Fórmula E: Fim de semana de redenções

Por a 11 Abril 2021 20:00

Depois de um mês de paragem, a Fórmula E regressou às pistas, para mais uma jornada dupla. A cidade italiana de Roma recebeu as duas corridas da competição 100% elétrica, naquela que é considerada uma das pistas mais exigentes do calendário.

Havia algumas novidades para o fim de semana, uma das quais era a estreia do novo carro da DS Techeetah, que teria finalmente a unidade motriz pensada para a época 2021. Equipas como a Dragon Penske e a Nissan e.dams não trouxeram, como era esperado, os novos carros. Eram boas notícias para António Félix da Costa que chegava a Itália com carro novo e com vontade de se aproximar mais do topo da classificação. 

Fim de semana começou da pior forma

O fim do treino livre 1 para o E-Prix de Roma não foi o melhor para alguns pilotos. Oliver Turvey pareceu não estar ciente de que ia haver os habituais treinos para as largadas, que acontecem no final do treino e embateu com violência em alguns carros, de entre os quais o DS Techeetah de Jean-Éric Vergne e o BMW de Jake Dennis. Os danos foram extensos e havia a dúvida se os carros envolvidos poderiam participar no resto do dia. Mas o cancelamento do segundo treino (devido a problemas na fixação dos corretores da chicane das curvas 12 e 13 que levou a alteração daquela zona do traçado) deu tempo aos mecânicos para trabalharem nos carros. Apenas Turvey ficou impedido de participar no resto do dia.

Qualificação 1 – Mercedes voltou a festejar uma pole

A primeira qualificação, que decorreu no sábado, deu um resultado idêntico à primeira qualificação de Diriyah (primeira corrida do ano). Stoffel Vandoorne (Mercedes) conquistou a pole para a corrida 1, imitando o que fez o seu colega, Nyck de Vries na primeira do ano. O piloto da Mercedes foi o mais rápido na Super Pole e conquistou a sua terceira pole na Fórmula E. António Félix da Costa não conseguiu melhor que o 18º tempo.

As condições da pista também não foram as mais fáceis, com alguma chuva a cair, mas tal não afetou de forma vincada o trabalho dos pilotos. No final da qualificação por grupos, os seis melhores foram Oliver Rowland (Nissan), Andre Lotterer (Porsche), Stoffel Vandoorne, Lucas di Grassi (Audi), Jean-Éric Vergne e Max Gunther (BMW).

Sem tempos ficaram Oliver Turvey (NIO 333)  e Edoardo Mortara (Venturi), que não saiu a tempo para a pista com problemas no seu Venturi. A grande surpresa na primeira fase da qualificação foi o tempo de Félix da Costa que tocou nas proteções da pista na sua volta lançada, quando estava a fazer um bom tempo, o que o impediu de fazer melhor que o 18º, um tempo muito longe do que teria desejado. Outros nomes sonantes que ficaram fora da Superpole foram Sam Bird (Jaguar), Sebastien Buemi (Nissan), Nyck de Vries (Mercedes), o líder do campeonato e Robin Frijns (Virgin).

Na Super Pole, Gunther não mostrou argumentos para ser um dos mais rápidos, Vergne mostrou algum ritmo, mas não o suficiente para ficar perto da frente (merece destaque o trabalho da equipa DS Techeetah que reparou o carro a tempo da qualificação), tal como Di Grassi. Vandoorne fez uma excelente volta e tornou-se no favorito a conquistar a pole, Lotterer errou demasiado na sua volta e não conseguiu ameaçar o belga da Mercedes. Apenas Rowland, que tinha sido o mais rápido na fase a eliminar, parecia ter argumentos para se bater com Vandoorne, mas uma sucessão de erros e toques nas últimas curvas da sua volta atiraram o britânico para terceiro, deixando Vandoorne com o melhor tempo.

Corrida 1 – Vergne regressou às vitórias

Quem viu o acidente e o estado do carro de Vergne depois do acidente no primeiro treino, teve sérias dúvidas de que o francês teria sequer carro para competir naquele dia. Não só teve carro como venceu a prova, tendo mais sorte que o seu colega, Félix da Costa.

A largada foi feita atrás do Safety Car (SC), com a chuva a atrapalhar o procedimento de arranque da primeira prova em Roma. Depois de duas voltas atrás do SC do português Bruno Correia, a corrida teve luz verde e no arranque não vimos grandes mudanças na ordem inicial. Sam Bird foi o primeiro a mostrar-se, com uma ultrapassagem a Sebastien Buemi, mas nas curvas seguintes André Lotterer não calculou bem a ultrapassagem e tocou em Stoffel Vandoorne, que caiu de primeiro para 13º, enquanto Lotterer caiu para sétimo (sendo penalizado pela manobra com cinco seg. a mais). Oliver Rowland assumiu a liderança da prova, mas estava também  sob investigação por uso excessivo de energia. Atrás do britânico seguia Lucas Di Grassi e Jean-Éric Vergne. António Félix da Costa conseguiu recuperar uma posição nas primeiras voltas. 

Na volta três, o português era já 15º, sendo o mais rápido em pista nesta fase, enquanto na frente Rowland era penalizado com um Drive Through (uso excessivo de energia), entregando a liderança a Di Grassi.

A luta entre Di Grassi e Vergne aqueceu, com Robin Frijns logo atrás, seguido de Nyck De Vries  e Pascal Wehrlein (Porsche). Vandoorne conseguiu recuperar algumas posições e era nono à oitava volta. 

Na volta nove, Sérgio Sette Câmara (Dragon) era também penalizado por uso excessivo de energia, numa altura em que Di Grassi controlava a corrida, com Vergne a 0.7 seg.  e Frijns a 1.4 seg. A chuva começava a cair com um pouco mais de intensidade e o top 8 ainda não tinha ido uma vez ao Attack Mode (AM), sendo Vergne o primeiro a dar o exemplo. Nesta altura Félix da Costa era 13º, ainda fora dos pontos. 

O AM baralhou as contas da frente  e Vergne passava para líder, apesar de estar sob o ataque de Frijns, com Di Grassi atento, agora no terceiro lugar. O brasileiro passou Frijns pouco depois,  com De Vries (que tinha subido para quarto) a aproveitar também, entrando no top3. A corrida parecia começar a sorrir para Vergne, que voltou a ser o primeiro a ir ao AM na segunda ronda de ativações, uma estratégia que correu bem na primeira metade da corrida. Bird estava também com bom ritmo e subia ao quarto lugar (tendo largado de 11º), despromovendo Frijns ao quinto. Félix da Costa era 12º.

Lucas di Grassi passou de Vries e aproximou-se do lider  Vergne, que parecia estar a gerir o ritmo, enquanto Bird mantinha o excelente ritmo e passava também o homem da Mercedes, ganhando assim um lugar no pódio. 

A sete minutos do fim a corrida piorou para  Félix da Costa, numa altura em que cimentava a sua posição nos pontos. Um toque e um furo levaram a que o piloto português tivesse de desistir da prova, ficando a zeros. Na frente,  Di Grassi voltou à frente da corrida, passando Vergne, que ficava em segundo, com Bird muito perto.

Mas a cinco minutos do fim, golpe de teatro. Di Grassi perdeu potência no seu Audi que abrandou muito em pista, o que motivou um incidente entre os homens da Mercedes. Vandoorne (que tinha recuperado até ao top 5) foi obrigado a ir fora de trajetória para evitar o toque em Di Grassi e embateu contra o muro. De Vries ficou sem hipótese de evitar o toque no seu colega de equipa, arruinando a corrida a ambos os pilotos dos Flechas de Prata e levando à entrada do SC.

Vergne herdava assim de forma dramática a liderança da corrida, seguido de Bird e Mitch Evans (Jaguar, que tinha largado da 12ª posição), o que colocava os dois Jaguar no pódio, seguidos de Frijns e Buemi a fechar o top5. A ordem manteve-se até ser mostrada a bandeira de xadrez, com a corrida a terminar sob Safety Car.

Qualificação 2 – Cassidy deu nas vistas

Nick Cassidy foi o mais rápido no primeiro treino de domingo e manteve a toada na qualificação, fazendo  a sua primeira pole na Fórmula E.

A chuva marcou presença no arranque da sessão de qualificação, o que complicou a tarefa dos pilotos que, com o aumento do tempo por volta (por causa da chuva) e com apenas 4 minutos para cada grupo na fase a eliminar, teriam apenas uma volta lançada para tentar o melhor tempo possível.

Na Q1 vimos que as condições para os pilotos eram muito complicadas, com níveis de aderência muito baixos e com a chuva a não se mostrar, dificilmente alguém dos primeiros grupos teria hipótese de ir à Superpole

Os pilotos dos grupos 3 e 4 foram aproveitando a melhoria nas condições de pista e foram se instalando no top6. No final tínhamos Norman Nato (Venturi), André Lotterer, Nick Cassidy (Virgin), Max Gunther (BMW), Alex Sims (Mahindra) e Pascal Wehrlein. No entanto, Lotterer ficou sob investigação por ter usado demasiada energia na sua volta de qualificação e acabou por ver a sua volta cancelada, promovendo Stoffel Vandoorne à Superpole.

As condições da pista melhoraram de forma significativa, com os tempos a baixarem muito, mesmo com alguns erros dos pilotos. Vandoorne fez uma volta boa, mas foi Wehrlein a tornar-se na referência para o resto da sessão. Sims e Gunther não estiveram bem, mas no final foi Cassidy a levar a Virgin ao topo da tabela de tempos, com uma grande volta, que não foi batida por Nato (o último em pista), que ficou com o segundo lugar, sendo Wehrlein o terceiro da qualificação.

Corrida 2 – A “vingança” de Vandoorne

A chuva que afetou a qualificação atirou os homens da frente da classificação geral para a segunda metade da grelha, com os pilotos em menor destaque a terem oportunidade de se mostrarem no domingo. No entanto, foi um homem que já tinha andando na frente a destacar-se. O bom andamento dos Mercedes tinha ficado claro na corrida 1, mas o azar não permitiu que conquistassem o bom resultado que pretendiam. No entanto, a corrida 2 trouxe a vitória que escapou logo na primeira volta de sábado. Stoffel Vandoorne conquistou uma brilhante vitória na segunda corrida do E-Prix de Roma,  numa vitória “à lá Mercedes”.

A pista apresentava-se bem mais seca no arranque da corrida do que vimos na qualificação, o que deveria permitir menos erros e incidentes na primeira volta. Mas apesar disso, a corrida começou atrás do Safety Car, numa corrida em que haveria três ativações de Attack Mode (AM), mais uma que no sábado. 

A prova começou da pior forma para Nick Cassidy, detentor da pole, que perdeu o controlo do carro na curva 3, caindo para o 11º lugar, dando a liderança a Norman Nato, seguido de Pascal Wehrlein e Stoffel Vandoorne. 

André Lotterer voltou a ser penalizado com um Stop & Go de 10 seg.  por uma infração técnica antes do arranque da prova, acabando com o seu fim de semana da pior forma. 

Cassidy estava a tentar recuperar do prejuízo e subiu duas posições logo a seguir ao seu erro. Entretanto, Wehrlein passou Nato e assumiu a liderança na volta 3. Stoffel Vandoorne tentou passar Nato logo de seguida e quase não evitava um toque,  mas conseguiu passar o francês, que caia de primeiro para terceiro. António Félix da Costa  era 14º nesta fase. 

Cassidy voltou a ser protagonista pelos piores motivos, pois foi atirado para as proteções da pista por Oliver Rowland, caindo para o fim do pelotão, enquanto Rowland ficava para já no sétimo lugar, com uma penalização a pairar sobre o britânico da Nissan, que foi confirmada pouco depois (10 seg.). Na frente, Vandoorne seguia perto de Wehrlein, com Nato a ser pressionado por Max Gunther (quarto classificado). 

Vandoorne foi o primeiro do grupo da frente a passar pelo AM , repetindo a estratégia do dia anterior de Jean-Éric Vergne (ir mais cedo que a concorrência ao AM e ganhar assim vantagem), o que se revelaria crucial no desenrolar da corrida. 

O fim de semana de Lucas Di Grassi terminou mais cedo e a trinta minutos do fim ficava parado em pista, depois de um incidente com Sebastien Buemi que motivou um Full Course Yellow. Nesta fase Wehrlein foi ao AM e Vandoorne ficou na frente da corrida, enquanto Félix da Costa já era décimo.

No recomeço, Wehrlein ficou “a dormir”, foi passado por Alexander Sims,  com Vandoorne a ganhar alguma distância na frente. Rowland e Edoardo Mortara (Venturi) lutavam pela sexta posição. A vinte minutos do fim, a grande maioria dos pilotos passou pelo AM e na frente Vandoorne mantinha-se na frente, com quase seis segundos de vantagem. António Félix da Costa subia para nono lugar,  em mais uma grande prestação do português. 

A última ativação do AM deixou Sims, Wehrlein, Nato e Mortara no top 5, com Vandoorne numa corrida à parte, com cinco segundos de vantagem. Félix da Costa passava por Rowland e subia ao sétimo, já com o grupo do top 6 à vista, e Nato passou Wehrlein, atirando o alemão para fora do pódio. 

A oito minutos do fim, René Rast teve uma saída de pista, depois de uma quebra da suspensão traseira, que levou à entrada do Safety Car, na mesma altura em que Félix da Costa caiu para oitavo. 

A corrida não iria terminar sob Safety Car e teríamos luta até ao final, com uma  última volta lançada que se tornou caótica (três pilotos envolveram-se na curva 7) que apenas por sorte não apanhou Félix da Costa, mas que não afetou as contas na frente do pelotão,. Vandoorne  venceu a corrida, seguido de Sims e Nato a fechar o pódio. No entanto, Nato foi desclassificado por ter excedido a energia que podia usar e com isso promoveu Wehrlein ao terceiro lugar e Félix da Costa ao sétimo posto final.

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