Desfiado para delinear a trajetória ideal para um piloto a nível nacional, Pedro Salvador traçou a que considera o ideal, deixando avisos:

“Quanto ao trajeto a seguir a nível nacional, deve-se apostar em categorias que permitam colher o máximo de experiências possíveis e acrescentar ferramentas ao que já se tem. A velocidade dá continuidade ao que se fez no kart, melhorando a pureza de condução, trajetórias, como tirar o máximo de um automóvel. Os ralis vão dar outra capacidade de improviso, de reagir a situações diferentes e difíceis. O ralicross é uma modalidade não muito evoluída em Portugal, mas é ótima para os miúdos crescerem e o Rafael Lobato é um bom exemplo disso. Fez kart dentro das possibilidades que tinha, foi para o ralicross e não foi por isso que deu um mau piloto, muito pelo contrário, dando lhe uma capacidade de controlo do carro muito acima da média. É isso que procuro dar aos meus pilotos, mais ferramentas que são úteis. Por isso é que, por exemplo, os meus pilotos fazem um curso de drift. Sim, vão se divertir, mas vão aprender a controlar o carro em situações de piso molhado por exemplo.

Em Portugal a trajetória poderá ser Karts, Picanto GT Cup, Kia Ceed GT Cup, Nacional de Velocidade. Outra perspetiva pode ser passar dos Karts para os Caterham, que são uma ótima escola, com um nível de competitividade que obriga a pensar de uma forma completamente diferente do que nos turismos, pois não há cone de ar como nos Caterham e 50m de vantagem no inicio de uma reta não significam nada.”

Claro que para ser piloto em Portugal depende-se sempre do panorama nacional e das competições que por cá existem. Sem rodeios e de forma concisa, Salvador disse o que faz falta:

“Aquilo que faz falta em Portugal é estratégia, eficiência e competições bem organizadas. Por aquilo que percebo e vou ouvindo, falta kart de qualidade, competitivo, sem querer desvalorizar de modo algum quem está lá. Mas falta sair uma fornada de pilotos que vá alimentando isto. Provavelmente faz falta uma competição monolugar em Portugal, que deixou de existir há alguns anos, ainda que feita numa vertente diferente do que é feito em Itália ou Espanha, porque o salto é muito grande. Saindo dos karts para uma F4, tem de se considerar um orçamento de 200 mil euros. Quando eu fiz Fórmula Ford, era um degrau acima do kart ou ao mesmo preço de um kart bem feito. Creio que uma competição monolugar fazia sentido para quem sai dos karts, para depois derivar para outras categorias.

“Mas acima de tudo, faltam competições bem organizadas, estruturadas, estabilidade regulamentar e de acordo com a realidade do nosso pais. É um erro sistemático que acontece no nosso pais, em que descolamos da nossa realidade económica e da nossa dimensão. Não estou a ser mente pequena, mas prefiro ter uma competição com trinta carros, super competitiva, que vai fazer as pessoas voltarem a sentir o que é ver uma corrida, do que ver apenas um passeio de automóveis, com três carros de uma categoria, dois da outra… não é o que me faz ir ver corridas. Não temos público, mas temos de arranjar forma de o atrair. Desafio qualquer um a ir ver uma corrida de Super Seven. É o que as pessoas querem ver, indecisão, emotividade, seis carros lado a lado na reta, três a entrar para a primeira travagem, é isso que as pessoas querem ver em corridas de velocidade. Eu adoro ver um Porsche a passar, mas gosto muito mais se vir 10.”

Pedro Salvador: “Aquilo que faz falta em Portugal é estratégia, eficiência e competições bem organizadas”

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