ELMS/Paul Ricard 240: Albuquerque soma e segue
A qualidade de Filipe Albuquerque já é conhecida há muito tempo, mas o que o português fez em Paul Ricard é a confirmação clara de que é um dos melhores do mundo e que está numa forma fantástica. O português venceu e convenceu.
O circuito francês de Paul Ricard voltou a receber o ELMS para a Paul Ricard 240 (em referência aos 240 minutos de duração da prova), substituindo as 4h de Barcelona que estavam inicialmente agendadas no calendário do europeu de resistência, mas que a evolução da Covid-19 na região impediu que acontecessem. Assim, a caravana do ELMS regressou a um palco onde já tinha competido este ano e que conhece particularmente bem.
35 máquinas marcaram presença, com 15 LMP2, 12 LMP3 e 8 LMGTE. Na classe principal as atenções caíam sobre a dupla “Fil & Phil”, com Filipe Albuquerque e Phil Hanson a liderar o campeonato, no Oreca #22 da United Autosports, com 42 pontos. No segundo lugar, com 35 estavam os seus companheiros de equipa, no Oreca #32, Will Owen, Alex Brundle e Job Van Uitert. O Oreca #39 da Graff de Thomas Laurent, Alexandre Cougnaud e James Allen contavam com 20 pontos, apenas dois à frente do Aurus #26 da G-Drive Racing, que via o piloto francês Jean-Eric Vergne juntar-se novamente à equipa ao lado de Roman Rusinov e Mikkel Jensen. Destaque também para as duas máquinas da Algarve Pro Racing (APR).
Nos LMP3, domínio total do Ligier #2 da United Autosports com os pilotos britânicos Wayne Boyd, Tom Gamble e Rob Wheldon na frente da tabela classificativa e nos LMGTE, o Ferrari 488 #74 da Kessel Racing liderava com 44 pontos, mais sete que o Porsche #7 da Proton Competition.
G-Drive e United em destaque no arranque
O fim de semana começou com boas indicações do #26 (Roman Rusinov, Mikkel Jensen, Jean-Eric Vergne) da G-Drive com Vergne a mostrar que não perdeu o jeito para pilotar protótipos, depois da exigente reta final na Fórmula E. O francês liderou a tabela de tempos no primeiro treino (1:40.325), seguido do #25 da APR (John Falb, Simon Trummer, Gabriel Aubry) e do #22 da United. A classe LMP3 foi liderada por Niko Kari no #11da Eurointernational e nos GTE vimos Nicklas Nielsen marcar sua estreia com Iron Lynx com uma apresentação dominante no Ferrari # 60, seis décimos melhor que a concorrência.
No segundo treino, realizado durante a noite, foi Albuquerque a marcar o ritmo com (1:41,464) à frente de Stevens no # 31 Panis Oreca, (Julien Canal, Nicolas Jamin, Will Stevens), que foi três milésimos mais rápido que Ben Hanley no carro # 21 DragonSpeed (Mémo Rojas, Ben Hanley, Timothé Buret).
Em LMP3 David Droux liderou a sessão no # 8 RealTeam Racing Ligier (1:51.163 ) e nos GTE o # 55 Spirit of Race Ferrari liderou a tabela os tempos com 1: 53.836, seis centésimos de vantagem sobre Daniel Serra no 488 GTE # 51 da AF Corse.
Não há duas sem três
Sábado prometia ser um dia intenso com a qualificação a realizar-se de manhã e a corrida ao fim do dia. E logo de manhã tivemos motivos para ficar satisfeitos pois Filipe Albuquerque tratou de colocar o seu Oreca 07 – Gibson na pole com 1:56.951s no cronómetro. Em segundo lugar ficou o #26 da G-Drive a apenas 0.010s. Mais uma vez Albuquerque esteve em grande, sendo o primeiro a colocar tempos verdadeiramente competitivos num piso traiçoeiro devido à chuva, seguido de perto por Vergne e Loic Duval (APR). O homem da United chegou a ter quase um segundo de vantagem para a concorrência, mas Vergne ficou muito perto do topo mas não o suficiente para evitar a terceira pole consecutiva do #22.
A equipa portuguesa da Algarve Pro Racing viu o #24, (Henning Enqvist, Loic Duval e Jon Lancaster) ficar em quarto lugar a 0.852s do tempo mais rápido. Já o #25, ficou na nona posição, a 4.768s da referência.
Na categoria LMP3, a pole position ficou para o #8 da Realteam Racing, pilotado por E. Garcia e D.Droux, com a marca de 2:07.207s
Nos GTE, a pole postition foi para o Porsche 911 RSR #77 da Proton Competition pilotado por C. Ried, M.Beretta e A.Picariello. O tempo mais rápido desta categoria foi de 1:54.508s. Como os tempos dos GTE foram mais rápidos (devido à chuva que complicou mais a vida aos protótipos) a grelha foi alterada de forma a que os carros mais rápidos ficassem na frente, evitando assim dissabores logo no arranque da prova.
Albuquerque voltou a brilhar
A meteorologia não facilitou a vida aos pilotos, com um começo de prova sob Safety Car. A chuva foi aparecendo de forma intermitente o que colocou muito ênfase na estratégia, que inicialmente pareceu não sorrir ao #22. Phil Hanson começou a prova no primeiro lugar, mas o britânico ficou demasiado tempo em pista enquanto o resto do plantel foi trocando pneus para piso seco, o que atirou o piloto britânico para 12º. Parecia que a sucessão de bons resultados do #22 iria terminar em França. Na terceira hora a Panis Racing, a G-Drive e a APR pareciam bem encaminhadas para um bom resultado, mas um Safety Car provocado por um acidente que envolveu um LMP3 e o #24 da APR, mudou a história. Duval apareceu literalmente de cabeça para baixo, com um toque que levou o seu Oreca a capotar e como o #26 da G-Drive e o #22 da United estavam fora de sequência nas paragens nas boxes, ficaram na frente da prova.
A luta entre os dois carros da frente começou a absorver o interesse de todos, com Albuquerque a tentar alcançar Jean-Éric Vergne. Tudo se iria decidir na última paragem nas boxes, onde a G-Drive conseguiu ganhar vantagem (festejada efusivamente na box da G-Drive), com a United a demorar mais tempo por causa de uma troca de um pneu. A 20 minutos do fim, Albuquerque tinha a tarefa quase impossível de anular a diferença significativa que foi diminuindo a um ritmo alucinante, tal o andamento em pista do portugês, até que quando faltavam aproximadamente três voltas para o fim da prova, o piloto de Coimbra, com uma manobra fantástica, passou por Vergne evitando ainda um GTE e um LMP3, selando assim a recuperação fantástica.
O #22 venceu a corrida, seguido do #26 e do #39 da Graff, com Thomas Laurent a passar Will Stevens (que teve um stint muito difícil) e a assegurar o pódio para a sua equipa.
Nos LMP3, a Realteam Racing assegurou a sua primeira vitória na ELMS depois de David Droux ter passado Duncan Tappy no stint final, negando à United Autosports a terceira vitória seguida. Nos GTE, o triunfo foi para o Ferrari 488 GTE Evo da Spirit of Race guiado por Matt Griffin, Aaron Scott e Duncan Cameron.
Faltam adjetivos para Albuquerque
Sem esquecer o trabalho que Phil Hanson fez ao minimizar o tanto quanto podia a decisão errada da equipa, Filipe Albuquerque foi imperial. Já o vimos tão perto das vitórias e a sorte a não querer nada com ele, mas nesta fase a qualidade que tem apresentado em pista é tanta que até o azar se assusta e foge para longe. Albuquerque proporcionou momentos de verdadeiro prazer para quem aprecia corridas e a recuperação que fez a Vergne é do outro mundo. O português não escondeu a satisfação no final: “Depois de termos errado na estratégia e de vermos a ‘pole position’ traduzida num 12º lugar, achámos que não seria possível. Mas, não deitámos a toalha ao chão e focámo-nos em conseguir o melhor resultado possível, a pensar no Campeonato. Mas, as coisas começaram a acontecer e a determinada altura percebi, que talvez conseguíssemos minimizar os estragos, mas nunca pensei chegar à vitória”, começou por referir. “Quando cheguei à traseira do Vergne, nem queria acreditar. Pressionei o mais que pude para fazê-lo cometer erros. Ele manteve-se forte mas numa dobragem, arrisquei e consegui uma ultrapassagem espetacular. Depois foi cruzar a meta e festejar este vitória que achei seria impossível. Estou muito feliz por mim, pelo Phil que teve uma condução brilhante em condições difíceis e pela equipa, que nunca desistiu”.
Algarve Pro Racing esteve azarada. O #24 estava bem encaminhado para um pódio mas um incidente de corrida acabou com as esperanças da equipa, enquanto o #25 fez quinto lugar. Um fim de semana com bons apontamentos que podia ter sido muito melhor.