Entrevista a Diogo Ferrão
Diogo Ferrão é o líder da Race Ready Partner, organizador e promotor de competições como o Iberian Historic Endurance, Single Seater Series, Classic Super Stock, Troféu Mini ou eventos como o Algarve Classic Festival e Estoril Classic, que muito tem feito pela paixão dos clássicos – e não só – em Portugal. Um anos depois de ter ‘acolhido a Single Seater Series e a Classic Super Stock, prepara-se para colocar de pé o troféu Mini, bem como continuar o bom trabalho que tem sido feito tanto na Iberian Historic Endurance, como novos eventos que coloca de pé.
Mas para se perceber melhor o presente, vamos recuar um pouco, e saber como tudo começou: “Tudo começou, quando tive de escolher um tema para a tese de mestrado em Marketing em Inglaterra. Como na altura fazia o campeonato de Formula Ford Histórica nesse país, escolhi fazer a tese sobre Historic Racing Marketing, tendo como referência, além da bibliografia teórica, as muitas informações que os organizadores Ingleses me passaram e também algumas entrevistas com o responsável desportivo de Goodwood e dos proprietários de Brands Hatch. Deu-me bastante prazer fazer este trabalho mas nunca pensei que um dia iria trabalhar na área. Quando regressei a Portugal com o mestrado, em 2009, fui trabalhar para empresas ‘normais’ como a Henkel e a Mitsubishi Portugal. Enquanto trabalhava fui desafiado por um grupo de amigos ibérico, que corriam sobretudo em provas internacionais, para organizarmos corridas de ‘Historic Racing’ na Península Ibérica. Por isso, em 2013, em plena crise, acreditei que, se organizados de uma forma profissional, podíamos atrair um leque maior de pilotos e também atrair algumas equipas do norte da Europa para as nossas provas. O sucesso foi muito superior ao que eu esperava, criando-se um espirito ‘Gentlemen Driver’ nas corridas, com pilotos e equipas a fazerem amizades e sempre com a convicção que, acima de tudo, as corridas tem de ser um enorme prazer, uma recompensa merecida de uma vida de trabalho. Esse é para mim a grande vitória do Iberian Historic Endurance” começou por explicar Diogo Ferrão, que destaca ainda o que o que é agora o maior evento do sul da Europa:
“Obviamente com o sucesso, alguns projetos foram-me apresentados. Aceitei uns, outros não. O Algarve Classic Festival foi o segundo projeto que desenvolvemos. Recuperámos um evento que tinha 120 equipas em 2013, para 320 equipas em 2017, sendo, de forma destacada, o maior evento do sul da Europa” revela Diogo Ferrão, que faz também um balanço positivo da época de 2016: “O ano de 2016 foi sem duvida o mais complicado até agora. Tudo começou um pouco torto, pois só no final de novembro de 2015, ficámos com a organização da Single Seater Series e a Classic Super Stock. Conhecia bastante bem a Single Seater Series, pois tinha corrido de Formula Ford no passado e tive vários amigos que disputaram a competição. A Classic Super Stock, não conhecia tão bem. Como toda a gente, sabia da má ‘fama’ das discussões no Facebook. Por outro lado, agradava-me o conceito da limitação de custos, permitindo que um piloto sem grande orçamento conseguisse ser competitivo. A maior dificuldade foi sem dúvida formar o staff. Para começar, é também uma aprendizagem para mim, gerir pessoas. Por outro lado, as equipas e pilotos são sempre pessoas muito exigentes, tanto na vida profissional como, obviamente, nas corridas. Assim, o planeamento é absolutamente necessário e erros não podem existir, obrigando a grande exigência e a pressão é sempre elevada. Por último, para que a SSS e CSS pudessem ter um calendário equilibrado tivemos de criar eventos adicionais em Braga e no Estoril. Foram eventos muito complicados, sem que tivéssemos o tempo necessário para os trabalhar da melhor forma”, explicou.
O momento mais sensível da temporada de 2016 foi o terrível acidente da prova do Historic Endurance, no fim de novembro, e sobre isso o promotor tem as suas ideias e o que fazer para impedir que algo semelhante possa voltar a suceder: “Depois do evento Algarve Classic Festival que correu muito bem, na última prova do ano, os já tradicionais 250Km do Estoril, tivemos um dia de chuva pela primeira vez nos quatro anos que a prova tem, o que fez com que alguns carros nem alinhassem, pois particularmente os estrangeiros, vêm a Portugal à procura de bom tempo. Tudo acabou terrivelmente, quando, já de noite, tivemos um despiste numa zona muito pouco habitual, a reta da meta. Contra o carro despistado, colidiram quatro carros, tendo dois pilotos ficado feridos, o que implicou a sua ida ao hospital”
“Como aconteceu com a grande maioria do público que se encontrava pela zona das boxes, eu tive um sentimento horrível de impotência ao ver os restantes carros a fazerem razias ao Porsche que estava como um alvo fácil, ocupando praticamente metade da reta da meta. Sinceramente, o meu motivo de choque era simples. Se nos dois primeiros impactos, a situação estava apenas em bandeiras amarelas, quando os dois últimos impactos aconteceram já estavam em bandeiras vermelhas, e há bastante tempo. Durante semanas, andei a perguntar-me. Como podiam os pilotos não ver o Porsche parado na reta da meta?”
“A primeira preocupação foi seguir o estado de saúde dos pilotos afetados, mas assim que eles recuperaram, quis saber em detalhe o acidente. Reuni com todas as equipas portuguesas e espanholas acidentadas, ouvi as suas versões do acontecimentos, vi os vídeos das câmaras dos circuitos e os vídeos onboard e reuni com o Motor Clube do Estoril, de forma a compreender e ouvir todas as partes. Após ouvir todas as partes cheguei a conclusões novas e surpreendentes.”
“Segundo o piloto que ia a conduzir, o Porsche 911 que se despistou inicialmente, não o fez devido a aquaplaning, mas sim devido a uma saída de pista indo à relva no final da saída da parabólica. O piloto vai a lutar com o carro até à linha do início da bancada, onde incrivelmente faz um pião sem bater em nada. Quer o Porsche 911, quer o VW Karmann Ghia que lhe batem já em situação de bandeiras vermelhas, viram os semáforos vermelhos e iam claramente mais devagar na reta da meta. Segundo o GPS do Porsche, na volta do embate, em vez de passar a 150 Km/H na reta da meta, passa a 98 Km/h. Para quem é piloto, sabe que ir num circuito a 90 Km/h é claramente ir devagar. O Karmann Ghia não tem GPS, mas na camara onboard mas vê-se que vai simplesmente a manter a velocidade sem acelerar.”
“Em vez de ficar esclarecido, esta questão deixou-me ainda mais baralhado. Com os pilotos a irem devagar na reta da meta, como se dá o acidente? A resposta pode ser encontrada nas imagens (ver fotos). Com as luzes vermelhas e amarelas da reta da meta acesas, essas as luzes fazem um espelho na água na pista e o Porsche fica escondido atrás das luzes. Nas imagens podemos ver a visão do piloto apenas 0.3s antes do impacto no qual o Porsche está completamente tapado pelas luzes. Só 0,15s antes, a cerca de um metro, os pilotos conseguiam ver o carro, sendo assim praticamente impossível os pilotos desviarem-se ou travarem. Dada a especificidade do problema, nunca um carro tinha ficado parado na reta da meta, atrás das luzes da reta da meta, enquanto chovia, nos últimos 18 anos, desde a reabertura da pista.”
“No entanto, quando acontece uma tragédia destas, há normalmente um conjunto de situações que acontecem ao mesmo tempo. Apesar de não ser de longe competência ou decisão minha, poderia ter sugerido ao diretor de corrida que, quando começou a chover daquela maneira e devido ao espírito e valor dos carros em prova, a entrada do safety-car era aconselhável, apesar de ‘oficialmente’ as condições mínimas de segurança estarem garantidas. Em 2017, se a FPAK autorizar esperamos colocar esta medida no regulamento.”
“Como pedida preventiva, de momento não voltaremos a realizar provas no Estoril à noite, caso esteja a chover, e enquanto o problema dos sinais e dos espelho de água continuar. Também iremos tentar que o regulamento do Historic Endurance tenha uma menção que em caso de chuva forte, o diretor de corrida possa colocar o safety-car, mesmo que ainda existam oficialmente “condições de segurança”.
Isto explica em pormenor o que sucedeu naquele fatídico dia de novembro, mas agora o importante é saber como será este ano: “O ano de 2017, será de consolidação, para os campeonatos Classic Super Stock e Single Seater Series, enquanto começamos o Troféu Mini ainda dentro da Classic Super Stock. O Historic Endurance continuará o seu processo de fidelização de equipas internacionais, com a cereja no topo do bolo a serem as 3 Horas de Spa. Uma prova que recebe equipas de 14 países diferentes e de três continentes, que certamente estará esgotada em 2017.”
“Para além disso, ainda temos o novo Estoril Classic, onde estamos a começar um novo relacionamento com a Câmara de Cascais. A estratégia da Câmara é em trazer “High-net-worth individuals” ao Estoril, sejam Gentlemen Driver, sejam espectadores e cativar turismo de luxo e futuros residentes internacionais. A aposta dos Clássicos junta-se aos eventos de cavalos e ténis do concelho que têm o mesmo conceito”, revelou Diogo Ferrão.
É também importante saber a opinião de um player importante da velocidade nacional e nesse aspeto, Diogo Ferrão tem uma boa justificação para um cenário que parece pior do que é: “Em primeiro lugar, é impossível comparar um circuito citadino com um circuito normal. Um circuito citadino, traz aos espectadores uma grande conveniência, onde muitos nem sequer têm de sair de casa para assistir às provas. Também como é um evento único, que só existe naquele fim-de-semana, acaba por atrair mais espectadores. Já os circuitos permanentes parecem vazios porque foram pensados para grandes competições como a Fórmula 1, com bancadas gigantes e mal posicionadas. O público acaba assim por passar mais tempo a ‘circular’ pelo interior dos circuitos a ver os carros, do que nas bancadas, parados. Por exemplo, no Algarve Classic Festival olhamos para a bancada da reta da meta e vemos 80/150 pessoas no máximo. Numa bancada que é maior que o estádio do Portimonense, fica um cenário desolador. No entanto, a bancada do Paddock está, grande parte do dia, completamente cheia, com o público a ter de se sentar nas escadas para poder assistir às corridas. Penso que o desafio que os organizadores terão no futuro, será encontrar momentos em que todo o público se possa juntar num só local, mostrando a quantidade de pessoas presente. O ELMS já tem essa situação com os pitwalks, colocando todo o público no pitlane e mostrando a totalidade de pessoas que vêm ao evento” referiu Diogo Ferrão.
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parece ser bom rapaz, mas podia responder aos e-mails. por isso mudei o meu projeto da CSS para a legends!
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Obrigado pelo chamada de atenção. Lamento não termos respondido ao seu e-mail. Durante uns dias, durante 2016, decidimos mudar de servidor e perdemos algums emails. Mesmo que já tenha decidido a sua vida, gostaria de receber o forward do e-mail para [email protected] de forma a percebermos o que correu mal e numa próxima vez não voltar a acontecer. Agradeço a sua paciência.
Existe um projeto de formula tuga em Coimbra , que até recebeu incentivos do criador desta formula e que informou que o promotor deveria ser contatado…nunca receberam resposta da Race Ready nem do responsável.
Nesta situação recebemos um contacto sim. Infelizmente a questão da formula Tuga é um pouco diferente, devido à necessidade de handicap para fechar o regulamento final. Este Sábado no Estoril vamos ter uma sessão de testes exactamente para trabalhar nesta questão.
Muito obrigado pela resposta! irei informar os promotores do projeto. apesar de terem mudado as suas orientações, acredito que terão espaço para voltarem ao Formula Tuga feito com auxilio da fabricação digital e para iniciação ao desporto automóvel.
CSS…” Como toda a gente, sabia da má ‘fama’ das discussões no Facebook.” ??? não deve ser no mesmo facebook…