Crónica de Zandvoort: Fez-se história com a primeira vitória no DTM
A manhã acordou nublada, Félix da Costa já nos tinha revelado que as hipóteses de chuva baixaram de 60 % para 40%, logo adiantando que iria ser igual para todos. Para além do mais “já aqui ganhei na Fórmula Renault à chuva”, portanto isso seria tudo menos um problema. O pequeno almoço nem sempre é assim tão interessante, já que partilhá-lo com Jens Marquardt e António Félix da Costa não acontece todos os dias. O ‘patrão ‘ da BMW MotorSport explicou-nos a que se deve esta mudança repentina no DTM, quando a BMW passa do fim do pelotão para colocar sete carros nos sete primeiros lugares, como sucedeu na primeira corrida. Basicamente, explicou a “sensibilidade do DTM”. Marquardt falou-nos também do desenvolvimento do novo M6 GT3, dos planos da BMW na Fórmula E e da expetativa de ver como as coisas evoluem no desporto automóvel para eventualmente seguir uma linha lógica. Falou também de Félix da Costa e do facto do seu piloto estar finalmente a juntar à sua reconhecida velocidade todos os pormenores em que o DTM é rico e dessa forma desbloquear todo o seu potencial. Depois foi a vez de António Félix da Costa explicar como tem sido a sua evolução no DTM, e que vai trocar de equipa na Fórmula E. E o primeiro teste é já amanhã. Depois, algo completamente novo, já que assistimos ao briefing técnico da Prema Powerteam na F3, onde militam alguns dos melhores pilotos da F3 europeia, Felix Rosenqvist, terceiro na atribulada corrida de hoje, Jake Dennis e o jovem de quem muito se fala, o filho do milionário Lawrence Stroll, Lance Stroll, que nos confessou que aprendeu com os erros que cometeu recentemente mas também já fez boas corridas.
Mas este dia tinha tudo para se tornar ainda mais especial, e quando chegou a qualificação do DTM, cedo se percebeu que António Félix da Costa se mantinha no topo onde tinha andado todo o fim de semana. Reparem que a pior sessão do piloto da Schnitzer foi um terceiro lugar e na segunda qualificação, depois de ser segundo durante algum tempo, os registos começaram a cair e Félix da Costa ia descendo na lista. Mas a sua melhor volta vinha a caminho e não demorou muito, colocando o seu BMW M4 DTM no primeiro lugar, assegurando desta forma um dos pressupostos que necessitava para este ser mais um fim de semana inesquecível da sua carreira. Muitas vezes já assistimos ao piloto ser deitado abaixo depois de prestações, não diria menos boas, mas classificações menos boas, porque no DTM tudo é tão equilibrado que terminar uma qualificação a três décimos do mais rápido, como aconteceu em Norisring foi suficiente para Félix da Costa ser apenas 17º. Só que as coisas mudaram aqui em Zandvoort, e o piloto português tornou-se no primeiro a conseguir trazer uma pole para Portugal no DTM. O segundo pressuposto para um fim de semana de sonho estava cumprido, e entre meios-festejos, porque um pole não dá direito a festa rija, recebeu um telefonema de Tiago Monteiro, também ele a fazer pela vida em Vila Real, e a frase que se ouviu soou perfeita: “Como é Tiagão, eu já fiz o meu trabalho aqui, como é tu aí?”. Mas ainda não era tudo, pois havia uma longa corrida pela frente. Falei com o António pouco antes de se ir preparar para a corrida, e a confiança era grande:
“A embraiagem controla-se bem, se partir bem é excelente!” E partiu mesmo, como disse na conferência de imprensa final: “Parecia um foguete!” Encontrava-me no terraço das boxes no ponto mais perto do interior da célebre curva Tarzan e daí não se vê a grelha. Portanto quando os carros surgiram no meu horizonte visual, tinha a esperança que o primeiro fosse um BMW M4 DTM com as cores da Red Bull e a verdade é que era mesmo… e apareceu ‘meia hora’ antes do BMW preto do Spenser e do colorido Shell de Augusto Farfus. Mais um pressuposto cumprido! Enquanto não houver DRS não há crise! Uma duas, três, cinco, dez, quinze, as voltas acumulavam-se, já se olhava mais para o cronómetro regressivo do que para outra coisa qualquer. Mas ainda havia um momento decisivo para cumprir. As paragens nas boxes. Spengler, então segundo, foi o primeiro. Teve azar, pois devido ao tráfego nas boxes teve de ficar parado mais um tempo, o suficiente para perder a posição para Augusto Farfus.
O brasileiro foi às boxes na mesma altura que Félix da Costa e manteve-se atrás dele, já que os procedimentos das duas equipas foram semelhantes e nada mudaram. Na altura, houve pilotos que adiaram muito a paragem nas boxes, pelo que a luta pelo primeiro lugar dava-se um pouco mais atrás na grelha, sempre com Félix da Costa na ‘frente’, mas agora com Farfus em segundo, e o brasileiro andou sempre muito perto de Félix da Costa, que não meteu uma roda fora do sítio: “sabia que ele teria que arriscar muito para me conseguir passar, por isso como fazia bem a última curva, ganhava ali uma pequena margem que era boa para chegar bem à primeira curva. Sabia que o Farfus não podia ‘mergulhar’ e por isso ele só teria hipóteses se eu estivesse aflito com o meu carro e por isso quis andar sempre certinho, para ele não poder dizer pelo rádio que eu estava aflito”. Já faltava pouco, mas a vitórias ainda não estava garantida. O brasileiro andou muito tempo à volta dos dois décimos atrás de Félix da Costa, mas quando se chegou aos últimos minutos de corrida percebeu-se que Farfus já não iria tentar nada e assim aconteceu. Numa volta 0,263, na seguinte, 0,380, na outra, 0,450, portanto estava tudo controlado, portanto Félix da Costa só tinha que garantir que não errava.
E não errou. Aqui faço só um preâmbulo para dizer que não estava previsto ver a corrida toda pois era um grande risco face ao número de espectadores que iriam sair do circuito logo a seguir À corrida e isso era um risco que iria correr para chegar a tempo ao avião. E Félix da Costa sabia disso, que já iráimossó saber o desfecho a caminho do aeroporto. Mas não. Decidimos ficar, porque afinal estava a fazer-se história no desporto automóvel português. Félix da Costa ganhou, tornou-se no primeiro piloto português a vencer uma corrida do DTM e nós ficámos para ouvir a ‘Portuguesa’ em Zandvoort. Quando nos viu na sala de imprensa, sorriu de orelha a orelha, pois tínhamos ficado para com ele partilhar este momento tão especial da sua carreira. Depois de um ano e meio complicado, de muita aprendizagem no DTM, Félix da Costa finalmente ‘juntou tudo’ e obteve uma vitória inteiramente merecida, que até Augusto Farfus, que no dia anterior não tinha ficado nada contente com o português depois daquela ultrapassagem no braço na primeira curva, destacou. A partir daqui não se sabe muito bem o que vai acontecer no futuro, nem os próprios diretores das três Marcas, BMW, Mercedes e Audi sabem muito bem como tudo vai evoluir, mas a verdade é que saiu um peso de cima das costas do piloto português. Fica assim escrita mais uma página de outro do automobilismo português.
José Luis Abreu
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