Fórmula E: O porquê da confusão no grupo 1 da qualificação
O grupo 1 da qualificação é, habitualmente, o mais confuso e aquele que onde vemos os piores resultados. As equipas optam por enviar os pilotos para a pista ao mesmo tempo, o que tem levantado muitas questões.
Puebla, à imagem da grande maioria das qualificações, foi palco de mais duas sessões de qualificação algo confusas no grupo 1. Vimos os pilotos a saírem com pouco tempo para fazerem a volta de lançamento e usualmente os pilotos ficam tão próximos que é frequente haver disputas muito acesas por posições, o que leva a tempos por volta menos competitivos e até a alguns toques. Muitos leitores têm questionado este procedimento, pelo que o AutoSport tentou entender os motivos para esta opção aparentemente pouco acertada.
Duarte Félix da Costa, irmão de António Félix da Costa, que segue a carreira do piloto da DS Techeetah a par e passo e conhece como poucos os bastidores da Fórmula E, ajudou-nos a entender os motivos que levam as equipas a arriscar tanto no primeiro grupo, quando nos restantes grupos tudo parece acontecer de forma mais fluida.
Here we go then. Group 1 heads out on track ⚡️
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O principal motivo para que o grupo 1 seja o mais confuso e o mais difícil deve-se à sujidade da pista. Sabemos que a pista vai evoluindo ao longo do fim de semana e que, em teoria, o grupo 4 tem a pista em melhores condições que o grupo 1 (isto se a chuva não resolver aparecer). Mas a diferença do grupo 1 para o grupo 2 é significativa, como explicou Duarte Félix da Costa:
“Como o primeiro e o segundo treino livre acontecem com pouco tempo de diferença, as condições de pista mantêm-se relativamente iguais. Mas do segundo treino livre para a qualificação, são duas horas em que não há atividade nenhuma na pista, o que leva o traçado a ficar muito sujo e as temperaturas também diferem, como é de esperar. Mas o ponto fulcral é a sujidade na pista. Isso implica que o primeiro carro em pista no grupo 1, tem uma desvantagem enorme para o segundo carro e como tal ninguém quer ser o primeiro, pois isso acarreta um handicap considerável.“
“Mas mesmo que alguém decidisse que queria ir em primeiro para evitar a confusão, assim que o carro saísse os outros iam atrás e a confusão seria igual.”
Poderia pensar-se que fazer duas voltas antes da volta de qualificação poderia resolver este problema, mas a escolha de fazer duas voltas tem de ser bem ponderada e não depende apenas da temperatura dos pneus:
“A escolha de fazer duas voltas ou uma antes da volta lançada já depende de outros fatores, como a temperatura dos pneus e das baterias, além do tempo disponível. Em termos de pneus não há vantagem fazer duas voltas e geralmente essa opção é tomada em função do que se pretende para as baterias. O que acontece é que as baterias têm uma janela ótima de funcionamento e por vezes há necessidade que a temperatura seja colocada de forma gradual, para permitir uma performance ótima e daí ser tomada a opção de dar duas voltas. No caso de Puebla, como o traçado era relativamente grande, não havia essa necessidade. Os carros não têm performance ótima logo à saída das boxes e é preciso aquecer um pouco as baterias para que tal aconteça. Em corrida, como as unidades motrizes não estão no modo máximo e estão mais tempo em modo de regeneração, esse fator é minimizado.”
Absolute chaos from Group 1, with @nyckdevries *just* making it across the line and a HUGE lock up from @RFrijns into Turn 1 😅
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O grupo 1 é definitivamente o mais duro da qualificação pois além de juntar os seis primeiros, coloca-os numa posição claramente desfavorável e assim os pilotos entram em “modo sobrevivência”, tentando fazer o melhor possível. O que António conseguiu na qualificação 1 em Puebla foi o melhor cenário possível, pois foi o mais rápido do grupo e deixou os adversários diretos atrás de si, o que lhe permitiu ganhar pontos e subir ao segundo posto do campeonato:
“Para o grupo 1, ter cinco minutos, três ou meia hora é igual porque eles acabarão por ir todos juntos para a pista. Não nos podemos esquecer que ali estão os seis primeiros do campeonato pelo que estão todos em luta direta e ou se ganha vantagem, ou se faz com que o adversário não ganhe vantagem. É preciso ter isso em conta e o resultado que o António conseguiu na primeira qualificação em Puebla foi muito bom, pois conseguiu deixar os adversários diretos para trás, o que acabou por ser uma boa operação para o campeonato. A diferença da pista para o que vai em primeiro para o segundo é significativa. E basta ver que a partir do segundo grupo tal não acontece, pois a pista já foi limpa pelos carros do primeiro e podem então ir mais espaçadamente. “
Como no desporto motorizado todos os pormenores contam, muitas vezes assistimos a truques menos bonitos no grupo 1. Na qualificação 2 vimos René Rast a sair em primeiro para a pista e a travar deliberadamente o andamento com um propósito muito simples… aumentar a confusão e tentar que dois ou três adversários diretos ficassem logo pelo caminho, sem conseguir cruzar a linha de meta a tempo:
“Ninguém quer ser o primeiro em pista, mas o piloto que vai em primeiro faz tudo para que os outros não tenham vantagem e por isso vemos alguns truques dos que vão na frente, levantando o pé, para atrasar o pelotão e tentar que cruzem a linha de meta depois do tempo limite. A regra até está bem feita, mas o que falha é a distância entre o treino e a qualificação, em que a pista fica muito tempo sem atividade.”
A Fórmula E já teve categorias de apoio, como era o Jaguar I-Pace eTrophy e nessa altura, o problema do grupo 1 era ligeiramente minimizado:
“No tempo em que havia categoria de apoio, com os Jaguar I-Pace, essa situação era minimizada e talvez por isso faça sentido a ideia que tem sido veiculada de criar uma Fórmula E júnior com os monolugares da geração 1.”
Este é o desafio que os seis primeiros da classificação enfrentam a cada qualificação e é nestes fins de semana que o título se decide:
“É nestes fins de semana que se ganha o campeonato. Quando se faz a pole a probabilidade de marcar bons pontos é grande. Mas nos fins de semana em que se sai mais de trás, a capacidade de recuperar e amealhar pontos é fundamental para o sucesso.”
Resumindo, o grupo 1 é um mundo aparte na qualificação. Como os seis pilotos deste grupo sabem que muito dificilmente poderão ter hipóteses de chegar à pole, tentam minimizar as perdas. O primeiro em pista é o mais prejudicado pela sujidade, pelo que ninguém quer ser o primeiro, mas no caso de isso acontecer, tenta-se levantar o pé e criar mais confusão. No fundo, no grupo 1, não interessa tanto a pole, mas sim ficar à frente dos seis adversários diretos que estão na luta pelo título. O objetivo principal dos pilotos do grupo 1 é ser o melhor do grupo, esquecendo um pouco a luta pela pole e se no final isso se traduzir numa vantagem para a corrida tanto melhor. É esta mentalidade que se torna inevitável e que provoca a confusão. Não faria sentido pensar que equipas de topo, num dos maiores campeonatos do mundo, tomariam uma decisão destas sem terem pensado em todos os cenários possíveis. Todos tentam fazer o melhor que podem, de acordo com as circunstâncias. É talvez por isso que, enquanto não houver categorias de apoio, ou a distância entre as sessões não for reduzida, veremos batalhas duras no grupo 1.
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Resumindo: vamos continuar a ver a mesma palhaçada, que só se resolverá com mudanças na formação dos grupos. Porque não:
1) sortear os pilotos que estarão em cada grupo, ou
2) os três primeiros do campeonato com os três últ6imos, 4º a 6º com os 19ª a 21ª e assim por diante, ou
3) pela ordem em que terminaram a corrida anterior
Sim, tem que se fazer algo. Nas primeiras épocas era sorteio, como bem sugere no ponto 1
E porque não olhar para isto de uma perspectiva positiva?
A regra é igual para todos e isto mantém o campeonato super equilibrado.
Não é o que todos desejam?
As outras formas para equilibrar ou promover ultrapassagens são claramente piores: BoP, lastro, grelhas invertidas ou o próprio DRS…
Será muito difícil os génios da FE perceberem que uma qualificação é mais rápida que uma corrida sprint? Eu (digo o António) como sou muito burro ia para a pista 1 minuto ou 2 minutos antes dos outros, será que vinham também ou ia para a corridinha de sprint deles. Podia não bater o tempo dos grupos seguintes mas de certeza que seria mais rápido que eles.