Velocidade: Regresso (possível) à normalidade

Por a 13 Julho 2020 11:30

O desporto motorizado nacional e internacional começa a dar os primeiros passos, nesta nova era em que a pandemia continua a condicionar as nossas vidas. É agora a vez dos nacionais de velocidades Clássicos e Legends fazerem o regresso.

Os Clássicos e os Legends têm sido o garante da velocidade em Portugal, com grelhas sempre bem compostas, boas corridas e projetos interessantes. O ano 2020 preparava-se para ser um dos melhores dos últimos tempos, mas a Covid-19 veio estragar os planos. No entanto, como a vontade de voltar para as pistas é grande, os Clássicos e os Legends vão fazer o regresso às pistas no Autódromo Internacional do Algarve. Esta é a primeira de quatro datas agendadas no calendário, que conta ainda com uma visita ao Circuito Vasco Sameiro (12 e 13 de Setembro), nova ida a Portimão para o Algarve Classic Festival (23 a 25 de outubro) e o encerramento da época será feito no Estoril ( 5 e 6 de Dezembro).

O calendário está definido e as regras para quem participar nas provas também. A ANPAC já fez chegar aos pilotos o conjunto de regras que terão de cumprir para que as provas decorram em segurança. A lista de medidas é extensa e prova a preocupação da organização para que tudo corra pelo melhor.

Das medidas adotadas destacam-se as seguintes:

Cada equipa receberá quatro (4) pulseiras para acesso ao circuito, assim distribuídas: piloto (haverá outra pulseira de piloto no caso de dois pilotos) e assistentes limitados a três (3) ;Devido às necessidades de conter os ajuntamentos, o acesso ao “paddock” e boxes está limitado aos elementos credenciados pela equipa e oficiais de prova, não havendo exceções; As corridas serão disputadas à porta fechada, não havendo qualquer possibilidade de ter público ou assistentes nas bancadas.

Será proibido fazer lume, foguear, cozinhar, utilizar fornos ou produzir qualquer tipo de comida, ou catering, nas boxes, no “Pit Lane” e no “Paddock”, assim como usar qualquer dispositivo para aquecimento ou outro dentro ou em redor de todos os veículos estacionados no “paddock” ou em outras áreas do circuito. Será autorizada a entrada de comida, já confecionada, para consumo das equipas dentro das suas “boxes” com o cumprimento do distanciamento social.

As competições de 2020 não terão a habitual reunião presencial com os pilotos. O “Briefing” será feito em vídeo e com a entrega de um documento, cujo protocolo terá de ser, obrigatoriamente, assinado pelo piloto.

Não haverá cerimónias de pódio nas provas de 2020, devendo ser os troféus dos vencedores, segundos classificados e terceiros classificados, reclamados na tenda da ANPAC, sendo obrigatória a utilização de máscara de proteção e desinfeção das mãos à entrada da tenda (sem os quais não será autorizada a entrada), cumprindo assim as normas da DGS.

Será feito também o controlo de temperatura à chegada do circuito. Caso a medição indique um valor abaixo do limite legal (37,5 graus), será permitido o acesso. Em caso de temperatura acima deste valor ou da deteção de um ou mais sintomas da Covid-19 (tosse seca, temperatura elevada) será negada a entrada nas instalações e encaminhado o caso para a Saúde 24. O uso de máscara será obrigatório. As visitas às boxes, equipas, camiões ou outros que estejam dentro das instalações do circuito estão totalmente proibidas. A ANPAC solicita a todos os pilotos e equipas que não tragam as suas famílias para os circuitos, na tentativa de evitar a criação de um surto da doença Covid-19. Nesse sentido, a ANPAC irá rastrear todos os contactos dos pilotos e das equipas presentes nas suas provas na eventualidade de surgir um caso positivo de Covid19.

São algumas das medidas que serão aplicadas e que certamente irão criar um ambiente estranho no paddock. Paulo Miguel, da ANPAC admitiu que será estranho para todos mas está otimista quanto à progressão do campeonato, apesar das limitações:

“Vai ser um fim de semana um pouco estranho. Uma das grandes componentes das competições de Clássicos e Legends é a interação e o convívio e isso não poderá ser feito. Os pilotos obviamente compreendem a necessidade destas medidas, mas não lhes agrada, pois será um fim de semana em que estarão muito condicionados. Isso também pode ter reflexo na lista de inscritos pois há muitos pilotos que gostam de ir com os amigos para conviver e nestes moldes talvez não apareçam. Mas também há muita vontade de ir para a pista. Não temos ainda um numero certo de inscritos. Temos falado com os pilotos para termos uma ideia de quantos participantes vamos ter, mas muitos estão na dúvida. Se tivermos entre 15 a 20 carros na grelha será satisfatório embora implica uma quebra de quase 40% em relação aos números habituais.”

Os efeitos da pandemia não se fazem sentir apenas em pista:

“Tínhamos dois bons patrocinadores apalavrados para este ano e que neste momento recuaram. Há duas ferramentas para divulgar os patrocinadores no circuito, além das redes sociais que são os carros e os pódios. Os carros, evitamos ao máximo para dar a possibilidade aos pilotos arranjarem os seus próprios patrocinadores, e assim os pódios passam a ser um elemento chave na divulgação dos patrocinadores. Sem essa ferramenta é difícil manter esses patrocínios. “

Esta primeira prova será analisada ao pormenor pela ANPAC para entender que passos dar no futuro a curto prazo:

“Esta primeira prova irá servir de barómetro. Iremos analisar o número de inscritos, a forma como tudo decorre e a partir daí iremos tomar decisões para as restantes provas. A organização deste tipo de provas acarreta custos que têm de ser pagos e teremos de analisar todos os fatores para vermos o que vamos fazer com as outras provas. A nossa vontade clara é fazer o campeonato completo, e temos tudo preparado para isso, mas vamos a cada passo analisar todos os fatores, internos e até externos como é o caso da evolução da Pandemia.”

Esta situação veio “estragar” o que podia ser um excelente ano de competição automóvel em Portugal, mas Paulo Miguel acredita que o impacto não será tão negativo quanto se possa pensar:

“O início do ano era de grande entusiasmo e pensávamos que iria ser o melhor ano da velocidade. Chegamos a acordo com outros promotores e fizemos um calendário que era do interesse de todos, inclusivamente com uma ida a Espanha que era a grande vontade dos pilotos. Todos deram os parabéns à ANPAC pelo calendário proposto. Temos uma série de novos projetos e carro prontos para ir para a pista. Mas esta situação veio atrapalhar este impulso positivo. “

“O impacto na velocidade a médio prazo não creio que vá ser tão negativo quanto possa parecer. Claro que vamos ter de nos adaptar, e encontrar patrocínios não será fácil. Mas só no final da época poderemos fazer um balanço concreto e programar seriamente 2021, até porque esta situação toda é muito indefinida. Temos tido um apoio muito bom da FPAK, não temos nada a apontar. Estão sempre dispostos a ouvir-nos e a ajudar no que podem. “

Por fim fica a mensagem de agradecimento aos pilotos:

“A ANPAC quer dar os parabéns a todos os pilotos que estão dispostos a participar num campeonato em condições destas. Não abandonam, estão cientes de todo o esforço que está por trás desta organização e querem fazer parte, mesmo nestas condições. Eles estão a passar dificuldades, tal como nós, mas vamos fazer um esforço conjunto para termos corridas. “

As últimas informações que nos chegaram apontam para grelhas bem preenchidas e um número total de caros que poderá chegar às cinco dezenas, faltando as óbvias confirmações. Mas é um primeiro sinal muito positivo neste regresso e a confirmar-se os números esperados, será um prémio para a organização e até para os pilotos que poderão ter boas lutas em pista.

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