting.” “É a melhor maneira de alguém que quiser ser piloto começar uma carreira. A todos os níveis – mas especialmente em termos de reflexos, condição física e habilidade. Se um piloto não conseguir ser bom no karting, então não vale a pena continuar! O meu melhor momento foi, sem dúvida, o 3º lugar no Campeonato do Mundo de Fórmula A, uma posição que consegui mesmo sem ter pneus oficiais. Além disso, não esqueço que, em 1990, arranquei para a Final do Campeonato do Mundo Júnior, em Lonatto, do 2º lugar… e fui posto fora logo na volta de lançamento! E, também, a minha vitória em Hong Kong, em 1990, na primeira vez que a categoria Júnior aí correu.”
FÓRMULA FORD (1993 E 1994)
“Uma experiência diferente. Estava habituado a um nível de aderência que descobri que não existia na Fórmula Ford. Além disso, tive que me habituar às dimensões de um ‘fórmula’, algo complicado para quem vem do karting. Em termos de condução, um Fórmula Ford pode ajudar no futuro. Não tem asas e por isso temos que aprender bastante ao nível do ‘grip’ mecânico, como sejam os amortecedores e as suspensões. No meu primeiro ano, tive uma luta muito interessante, até final, com o Gonçalo Gomes e, depois, consegui capitalizar no título tudo o que então aprendi.”
FÓRMULA EUROPA BOXER ALFA ROMEO (1995)
“Antes disso, fiz um teste com um Fórmula Opel da Vergani, que correu muito bem. Porém, a falta de ‘budget’ impediu que fosse em frente e, assim, escolhi a Fórmula Europa Bozer. Era muito mais razoável e, além disso, tinha em prémios para o vencedor 100 milhões de liras – além de 2 motores Alfa Romeo com as revisões todas pagas. Sabia que era um grande risco, mas acabei por ganhar o título, que ficou decidido na última corrida, depois de ter passado todo o ano a lutar com o Enrique Bernoldi e o Giovanni Anapoli. Tratava-se de um campeonato interessante e dei-me bastante bem. Ainda hoje mantenho boas relações com o Gabriele Lucidi, que era o dono da equipa e me deixou viver, num quarto que tinha por cima da oficina, durante o ano. Quanto ao carro, era muito idêntico ao Fórmula Renault, com chassis tubular e motor Alfa Romeo em vez de Renault. Como prémio, tive também direito a fazer um teste com um Alfa Romeo 155 do DTM. Havia um lugar em aberto na equipa e, mais tarde, vim a saber que a escolha foi feita entre mim e o Jason Watt. Escolheram o Watt, por questões de mercado…”
FÓRMULA 3 (1996)
“No final do ano de 1995, investi todo o dinheiro do título na Prema, bem como os dois motores, para fazer o Campeonato de Itália de Fórmula 3. E posso dizer que correu bastante bem. O motor Alfa Romeo estava no seu último ano e não era tão forte como o Opel do Andrea Boldrini, com quem lutei até ao fim pelo título. E só não o ganhei porque a Fiat não deixou a equipa utilizar os seus motores, insistindo para que eu fizesse toda a temporada com os velhos Alfa Romeo. Quanto ao Fórmula 3, trata-se de um verdadeiro carro de corrida. Tinha muita aderência e um excelente chassis e travões. Só faltavam cavalos, pois nessa altura não tinha mais que 180 e via-se bem que aguentava muitos mais. Além disso, comecei a trabalhar com alta tecnologia e a tratar dados eletronicamente e isso foi muito importante.”
FÓRMULA ATLANTIC TOYOTA (1997)
“Neste ano veio o ‘salto’ para os Estados Unidos. Ainda por influência e conselho da Prema, aceitei um desafio que era fazer o campeonato de Fórmula Atlantic, numa equipa nova, de um italiano à muito radicado nos States. Não foi fácil, num ambiente novo, num campeonato e em pistas desconhecidas para mim. Era uma equipa muito pequena, mas o carro era excelente. Deu-me muito gozo fazer esse campeonato, apesar do ‘budget’ ser muito pouco. Testes, não existiam – era chegar às pistas, fazer os treinos e tentar encontrar as melhores afinações e, logo de seguida, era a corrida. Comecei de uma forma esperançosa, com um 4º lugar em Homestead e, de facto, acabei por fazer alguns pódios. O ano correu bastante bem e abriu-me outras portas. Basicamente, o Fórmula Atlantic era um carro muito competitivo, um Fórmula 3 mais evoluído, com 250 cavalos e pneus largos, muito agradável de conduzir. Nesse ano, o que mais me arrepiou foi correr nas ovais. Ainda hoje não esqueci o meu “rookie day”, em Nazareth – não era só eu que nunca tinha corrido em ovais, a equipa também não e, assim, as afinações eram uma verdadeira desgraça. Foi, digamos, um pouco complicado…”
ISRS (1998)
“Este ano foi o mais ‘tranquilo’ da minha carreira. A minha experiência nos Estados Unidos parecia não ter continuidade e não apareceram muitas oportunidades. Uma das poucas, foi fazer três ou quatro corridas do ISRS com a equipa Centenari, num Protótipo. Afinal, as coisas até nem correram muito mal – na corrida de Le Mans, no circuito pequeno (Bugatti), terminei em 3º lugar.
USRRC/SUPER SPORTS CAR AUSTRIA EUROSERIES/FIA GT (1999)
“Felizmente, em 1999 tive um ano bem mais preenchido. Estava, no entanto, cada vez mais longe dos monolugares – do que até hoje não me arrependo nada. A certa altura, recebi um convite da Mosler para fazer um teste com um GT2, denominado Intruder. Eles tinham planeado fazer as três últimas corridas do campeonato USRRC, que depois deu lugar ao Grand Am. Foi muito interessante. Era outra realidade, fazer corridas de resistência, em carros de Turismo, fechados. Correu bem – fiz duas “pole positions”, bati o recorde em duas pistas e venci uma corrida. Com o Mosler Intruder, fiz ainda a corrida do FIA GT que teve lugar em Miami. Qualifiquei-me em 4º lugar, debaixo de chuva torrencial, enquanto os três primeiros o fizeram com a pista mais ou menos seca! Na corrida, depressa subi ao 3º lugar e passei a rodar atrás dos Viper da Oreca. O meu Intruder era mais rápido que eles, mas estava com problemas de pneus e a caixa de velocidades acabou por não resistir. Uma pena… Na Europa, participei no Super Sports Car Austria Euroseries, um campeonato pouco expressivo, com Protótipos, mas muito curioso. Terminei em 2º lugar, depois de ter ganho uma prova e ter acabado duas em segundo.”
ALMS (2000)
“Em 2000, fiz duas corridas deste campeonato, com um Porsche. Nesse ano, depois dos resultados de 1999, a Mosler perguntou-me se não estaria interessado em desenvolver um carro novo, o MT 900, tanto na versão de estrada, como na de competição. As coisas estavam a ficar difíceis na Europa e, assim, decidi aceitar. Dediquei-me a 100 por cento no desenvolvimento do carro, fiz milhares de quilómetros de testes e, nesse sentido, a experiência foi muito proveitosa. Infelizmente, fiz apenas aquelas duas provas.”
GRAND AM (2001)
“Depois de ter desenvolvido o Mosler, naturalmente fiz a sua estreia no campeonato Grand Am e logo com uma pole position, em Daytona. No entanto, o carro tinha alguns problemas de fiabilidade e não durou muito na corrida, tal como estávamos à espera. Acabamos por não disputar todo o campeonato, pois a equipa decidiu vender o MT 900 à equipa japonesa Team Sri Lanka, para a qual aliás fiz diversos testes, no Japão. No fim do ano, disputei mesmo uma corrida, em Sepang, tendo sido 2º nos treinos e terminado em 5º, pois o meu colega de equipa era muito lento.”
ROLEX SPORTS CAR SERIES (2002 E 2003)
“O Mosler tinha demonstrado ser um bom carro, bastante rápido e uma equipa francesa, a Perspective Racing, comprou um dos MT 900, para participar no Rolex Sports Car Series, na categoria GT. No primeiro ano, as transmissões não aguentavam muito e tivemos vários problemas por isso. Mesmo assim, em dez corridas fiz seis poles e ganhei uma prova, em Homestead. Terminei o campeonato em 3º. O ano passado foi um excelente ano – mesmo o melhor, desde que saí das ‘fórmulas’. Sempre com o Mosler, liderei até quatro ou cinco corridas do fim, quando a equipa decidiu abandonar o campeonato, descontente com os regulamentos, que permitiam correr na nossa classe os carros da Trans Am, que tinham mais 200 cavalos que o nosso. Curiosamente, terminei o ano na Heritage Motorsport, que fazia correr os meus adversários, os Mustang. Uma situação curiosa, mas que me permitiu afastar da ideia que as pessoas tinham, de que eu era um piloto ‘Mosler’ e que não sabia correr noutro carro. Entretanto, corri também na Europa, com o Mosler de Martin Short e, com ele, venci a classe nos 1000 Kms de Spa, ultrapassando o líder mesmo na última volta!”
No Troféu Toyota Carina E
Em 1996, João Barbosa efetuou algumas corridas no Troféu Toyota Carina E, uma organização da Salvador Caetano, “que me apoiava na F3. Sugeriram-me fazer algumas provas e aceitei com muito agrado. Foi uma experiência curiosa. O Carina E era um excelente carro, que curvava muito bem. Claro que não tinha nada a ver com aquilo a que estava habituado, mas deu-me muito gozo!” Para que conste, João Barbosa venceu, mesmo assim, a Rampa de Murça e terminou em 2º lugar a prova de Barcelona, “colado ao Álvaro Figueira”, depois de ter sido atirado para o último lugar logo na primeira volta. Memórias que ficam…
Teste ao Minardi em 1996
Nos finais de 1996, como prémio pela sua excelente temporada com a Prema, no Campeonato italiano de F3, João Barbosa foi convidado a efectuar um teste, com um Minardi de F1. O desiderato sucedeu a 28 de Outubro, em Misano e Barbosa foi um dos três jovens pilotos que, nesse dia, estiveram ao volante do carro da equipa de Faenza. Para as crónicas, reza a história que o melhor tempo do portuense foi 1m18,220s: “Para mim, foi um sonho tornado realidade. Sabia que não tinha hipóteses, até porque a Minardi tinha já escolhido o Estebán Tuero como piloto para 1997, mas pelo menos consegui guiar um F1, o que só por si foi excelente. O teste correu muito bem e a minha ‘carreira’ na F1 ficou por aqui!”
Este foi o ‘arranque’ da carreira de João Barbosa nos EUA, de seguida o palmarés até hoje, em que se contabilizam dois títulos na United Sports Car Championship em 2014 e 2015. O ano passado na WeatherTech SportsCar Championship foi segundo no campeonato, este ano, na IMSA WeatherTech Sportscar Championship foi terceiro, e para o ano corre com Filipe Albuquerque e Christian Fittipaldi.
Até aqui soma 227 corridas, 21 triunfos, 68 pódios, 10 pole-postions e 16 voltas mais rápidas. Olhando para trás, 2007 e 2008 foram os anos em que não conseguiu vitórias, daí para cá venceu sempre, pelo menos uma vez. O ano que venceu mais vezes, três, foi 2014, o do primeiro título nos protótipos norte-americanos.
2017 IMSA WeatherTech Sportscar Championship – Cadillac DPi, 3º, 284 pontos, Mustang Sampling Racing
2016 WeatherTech SportsCar Championship – #10 Chevrolet Corvette DP 5.5L V8, 2º, 311, Action Express Racing
2016 FIA World Endurance Championship – LMP2, #40 Ligier JS P2 Nissan Krohn Racing
2015 United Sports Car Championship – Corvette DP Chevrolet 5.5, 1º, 309, Action Express Racing
2015 FIA World Endurance Championship – LMP2 Ligier JS P2 (Judd 3.6 V8)
2014 United Sports Car Championship – Corvette DP Chevrolet LS9 5.5, 1º, 349, Action Express Racing
2013 Grand American Rolex Series – Corvette DP, 6º, 306, Action Express Racing
2012 Grand American Rolex Series – Corvette DP, 7º, 342, Action Express Racing
2012 American Le Mans Series – LMP2, HPD ARX-03b (Honda), 7º, 24, Level 5 Motorsports
2011 Grand American Rolex Series – Riley Mk XI (Porsche), 5º, 314, Action Express Racing
2011 American Le Mans Series – LMP2, Lola B08/80 (Honda), 3º, 56, Level 5 Motorsports
2011 Intercontinental Le Mans Cup – LMP2, Lola (Honda), 0, Level 5 Motorsports
2011 Le Mans 24h – LMP2, Lola Coupe (Honda), 3º, 0, Level 5 Motorsports
2010 Grand-Am Rolex Sports Car Series – Riley (Porsche), 20º, 260, Action Express Racing
2010 American Le Mans Series – GT2, Ferrari F430 GTC 4.0L V8, 21º, 27, Extreme Speed Motorsports
2010 NASCAR K&N Pro Series – West, Chevrolet, 70º, 94, iRacing.com
2009 Grand-Am Rolex Sports Car Series – Riley (Porsche), 9º, 266, Brumos Racing
2009 Le Mans Series – LMP1, Pescarolo (Judd), 18º, 3, Pescarolo Sport
2009 Le Mans 24h – LMP1, Pescarolo (Judd), 8º, 0, Pescarolo Sport
2008 Grand American Rolex Series, Riley Technologies (Porsche), 3º, 340, Brumos Racing
2008 Le Mans Series – LMP1, Pescarolo (Judd), 18º, 3, Rollcentre Racing
2008 Le Mans 24h – LMP1, Pescarolo (Judd), 10º, 0, Rollcentre Racing
2007 Le Mans Series – LMP1, Pescarolo (Judd), 6º, 19, Rollcentre Racing
2007 Le Mans 24h – LMP1, Pescarolo (Judd), 4º, 0, Rollcentre Racing
2007 Grand American Rolex Series, Porsche Riley, 49º, 43, Brumos Racing
2006 Le Mans 24h – LMP2, Radical SR9 (Judd), 5º, 0, Rollcentre Racing
2006 FIA GT – GT1, Balfe Motorsport, Saleen S7R
2006 Radical Challenge Portugal, 2º, 86
2006 Le Mans Series – LMP2, Radical SR9 (Judd), 15º, 6, Rollcentre Racing
2006 Le Mans Series – LMGT2, Porsch 911 GT3 RSR, 23º, 3, Thierry Perrier
2005 American Le Mans Series – LMP1, Dallara SP1 (Nissan), Rollcentre Racing
2005 Le Mans 24h – LMP1, Dallara LMP (Judd), 8º, 0, Rollcentre Racing
2005 Le Mans Endurance Series LMP1, Dallara (Nissan), 7º, 19, Rollcentre Racing
2005 Grand American Rolex Series – GT, Hoosier, 62º, 53
2004 FIA GT, Saleen S7-R, 69th, Ray Mallock Limited
2004 Le Mans 24h – LMP1, Dallara – Judd, 0, Rollcentre Racing
2004 American Le Mans Series – LMP1, Dallara SP1 (Judd), 12º, 16, Rollcentre Racing
2004 Le Mans Endurance Series LMP1, Dallara LMP (Judd), 16º, 8, Rollcentre Racing
2004 American Le Mans Series – GTS, Saleen S7-R (Ford), 11º, 16, ACEMCO Motorsports
2004 Grand American Rolex Series – GT, Maserati Trofeo Light 4.2L V8, 16º, 152, Scuderia Ferrari WA
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