René Metge: Um autêntico corredor de fundo

Por a 4 Janeiro 2024 00:02

René Metge andava sempre tão ocupado com o acerto dos derradeiros pormenores de mais uma edição do Africa Eco Race que nem terá tido tempo de festejar os seus aniversários a 23 de outubro.

Piloto, dono de uma concessão de mecânica automóvel onde reside (Montrouge, França), navegador, diretor de equipa e organizador de provas são as funções pelas quais Metge se dividiu ao longo de uma carreira que conta com vários títulos, em modalidade diferentes, prova de um talento inequívoco.

Em 1972 começa a dar nas vistas com a conquista da Taça R12 Gordini, rumando à Fórmula França Europa, antecâmara da F1 na altura, para se bater com nomes como René Arnoux, Didier Pironi ou Patrick Tambay. A partir de 1975, participa no campeonato de Super Turismos, sagrando-se campeão em 1976 e 1978.

Ao mesmo tempo, apaixona-se por um novo conceito de competição automóvel, imaginado por um motard francês: o Dakar. E é aqui que ganha um espaço próprio na história da competição automóvel mundial e, sobretudo, na história do Dakar. Depois de Cyril Neveu ter sido o primeiro motard a vencer por três vezes, o compatriota estabelece o mesmo score nos automóveis, ao sair vencedor das edições de 1981 (com Bernard Giroux, aos comando de um Range Rover, marca da qual é… concessionário!) e 1984 e 1986 (com Dominique Lemoine, aos comandos de um Porsche).

Passaporte para as 24 Horas

Os resultados conseguidos com o Porsche e o seu talento natural como ‘afinador’ de carros valem-lhe uma passagem por outra prova mítica mundial, as 24 Horas de Le Mans, em que irá contribuir para o domínio tecnológico das quatro rodas motrizes.

A partir de 1987, René Metge acrescenta ao ‘currículo’ a função de organizador de provas, ao agarrar o Dakar durante dois anos, e encontra nova vocação: Entre 1990 e 1992, organiza o Raid na neve Harricana, no norte do Canadá e em 1992 faz história ao colocar de pé o Paris-Moscovo-Pequim, prova cujo impacto ainda hoje perdura. Limitando cada vez mais a sua presença de fato de competição e capacete, o quase septuagenário francês não parece estar, ainda, na disposição de parar…

Piloto… e organizador

Não foi o primeiro e não será, claro, o último. Mas a verdade é que René Metge conseguiu dar seguimento a uma bem sucedida carreira como piloto através da organização de várias provas de rali raid. Depois de em 1987 ser chamado a substituir o falecido Thierry Sabine para levar a cabo a edição de 1987 do Dakar, Metge organizou o Raid Harricana (moto-esqui) e o Rali Paris-Moscovo-Pequim, ambos em 1992, o Rali Transiberiano (Paris-S. Petersburgo-Pequim) e, mais tarde, o Africa Race.

Agora, o Todo-o-Terreno mundial ficou órfão com a morte de René Metge, que faleceu esta quarta-feira, 3 de janeiro de 2024, figura-chave dos Ralis Todo-o-Terreno desde o início da disciplina, e um dos pilares fundadores do África Race. Tinha 82 anos. Este piloto excecional e grande organizador deu o seu último cartão de cronometragem. Deixará um grande vazio no mundo do desporto automóvel e nos nossos corações. O último gesto deste homem de grande coração, para quem a amizade era mais forte do que tudo, foi pedir para ser enterrado após o final do Africa Race.

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