João Barbosa: “Vencer Daytona é indescritível!”
João Barbosa foi um dos responsáveis por termos o melhor domingo da história recente do automobilismo nacional. Ele, Filipe Albuquerque e Christian Fittipaldi venceram as míticas 24 horas de Daytona, batendo o recorde de voltas dado ao traçado e o recorde de distância percorrida na prova. Um dia memorável a todos os níveis. Quisemos saber qual era o estado de espírito do português, que aumentou para 3 a sua colecção pessoal de relógios Rolex vindos de Daytona.
Qual a sensação de vencer pela 3ª vez Daytona?
A sensação é excelente como é lógico. Nunca é fácil ganhar uma corrida com 24 horas e Daytona é uma das corridas mais difíceis. É muito intensa e muito cansativa, mas quando se chega ao fim no primeiro lugar, é uma sensação indescritível, não só para nós, como para toda a equipa. É uma corrida que coloca todos à prova e por isso vence-la é qualquer coisa de único.
Foi uma vitória muito difícil onde enfrentaram muitas dificuldades. Qual foi a chave do sucesso para a vitória?
Penso que a chave do sucesso foi o trabalho de equipa. A Action Express preparou-se muitíssimo bem para esta prova, estamos sempre precavidos para todas as eventualidades e tentamos afinar todos os pormenores. A Action Express é uma equipa que tem provado a sua valia com os resultado que tem obtido, sobretudo nas corridas de 24h em que tem um palmarés incrível. Quem esteve de fora pode ter pensado que estava tudo controlado, até porque lideramos grande parte da prova e fomos sempre muito competitivos, sem erros e com um bom ritmo. Mas na verdade, tivemos de lidar com o problema de sobreaquecimento do motor durante 6 horas de prova, o que não é nada fácil. A equipa reagiu da melhor maneira e nunca entrou em pânico. Aproveitamos uma das poucas interrupções para fazer uma rápida intervenção no carro, afim de minimizar o problema e não perdemos tempo. Infelizmente o #31 não teve tanta sorte e fez a operação com bandeiras verdes o que resultou na perda de 3 voltas e foram essas voltas de avanço que nos permitiram depois controlar melhor a corrida nas 6 horas finais.
Desde que eu iniciei o meu último turno que tive de gerir com muito cuidado a parte do motor. Não podíamos acelerar a 100%, mesmo nas retas, e tínhamos de usar apenas 50 a 70% do acelerador, o que nos fez perder muito tempo. Mas a equipa deu-nos o um objetivo de tempo por volta para tentar chegar ao final ainda com vantagem em relação ao segundo classificado, o que se revelou a decisão certa. Essa gestão, que foi feita pelos preparadores dos motores, os engenheiros foi fundamental, pois descobriram a fórmula para vencermos.
Ainda tivemos algumas dúvidas no final, pois o motor estava realmente a sofrer bastante mas felizmente aguentou até à bandeira de xadrez.
Chegou a temer pelo resultado final?
Há sempre uma incerteza, embora tenha sempre acreditado que chegaríamos ao final. Eu estava a ouvir todas as comunicações e decisões que estavam a ser tomadas. Houve uma altura que foi equacionado fazer uma paragem e perder a vantagem que tínhamos, e aí comecei a ficar preocupado, pois se tivéssemos de lutar de igual para igual com alguém, iríamos ter muitas dificuldades e não sabíamos se o motor ia aguentar. Aí houve muita troca de opiniões mas no final a equipa tomou a decisão de levar o carro até o final, independentemente do que acontecesse e foi essa decisão que nos permitiu vencer.
Acha que esta vitória tem um sabor especial?
Todas elas têm um sabor especial. Quando se consegue chegar ao final de uma corrida de 24 horas e vencer, é sempre um feito muito grande, para os pilotos e para a equipa. Todas elas têm um sabor especial e é difícil destacar uma. A primeira é porque é a primeira, a última porque ainda estamos a festejar… é complicado para mim escolher alguma. Todas são conseguidas com muito trabalho durante todo o ano. Esta foi diferente porque tive o Filipe como companheiro de equipa o que é excelente e é também porque houve um pouco de sentimento de vingança pelo que aconteceu no ano passado, em que nos foi tirada a vitória nos minutos finais. Ter conseguido no ano seguinte dar a volta a essa desilusão, surgindo mais fortes foi algo de muito especial também.
Esse fantasma do ano passado pesou nos momentos finais?
No ano passado estávamos competitivos e a lutar pelo primeiro lugar com outro carro, este ano foi muito diferente pois estávamos a lutar contra nós próprios e a tentar chegar ao fim mesmo com o problema do motor. Dependia apenas de nós e do nosso comportamento. Como eram situações tão diferentes não pensei muito nos acontecimentos do ano passado.
Em Portugal diz-se que esta é uma das páginas de ouro do Automobilismo nacional? O que sente com esse reconhecimento?
É muito bom sentir o apoio de Portugal! Este ano pela primeira vez tivemos o Cônsul que veio assistir à prova, assim como vários representantes da embaixada de Portugal, e também vários portugueses ligados a empresas que estão a investir nos EUA. Foi um fim de semana que correu muitíssimo bem a Portugal. Representar o meu país num campeonato e numa prova desta dimensão, que teve um atenção mediática como não há comparação nos últimos anos e vencer a corrida, foi uma sensação excelente. E é sempre bom saber que desse lado as pessoas seguem o que fazemos e isso dá-nos ainda mais ânimo.
Que avaliação faz da concorrência?
É óptimo e é uma concorrência que desejávamos há vários anos. É excelente ter equipas como a Penske e a Joest interessadas no campeonato. Isto só vem elevar o nível de competição e vem valorizar ainda mais as vitórias. Vencer uma corrida destas contra equipas deste calibre é ainda mais saboroso. O resto do campeonato será extremamente difícil e as vitórias terão de ser realmente merecidas, pois os andamentos estão equilibrados. A Penske foi muito competitiva mas não foi uma surpresa para nós, pois já antecipávamos isso. Estamos ansiosos pelo resto do campeonato.
Houve alguma equipa que o surpreendeu?
Não, porque estávamos à espera de uma concorrência forte. A Penske tem já muita experiência, embora seja o primeiro ano com este carro. Eles fizeram muitos testes antes do início da época e sabíamos que iriam estar preparados. Se calhar as surpresas foram pela negativa com a ESM e a Joest. Os carros da Joest foram extremamente rápidos mas sofreram com com a pouca fiabilidade e a ESM, que já tinha experiência do ano passado, não conseguiu terminar com nenhum dos carros, embora tenham demonstrado um excelente andamento. Se calhar foi o que mais me surpreendeu, não ver nenhum destes carros à chegada.
Qual o maior desafio em Daytona? Qual o segredo para se vencer nesta prova?
É preciso ter muita paciência. Acho que é uma das provas mais difíceis, na minha opinião mais difícil que Le Mans, pois é uma pista com pouco mais de 5 km, com 50 carros em pista, com andamentos muito diferentes. Além disso não é muito larga e estamos constantemente a ultrapassar os carros mais lentos, enquanto lutamos com os adversários directos, o que requer um nível de concentração muito elevado assim como uma grande dose de paciência para fazer as ultrapassagens no momento certo. Para vencer estas provas é preciso primeiro chegar ao fim e não cometer erros. É uma corrida muito exigente sem nenhum tempo de descanso, e em todas as voltas temos de ultrapassar vários carros. O desgaste mental e físico e muito maior do que se fosse em Le Mans, por exemplo.
Quais são as suas perspectivas para este ano? O que espera do campeonato?
Esta foi apenas a primeira corrida mas já deu para entender que podemos ser bastante competitivos. Com certeza que haverá dias melhores e outros menos bons mas creio que estaremos na luta pelas vitórias de igual para igual com o resto das equipas. O Filipe vai ter muito trabalho este ano, pois terá de aprender várias pistas novas para ele, mas creio que com a nossa ajuda, não irá ter problemas de adaptação. Acho que podemos ser uma das equipas com potencial para lutar pelo campeonato até ao final.
Tem algum plano para correr noutras categorias a curto prazo?
Neste momento não. Ainda ponderei a possibilidade de fazer algumas corridas extra, mas estou 100% focado neste campeonato e nesta equipa. Não me vejo a fazer corridas que possam tirar a minha atenção deste campeonato. Tudo que seja corridas fora deste âmbito pode ser uma distração e não estou disposto a isso, mas se surgissem algumas oportunidades de guiar carros semelhantes a estes e que me dessem possibilidades de aprender algo novo e progredir, iria com certeza avaliar com atenção. Tenho sempre a mente aberta a outras opções, tendo em conta que isso pode ajudar a nossa performance no nosso campeonato.
E Le Mans 2018?
Não está fora de questão mas não tenho feito contactos nesse sentido. Já fiz a prova várias vezes, mas neste momento não está no topo das minhas prioridades.
O IMSA está numa fase muito positiva. O que pensa da recente evolução do campeonato?
É apenas o 2º ano com estes novos carros mas o IMSA tomou excelente decisões e está a provar que teve razão, comparativamente ao que aconteceu com o WEC. Acho que o IMSA está no rumo certo, e o campeonato está a ser um sucesso enorme e estou certo que a tendência é melhorar ainda mais. As equipas da Europa perceberam o potencial do campeonato e que o nível das equipas americanas é excelente, o que o torna mais apetecível. Outro aspecto importante e a possibilidade das equipas europeias virem correr com os seus carros e seria excelente que o contrário também pudesse acontecer.
Acha que isso pode acontecer?
É complicado. Conhecendo a mentalidade que há na Europa, acho muito difícil abrirem as portas aos nossos carros para irem competir com os LMP2
Como vê a sua nova parceria com o Filipe, que irá ser o seu colega de equipa a tempo inteiro? Ajuda ele ser também português?
O Filipe está connosco porque mereceu o lugar e nas corridas que fez connosco fez um trabalho excelente. Por isso a equipa contratou um excelente piloto, que por acaso é português. A questão da comunicação é obviamente importante mas já com o Christian era uma questão que estava facilitada. É uma excelente adição para a equipa e vai permitir-nos lutar pelos lugares cimeiros. Vai ter muito trabalho para se adaptar as novas pistas mas acredito que o vá conseguir com relativa facilidade.
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Um gosto ler esta entrevista.
Os 3 vencedores vão continuar juntos ( O Christian F. segue como director desportivo), o Autosport não conseguiria fazer uma entrevista filmada e oferecer a todos?
Era assim Daytona(beach) antigamente:
É um grande feito não haja dúvida,até porque não estamos a falar duma prova qualquer. È uma das grandes clássicas do automobilismo mundial. É uma vitória absoluta, quase 70 % portuguesa e é isso que fica nos livros de História. Não são vitórias à classe ou a divisões secundárias.
Fez-se História , daquela com letra bem grande.
Amanhã (quinta-feira) todos ao aeroporto de Lisboa, vamos receber o Filipe às 11h10 como ele merece.