António Félix da Costa: Acordar o gigante adormecido
António Félix da Costa é uma das estrelas da Fórmula E e este ano tem um novo desafio pela frente. Levar a Porsche ao sucesso no campeonato elétrico. Será o português bem-sucedido?
A certo ponto da época passada, a ida de Félix da Costa para a Porsche tornou-se no segredo mais mal guardado. Os sinais eram claros e a ida do português para a marca de Weissach era uma inevitabilidade. Félix da Costa chegava assim a uma das marcas de maior prestígio no mundo do automobilismo e do desporto motorizado. Uma oportunidade única, com o português a poder, potencialmente, assegurar o seu futuro na Fórmula E e no endurance na mesma casa.
A aposta da Porsche no piloto português é uma das mais relevantes nas trocas feitas no mercado de pilotos. AFC deixou a DS, onde conquistou o seu título, numa altura em que a equipa dava cada vez mais sinais de incompatibilidades com a Techeetah. A entrada na época 2021/2022 foi algo atribulada e o português terá sentido que a força da equipa se perdeu. Entretanto, a DS juntou-se com a Penske, mas o convite da Porsche acabou por ser irrecusável:
“Representar oficialmente uma marca como a Porsche é um sonho tornado realidade. Desde pequeno que olho com muito respeito e admiração para a Porsche e este convite era impossível de rejeitar. Partilhamos 100% dos mesmos valores e ADN, uma mentalidade vencedora e acredito que juntos vamos elevar o nome Porsche bem alto.”
AFC era o que faltava para o sucesso da Porsche?
O que a Porsche viu em AFC? O que todos veem. Um piloto experiente, ambicioso, talentoso, que puxa pelos seus colegas de equipa, mas que também sabe ser um “team player”. Félix da Costa é dos mais experientes do campeonato, corre desde a primeira época na competição e já esteve em equipas do fundo da tabela e equipas de topo, representando marcas de renome. A experiência do português pode ser fundamental para a Porsche dar o passo que deseja.
A marca alemã não costuma facilitar, pois quando entra num campeonato é para vencer. Na Fórmula E isso não aconteceu ainda. A Porsche tem em seu nome apenas uma vitória, seis pódios e três poles, claramente pouco para uma estrutura que quer vencer títulos.
André Lotterer e Neel Jani foram os primeiros pilotos do projeto, com Jani a dar lugar a Pascal Wehrlein, que deu a primeira vitória à equipa no ano passado. Parecia que a Porsche iria finalmente mostrar-se na temporada passada, mas depois de um bom arranque, perdeu gás e terminou mais uma época afastada dos lugares da frente. A Porsche precisa de sangue novo e Félix da Costa é a aposta. Piloto experiente, apesar de ser ainda um jovem, rápido, que já foi campeão. AFC traz muito de bom, sem tiques de vedetismo. Pode ser a chave do sucesso do futuro da equipa alemã, pois já sabe o que é preciso para vencer e sabe o que não pode acontecer para que o sucesso seja uma realidade. Se conseguir levar a Porsche às vitórias e aos títulos, certamente que o seu lugar na estrutura ganhará mais relevo.
Foi o português que tomou a iniciativa de começar os contactos com a marca, uma aposta que se revelou acertada:
“Fui eu que procurei a Porsche. A história remonta há uns anos quando a Porsche anuncia que vai entrar na Fórmula E, no final da época 4. Nós fomos atrás, na altura era piloto de fábrica da BMW e não sei se foi uma desculpa do lado deles ou não, mas eles disseram que não queriam pilotos doutra marca alemã, que existia uma espécie de ‘gentleman’s agreement’, mas também disseram para manter a relação aberta. E assim foi, sempre mantivemos uma relação e um diálogo aberto estes anos todos, fui para a DS Techeetah, mas fomos mantendo a comunicação com a Porsche, até que chegou uma altura em que tudo se alinhou. Eles queriam uma mudança, o meu contrato na DS expirou e aqui estamos nós…”
Contacto com o novo carro
O piloto luso já esteve aos comandos do Porsche 99X Electric Gen3, o seu próximo monolugar, tendo feito sessões de testes privados e um teste conjunto em Valência, antes de os carros terem sido enviados para o México.
“O nosso novo carro é um grande passo em frente. É mais leve e mais potente do que o seu antecessor. Só isso traz um sorriso à cara de um piloto de corridas. A equipa facilitou-me muito as coisas. Senti-me confortável logo desde o início. Também me dou bem com o meu novo colega de equipa Pascal, contra quem já corri em várias séries. Temos um objetivo comum, nomeadamente trazer a Porsche para o topo. Porsche é uma marca sinónimo de vitórias. Queremos alcançar essas vitórias o mais rapidamente possível”.
“Tem sido um processo divertido conhecer o novo carro. É um enorme passo em frente em termos de potência e é mais leve, as duas coisas que um piloto espera sempre – mais potência e menos peso. Agora também há uma unidade motriz frontal e vai ser um carro altamente eficiente – 40% da energia total utilizada numa corrida será de regeneração em travagem. É muito diferente. É mais divertido, tem muita potência, mas também temos pneus diferentes, com o novo fornecedor Hankook, e é uma filosofia de pilotagem totalmente diferente. Tens que te focar muito mais em linhas retas, não no apoio lateral, estes pneus não te dão tanta abertura a isso, por isso a forma de alcançar o melhor tempo por volta é totalmente diferente, e isso tem sido um desafio engraçado porque isso já não é a minha forma natural de ir à procura do tempo”.
O balanço do trabalho em Valência foi algo cauteloso, mas o entusiasmo do piloto de Cascais é claro:
“Ainda é cedo e estamos apenas a começar a lidar com os carros, lentamente. Temos ainda muitas coisas para desenvolver e aprender, com apenas um mês antes de irmos correr no México, mas tudo isso faz parte do processo – é agradável. Os carros têm muito mais potência do que antes e, de momento, em certas condições, é bastante difícil usá-la, o que é uma coisa boa para as pessoas que assistem. Haverá mais erros por parte dos pilotos e será mais difícil dominar este carro – penso que produzirá corridas muito boas”.
O desenvolvimento tem sido feito de altos e baixos, o que é normal nesta fase:
“Tem havido coisas boas e coisas más. Sou um grande apologista de acontecerem coisas más em fases de desenvolvimento. Acredito que ter fases de desenvolvimento em que não tenhas peças a partir, a falhar, ou problemas de software, seja o que for, fico sempre um pouco desconfiado, pois é possível que as coisas más apareçam depois, por isso nós usamos muito uma coisa que trouxe da DS que é forçar o carro a partir, pôr o carro sob um esforço grande para que esses problemas venham ao cimo o mais rapidamente possível, e que possam ser resolvidos e ultrapassados também o mais rapidamente possível.”
Mas Félix da Costa sabe que vai ter desafios pela frente com o novo carro: “Muito do que falámos até aqui e mais. Vamos ter que estar de olhos muito abertos, entender quando estiverem todos juntos em pista a correr uns contra os outros, como são as coisas, o que nos dá vantagem ou não, quais são realmente as áreas em que temos que desenvolver mais e gastar mais tempo para melhorar, mas toda a gestão de energia vai ser feita de forma diferente, tal como a gestão de pneus.”
Ano novo, novo desafio para António Félix da Costa. Para o piloto luso é mais uma oportunidade de mostrar o seu valor e levar uma grande marca ao sucesso. Tem tudo para chegar lá, resta saber se a Porsche vai finalmente mostrar o que já nos habituou. O foco no carro #13 mantém-se este ano sem o fanboost para o ajudar. Mas terá um país inteiro a torcer por ele.