O que tem de errado o Honda NSX GT3?

Por a 7 Fevereiro 2021 10:10

O facto da Red Bull ter escolhido correr com dois Ferrari no “novo” DTM, em vez de ter apostado nos carros do seu parceiro na Fórmula 1, a Honda, traz para a mesa uma questão: o que há de errado com o NSX GT3?

Quando Gerhard Berger e o Dr Marko anunciaram o regresso da Red Bull ao DTM, muitos de nós esperávamos que a Honda fosse fornecer os carros para este “stunt” mediático. Afinal, o construtor japonês ainda está “em dívida” com a Red Bull, após a decisão abrupta de abandonar a Fórmula 1 no final do ano, deixando o seu parceiro descalço e em posição precária. Contudo, no final das contas, a marca de bebidas energéticas austríaca escolheu dar as mãos à AF Corse e utilizar os 488 GT3 para esta sua primeira grande ofensiva numa competição com carros da classe FIA GT3.

A Honda nunca quis alinhar no DTM nos tempos da defunta Classe 1, tendo no NSX-GT500 do campeonato Super GT uma arma capaz de ombrear com os gigantes da indústria automóvel alemã e recusou juntar-se à festa quando lhe foi encarecidamente pedido. Agora, com a competição de matriz alemã a cair no saco das corridas da classe GT3, esta passará a ser tratada como competição-cliente dentro do seio da marca. Fonte oficial da Honda disse que esta “não está desinteressada do DTM”, mas para concretizar uma participação a vontade tem de existir por parte “de um cliente privado”.

Como parte do NSX GT3 Customer Racing Program, a Mugen e a Honda Performance Development (HPD) são responsáveis pelo suporte técnico e vendas no Japão e América do Norte, respetivamente, enquanto a JAS Motorsport tem a responsabilidade pelo suporte da viatura no resto do mundo. O chassis é criado no Performance Manufacturing Center em Marysville, Ohio, EUA. A montagem final é completa pela JAS Motorsport em Milão, Itália. Apesar da forte ligação à marca japonesa e papel na construção dos NSX GT3, a JAS Motorsport não é a equipa oficial da Honda per se.

A equipa italiana é responsável pela implementação, mas não actua independentemente, pois todas as decisões têm de ter o aval da casa-mãe. A estrutura italiana pode montar os NSX GT3 Evo e por diversas vezes vestiu a camisola do Team Honda Racing, mas não decide onde estes correrão. É nos escritórios do edifício da sede da marca em Minato, Tóquio, que se desenha a estratégia e é de lá que saem estratégias como aquela que fez com que a JAS Motorsport alinhasse com um NSX GT3 na temporada completa do Intercontinental GT Challenge no ano passado.

Disponibilizar um camião de peçase suporte técnico em pista não é com certeza um grande problema para o grupo liderado por Alessandro Mariani, mas resta saber quanto a Honda Racing está disposta a dispensar para um programa desportivo desta natureza. Para além da Fórmula 1 e das diversas actividades nas duas rodas, a marca tem no Japão presença oficial no Super GT e na Super Fórmula, enquanto que nos EUA, a HPD (Honda Performance Development) gere os programas da IndyCar Series e do IMSA Sportscar Championship com a marca Acura. O programa mais notório na Europa é a presença tímida na Taça do Mundo FIA de Carros de Turismo – WTCR em parceria com a Münnich Motorsport GmbH.

A Honda é o sétimo maior construtor automóvel do mundo, com 4,8 milhões de automóveis vendidos no ano fiscal de 2020. Contudo, a sua dimensão na União Europeia é reduzida, tendo no espaço europeu vendido apenas 133 mil automóveis. O Japão e o continente asiático representam 50% do volume de vendas da marca, enquanto que os EUA contaram 38%. A verdade é que as vendas da Honda na Europa estão em queda, tendo agora pouco mais de 0,6% da quota do mercado, o que obviamente tem reflexos negativos nos programas desportivos.

Fora do Japão e dos EUA, o modelo NSX GT3, não tem sido um caso de sucesso, nem de resultados, nem de vendas. Curiosamente, este é um dos poucos modelos da categoria FIA GT3 que nunca correu em Portugal, apesar de no ano passado Tiago Monteiro tivesse tentando correr com um na prova de GT & Sport-Protótipos, que foi corrida de suporte do Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1. Apenas se contabilizam quatro unidades em competição no “velho continente”, sendo que três delas foram adquiridas este ano pela Nova Race (2) e Fugel Sport (1), e a primeira pela Reno Racing. Fora do Japão, no continente asiático foram vendidas duas. O seu preço – 465,000 euros sem IVA – até é bastante competitivo, comparando com os seus rivais.

Além da clara falta de vontade de Tóquio em torná-lo num modelo de sucesso fora dos seus dois maiores mercados, comparativamente aos rivais germânicos e aos dois grandes transalpinos, a NSX GT3 sofre de um estigma difícil de ultrapassar no mercado europeu e no asiático, fora do Japão, como explica Jacky Yeung, que fez provas soltas num NSX GT3 no Blancpain GT Asia Series; “Uma coisa é dizer que se corre de Ferrari, Porsche ou Lamborghini, outra coisa é dizer que se corre num Honda…”

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