FÓRMULA E: Félix da Costa Campeão!
O miúdo franzino sorridente e determinado que teve como alcunha ‘Formiga’ e foi sendo modelado pelas mãos de Nuno Couceiro, esteve com pé e meio na Fórmula 1, passou pelo DTM, pelos GT e está agora também na Fórmula E, onde dá cartas. Começou do lado errado da estrada, mas a redenção chegou com este fantástico título Mundial de Fórmula E.
Parabéns António Félix da Costa!
Ao longo dos meus anos como jornalista encontrei um par de vezes o António em aeroportos, eu em trânsito para mais uma apresentação de um automóvel, ele a caminho de uma corrida num dos quatro cantos do mundo. O sorriso é, claramente, a sua imagem de marca sublinhando uma simpatia imensa que lhe oferece aquela imagem de eterno miúdo, sempre confiante que “na próxima é que e!” mesmo que fosse evidente que… não iria ser.
Com um talento enorme, António Félix da Costa mostrou desde muito cedo que se fosse devidamente apoiado apanharia a esteira do sucesso de Pedro Lamy ou Tiago Monteiro, sonhando ele e todos nós que cedo ou tarde estava ali o próximo português na Fórmula 1.
O karting, passagem quase obrigatória para os mais talentosos, surgiu aos nove anos e o “Formiga” foi limpando títulos internos até se sagrar campeão nacional em 2006 com a CTJ (Couceiro Junior Team), ano em que começou a fazer virar cabeças para aquele miúdo pequenino, mas raçudo, que dava nas vistas com um kart nas mãos. Foi vice-campeão da World Series Karting Championship nesse ano, terceiro no Italian Open Masters. O miúdo era um furacão com um volante nas mãos! Foi piloto oficial da famosa equipa italiana Tony Kart, mas os automóveis reclamavam pelo seu talento!
Mantendo-se franzino, António Félix da Costa não conseguiu descolar a “Formiga” da pele e atirou-se aos monolugares através da Fórmula Renault, onde trocou duelos com Valteri Bottas, Daniel Ricciardo, Roberto Mehri e tantos outros reconhecidos pilotos.
Os recursos foram sempre o maior problema para o “Formiga”, mas o talento transformava inferioridade em vitórias e foi construindo uma reputação de piloto muito rápido e talentoso, acabando mesmo por reclamar o primeiro titulo da sua carreira nos monolugares em 2009, com a vitória na Fórmula Renault 2.0 NEC (Northern European Cup), a segunda divisão da competição organizada pela casa francesa.
O “Formiga” estava pronto para outros voos e a Fórmula 3 em 2010 foi o passo seguinte, tendo deixado claro ao que ia quando rubricou a “pole position” na segunda corrida depois de se ter estreado a pontuar na ronda inaugural. Foi o primeiro piloto português na F3 EuroSeries e foi o melhor estreante, no ano em que esteve no GP de Macau e no teste para jovens talentos de F1 organizado pela Force India. Fez 77 voltas e foi o terceiro melhor!
A carreira do “Formiga” estava lançada, mas se o lado solar dizia que o português poderia estourar com tudo o que foi recordes estabelecidos por Pedro Lamy, por exemplo, o lado lunar dizia que a falta de recursos e de apoios poderia esmagar debaixo da sola financeira o “Formiga”.
Com o intuito de participar no GP de Macau de Fórmula 3, um palco imenso para mostrar as suas qualidades, António Félix da Costa passou por diversas corridas e campeonatos – como o MotorSport Vision F3 Cup, uma organização britânica da segunda divisão da F3 que o português ganhou facilmente – o que se mostrou ser uma opção certeira.
No GP de Macau de Fórmula 3 de 2012, depois de perder a “pole position” para Alex Lynn e perder posição após a largada para um tal de Felix Rosenqvist (hoje na IndyCar Series), mostrou todo o seu talento na travagem para a curva do Hotel Lisboa, recuperando a liderança tornando-se no primeiro português a ganhar em Macau o “F3 Grand Prix” desde 1954, ano de estreia das corridas na Guia, quando venceu Eduardo de Carvalho. Este resultado frente à fina flor dos empresários e responsáveis de equipas de Fórmula 1, ofereceu à Carlin, a sua equipa mais um triunfo em Macau (não ganhava desde 2001) e empurrou o “Formiga” para uma nova fase da sua carreira.
Tudo isto aconteceu no ano em que o piloto português deu. Salto para a GP3 e acabou por ser escolhido para fazer parte do Red Bull Junior Team, ocupando o lugar de Lewis Williamson, que ao não conseguir um único ponto nas primeiras três corridas de GP3 de 2012, foi atirado borda fora por Helmut Marko.
Abandonou a Carlin, foi levado para a Arden Caterham e António Félix da Costa viu-se exposto a uma pressão imensa, trocando duelos com pilotos como Alexander Rossi (hoje vedeta da IndyCar Series), Nico Muller (piloto DTM da Audi), Kevin Magnussen (piloto da Haas F1), Jules Bianchi (ex-piloto de F1), Sam Bird (piloto da Fórmula E), enfim, a fina flor da competição automóvel.
Venceu muitos duelos com esses pilotos e apesar de ter falhado parte da temporada, o português deu muito boa conta de si, tendo feito novo teste com um Fórmula 1, desta feita um Red Bull. Ficou em segundo no primeiro dia atrás de Kevin Magnussen e foi o melhor no segundo dia, batendo Oliver Turvey.
Começava aqui o período menos feliz da carreira do “Formiga” com passagem pelo DTM e a chegada à Fórmula E com a equipa Aguri até que a BMW, querendo manter o piloto nas suas fileiras e perante a decisão de apostar na nova disciplina de monolugares, decidiu levar para a equipa Andretti o seu pupilo. As coisas não correram da melhor forma e António Félix da Costa, fechou o capítulo BMW e abraçou a oferta da DS Techeetah para acompanhar Jean Eric Vergne na edição 2019-2020 da Fórmula E.
Antes da pandemia de Covid-19 atrapalhar tudo e todos, o “Formiga” começou logo a mostrar serviço com vários pódios e a vitória em Marrakesh e de forma esmagadora, pois registou o recorde da maior diferença para o segundo classificado: 11,427 segundos! O momento ganho com esse sucesso acabaria, abruptamente, quebrado pela pandemia de Covid-19. Porém, Félix da Costa não acusou os efeitos da pandemia e regressou em força para a parte final do campeonato disputado numa só pista em Berlin: duas vitórias consecutivas, ofereceram-lhe ao Formiga o título e á DS Techeetah o título entre os construtores a duas corridas do final da competição.
Foi um duro caminho até chegar a este título mundial por parte do miúdo franzino que parecia um liliputiano dentro do karting quando tinha tenros 9 anos de idade. Acreditava-se que estava destinado à Fórmula 1 e sofreu com alguma inabilidade para lidar com a pressão de estar a caminho do topo e, diria, maldade da Red Bull que o faz ir a Faenza fazer o banco para o Toro Rosso – o que foi, desde logo, uma machadada na confiança do português, convencido que ia para a Red Bull – e depois lhe comunicou que tinha escolhido Daniil Kvyat para o seu lugar.
A redenção chegou na forma de um título Mundial numa das disciplinas que pode ser muito importante no futuro e agora o “Formiga” ganhou, definitivamente, um lugar entre os grandes do desporto automóvel nacional e internacional. Pode, agora, esfregar na cara de Helmut Markko que, provavelmente, escolheram a pessoa errada quando tiraram o sonho da F1 ao António Félix da Costa.
O caminho para o título de António Félix da Costa
A vitória obtida pelo piloto português em Marrakesh foi o mote para o formato condensado que os organizadores da Fórmula E encontraram para determinar o campeão de 2020. Félix da Costa chegou a Berlin e ao aeroporto Tempelhof em grande forma e pleno de certezas sobre o que poderia fazer.
Com quatro corridas no mesmo circuito, estava bom de ver que quem encontrasse o “caminho das pedras” iria ter enorme vantagem sobre os restantes. Na primeira corrida de Berlin, o português esteve imparável e além da “pole position”, fez a volta mais rápida e ganhou, ou seja, barba, cabelo e unhas! Mesmo que não tenha deixado de apanhar um enorme susto, pois cruzou a linha de meta… à vela!, pois a bateria do DS estava a… zeros! Mas a vitória não escapou, a segunda da temporada.
Ficava dado o mote e na segunda corrida de Berlim, aplicou a mesma dose de rapidez e talento, deixando a concorrência a milhas sem cometer o mais pequeno erro ao longo da prova. Curiosamente, Félix da Costa geriu melhor a bateria que os restantes, mas não evitou cruzar a linha de meta, uma vez mais, sem sumo na bateria. Nada que impedisse a terceira vitória consecutiva com mais de três segundos de vantagem para Sebastien Buemi. Juntando glória à sorte de ver os mais diretos adversários marcarem passo sem recolherem pontos, o piloto português tinha mão e meia na taça.
Menos feliz na terceira corrida, Félix da Costa fechou a terceira corrida com um quarto lugar que, mesmo assim, lhe permitiu ganhar pontos ao seu mais direto rival. Isto numa corrida onde a BMW passou de besta a bestial, com a vitória de Maximilin Gunther.
O título da Fórmula E estava a galope e António Félix da Costa seguiu o ditado popular, “não deixes para a semana o que podes fazer no fim de semana”, e com um segundo lugar atrás de Jean Eric Vergne, campeão de 2019 e seu colega de equipa, o piloto português fechou as contas de 2020 oferecendo a Portugal um título mundial e à DS Techeetah o cetro de equipas, justificando aos mais céticos a acertada decisão de “roubar” á BMW o atual campeão do Mundo de Fórmula E. Foi mais uma corrida onde a equipa oficial da DS não deu hipóteses a ninguém, com Vergne a entregar o título ao seu colega de equipa, passando o testemunho com palavras elogiosoas: “estou muito feliz pelo António, Ele fez um trabalho fantástico e merece totalmente esta vitória; tens a minha admiração António!!!”
Contas feitas, o piloto português conquistou o título, Jean Eric Vergne está em segundo e tem duas corridas para solidificar essa posição, António Félix da Costa junta-se a um friso de campeões que tem nomes como Sebastien Buemi, Jean Eric Vergne e Nelson Piquet Jr., e passa a ser o quinto piloto com mais vitórias na competição, cinco. Domina essa estatística o Sebastien Buemi com 13 vitórias.
António Félix da Costa dixit
“Yesssssss!!! É nossa!!!” foi assim que António Félix da Costa exteriorizou a sua alegria por este título, não deixando de agradecer a todos. “Depois de tantos dias maus, este título é fantástico. Quero agradecer a todos” disse visivelmente emocionado, lembrando que há talento em Portugal para além do Cristiano Ronaldo. Disse, ainda, que “já venci algumas corridas importantes na minha vida, mas nunca um campeonato FIA. Este campeonato tem 24 pilotos que estão no topo da modalidade, o que confere ainda mais significado a esta vitória. Julgava ser um trabalhador empenhado até entrar para a DS TECHEETAH. Na minha primeira semana com a equipa, disse-lhes que agora compreendia as razões dos seus muitos sucessos. O Jean Eric Vergne é um companheiro de equipa incrível e um campeão no seu estado mais puro e digno. Ajudou-me imenso e sem ele e sem a equipa nada disto tinha sido possível para mim. Muito obrigado a toda a equipa, vocês são absolutamente incríveis.”
Gaita, por mais que já os tenhamos alertados insistem. Não é ‘título mundial’, é ‘apenas’ ‘Campeão FIA Fórmula E 2019-2020’. Provavelmente o 2º com mais valor no panorama do automobilismo de velocidade actual, mas não é actualmente ‘Mundial’, só para o ano. Sejam rigorosos, como compete a uma publicação de referência.
É o próprio comunicado oficial da Brandsport que gere a informação do Félix da Costa que fala em título mundial
Eu não faço ideia de quem seja a Brandsport nem estou preocupado em saber. O AS tem obrigação de saber muito mais do que qq empresa que gira a comunicação de um piloto. É da informação que vivem, da informação de qualidade.
Mas fará ideia de quem será o António Félix da Costa que declarou o seguinte (e há provas disso pois foi em frente às câmaras): “Yesssss! É nosso o título Mundial. Não há palavras, chegámos aqui a Berlim na frente do campeonato e fizemos tudo como devíamos. Somos Campeões do Mundo, ainda não estou em mim, trabalhei toda a minha vida para isto, tive momentos complicados na minha carreira mas sem dúvida que valeu a pena. Quero agradecer a todos os Portugueses que estão sempre comigo, a apoiar nos bons mas sobretudo nos maus momentos, este título é meu, é… Ler mais »
Depois de lido o artigo ainda fico mais chocado. Nem uma só referência às 5 vitórias em meia temporada da World Series by Renault, o seu grande trampolim no monolugares. Que péssimo nível, mau demais para ser verdade.
Depois de deixar de comprar jornais, correspondi ao vosso apelo e assinei o AS On-Line, como melhor forma de ter notícias sobre os pilotos portugueses. Só certamente dos vossos foristas mais antigos. Mas com este nível começo a pensar seriamente se vale a pena.