Entrevista Jens Marquardt: “O António Félix da Costa está no topo das nossas prioridades”

Por a 27 Outubro 2016 13:38

Novos desafios

De uma assentada, a BMW confirmou o regresso a Le Mans e a entrada no WEC em 2018, bem como o prolongamento da sua parceria com a Andretti Autosport na Fórmula E. O futuro é risonho para os amantes da marca bávara, e igualmente para o português António Félix da Costa, com o diretor desportivo Jens Marquardt a tecer-lhe grandes elogios nesta entrevista exclusiva concedida aos microfones do AutoSport

André Bettencourt Rodrigues

De dois para quatro campeonatos. É este o plano da BMW para 2018, ano em que, aos esforços oficiais no DTM e IMSA, a marca da Baviera passará a ter um programa oficial da categoria GTE no WEC e um maior envolvimento na Fórmula E. Notícias positivas para os amantes da marca da hélice, que têm como garantido o regresso às 24 Horas de Le Mans pela primeira vez desde 2011, quanto competiu com o M3 GT2. E também para António Félix da Costa, que apesar da saída do Campeonato Alemão de Turismo viu reforçada a sua posição no seio da BMW. A transição do piloto português para os GT está confirmada, tal como a permanência na Fórmula E numa equipa que lhe dá mais garantias de lutar por lugares de topo. E também aqui a BMW o acompanha já que é um dos parceiros estratégicos da sua nova equipa no campeonato de monolugares elétricos. Foi sobre este e outros temas que Jens Marquardt acedeu falar connosco a partir dos EUA.

A saída da Fórmula 1 foi justificada por uma alteração de estratégia da marca, que considerou o DTM e os GT como uma forma de promover os modelos de produção em série da BMW. O novo programa na categoria GTE prova que continuam a acreditar neste caminho?

Completamente. O primeiro e grande objetivo deste plano surgiu efetivamente depois de 2009, como discutido, e agora demos basicamente o próximo passo dessa direção. Concluímos que correr com o que vendemos e ter um programa de corridas muito próximo da nossa gama de produção em série tem sido muito positivo para a imagem e recetividade da marca, e desse modo optámos por expandir o nosso programa. Este esforço contínuo é realmente uma expressão do nosso total compromisso com uma plataforma que abrange não só o DTM e o IMSA, mas que olha também para a categoria GTE e o WEC como outra plataforma internacional, porque obviamente olhamos para ele como um mercado muito forte. O DTM cobre a Alemanha e a Europa, como o IMSA cobre os EUA, e achámos que um programa complementar com o WEC, que tem provas em todo o mundo, era realmente o passo lógico no que à nossa expansão diz respeito. Olhando também para todas as nossas marcas, e em dar o próximo passo com a divisão “i”, optámos igualmente pelo alargamento da nossa parceria com a Andretti na Fórmula E, para depois então na quinta temporada do campeonato estarmos mais envolvidos com componentes da BMW.

O que o tornou confiante quanto aos regulamentos do WEC para aderir ao campeonato? Sabemos que nas corridas de GT é fundamental um bom BOP (Balance of Performance) e vimos este ano, com os carros da Ford, como as coisas podem mudar. Preocupa-o que o BOP possa minimizar a vossa posição e impacto nas corridas de GT, e no WEC em particular?

Não. Em primeiro lugar, devo dizer que ter com o M6 um carro que é apenas elegível para o IMSA, nos EUA, não foi um plano, antes uma consequência do tempo em que começámos a discutir as questões relacionadas com o nosso envolvimento nos GT. Com o calendário que tínhamos à nossa disposição para desenvolver e homologar um carro ficámos ‘presos’ com um GT3 e apenas conseguimos com os regulamentos do IMSA encontrar forma de homologá-lo para os EUA. Isso nunca foi intencional e penso que agora demos o passo para termos um carro que possa ser totalmente homologado como GTE. Mas claro, no final do dia, toda a questão do BOP representa um enorme desafio para todos os envolvidos. Ter carros de conceitos e disposições muito distintas a competirem juntos num nível muito elevado em diversos campeonatos é obviamente muito desafiante, mas penso que o trabalho desenvolvido em conjunto com os construtores e com a FIA, IMSA e ACO está a melhorar ano após ano. Por isso, tenho total confiança que no final deste processo iremos ter carros que são geridos de uma forma competitiva, e que nos permitirá, com a variedade de circuitos e condições, corridas muito disputadas. Isso é o que os fãs querem e é por isso que nós queríamos fazer parte de algo que é realmente bem recebido por eles e pelos espectadores.

Mas está a pensar adaptar o M6 a estes regulamentos ou irão fazer como a Ford e construir um carro totalmente novo como sucedeu em 2016?

Bom, será definitivamente algo em que iremos pegar em toda a experiência obtida com o M6 como um GT3, e também como um GTLM, e desenvolver um veículo a partir daí. Mas ainda estamos a definir qual será o modelo mais indicado para isso. Do mesmo modo, iremos igualmente aproveitar a experiência que tivemos com o Z4 e com o M4 de DTM. Agora, o que será exatamente… Penso que a divisão M tem alguns modelos que podem ser bem ajustados ao que pretendemos.

Este novo caminho nos GTE é também uma forma de enaltecerem e promoverem o vosso programa de carros-cliente, algo que não conseguem fazer no DTM, e sim com o M6?

Bom, obviamente o plano é, em primeiro lugar, correr com esse carro e ter um ano de sucesso aquando da sua introdução ao nível de fábrica. A partir desse momento teremos de ver. Penso que temos já um bom nível de carros-cliente com o M6 GT3 e o M235i num nível de entrada, sendo que em 2018 teremos também o M4 GT4. Portanto penso que nesse aspecto a BMW oferece uma plataforma fantástica que vai desde os níveis mais baixos aos de topo com o GT3, o que nos coloca numa situação única em comparação com alguns dos nossos concorrentes. Devo dizer que estou

muito orgulhoso de poder oferecer qualquer tipo de carro de corrida aos nossos clientes e que tê-lo conseguido nos últimos anos é um feito incrível.

Jens Marquardt

“CORRER COM O QUE VENDEMOS E TER UM PROGRAMA DE CORRIDAS PRÓXIMO DA NOSSA GAMA DE PRODUÇÃO EM SÉRIE TEM SIDO MUITO POSITIVO PARA A IMAGEM E RECEPTIVIDADE DA MARCA”

Jens Marquardt

Sendo o M2 um carro tão popular, pensou também na hipótese de ter uma versão GT4 deste modelo, ao invés de promover novamente o M4?

Ao olhar para o mercado e para o que todos estavam a pedir era mais algo onde o M4 se encontra, em particular nos Estados Unidos, sendo considerado pelo mercado como ‘o derradeiro carro desportivo’. Foi igualmente bom tê-lo no DTM, mas como este é maioritariamente um programa alemão e europeu, criar uma derivação como GT4 é o que as pessoas queriam, o que o mercado exigia. O M2 é um carro fantástico para as pessoas, mas penso que o M4 é a nossa grande referência e era isso o que queríamos enaltecer com a versão GT4.

Além do regresso da BMW ao WEC e a Le Mans, uma das grandes notícias deste novo programa é a confirmação da permanência de António Félix da Costa na família da marca que lidera desportivamente. Pode explicar-nos porque quis mantê-lo na estrutura e como acha que ele se irá adaptar às corridas de GT, também tendo por base a experiência que ele teve este ano no ADAC GT Masters?

Do ponto de vista da condução, mas também pessoal, o António é um tipo em que simplesmente ficas satisfeito por tê-lo contigo no teu quadro de pilotos. Quer dizer, ele venceu na sua primeira

experiência no DTM, foi um piloto de enorme sucesso nos monolugares e do que sei também teve muito sucesso no Stock Car Brasil. E na primeira experiência que tivemos com ele em corridas de GT ele foi espectacular. A forma como ele interpreta o carro e as provas é realmente soberba, e mesmo olhando para os eventos que ele participou na Fórmula E, penso que temos de estar muito contentes por poder mantê-lo na família. Ele está feliz por trabalhar connosco, portanto diria que esta felicidade mútua irá conduzir a novos sucessos.

 Sei que ainda não anunciou quaisquer pilotos para o programa oficial no WEC, mas o António, claro, está na sua lista de prioridades, digamos assim… 

(Risos) Claramente que ele está na nossa lista porque é um dos nossos pilotos de fábrica. E como eu disse, a Fórmula E e o programa de GT de topo é aquilo que temos em mente. Nesse sentido, ele está obviamente no topo dessa lista.

Quanto à Fórmula E, consegue-nos dizer exatamente em que moldes esta parceria com a Andretti irá crescer na próxima temporada, que tecnologia da BMW poderemos ver nos carros da equipa e o que irão extrair dela para o futuro?

O foco principal para os próximos dois anos é aprendermos o mais possível sobre a categoria. Para nós o interesse reside obviamente por ser o primeiro campeonato do mundo totalmente dedicado a monolugares elétricos. Tivemos uma boa experiência na F1, mas agora o foco são os elétricos, e nesse aspeto queremos aprender o mais possível ao estarmos próximos da equipa, dos engenheiros, e tendo alguns da BMW envolvidos, processando a informação recolhida nas corridas, trabalhando nos sistemas, recebendo o ‘feedback’ dos pilotos, e também providenciando à Andretti a utilização das nossas instalações, laboratórios e túnel de vento. Penso que o que oferecemos enquanto marca e o facto de darmos acesso aos nossos colegas que fazem as unidades motrizes elétricas faz com que esta seja uma relação realmente vantajosa para ambas as partes. Estar no campeonato desde o primeiro momento ajuda-nos a guiar o nosso desenvolvimento, sendo que na quinta temporada é nosso objetivo que existam componentes da BMW no carro.

BMW M3 GT2

Do Z4 GT3 ao M3 GT2 e ao novo M6 GT3, a BMW vai analisar as experiências anteriores no mundo das corridas de resistência para desenvolver um novo GTE capaz de entregar vitórias. António Félix da Costa será um dos pilares do novo projeto da marca

Artigo publicado no AutoSport #2023, de 05/10/2016

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