Entrevista a António Félix da Costa: “Quando estão dois leões na mesma jaula a lutar pelo mesmo bocado de carne…”

Por a 26 Novembro 2020 18:38

A DS Techeetah fez esta semana a pré-apresentação da sua participação na temporada de 2021 da Fórmula E. A equipa franco-chinesa conquistou ambos os cetros em disputa, é campeã de Pilotos, através António Félix da Costa e foi na temporada anterior campeão com Jean-Éric Vergne pilotos que se mantêm na equipa. Naturalmente, a equipa propõe-se dar continuidade à série de vitórias e agora tem como objetivo tornarem-se nos primeiros Campeões do Mundo de Fórmula E, numa altura em que se ultimam os preparativos para aquela que será a Temporada 7, a primeira com o estatuto de Campeonato do Mundo FIA, com arranque já em janeiro de 2021. Esta foi, naturalmente, uma boa oportunidade para falar com António Félix da Costa, que inicial a época como Campeão.

Nova época, mesmos objetivos?

“Ter conquistado o meu primeiro título na Fórmula E deu-me muito mais alento para ganhar de novo. O JEV e eu, bem como todos os restantes e valorosos pilotos de Fórmula E, vamos viver bastantes batalhas épicas na nova temporada, isso é certo, pelo que mal posso esperar. Partimos em busca do primeiro título de Campeões do Mundo e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para lá chegar. Mal posso esperar para mostrar todo o que estamos a trabalhar, não será já em Valência, mas fiquem de olho em Santiago do Chile, onde vamos entrar em força.”

Porque razão começam com o carro de 2019/2020, embora com novo software?

“A razão de começar com o carro do ano passado é simples. Fomos afetados pela pandemia, e já que a FIA deu essa possibilidade, a DS preferiu e bem, utilizar o carro do ano passado de início de modo a garantir que vamos estar numa zona segura, e confiantes, porque não vamos ter só que fazer a época sete, mas também a época oito com esse carro. O carro está pronto, mas se homologássemos agora iríamos fazê-lo sem ter conseguido meter todos os quilómetros necessários em todas as peças que têm de ser validadas, pelo que até isso estar feito, não queremos validar nada a 100%. Daí adiar um bocadinho esta entrada do carro novo que vai também ter que fazer a época oito”.

Quais são as tuas perspetivas para 2021?

“As perspetivas são obviamente boas. À partida, iríamos fazer apenas duas corridas, Santiago do Chile e México com o carro da época seis, mas agora que as duas primeiras corridas passaram a rondas duplas, vamos ter que fazer quatro, que serão no Chile e na Arábia Saudita, mas não será um problema, pois vamos andar com um carro que conhecemos, enquanto as outras equipas vão estar a andar com carros novos, e possivelmente a encontrar alguns problemas de fiabilidade, e por isso nós temos a certeza que vamos levar para as primeiras corridas, é um carro que conhecemos bem.

Vai ser rápido, isso tenho a certeza, mas os outros devem ter dado um passo em frente, por isso estou à espera que seja um bocadinho, ou mesmo muito mais duro, mas tenho a certeza que não vamos estar mal, o nosso vai continuar a ser um carro ganhador e vamos ter todas as hipóteses de continuar a lutar por pódios e vitórias”.

Já guiaste o carro novo, o que que achaste?

O carro novo é… quase que podia chamar-lhes malucos pois têm ideias tão fora da caixa. É contagiante ver esta vontade de inovar, vontade de melhorar, e o carro novo é muito bom, é um grande passo em frente, não só a nível de potência, mais leve, e mais eficiente também.

Agora ainda não posso dizer mas um dia espero poder contar, mas são algumas ‘maluqueiras’ que estão a funcionar e espero em breve poder por o carro em pista em corrida, e ver ao vivo que é uma grande vantagem. Mas estou confiante que vai ser um grande passo em frente”.

O motor é a principal diferença é a grande vantagem do carro?

“Temos que chamar-lhe powertrain’ (unidade motriz) porque não é só o motor, mudou o motor, mudou o que faz regenerar a energia (ndr, Motor Generator Unit ou MGU), depois fomos à procura da eficiência, com menos peso. Foi um passo em frente em todas as áreas”.

Sentes mais pressão por seres o campeão em título?

“Se fosse há uns anos, talvez, mas eu estou numa fase da minha vida que talvez… eu acho que tive um trabalho bom com o meu preparador, com um psicólogo, continuo a fazer esse trabalho, e na maneira como abordei a época passada e como vou continuar a abordar. Eu considero-me um sortudo. Meto o capacete na cabeça com um sorriso na cara, estou-me a divertir quando estou a guiar, quando estou a ganhar, quando estou a perder. As coisas surgem muito naturalmente quando gostamos do que fazemos, Vai ser um bocado essa abordagem, se ganharmos, é para isso que cá estamos é para isso que trabalhamos, se perdermos voltamos no ano a seguir com vontade de ganhar outra vez.

Vai ser um bocado essa a abordagem”.

Já estás na Fórmula E há muito tempo, tens visto outros campeões, notas que nos anos a seguir esse campeões são mais apertados que os outros ou é igual para todos?

“Acho que aí foi uma grande mudança que eu tive, no ano da BMW em que estávamos a lutar pelo campeonato, e época que fiz agora, eu fui muito mais agressivo, com a BMW ganhámos logo a primeira corrida do ano, foi um ano todo a tentar marcar pontos, obviamente tem que haver um equilíbrio, mas gostei muito mais da minha abordagem em pista este ano em que era líder do campeonato e continuei a ser agressivo, continuei a atacar e sem dúvida que esta é a maneira mais eficiente. Se começamos a mostrar medo, cautela a mais, ‘comem-nos’ por todos os lados, e somos ‘comidos’ vivos, por isso, tem que haver um equilíbrio mas tem que ser por aí, tem que ser com agressividade q.b. Mas tem que ser com agressividade”.

Dois campeões na mesma equipa, é giro…

“É giro? É giro para vocês que estão aí desse lado a ver… ainda hoje estávamos no simulador…

Quando estão dois leões na mesma jaula a lutar pelo mesmo bocado de carne, as coisas complicam-se. Já passámos por algumas fases complicadas o ano passado, fomos capazes de as superar e o respeito que temos um pelo outro cresceu, é maior ainda e tenho a certeza que não vai haver problemas de maior. Obviamente ele quer ganhar, eu quero ganhar…”

Quem ganha é a equipa…

“Exatamente, eu acho que é o grande ponto positivo, pois vai ter dois pilotos a lutar para ganhar…”

Qual vai ser a principal dificuldade da próxima temporada: o companheiro de equipa o campeonato estar ainda com esta situação toda da pandemia, qual achas que vai ser o ponto mais complicado de abordar?

“O mais complicado vai ser difícil apontar, mas sim vai ser uma junção de coisas, a concorrência vai estar cada vez mais competitiva, quando se ganha tantos anos seguidos como equipas tens um grande alvo nas costas, todas as outras equipas te querem bater. E há uma grande guerra de egos e relativamente aos construtores é muito importante a estas marcas garantir que ficam à frente de outras, por várias razões, obviamente a ‘guerra’ das quatro marcas alemãs, para uma BMW ficar à frente da Audi e da Porsche é importantíssimo, há toda uma série de coisas que vêm dificultar. Obviamente a pandemia em que estamos, torna as coisas complicadas, mas nós somos uma equipa muito bem preparada, para as corridas vai muito bem preparada, e se a preparação for limitada por causa da pandemia acho que são coisas que podem jogar a nosso favor”.

Que equipas achas que vos podem causar mais dificuldades: Mercedes, Audi, Nissan, BMW…?

“Eu punha a Jaguar nesse campo, a Virgin é uma equipa que tem um ‘powetrain’ muito bom (Audi), é uma equipa que todos os anos produz acima do que se poderia esperar, é uma equipa que merece muito respeito. São poucas as equipas que não vão ‘chatear’, eu acho que a Porsche, a Mercedes, uma equipa que vence na Fórmula 1. E depois como as regras como funcionam na qualificação, com os grupos e tudo o mais, vai ser mais em limitação de erros, de estragos, do que outra coisa…”

Explica lá um pouco a influência do software no carro…

“Nós tentamos que o carro seja o mais inteligente possível. Por exemplo, se um dia ficarmos sem comunicações rádio, o carro quase que me diz o que eu tenho de fazer, se posso ir mais depressa se tenho de andar mais devagar, se é altura de ir ao Attack Mode ou não, seja o que for e nós tentamos por tudo isto no carro.

Quando se fala em software tem também muito a ver com eficiência, a filosofia por trás disto tudo. E depois o software que a equipa tem nas boxes para nos ajudar a fazer a corrida mais rápida, ou seja, agora ao meio da corrida já conseguimos ver quem vai ser uma ameaça, será que é este carro, será que é aquele, conseguimos ter uma imagem melhor de quem vão ser os nossos maiores concorrentes, daqui e 5 voltas, 10 voltas, no final da corrida, são tudo detalhes com que temos vindo a trabalhar…”

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1 Comentário
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Cágado1
4 anos atrás

Interessante mais uma vez.
Estranho a ausência da nacionalizada Efacec na decoração.

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