Entrevista a Sébastien Buémi: “Na Fórmula E o que faz a diferença é a consistência”

Por a 20 Novembro 2019 08:06

Sébastien Buémi é um dos mais antigos e mais bem sucedidos pilotos da Fórmula E. Na retina ainda está a sua longa batalha com Lucas di Grassi, pela conquista do título de 2015/16 da Fórmula E, que venceu por apenas dois pontos. Levou a Renault e.dams, ao tricampeonato de equipas, e desde o ano passado, passou a correr com a equipa irmã Nissan e.dams. Sempre nas lutas da frente do campeonato, este ano quer recuperar o que já foi seu. Falámos com ele um pouco.

Tal como o seu grande rival, Lucas di Grassi (Audi Sport Abt Schaeffler), Sébastien Buemi é um dos pilotos de maior sucesso na Fórmula E. Sendo um dos quatro campeões da série, o piloto suíço não só tem o maior número de vitórias, mas também um número excecional de poles. Começou no karting, com sucesso, mudou-se para a Fórmula BMW alemã em 2004, onde terminou em terceiro lugar na sua época de estreia, atrás doutro futuro piloto de Fórmula 1, Sebastian Vettel.

Só em 2009 se estreou na F1, aí chegando depois de passar pela F3 EuroSeries em 2006, onde foi 12º, antes de fazer sua estreia na GP2 Series em 2007. Em 2009, rumou à Fórmula 1, com a Toro Rosso, tornando-se no primeiro piloto suíço a correr na disciplina desde 1995.

Manteve-se na Toro Rosso até 2011, correndo ao lado de Jean-Eric Vergne. Apesar de não ter feito outra aparição competitiva, Buémi continua ligado à Red Bull como piloto reserva.

Além de suas funções na Fórmula E, Buémi também compete no WEC, Mundial de Endurance, com a Toyota, tendo vencido a competição em 2014, triunfando também nas 24 horas de Le Mans de 2018.

Depois de trazer para casa três títulos de campeão de equipas com a sua antiga equipa, Renault e.dams, Buemi manteve-se na estrutura e.dams, que viu a Nissan substituir a Renault. Na temporada passada teve Oliver Rowland como companheiro de equipa e juntos, levaram a equipa ao quarto lugar da classificação das equipas, enquanto Buémi terminou em segundo lugar atrás de Jean-Eric Vergne no campeonato de pilotos.

No arranque da sua sexta temporada na Fórmula E, Buémi viu renovada a parceria com Rowland, e agora tem pela frente algumas das maiores marcas de automóveis, a que se juntaram este ano a Mercedes e a Porsche, sendo com todas elas que a Nissan se vai bater para fazer o mesmo que a sua antecessora.

Este ano tens de mudar o carro depois dos novos regulamentos impedirem o twin-motor para este ano. Quais são as tuas expectativas depois destes primeiros dias de testes?

São boas, melhores do que esperava, porque quando soubemos que os regulamentos iriam mudar, já estávamos muito dentro da época passada, e foi muito tarde para nós, e por isso não foi fácil ter tudo pronto a tempo, já tínhamos desenvolvido muitas peças relativas ao twin-motor, por isso estou muito feliz e contente com o trabalho da equipas pois eles foram fantásticos. Terem conseguido ter tudo pronto para o começo destes testes foi muito bom, temos ficado muito perto da frente nos testes, portanto tudo parece bem, agora resta-nos assegurar que não cometemos erros nas qualificações e nas corridas temos que encontrar as melhores afinações e logo veremos do que somos capazes, mas parecemos estar melhor preparados que o ano passado por esta altura, em que a falta de fiabilidade foi um problema, este ano não parece ser esse o caso.

Este ano há também mudanças a nível da energia disponível para as corridas, pois passa a haver a retirada e 1 kW por cada minuto passado em Full Course Yellow ou Safety Car, fica mais duro?

Sim, é uma grande mudança. As corridas serão um bocado diferentes, face a esta época, no passado a qualificação era muito importante, porque quando alguém tinha um acidente ou havia algum incidente em pista, havia logo Full Course Yellow ou Safety Car e ao guiarmos devagar poupávamos muita energia, e como eram 45 minutos de corrida mais uma volta, sempre que isso sucedia, depois disso as corridas eram sempre a fundo, e agora eles tiram 1 kW por cada minuto de Full Course Yellow ou Safety Car portanto o que sucede a partir daqui é que vamos ter que poupar energia do princípio aos fim das corridas, e eu acredito firmemente que iremos ter melhores corridas dessa forma, porque o que sucedia o ano passado era que as corridas foram quase todas ‘flat out’, e dessa forma era muito difícil ultrapassar. Penso que agora vai ser melhor e isso aliado ao facto da FIA ter pedido alterações nos circuitos, e livrar-se das chicanes muito apertadas. Não vai ser possível em todo o lado, mas a maioria vão desaparecer, e teoricamente vai haver menos bandeiras vermelhas.

É um dos pilotos mais experientes da Fórmula E, como vês a chegada de novas equipas para o campeonato e também novos pilotos?

Quanto tens a chegar a um campeonato marcas como a Mercedes e a Porsche não podes subestimá-los. Serão fortes em determinado ponto. O que é bom neste campeonato é que os regulamentos não beneficiam quem tem maiores orçamentos ou mais budget, porque não há muito que se possa fazer no carro, e nós temos uma base forte com a Nissan e.Dams. Não temo os outros, mas é claro que em determinado ponto serão competitivos. Isso é certo.

Falaste de gestão de energia. Do ponto de vista dos pilotos, não será um pouco um conflito para vocês, porque um piloto quer sempre andar o mais depressa possível?

É um pouco o ADN da Fórmula E, o facto de teres que ser eficiente e poupar energia. Pelo menos temos a qualificação onde podemos andar a fundo, mas nas corridas e querendo ser realista, se pudéssemos fazer as corridas sempre a fundo, não havia ultrapassagens, e para ser honestos não queremos isso, não queremos ter corridas aborrecidas, por isso penso que temos que pensar no espetáculo e no que podemos fazer para melhorar a tecnologia. Claramente queremos ser mais eficientes, e se o formos, vamos mais depressa e mais longe. Portanto estou feliz pelo facto dos regulamentos terem mudado e passado a obrigar mais eficiência e poupança de energia.

Porque é que é tão difícil de ultrapassar ao andares em ‘flat out’?

Se fores a fundo, vais travar, diria aos 100 metros, e se queres passar tens que travar muito mais tarde que o piloto à tua frente, e com estas regras, por vezes estamos a levantar o pé para regenerar a bateria aos 250 metros, e vimos o ano passado que ao andar a fundo havia muito menos ultrapassagens. Andávamos mais depressa, mas ninguém ultrapassa, e eu tenho a certeza que na TV a diferença de andamento não se nota muito e acho que as pessoas gostam de ultrapassagens, e nos circuitos citadinos, andar a fundo significa muito menos ultrapassagens.

Não te parece um contrasenso, melhores corridas porque há mais gestão e se anda mais devagar?

Penso que vai ser melhor, as corridas não vão ser aborrecidas, porque com a gestão de energia as pessoas vão levar as coisas até ao limite, vai haver pilotos a parar na última volta, outros a conseguir cortar a meta por muito pouco, vai haver muito mais disso esta temporada. Certo é que o ano passado, depois de um Full Course Yellow todos andavam a fundo, pois poupava-se 20% da bateria. Nos novos regulamentos os 45 minutos mais uma volta existem para tornar tudo muito difícil, porque temos de antecipar. Será que o líder vai cruzar a linha aos 44m55s ou 45m02s? Isso faz uma grande diferença, pois se passas a meta aos 44m55s, tens que dar mais duas voltas e com 45m01s só fazes mais uma volta e o problema é que se pensas que ele não o vai fazer, mas ele fá-lo, há pilotos que podem ficar sem energia na última volta. Isto é uma variável que tornará as corridas interessantes.

Já vos falaram das mudanças que vão fazer nos circuitos?

Sim, eles disseram que as chicanes mais apertadas vão ser retiradas, sei que no México estão a tentar fazer a volta mais longa em Santiago do Chile tiraram a chicane da reta da meta, mas tudo depende um pouco das pistas, pois há circuitos em que não podem fazer muito. A FIA está a aprender e continuará a tentar ter a melhor plataforma possível para um bom espetáculo.

Em termos de pilotos, apesar de ser ainda cedo, há pilotos que queres ter debaixo de olho?

É sempre difícil dizer, mas para ser realista e se olhar para as cinco temporadas, tem sido sempre mais ou menos os mesmo no final. Vergne, Di Grassi, estão sempre lá, penso que vão estar lá, já o fazem há cinco anos, porque não este ano também, mas por outro lado há outros pilotos que podem fazer um bom trabalho, o Sam Bird, o (Félix) da Costa, (Alex) Sims, (Robin) Frijns, (Mitch) Evans, sei que eles podem ser muito rápidos e ter uma boa temporada. O que faz a diferença é a consistência. O ano passado, um piloto que tivesse terminado em quarto em todas as corridas teria sido campeão, não precisaria de vencer uma corrida. Pode não ser assim, mas também pode voltar a ser. Portanto, a consistência é muito importante.

Tiveram duas corridas de simulação, o que aprenderam?

Estou feliz, porque começámos bem para trás e andámos bem, parecemos ser rápidos, passei muita gente, mas é difícil de dizer, porque o fizemos numa pista que não é nada representativa. Mas é sempre bom ver que estamos a fazer um bom trabalho. Mas quando chegarmos a Riade é que conta…

O que pensas do formato da qualificação por causa do que sucedeu o ano passado, com os Grupos da frente a ter mais dificuldades por causa das pistas mais sujas?

O problema é que quando te ajuda achas que é bom, mas quando é o contrário, achas que é mau. Para ser honesto é um pouco artificial. A verdade é que para ter a certeza… que há incerteza é preciso abanar as coisas, e a verdade é que quem pertence ao Grupo 1, ir para a pista em primeiro lugar significa que vamos de certeza apanhar a pista em más condições. E depois podes-te qualificar em 12º ou 15º, quando poderia lutar pela pole. Faz parte do jogo e é por isso que precisamos ser consistentes ao longo da época. O problema é que em algumas pistas, estar no Grupo 1 não é o fim do mundo, mas noutras é muito mau. Nunca sabemos…

Estás na Fórmula E há cinco anos, tem-te surpreendido esta evolução toda?

Eu não sabia muito de carros elétricos antes, mas a evolução que temos vistos ao longo dos anos é muito grande. No início precisávamos de dois carros para fazer a corrida, tínhamos 150 kW em cada carro, e agora fazemos a corrida com um carro e com 200 kW. A autonomia é muito melhor, a potência é muito maior, somos muito mais rápidos do que já fomos, tudo melhora claramente anos após ano, só podemos esperar continuar assim porque como pilotos gostamos de ter carros mais rápidos. Gosto da forma como a Fórmula E tem melhorado, o próximo grande passo será quando mudarmos para os GEN3, carros da terceira geração da Fórmula E, até lá as evoluções serão mais pequenas porque as baterias serão mais ou menos as mesmas.

Este ano, apesar da chicane estar mais rápida, melhoraram os tempos cerca de dois segundos…

É difícil fazer uma comparação direta, mas estamos mais rápidos a cada ano que passa. Mas os regulamentos são muito apertados, não há muita coisa que se possa fazer nos carros. Podemos fazer muito na gestão de energia, muito no software e na suspensão traseira, mas não se pode mexer na aerodinâmica nem nos pneus, não é fácil encontrar muitto tempo por volta.

Os 10 kW a mais no Atacck Mode farão muita diferença?

Nem por isso, mas vão ajudar a ultrapassar. Quando tivermos Attack Mode teremos uma vantagem um pouco maior do que no ano passado, haverá um pouco mais facilidade de ultrapassar…

Com a chegada de novos Construtores, achas que há o risco da Fórmula E ficar mais cara?

Já está a acontecer. Queremos manter isso sob controlo, mas é difícil. De qualquer forma, comparando com a Fórmula 1, lá, mais dinheiro significa carro mais rápido, mas aqui na Fórmula E é mais difícil. Não é por teres mais dinheiro que podes fazer o carro muito mais rápido. Só há 25% do carro em que podemos trabalhar, e eu acho que isso é bom, porque se tudo se resumisse ao dinheiro não seria bom.

Já sabem alguma coisa do carro de terceira geração?

Querem por o sistema de recuperação na frente, fala-se em mais potência, e fazer um carro mais leve, é o que ouço, mas até que esteja decidido, pode tudo mudar muito, portanto é difícil falar disso agora…

Como é que um piloto pode correr por duas marcas japonesas em dois campeonatos diferentes?

O WEC é completamente diferente da Fórmula E, são dois segmentos completamente diferentes e eu estou contente que resulte, pois isso dá-me oportunidade para fazer mais corridas.

Quando decides onde vais correr no fim de semana em que há WEC e Fórmula E ao mesmo tempo?

Estamos em discussões, em breve vai saber-se que que for decidido…

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