Fórmula E – Sonho português mantém-se bem vivo
Há um ano estávamos a torcer para que António Félix da Costa se sagrasse campeão de Fórmula E, o que aconteceu. Este ano queremos mais.
A época 2021 da Fórmula E tem sido das mais disputadas e mais entusiasmantes de sempre. O equilíbrio nunca foi tão grande e o facto de 18 pilotos poderem ainda ser campeões na última jornada, em Berlim, diz bem do que tem sido o espetáculo.
2021, à imagem de 2020, foi ainda muito afetado pela pandemia com um calendário que foi sendo revisto, acabando por ter oito jornadas, sete delas duplas, com a exceção do Mónaco. Assim, cada fim de semana ganhou ainda mais peso, numa competição já muito equilibrada.
Equilíbrio como nunca vimos
A melhor prova deste equilíbrio está nos números: 10 pilotos venceram este ano na Fórmula E, 19 conseguiram subir ao pódio e 10 conquistaram a pole, com o campeonato a ter quatro líderes ao longo das sete jornadas que antecederam a grande final de Berlim. Com 58 pontos em jogo, há matematicamente 18 pilotos ainda em luta pelo título, isto num plantel com 25 pilotos, na primeira vez que a Fórmula E é oficialmente um campeonato do mundo FIA.
O início da época ficou marcado claramente pela maior força da Mercedes. Nyck de Vries e Stoffel Vandoorne deram nas vistas nas primeiras corridas e parecia que a Mercedes estava com ideias de igualar os feitos da equipa de F1. Nas primeiras cinco corridas vimos três vitórias da Mercedes, duas para De Vries, mas a Corrida 1 em Valência (terceira jornada) foi a última vez que vimos a Mercedes a vencer. A partir daí vimos uma espiral descendente dos Flechas de Prata, com prestações discretas e a consequente queda na tabela classificativa até à última jornada em que a equipa voltou a dar um salto e regressou aos primeiros lugares. Quem se evidenciou também foi a Jaguar, com Sam Bird e Mitch Evans a levar a marca britânica a um nível nunca antes visto. A Jaguar, que entrou na Fórmula E para ter sucesso mas foi preciso esperar quatro épocas para vermos os britânicos na forma que sempre desejaram. Bird entrou líder em quatro corridas, menos uma que De Vries, os homens que mais tempo passaram no topo da tabela. Mas a regularidade é a chave do sucesso na Fórmula e foi por isso que vimos Edoardo Mortara (Venturi) liderar a meio da época (graças à sua vitória em no México). Outro homem que se fez valer da sua regularidade foi Robin Frijns, que depois da saída de Bird para a Jaguar, se assumiu como a estrela da Virgin, com boas prestações que o fizeram liderar o campeonato durante duas corridas, tal como Mortara.
Os destaques
Mas este campeonato não é só de líderes. Jake Dennis, estreante em 2021 pela BMW, teve um começo titubeante, mas conseguiu encontrar o caminho do sucesso, sendo, a par de Bird e De Vries, os únicos que conseguiram vencer por mais de uma vez (duas vitórias cada). Dennis deixou Max Gunther (colega de equipa) a um canto e é candidato na sua primeira época nesta competição, um feito de que nem todos se podem orgulhar. Nick Cassidy, estreante e colega de Frijns na Virgin, também teve um começo difícil mas depressa se estabeleceu, tendo uma vitória em seu nome e tem também o título ao seu alcance. Outro estreante que deu nas vistas foi o experiente René Rast. O caso do alemão é mais específico pois já competiu anteriormente na Fórmula E, mas 2021 foi o primeiro ano a tempo inteiro na competição 100% elétrica e com bons resultados, sendo dos pilotos que mais lugares conseguiu recuperar nas provas deste ano. Outros destaques são Evans, menos exuberante que o seu colega de equipa (Bird) mas com uma época positiva e Alex Lynn, piloto da Mahindra que tem mostrado bom andamento nestas últimas corridas. Destaques pela negativa vão para a Porsche, de quem se esperava um pouco mais, apesar de Pascal Wehrlein ainda estar nas contas pelo título, a alguma distância e mais uma época péssima para André Lotterer. A Nissan também ficou muito longe do topo, com Sebastien Buemi a ser uma sombra do que já foi e Oliver Rowland a mostrar velocidade, mas a errar em demasia. A Audi, que se despede da competição apenas nas rondas finais, deu um ar da sua graça. Rast ainda pode chegar ao título, mas não é algo muito provável.
Félix da Costa motivado
Mas o que nos interessa verdadeiramente é a DS Techeetah, equipa de António Félix da Costa, campeões em título. O arranque foi ligeiramente abaixo do esperado, mas a equipa foi subindo de produção até chegarmos ao Mónaco onde Félix da Costa venceu de forma imperial, uma das melhores corridas de sempre do campeonato. A qualidade do trabalho e da equipa falaram mais alto e a DS Techeetah voltou ao topo da tabela. Isto até a penúltima ronda, onde o azar voltou a bater à porta.
Félix da Costa tem mostrado fibra de campeão e uma resiliência só ao alcance dos melhores, o que o tem colocado sempre nos primeiros lugares. Se nas primeiras corridas a equipa (ainda sem propulsor novo) ficaram aquém do que queriam, apesar do pódio em Diriyah, as coisas foram melhorando até chegarmos a Valência onde Félix da Costa foi o mais rápido na corrida 1, sendo prejudicado por pelas sucessivas interrupções que levaram muitos pilotos a terminarem sem energia. No Mónaco deu o salto desejado para os primeiros lugares, onde se tem mantido desde então. O incidente com André Lotterer em Londres complicou as contas do título, mas é com a garra do costume que Félix da Costa encara esta batalha final, num terreno onde já foi muito feliz no passado:
“Estou motivado como nunca, muito bem preparado física e mentalmente e com a lição bem estudada. Sei que não será fácil, o nível dos pilotos que estão na luta é altíssimo, e na Fórmula E existem muitos fatores que podem influenciar o resultado, mas estou confiante que temos boas chances de lutar!”
A vantagem clara do ano passado em Tempelhof não deverá repetir-se este ano:
“Penso que em termos técnicos, nesta altura todas as equipas deram um grande salto em relação ao ano passado e estão todas muito mais fortes. Já não temos a pequena vantagem que tínhamos no ano passado. De qualquer forma, mentalmente estarei ainda melhor e quero utilizar isso a meu favor, tal como fiz o ano passado, procurar entrar na máxima força para desmoralizar os meus adversários. Repito, não será fácil, mas essa é parte da estratégia.”
A muito criticada qualificação, que obriga os primeiros a enfrentar uma pista muito suja, não é algo que atemorize o piloto de Cascais:
“Claro que não me favorece, sou provavelmente o piloto que mais vezes esteve no grupo 1 das qualificações. Todos na Fórmula E sabem que a regra tem de ser repensada para o próximo ano, mas por agora não há muito a fazer, é procurar fazer um “milagre” e passar à superpole, mas como já disse não é fácil, pois a evolução da pista na qualificação é enorme e principalmente no grupo 1 a pista encontra-se sempre muito “verde”.
Esta tem sido uma época dura e intensa para o Félix da Costa:
“Considero a época mais desgastante que tive na Fórmula E. Lutamos muito, fiz grandes corridas desde o fundo da grelha até aos pontos, tive também alguns azares, mas acho que todo o esforço e dedicação fez-me chegar à última corrida na luta do título. Dou o exemplo: quando as coisas correm menos bem na qualificação, eu luto na corrida com todas as minhas forças, o Jean-Éric Vergne baixa os braços e raramente recupera. Não quero comparar e muito menos sobressair, apenas constatar, porque é verdade, que lutamos todas as corridas e merecemos estar na luta por este título.”
Quanto ao seu colega de equipa, Félix da Costa não espera que haja ordens de equipa para que Vergne ajude na luta pelo título:
“Nada está definido, ele matematicamente pode ainda ser campeão, apesar de serem reduzidas as suas chances, mas por agora não houve nenhuma conversa nesse aspecto. Vamos esperar e ver, o meu papel é guiar e fazer o melhor possível, as regras de equipa não me cabe a mim decidir, mas não tenho dúvidas que a Mercedes jogará em equipa para proteger o de Vries. O que posso garantir é que vou deixar tudo o que tenho em pista e sei que o apoio dos Portugueses me vai ajudar, depois se trazemos o título para Portugal ou não vamos ver, mas estou preparado como nunca e motivado como nunca.”
Classificação Geral
1 | Nyck de Vries | 95 |
2 | Robin Frijns | 89 |
3 | Sam Bird | 81 |
4 | Jake Dennis | 81 |
5 | António Félix da Costa | 80 |
6 | Alex Lynn | 78 |
7 | Nick Cassidy | 76 |
8 | Mitch Evans | 75 |
9 | Edoardo Mortara | 74 |
10 | René Rast | 72 |
11 | Pascal Wehrlein | 71 |
12 | Jean-Eric Vergne | 68 |
13 | Stoffel Vandoorne | 63 |
14 | Lucas di Grassi | 62 |
15 | Maximilian Gunther | 62 |
16 | Oliver Rowland | 59 |
17 | Andre Lotterer | 45 |
18 | Alexander Sims | 44 |
19 | Nico Müller | 30 |
20 | Sébastien Buemi | 20 |
21 | Norman Nato | 17 |
22 | Sérgio Sette Câmara | 16 |
23 | Oliver Turvey | 13 |
24 | Tom Blomqvist | 5 |
25 | Joel Eriksson | 1 |
Classificação por equipas
1 | Envision Virgin Racing | 165 |
2 | Mercedes-EQ Formula E Team | 158 |
3 | Jaguar Racing | 156 |
4 | DS Techeetah | 148 |
5 | BMW i Andretti Motorsport | 143 |
6 | Audi Sport ABT Schaeffler Formula E Team | 134 |
7 | Mahindra Racing | 122 |
8 | TAG Heuer Porsche Formula E Team | 116 |
9 | ROKiT Venturi Racing | 91 |
10 | Nissan e.dams | 79 |
11 | Dragon / Penske Autosport | 47 |
12 | NIO 333 FE Team | 18 |