DTM: A BMW levou uma “surra”. Saiba porquê!
A BMW sofreu uma primeira monstruosa derrota no DTM “a dois” de 2020 este fim-de-semana em Spa-Francorchamps. A marca da Baviera não conseguiu colocar nenhum carro no “Top-5” nas duas corridas da prova de abertura de temporada. A BMW aponta para a gestão dos pneus como a causa para a actual desvantagem para a Audi. Contudo, o construtor de Ingolstadt não concorda que esteja aí toda a diferença.
Apesar da Audi ter dominado a temporada transacta do DTM com relativa superioridade, a verdade é que ninguém esperava que o construtor dos quatro anéis se apresentasse tão forte no arranque de um campeonato cujo futuro é um enorme ponto de interrogação.
A BMW admite que não esteve bem na gestão dos pneus, numa pista que é particularmente exigente nessa área, perdendo aí claramente para o seu único oponente. “Foi claro para nós após os treinos que a pista ia ser muito agressiva nos pneus. Ainda para mais, estiveram temperaturas bastante altas”, explicou o Bart Mampaey, o Team Manager da BMW Team RBM, no final de sábado, ele que conhece o circuito das Ardenas belgas como poucos. “A gestão dos pneus é um grande problema devido à quantidade de curvas de alta-velocidade comparando com outras pistas”, reforçou a ideia aos jornalistas Philipp Eng após a primeira corrida do fim-de-semana, ele que foi o melhor representante da marca, no sexto posto.
Com sete jogos de slicks à disposição por fim-de-semana, a estratégia dos pneus depende de cada equipa, que tanto pode usar pneus novos, usados, ou “raspados” (usados). Todavia, para esta corrida, a Hankook, o fornecedor exclusivo de pneus, recomendou o aumento da pressão dos pneus para 1.45 bar. Habitualmente, as pressões rondam os 1.25 bar, mas devido à deformação causada pelas curvas de alta velocidade, principalmente na subida que se segue a Eau Rouge, onde pilotos e carros sofrem uma aceleração lateral de 3.0g, a maior de todo o calendário, houve a necessidade de implantar medidas de segurança.
Depois de uma derrota sem contestação na corrida de sábado, no domingo, a história não mudou, mesmo tendo a marca de Munique experimentado uma estratégia diferente com Marco Wittmann. Todavia, também esta não resultou, pois o ex-campeão cortou a linha de meta com um atraso de 45 segundos para o vencedor.
O alemão tentou ficar na pista o mais tempo possível, antes da paragem obrigatória nas boxes, e respectiva troca de pneus, mas a jogada não trouxe os frutos esperados. “Tivemos dificuldade com a gestão dos pneus, outra vez. É algo em que temos de trabalhar. A fiabilidade e a velocidade de ponta estão lá, mas, no primeiro turno, o andamento não”, afirmou Jens Marquardt, o Director do BMW Group Motorsport.
Nada melhor que ouvir os seus pilotos para se perceber quanto os homens da BMW saíram desorientados de Spa-Francorchamps. No final da corrida de domingo, Eng era um piloto sem respostas. “Foi muito frustrante. Hoje foi totalmente diferente de ontem. Não fizemos nenhuma modificação no carro, apenas usamos um pneu diferente. Ontem eu era o rei da gestão dos pneus, hoje foi uma história muito diferente. De momento, ninguém percebe isto”, disse o alemão. O experiente Timo Glock corrobora com o estado de dúvidas dos seus companheiros de equipa: “O carro estava bom na qualificação, mas assim que vamos para a corrida com mais peso, é demasiado para os pneus. Estes sofrem muito. É o nosso principal problema. Não está certo, particularmente no segundo turno de hoje. Não sei o que se estava a passar com o meu pneu da frente do lado direito, mas nada estava a funcionar. Não tinha qualquer aderência, desde o início, e tinha muita subviragem”.
Este discurso da BMW que coloca nos pneus como a sua maior dificuldade no início da época, depois de ter ultrapassado no inverno os problemas de vibração causados pelo motor 2-litros turbo, não convence os rivais da Audi. O construtor de Ingolstadt também sofreu do mesmo mal.
René Rast perdeu um pódio na primeira corrida devido ao desgaste dos pneus e Nico Muller não conseguiu triunfar na segunda contenda pelos mesmos motivos. A vantagem da Audi sobre a BMW não terá só os pneus como justificação, como mostram os tempos da qualificação. Sheldon Van der Linde foi o piloto mais rápido da BMW em ambas as sessões, e se no sábado o sul-africano ficou no quinto lugar a 0.617 segundos do tempo da “pole-position”, no domingo a diferença foi ainda superior – 0.788 segundos – o que o colocou no sexto posto da grelha de partida.
A imprensa alemã já chama à BMW, a “Ferrari do DTM”. Depois de um regresso glorioso ao DTM em 2012, onde levou para casa os títulos de pilotos e construtores, desde 2015 que não há um título de construtores que ficasse em Munique e desde 2016 que não há um piloto da marca a vencer.
Após o primeiro confronto do ano, o melhor dos pilotos da BMW na classificação de pilotos é Lucas Auer, que ocupa apenas a sétima posição com 10 pontos, menos 36 que o líder do campeonato, Nico Muller. Na classificação dos construtores, após as duas primeiras das dezoito corridas planeadas, a Audi soma 152 pontos e a BMW 34.
Claro que a Audi não perdeu a oportunidade para espicaçar o seu adversário. Dieter Gass, o responsável máximo pela Audi Motorsport, foi claro ao referir que “é muito bom ver-nos novamente onde terminámos o ano passado. Spa é um circuito especial. Sabemos que a gestão dos pneus é muito importante, mas sabemos que o motor também o é e mostrámos aqui que temos um melhor motor”. Atestando esta teoria, ou não, no domingo, Fabio Scherer, num dos Audi privados da WRT Team Audi Sport, escreveu uma linha da história do DTM, ao ser o primeiro piloto a bater a barreira dos 300 km/h numa corrida com um carro da Class 1.
Dentro de quinze dias, em Lausitzring, os homens da BMW esperam que os M4 DTM mostrem outro tipo de competitividade. E não deverão ser os únicos. Numa temporada tão decisiva como esta para o futuro da competição de matriz germânica, o que a ITR e Gerhard Berger menos desejariam era o domínio avassalador de um só construtor, principalmente, aquele que para muitos foi o “coveiro” do campeonato.