Ford Sierra RS 500 (1987-1991): O rei dos carros de Turismo
Possante e imponente, o assobio do seu turbo fazia virar as cabeças. Ganhou tudo onde tinha que ganhar. De tal forma, que o seu “nome de guerra” é… Rei dos Carros de Turismo
Homologado em agosto de 1987, logo no ano seguinte começou a ganhar. Melhor: a tornar-se um devorador de asfalto, rumo aos lugares mais altos do pódio. Em todos os campeonatos por onde passou, colecionou triunfos e títulos. Austrália, Alemanha, ETCC; provas como Bathurst 1000, Sandown 500; pilotos como Klaus Ludwig, Alan Moffat, Klaus Niedzwiedz, Dick Johnson, Tomas Mezera, Ni Amorim, Gregg Hansford – tudo isto junto e todos fizeram dele um poderoso ícone. Quem não se recorda dos Sierra RS 500 com as cores da Texaco? Ou, em Portugal, com as cores da Gianfranco (Carlos Rodrigues) ou da Promogrupo ou da Traffic (Ni Amorim)? Claro – ainda hoje o Sierra RS 500 faz as delícias das memórias dos verdadeiros amantes das grandes corridas com grandes carros de Turismo. Como era este Ford Sierra RS 500.
O começo foi na Suíça
O grande responsável pelo desenvolvimento do RS 500 foi o suíço Ruedi Eggenberger, ‘alma mater’ da Eggenberger Motorsport. Escolhida pela Ford como equipa de fábrica, é a ele que se devem os lendários Sierra com as cores da Texaco. Com muita experiência em trabalhar com motores turbo, depois de anos com os Volvo 240 Turbo, Eggenberger depressa percebeu todo o potencial do Sierra RS Cosworth. Além disso, estava bem consciente de que, para um carro ser competitivo no Grupo A, pouco tinha que manter do carro de série.
Logo no início do programa do Sierra RS Cosworth, Eggenberger tinha falado com Stuart Turner e a Ford Motorsport Europe, perguntando-lhes o que pensavam de uma evolução do carro, dentro do espírito do Grupo A. O resultados destas reuniões foi a definição da especificação das variantes do RS Cosworth, que ficaram conhecidas por Sierra RS 500 Cosworth. Por isso, basicamente, o RS 500 foi toda uma criação de Ruedi Eggenberger. Com exceção do nome…
Nessa altura, foi preciso fazerem 500 unidades do Sierra, com as elevadas ‘performances’ definidas, para efeitos de homologação e, para isso, a Ford chegou a acordo com seu parceiro de longa data, a Tickford, para os produzir em tempo recorde. Consciente das regras e do que era necessário, a Ford construiu, no final dos 5.000 Sierra RS Cosworth exigidos pelos regulamentos, mais outros 500, que forma então expedidos para a Tickford, onde sofreram as alterações necessárias.
As principais diferenças
E foi assim que nasceram os Sierra RS 500 Cosworth – sendo que o ‘500’ do nome tinha precisamente a ver com estas 500 unidades adicionais e não com a potência do motor, como acreditam muitos fãs menos esclarecidos. Na realidade, de Tickford os RS 500 Cosworth – de estrada, claro! – saíam com 224 cv, um número que era impressionante em 1997. Sim, é certo que, no auge do seu desenvolvimento, esses valores aumentaram drasticamente e, em alguns casos, aproximavam-se dos 550 cv. Outra coisa: todos os 500 Sierra RS 500 – não se produziu nem mais um! – tinham volante à direita e todos eles foram construídos na Tickford.
Eram muito diferentes do Sierra RS Cosworth. Por fora, é claro, mas também por dentro:
Pára-choques e splitter diferentes para melhorar a refrigeração e aerodinâmica; faróis de nevoeiro dianteiros substituídos por tubos de arrefecimento dos travões; novas entradas de ar no capô; turbo Garrett T04 e intercooler maiores; bloco do motor reforçado; quatro injectores adicionais; restritor no escape para evitar overboost nos carros de estrada; braços da suspensão traseira com maior abertura de camber; faixa Gurney no aileron traseiro e spoiler mais baixo para carga aerodinâmica adicional.
O RS 500 tornou-se no mais bem sucedido carro de Turismos em todo o Mundo. De tal forma era bom, que as regras foram alteradas, por forma a torná-lo fora da lei. Só no BTCC, o RS 500 é recordista de vitórias, com 40 triunfos. Nos antípodas, o RS 500 dominou por várias vezes no ‘carrocel do diabo’ de Mount Panorama, onde ainda hoje têm lugar as terríveis Bathurst 1000. Por isso, lhe chamam de Rei dos Carros de Turismo.
Ni Amorim: “Era um carro extraordinário”
Em Portugal, talvez o Ford Sierra RS 500 mais vitorioso tenha sido o que Ni Amorim levou ao título, no Campeonato Nacional de Velocidade, em 1989 e 1990, no Grupo A, neste último ano com as cores da Diabolique Racing. Com ele, foi ainda 3º no campeonato (1988 e 1991), ano em que lutou (e perdeu) com Carlos Rodrigues, que haveria de ser o Campeão – também ao volante de um RS 500, este com as cores da Gianfranco. No total, Ni venceu cerca de 20 corridas, em Portugal, entre 1988 e 1991, com o Sierra RS 500.
Mas é de Ni Armim que recolhemos as impressões sobre o que era o Ford Sierra RS 500 e correr com ele: “Na época, era um carro extraordinário. Tinha muita potência [mais de 500 cv] e os pneus eram livres. Com pneus macios, era impressionante, dava um imenso gozo conduzir. Sem qualquer apoio [aerodinâmico] a ajudar, era o piloto que conseguia fazer a diferença.”
Foi com ele que Ni Amorim assinou algumas das suas melhores recordações, quando corria em Portugal: “Sou o recordista de Vila real, na sua versão longa, cm as chicanes. O [Pedro] Salvador é o [recordista] do circuito pequeno e o Carlos Gaspar [recordista] da pista longa, sem chicanes. O melhor tempo com chicanes foi feito por mim, no Sierra RS 500. Foi o carro de Turismo que mais depressa rodou em Vila Real! Além disso, uma das vitórias mais expressivas da minha carreira foi com o RS 500 e exatamente em Vila Real.”
Ni Amorim fez também a sua estreia em Macau, em 1989, com um Ford Sierra RS 500. Correu com ele por duas vezes na Corrida da Guia (1989 e 1990), mas nunca chegou ao final.