IMSA, ROAD AMERICA: Acura emergiu do dilúvio
A mãe natureza anda chateada com o desporto automóvel norte americano e a prova da IMSA realizada em Road América, no Wisconsin, foi duramente afetada por uma verdadeira tempestade da qual emergiu vencedor o Acura de Helio Castroneves e Ricky Taylor, tendo Álvaro Parente e João Barbosa naufragado no meio da borrasca.
Diz o povo que “quem não chora, não mama” e depois da tareia dada pela Cadillac em Sebring, a Acura fez o choradinho para ter um melhor Bop através de uma voz autoritária e respeitada, Hélio Castro Neves. E a IMSA fez-lhe a vontade o que se percebeu logo nos treinos livres com o domínio dos carros do Team Penske que desaguou numa “pole position”, a décima da sua carreira na IMSA, para Ricky Taylor, esgueirando-se para a primeira posição por apenas 0,318s face a Dane Cameron, o piloto do outro Acura ARX-05. João Barbosa não esteve feliz e foi apenas o sexto mais rápido ao volante do Cadillac DPI que partilha com Sebastian Bourdais. Este estado de coisas acabou por deixar indicações para o que acabaria por suceder na corrida.
Dizer que estiveram presentes, apenas, quatro carros na categoria LMP2, seis nos GTLM, oito nos DPI e 13 nos GTDaytona (GT3). Ainda assim um plantel de 31 carros.
Corrida interessante no início
A prova de Road América tinha uma duração de duas horas e 40 minutos, mas acabou com uma bandeira vermelha que durou 21 minutos em uma bandeira amarela geral (Full Course Yellow) que demorou 22 minutos. Um dilúvio que veio atrapalhar a corrida, devido aos muitos acidentes, e dar-lhe uma face diferente.
Porque as coisas começaram em fanfarra: Ricky Taylor saiu disparado aproveitando a “pole position”, com Dane Cameron a perder o segundo lugar e desfazendo a dupla do Team Penske que estava na primeira fila da grelha. O Mazda de Henry Tincknell sonhou com o assalto ao primeiro lugar, mas imediatamente Cameron impôs o Acura, reestabelecendo a ordem. A horda de Cadillac ficava atrás dos Acura e Mazda, liderados por Ryan Briscoe com João Barbosa a ficar na cauda do pelotão dos carros americanos.
Como habitualmente, as dobragens aos pilotos atrasados formaram o grão que emperra a engrenagem, nomeadamente, a do Tincknell que foi passado por Tristan Nunez (Mazda) numa atrapalhação do britânico. Pior foi a situação do segundo Acura: atrapalhação na dobragem a alguns GT e Dane Cameron começou a ver cada vez maior nos espelhos o Mazda de Nunez e cada vez mais pequeno o Acura de Taylor.
Felizmente para ele, Nunez perdeu o norte e a posição para Tincknell, até que chegaram as paragens nas boxes. Primeiro os Mazda, depois os Cadillac e, finalmente, os Acura.
Após as paragens nas boxes, o drama levantou-se imediatamente: Dane Cameron olvidou que o Acura tinha os pneus frios, cometeu um erro e na ânsia de recuperar sem perder a posição para o mais rápido Mazda RT24-P de Harry Tincknell, acertou-lhe e furou um pneu. Para juntar castigo à desgraça, o piloto da Acura acabou penalizado com um “drive through”.
Afastado um dos Acura, a matilha de Mazda e de Cadillac tentaram cercar o ARX-05 de Ricky Taylor e após mais uma paragem nas boxes, Tincknell ficou no Mazda, para o Acura entrou Hélio Castroneves, mas ambos foram enganados por Tristan Nunez: o norte americano atirou o Mazda DPI para uma volta rapidíssima e entrando uma volta depois dos líderes, Oliver Jarvis saiu das boxes na liderança. Porém, presa por segundos já que os três primeiros rodavam num espaço de pouco mais de um segundo.
As paragens nas boxes voltaram a entrar em jogo, com o primeiro e o terceiro a entrar ao mesmo tempo, o segundo ficou mais uma volta em pista. Tincknell, finalmente, saiu do Mazda para entrar Jonathan Bomarito. A paragem não correu bem e o carro japonês caiu para o terceiro lugar. Mas o outro Mazda estava endiabrado e Oliver Jarvis passou pelo Acura de Castroneves, herdando a liderança quando os Cadillac pararam.
O dilúvio transformou a corrida
Ou seja, como se percebe, estava uma corrida muito entretida até que a mãe natureza chateou-se e abriu as torneiras celestiais e espoletando uma série de incidentes: Pipo Derani saiu de pista, alguns GT foram espalhando terra pelo circuito e Renger van der Zande (Cadillac) conseguiu entrar nas boxes e trocar para pneus de chuva na altura certa. Uma paragem que viria a ser decisiva para o resultado final da prova.
Oliver Jarvis cometeu um erro de julgamento: não entrou nas boxes e quando o quis fazer, mais um GTLM fez das suas e com a bandeira amarela a ser lançada, o Mazda ficou preso em pista devido às boxes estarem fechadas. O RT24-P estava com borrachas para seco, atrás de si estavam vários carros com pneus para piso molhado (Castroneves, Bomarito, Bourdais e Derani).
A bandeira vermelha acabou por sair devido à muita chuva e porque faltavam 30 minutos para fechar a corrida. Durou pouco mais de 20 minutos a interrupção da prova, a chuva abrandou e a corrida recomeçou em bandeira amarela. Foi nessa altura que a equipa Multimac decidiu jogar roleta russa: Oliver Jarvis ficou em pista com pneus de seco. Quando perceberam que a roleta tinha a bala na câmara, chamaram Jarvis à box no recomeço da prova quando faltavam menos de sete minutos para acabar a corrida!
Morreu a possibilidade de vitória para a Mazda, escancarou-se a porta do sucesso para Ranger van der Zande, mas o piloto do Cadillac tropeçou nos atacadores, saiu largo na primeira curva e estendeu a passadeira vermelha a Hélio Castroneves para este caminhar até á vitória. E quase perdeu o segundo lugar! Porém, nova bandeira amarela, na última volta, congelou o pelotão e deu a vitória a Hélio Castroneves e Ricky Taylor (Acura), seguido de Ranger van der Zande e Ryan Briscoe (Cadillac) e Felipe Nasr/Pipo Derani (Cadillac). João Barbosa e Sebastien Bourdais (Cadillac) terminaram fora do pódio no quarto lugar, depois de uma corrida sem grandes destaques ou percalços. Os dois Mazda, lutaram pela vitória e acabaram longe do pódio.
A categoria LMP2 foi dominada de forma clara pela dupla Simon Trummer e Patrick Kelly até que chegou a chuva, Trummer despistou-se depois de um desentendimento com o Acura de Juan Pablo Montoya e deixou escapar a vitória para o carro da DragonSpeed pilotado por Bem Henley e Henrik Hedman.
Vitórias para a Corvette e para a Lexus nos GT
Entre os carros dos GTLM, a corida começou com grande animação e a luta entre os BMW M8, os Corvette C8 e os Porsche 911 foi muito entretida. Após uma dezena de voltas e com as ultrapassagens dos protótipos, Jordan Taylor (Corvette C8) foi passado pelo Porsche de Laurens Vanthoor, depois do americano ter cometido um erro. O outro Corvette estava com problemas elétricos e ficava fora da luta pela vitória, enquanto Bruno Spengler tentava juntar o seu BMW M8 aos primeiros.
As paragens nas boxes, claro!, deitaram mão á classificação e baralharam as coisas, com Earl Bamber (Porsche) a sair na frente dos Corvette e dos BMW. Problemas nas boxes para Antonio Garcia (Corvette) pareciam que tinham adiado, mais uma vez, a vitória do C8, mas a sorte pensou diferente: Earl Bamber tentou ficar de “slicks” em pista molhada e, evidentemente, saiu disparado na travagem para a primeira curva, voou pela escapatória e acertou nas barreiras de proteção, fazendo sair uma bandeira amarela que acabou por se transformar em vermelha pois a chuva tinha recrudescido de intensidade.
Com as paragens nas boxes de vários pilotos, atrapalhados com falta de gasolina e pneus de seco em piso molhado, deixando John Edwards (BMW) na frente de Antonio Garcia (Corvette). Mas Edwards e Nick Tandy, o terceiro classificado, saíram de pista, saiu a bandeira amarela e a vitória caiu no colo de Antonio Garcia e Jordan Taylor, seguido de Oliver Gavin e Tommy Milner, numa absolutamente inesperada dobradinha para o Corvette C8.
Finamente, nos GT Daytona (da categoria GT3), o domínio da Lexus continuou, com Frankie Montecalvo e Towsend Bell a ganharem na frente de Mario Farnbacher e Matt McMurry (Acura NSX GT3) e de Jack Hawksworth e Aaron Telitz (Lexus RC F GT3). O dilúvio que se abateu sobre a pista de Elkhart Lake juntou mais um problema às dificuldades de adaptação do Acura NSX GT3 de Álvaro Parente. Micha Goikhberg não conseguiu melhor que o oitavo lugar entre 13 carros na qualificação, deixando claro que a corrida seria complicada. A chuva deixou um sorriso na face de Parente, acreditando que poderia “enganar” a menor competitividade do Honda “no braço”. Porém, tudo começou em piso seco e quando Álvaro Parente recebeu o NSX das mãos do seu colega canadiano, desabou um dilúvio e, sem saber muito bem como, o piloto português escorregou numa das muitas poças do circuito com o Acura equipado com pneus de seco e o abandono foi inevitável.
“Foi um fim-de-semana complicado! Nunca conseguimos ter o carro equilibrado e nunca fomos muito competitivos. Esperava que a chuva pudesse alterar um pouco esta situação, mas a forma repentina, intensa e localizada como caiu apanhou-nos, assim como a diversos pilotos e acabámos por sair de pista. É sempre frustrante abandonar, mas foi um conjunto de circunstâncias que fugiram ao nosso controlo e nada poderíamos fazer para o evitar. Vamos continuar a trabalhar para podermos ser competitivos nas próximas provas”, declarou no final Álvaro Parente.
Classificação final
1º Helio Castroneves/Ricky Taylor Acura DPI 2h43m13,909s
2º Ranger van der Zande/Ryan Briscoe Cadillac DPI a 0.383s
3º Filipe Nasr/Pipo Derani Cadillac DPI a 4.131s
4º João Barbosa/Sebastien Bourdais Cadillac DPI a 36,994s
5º Jonathan Bomarito/Harry Tincknell Mazda DPI a 40,192s
6º Oliver Jarvis/Tristan Nunez Mazda DPI a 4m04,486s
7º Chris Miller/Tristan Vautier Cadillac DPI a 1 volta
8º Henrik Hedmann/Ben Henley Oreca LMP2 a 2 voltas (1º LMP2)
9º Dane Cameron/Juan Pablo Montoya Acura DPI a 2 voltas
10º Antonio Garcia/Jordan Taylor Corvette C8R a 3 voltas (1º GTLM)
(…)
17º Frankie Montecalvo/Towsend Bell Lexus RCF GT3 a 6 voltas (1º GTDaytona)
Classificadas 30 equipas