Schnitzer MotorSport: O que aprendemos com a queda de um gigante?
Em alguns pontos deste planeta, falar em BMW e falar na Schnitzer é falar da mesma coisa. A marca da Baviera e o preparador Freilassing andaram de mãos dadas durante décadas a fio, mas a relação terminou e o nome Schnitzer está prestes a desaparecer. Mas afinal o que falhou?
Dependência
A equipa alemã estava ligada à BMW desde quase a sua fundação, em 1967, e garantiu inúmeros títulos ao longo dos anos, incluindo cinco vitórias nas 24 Horas de Spa, cinco triunfos nas 24 Horas de Nurburgring, um Campeonato do Mundo de Carros de Turismo, um título BTCC, um título do DTM, as 24 Horas de Le Mans de 1999, para além dos vários outros triunfos nos territórios ultramarinos portugueses de Angola e Macau.
Mudam os tempos, mudam-se as vontades. No dia seguinte ao anúncio do término da relação com a Schnitzer Motorsport, a BMW Motorsport revelou novas parcerias com quatro equipas de “sim racing”: Team Redline, Williams Esports, G2 Esports e BS+COMPETITION. Com o fim do programa oficial da BMW no DTM e com o término do ciclo de vida do M6 GT3, a marca da Baviera retirou o apoio oficial ao seu parceiro habitual para este ano. Sem qualquer programa de fábrica para a temporada de 2021, que contribuía com cerca de 90% do orçamento anual da equipa, e incapaz de encontrar um investidor, a Schnitzer Motorsport entrou em insolvência.
Um estrutura sobredimensionada
Ao contrário de grande parte das equipas de automobilismo (n.d.r: excluindo da Fórmula 1 e NASCAR), que dependem de pessoal contratado a “part-time” para realizar a maior parte do seu trabalho, a Schnitzer tinha mais de dezena e meia de funcionários a tempo inteiro. No “antigo” DTM, com o orçamento disponível, este cenário era plausível, mas deixou de o ser quando a BMW dispensou a equipa do campeonato em 2016, para que esta se concentrasse nas corridas de GT. Contudo, ainda no ano passado, a Schnitzer tinha nas suas mãos o desenvolvimento do M4 GT3, o programa no International GT Challenge, a participação nas Nürburgring Endurance Series e nas 24 Horas de Nürburgring, o que a permitia continuar a operar no modelo antigo.
A equipa passou a ser chefiada por Herbert Schnitzer Jr após Charly Lamm ter deixado o seu cargo no final de 2018, meses antes de falecer. Enquanto Charly Lamm estava ao leme, ele que era a alma e coração da equipa e uma figura altamente respeitada no meio, a Schnitzer teve inicialmente um papel chave no desenvolvimento do M4 GT3, carro que este ano deverá completar a sua homologação FIA GT3 e que é o “cabeça de cartaz” da competição-cliente da BMW Motorsport, mas por alguma razão terá sido afastada desse papel.
Competição cliente esquecida
Não há nenhuma equipa na categoria GT3 que viva e sobreviva só com capital injetado por um construtor. Alugar lugares ou preparar carros para clientes é um negócio lucrativo, mas este é um mercado altamente competitivo e com excesso de oferta. A BMW Team Schnitzer correu com dois M6 GT3 no ADAC GT Masters em 2018 – um pago pela fábrica e outro entregue a dois pilotos pagantes – mas a fórmula não foi repetida.
Com uma estrutura pesada, a equipa encontrava-se pouco motivada em seguir outro caminho. Afinal de contas, a BMW Motorsport oferecia-lhe uma mão cheia de corridas por ano. Porém, quando a marca de Munique decidiu para este ano cortar no orçamento da competição automóvel, a incapacidade da equipa em se reestruturar não a permitia ser minimamente competitiva no mercado “arrive & drive” das categorias GT3 e GT4.
Nem tuning, nem clássicos
Outros gigantes de outrora sobrevivem hoje de outros negócios ligados ao ramo, como produção de acessórios para tuning ou da preparação de carros clássicos de corrida. São disso exemplos a Kremer Racing, a Freisinger Motorsport, a Roock Racing, a JMB Racing e até a própria Joest Racing.
A Schnitzer também teve uma leve incursão nas corridas de carros históricos, mas nunca fez disso grande lucro. Como Schnitzer Jr justificou numa entrevista recente, “desde a crise do novo coronavírus que esse segmento abrandou. Desde 2019 que não temos nenhum cliente novo e o mercado de peças originais da BMW para corridas de clássicos é ainda muito pequeno”.
Apesar de ter as suas origens na Schnitzer Motorsport, a AC Schnitzer – empresa especializada em tuning de modelos das marcas BMW e MINI – é hoje uma empresa completamente independente e pertença do Kohl Group.
Faltou um investidor
Assim que ficou claro que não havia volta a dar e a marca de Munique ia fechar a torneira, Schnitzer Jr terá oferecido, tardiamente e sem sucesso, os seus serviços a outros construtores para se manter à tona. Afinal, o preparador de Freilassing em meados dos anos 1970s deu as mãos à Toyota Deutschland para correr com o Toyota Celica LB Turbo de Grupo 5 da Divisão 1 do campeonato DRM.
O pagamento das ações da empresa o ano passado à viúva de Charly Lamm terá sido, segundo Schnitzer Jr, um enorme fardo financeiro para a empresa. Contudo, em finais de 2018, a equipa esteve muito perto de encontrar um salvador. O nome do investidor foi proposto e aceite na altura pela BMW Motorsport. Contudo, após diversas burocracias que se prolongaram por 2019, no último minuto o investidor terá mudado de ideias.
Voltaremos a ver a Schnitzer a correr?
Não é de todo impossível. Apesar de estar a liquidar todo o espólio, incluindo os troféus e carros que fizeram a história da equipa nas pistas, Schnitzer Jr ainda mantém firme a ideia de vender a marca “Schnitzer Motorsport” e o seu logo a quem estiver interessado e apresentar garantias de um projeto condigno. Contudo, ninguém acredite que Schnitzer Jr vá vender a marca fundada pelo seu pai por meia dúzia de tostões.
Há aqui qq coisa que me escapa. Dezena e meia (15) funcionários é uma estrutura pesada? Mais do isso precisavam de certeza só para o DTM. Algo não está bem nesta notícia.
De qq forma, talvez seja verdade que a Schnitzer tenha deixado de buscar o lote vasto de clientes que tradicionalmente tinha e se tenha concentrado demais a trabalhar para a própria BMW.
Uma pena!