Opinião: Mais perto do CPV que todos queremos

Por a 29 Novembro 2023 12:09

Quem foi ao Estoril no fim de semana passado para ver a última jornada do CPV, não pôde deixar de ficar agradado com o que viu. Uma grelha de carros de luxo, uma boa moldura humana e boas corridas. Após anos de incerteza, o CPV começa a encontrar o seu rumo.

O que tínhamos

A velocidade nacional iniciou em 2022 um novo ciclo. De 2014 para cá, a categoria principal da velocidade nacional teve como máquinas de eleição sport protótipos, TCR, passando depois por uma fase de indefinição que depois resultou na aposta nos GT Cup e agora (na sua maioria) nos GT4 com a companhia dos TCR. Em oito épocas, vimos cinco ciclos. Em oito anos deveríamos ter visto apenas dois ciclos, três no máximo. Vínhamos dos GT´s, que acabaram por ser tornar demasiado caros para a realidade nacional, passamos para os protótipos que não convenceram e foram trocados pelos TCR, que pareciam a solução certa para a nossa realidade, o que acabou por não acontecer com o campeonato a ficar moribundo. Foi preciso a ANPAC pegar na velocidade em 2019 para dar continuidade à categoria rainha, que passou por uma fase de indefinição onde as grelhas eram feitas de uma diversidade demasiado grande de carros. Mérito seja dado a quem o merece, não fosse a ANPAC, a velocidade teria morrido.

Depois de mais algumas trocas, a Race Ready pegou no campeonato com aposta nos GT4 e TCR. O trabalho feito em 2022 e 2023 começa a dar frutos e as grelhas começam a ficar cada vez maiores, com diversidade de máquinas, com novos projetos a surgirem e com as equipas a investirem nos GT4 com menos receios, uma vez que a estabilidade regulamentar parece garantida a médio prazo. No Estoril, tivemos talvez o melhor fim de semana deste novo ciclo, quer ao nível dos participantes, quer ao nível das prestações.

O que temos

Em pista vimos lutas renhidas, vimos excelentes manobras, fora de pista, tínhamos máquinas igualmente imponentes, uma boa festa que atraiu muitas pessoas. É verdade que as bancadas receberam poucas pessoas, algo que não assusta a organização que entende que bancadas cheias no Estoril só em eventos muito específicos. Mas estivemos presentes no local e vimos muitas pessoas, com um recinto onde podia comer e beber enquanto viam as corridas, com um acesso relativamente fácil às equipas. Olhando para o que já foi a Velocidade, temos de ficar agradados com a evolução que tem sido feita.

Se o promotor do campeonato conseguir manter uma média de 20 carros por prova, o CPV começará a ganhar mais força. Mas nota-se pela primeira vez em muito tempo que o rumo escolhido agrada à maioria, que as equipas estão contentes com o trabalho feito, que os pilotos parecem ter mais vontade de investir em projetos desportivos. Mérito a quem o tem, a Race Ready tem feito um bom trabalho e os frutos desse esforço começam a notar-se.

O que podemos ter

O CPV está no caminho certo, mas pode ser mais do que é. Diogo Ferrão tem apostado numa filosofia inteligente: se a península ibérica tem excelentes pistas e uma excelente meteorologia, além de ter muitos interessados pelas corridas, deve-se aprimorar o produto para que mais pilotos e equipas de fora se interessem. O mercado português é demasiado pequeno, mas em conjugação com o espanhol, ganha força e dinamismo para atrair projetos de fora. Nesse aspeto o rumo parece ótimo e se a economia não pregar partidas, poderemos ter um crescimento gradual e sustentado.

Mas há pormenores que ainda fazem falta para termos um CPV ainda melhor. A problemática das várias classes presentes em pista e dos consequentes vencedores parece inevitável para já. Colocar apenas GT4 em pista vai reduzir drasticamente o número de participantes e a variedade em pista. Não é o cenário ideal chegarmos ao fim do ano e anunciar vários campeões, coroados de forma justa, pois a tabela de pontos não engana. Será preciso um esforço da comunicação social e do promotor para facilitar a mensagem e não dar a ideia de que “todos ganham”.

Outra questão prende-se com os palcos, neste caso a falta deles. Atualmente, Portugal tem apenas dois circuitos permanentes em atividade, Estoril e Portimão, com Vila Real a receber corridas apenas uma vez por ano e Braga ainda a viver tempos de indefinição. Fala-se num projeto para fazer um circuito no Norte, mas esse é um investimento avultado, nada fácil de fazer. O país precisa de um circuito no Norte e mesmo o novo Circuito do Sol, está localizado numa zona onde será difícil levar adeptos para ver corridas (nem a estrutura foi pensada para isso como prioridade). Faltam palcos para termos um CPV mais forte.

Por fim, as estrelas. Há qualidade nos paddocks nacionais e mais que isso… há caráter. As pistas nacionais estão recheadas de pilotos interessantes que por vezes se escondem ou não se mostram. Mas quem já passou algum tempo entre as estrelas nacionais, sabe que há histórias deliciosas que merecem ser contadas e que poderiam atrair mais público. A comunicação social, o promotor e os próprios pilotos devem trabalhar essa vertente. As grandes competições vivem das suas estrelas. As nossas estrelas nacionais, tendem a esconder-se apesar de terem muito para dar.

Passo a passo, o CPV volta a ter força para encarar o presente e o futuro com otimismo. Há pormenores a melhorar que levam o seu tempo e já muito foi feito em pouco tempo. Resta esperar que o crescimento se mantenha e que possamos ver um nacional de Velocidade ainda mais forte e atrativo.

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