Filipe Albuquerque: “Deve reconhecer-se o trabalho dos portugueses lá fora”
Um dia depois de ter aterrado em Portugal, onde foi recebido por uma comitiva de jornalistas que deram o eco do grande feito do fim de semana passado, falámos com Filipe Albuquerque, para sentirmos mais um pouco das suas sensações depois da grande vitória em Daytona:
Mais a frio, qual o sentimento de venceres uma prova tão importante como Daytona?
É motivo de grande satisfação e grande felicidade, por ter atingido uma meta que que perseguia há vários anos. Desde que assinei pela Action Express que sabia que sempre que fosse a Daytona teria hipóteses de lutar pela vitória. Há dois anos tivemos um problema no carro, no ano passado fugiu-nos a 5 minutos do fim e este ano, embora as últimas horas não tenham sido fáceis, consegui quebrar o enguiço e estou extremamente feliz por fazer parte desta equipa e por ter ajudado a ter atingir o objetivo da estrutura que é sempre ganhar.
Achas que este é o momento mais marcante da tua carreira?
Como resultado só por si, esta vitória é um marco importante na minha carreira, sem dúvida, mas tenho mais resultados e momentos que são tão importantes quanto este. São momentos que me permitiram chegar onde estou agora e não podem ser menosprezados pois fizeram que eu pudesse assinar pela Action Express, que acreditou em mim e me permitiu lutar por esta vitória.
Voltando um pouco à corrida, qual foi ao certo o problema do motor?
Não sabemos ao certo o que se passou ainda. Não sabemos se foi algum pedaço de borracha ou de carbono que que terá afetado o radiador ou se foi algum problema de uma peça que falhou. O certo é que aconteceu nos dois carros da equipa (os outros abandonaram por motivos diferentes) , mas ainda estou à espera para saber o que realmente se passou.
Notaste diferenças em relação ao motor do ano passado para o deste ano?
O outro motor não deu um único problema até porque o tempo de preparação antes da corrida foi muito maior, em relação a este. Em termos de performance não notei grande diferença pois ele já vem limitado pelo BoP, portanto é complicado apontar diferenças. Ambos são grandes motores, com muito torque mas a potência final é muito idêntica porque estão já limitados. Só retirando o limitador é que poderia ter uma noção mais clara.
Quando choveu o Cadillac perdeu algum tempo para a concorrência. Foi Set up ou foi jogar pelo seguro?
Não acredito que tenha sido o set up do carro pois o Mike Conway estava a andar muito bem nessas condições e as afinações eram praticamente iguais. Creio que o Christian quis jogar pelo seguro, sabendo que ainda era muito cedo para correr riscos, ao contrário de outros adversários que estavam mais para trás, que quiseram aproximar-se mais e brilhar nessas condições.
Os recordes trazem satisfação extra?
É sempre bom ganhar esta corrida independentemente dos recordes. Ficamos nos livros de Daytona e isso, só por si já é especial o suficiente. Mas é claro que quando se ganha com um recorde absoluto que não é quebrado há muitos anos é ainda melhor, e ainda mais este ano com uma grelha recheada de grandes nomes.
Houve algum piloto ou equipa que te surpreendeu?
A Mazda terá sido aquela que mais me surpreendeu. Estava à espera de muito mais deles, agora com Joest, que é uma grande equipa, com excelentes pilotos. O ritmo mostrado numa volta foi muito prometedor, mas na fiabilidade ainda estão muito longe do desejável nesta fase. Em relação a surpresas positivas, acho que não destacaria ninguém, pois tivemos bons pilotos com bons carros em pista que tiveram prestações muito boas, mas não houve alguém que tivesse mostrado um ritmo que me impressionasse.
Concordas que, embora a concorrência tenha mostrado potencial, o Cadillac continua o carro a bater?
Não acho que o nosso carro seja o carro a bater neste momento, embora seja o carro em maior número neste momento. O Nissan, por exemplo, mostrou um andamento muito rápido, embora tenham tido problemas de motor e de caixa. A Penske também colocou um pista um carro muito veloz e apenas esconderam mais tempo o jogo. O facto de termos vencido, pode levar as pessoas a dizer isso, mas se os Acura não tivessem tido problemas estariam na luta pela vitória, assim como a Nissan.
As duas avarias dos dois Cadillac preocupam para o resto da época?
Não é motivo para preocupação. O #10 além de ter feito a pole mostrou bom ritmo de corrida, embora no primeiro turno que fiz, tenha conseguido passar por eles sem grandes problemas, pois o nosso carro estava com um andamento de corrida muito forte. Nesse caso, com os rebentamentos sucessivos de pneus terá sido uma questão de condução ou de afinação, pois connosco não aconteceu uma única vez. O #90 teve um problema de motor, talvez por ser ainda um motor novo, mas tenho a certeza que a lição ficou aprendida e vai haver tempo para resolver todos os problemas por isso mantenho muita confiança nas capacidades do carro.
O que esperas do campeonato? Por certo será muito renhido.
Espero um campeonato muito equilibrado e competitivo. Os pilotos da Penske, estão habituados a provas sprint e por isso estarão muito mais à vontade nessa área. Eu vou conhecer algumas pistas pela primeira vez, e há outras equipas que têm pilotos na mesma situação, como o caso da Mazda, mas isso não me intimida nada porque consigo aprender rápido. Se calhar numa fase inicial não estarei ao mesmo nível do que se já conhecesse a pista, mas não é isso que me irá impossibilitar de lutar por um bom resultado.
Numa corrida como a de Daytona é possível descansar, mesmo com a pressão que existe, mais quando se sente que tem carro para vencer?
Eu percebi que tínhamos andamento para ganhar desde o meu primeiro turno, onde comecei logo a gerir o andamento dos outros . O Nasr passou-me porque estava numa fase ainda relaxada, mas quando quis, consegui subir até à primeira posição e liderar o resto do meu turno todo, sem rivais. Sabíamos que a máquina era capaz de vencer. A partir daí foi preciso muita calma e serenidade para evitar os problemas. O que me preocupava mais era saber que tínhamos tudo para vencer e isso não acontecer por fatores externos. No ano passado a Cadillac era imbatível e este ano tínhamos um carro que nos permitia não temer a concorrência, mas há sempre problemas que podem surgir e tirar-nos da luta, como aconteceu em 2017. Foi talvez isso que me fez sentir alguma pressão, mas tirando isso estive sempre relaxado, consegui dormir, não me preocupo minimamente com o trabalho dos meus colegas e foco me apenas no meu, pois tenho 100% de confiança neles. O mais importante que os pilotos consigam descansar para depois estar a um bom nível e foi o que fizemos.
Como foi ser recebido por tantos jornalistas? Achas que pode ser uma porta que se abre para um maior reconhecimento do trabalho dos pilotos pelo público em geral?
Espero que sim. Fiquei muito contente por ver que a minha conquista foi reconhecida em Portugal. Mas desta vez isso era mais fácil de acontecer pois foram dois pilotos portugueses, que se estabeleceram numa grande equipa e num grande construtor nos EUA e que conseguiram vencer. Isso só mostra que somos bons, ao nível dos melhores do mundo. Nós somos contratados pelos construtores sem necessidade de grandes patrocinadores. Claro que eles são fundamentais mas não chegam ao nível do que se vê em pilotos de outros países. O simples facto pelo qual não estamos na F1 é apenas esse… não conseguimos ter o mesmo nível de patrocinadores que outros pilotos com a mesma valia conseguem e por isso chegam lá. Mas não é por ser mais pequenos que isso invalida que não se reconheça o trabalho dos pilotos portugueses lá fora. O país vive muito para o futebol, e com lógica, pois somos muito bons nessa área, mas os pilotos portugueses também representam o país lá fora e tem de mostrado o seu valor contra pilotos de grandes países com outros meios e creio que nenhum representante do automobilismo foi reconhecido, pelo presidente da República por exemplo, e acho que isso é uma falha.
O Pedro Couceiro publicou várias fotos da tua juventude. Olhando para o que atingiu até agora o que sente?
Sinto-me muito orgulhoso de tudo o que eu fiz, sem dúvida. E se cheguei onde cheguei é muito graças a excelente gestão da minha carreira e isso devo-o ao Pedro e ao Nuno Couceiro. Foi graças a eles que foram tomadas as decisões certas que me trouxeram até aqui e isto é o culminar de muito trabalho, que não se vê. E esta vitória vem pouco tempo depois de ter saído da Audi e mesmo assim conseguimos tomar a decisão correta e a minha carreira continua no topo, o que se deve a este excelente trabalho da PNC.
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Muito bem, muito bem ! Tudo isto- uma vitória nas 24 H de Daytona- era impensável há 30 ou 40 anos atrás. E venha agora Sebring, com mais uma grande actuação, e oxalá que puxe mais adeptos portugueses para a modalidade e que haja um maior reconhecimento de todos. Uma nota por curiosidade, não se fala, mas na verdade o carro vencedor é um Dallara. E uma imagem elucidativa da bonita homenagem que a Corvette prestou a um jovem, seu grande adepto, cujo sonho seria pilotar para a marca e que luta agora contra o cancro( acho que não estou… Ler mais »
Um pilotaço este nosso Felipe Albuquerque, tal como o João Barbosa, fazem uma dupla praticamente imbatível. Tenho a certeza que teremos mais motivos de orgulho e de comemoração durante este ano. Quanto ao reconhecimento pelas entidades competentes de Portugal…enfim continuamos a ser o país dos 3 F, Futebol, Fado, Fátima.