«Público teve nota negativa em 2007»

Por a 31 Dezembro 2007 15:15

Ele é o – único! – responsável pela definição do percurso do Dakar em Portugal. Dá pelo nome de Alberto Gonçalves e entre as muitas revelações que faz ao AutoSport, destaque para a confissão de que, em 2007, o comportamento do público mereceu nota negativa nos relatórios da A.S.O. (Amaury Sport Organisation). Mas fique ainda a saber o porquê da opção pelo Campo de Tiro de Alcochete e a razão porque a Lagos Sport não quer que o percurso da etapa inaugural seja repetido.

O Campo de Tiro de Alcochete será o local ideal? Não, não o estamos a pensar como eventual solução para a construção do futuro aeroporto de Lisboa, que esse assunto é um exclusivo de especialistas, pseudo-especialistas e muitos anónimos (estes, a concretizarem o sonho de aparecer nos ecrãs da TV…) a quem a comunicação social tem dado voz nos últimos meses.

A verdade é que há uma nova polémica em torno do complexo militar. Este preconizado pela grande minoria de adeptos e curiosos do desporto automóvel. Porque é que a festa do Dakar começa numa propriedade fechada, onde o público não pode aceder com os seus próprios meios e com uma capacidade limitada a pouco mais de 100 mil pessoas, quando na edição do ano passado estima-se que tenham estado presentes quase meio milhão de espectadores? A resposta a essa e outras perguntas é dada por Alberto Gonçalves, em entrevista exclusiva ao Autosport.

A opção do campo de tiro deve-se, unicamente, à necessidade de mostrar um outro país, ou aos problemas com o público em 2007?

Reconheço que, na última edição, o comportamento do público teve nota negativa nos relatórios. Não foi o piso, ou as dificuldades do percurso que foram avaliados negativamente, mas sim os espectadores. Tendo um problema para resolver, é claro que nem hesitei entre o Campo de Tiro e outra zona.

Não teme uma reacção negativa por parte do público, face às limitações e condicionantes previstas para a etapa inaugural?

Este é um ano de grandes limitações, porque a primeira etapa é disputada numa zona “off-limit” a 100 por cento. O público vai ser encaminhado de autocarro, uma opção com custos bastante elevados, já que vão haver mais de 100 autocarros envolvidos na operação. O público tem de perceber que é uma necessidade da organização. Eu também gostaria de ter ido ver todos os jogos do Euro 2004, mas não consegui, devido às limitações dos estádios. Nós temos zonas em que podemos receber o público, como no Algarve, mas no primeiro dia há limitações impostas pelos proprietários. Não vamos transportar 400 mil pessoas porque é impossível, pelo que a etapa inaugural tem de ser vista como um estádio de futebol.

Está fora de questão um espectador deslocar-se para a primeira etapa com os seus próprios meios?

Sim, porque os acessos vão estar bloqueados. Estamos a falar de duas grandes propriedades privadas, devidamente vedadas. Os seus responsáveis vão abri-las ao público, mas segundo as regras que estão estabelecidas.

Como é que caracteriza o percurso da etapa inaugural?

Um autêntico “cocktail”, com as zonas rápidas e sinuosas, largas e estreitas, a alternarem sucessivamente, com diferentes tipos de piso, desde terra, areia, a pedra solta.

Porque é que a primeira etapa nunca teve o percurso repetido?

Há uma preocupação que está na base da vinda do Dakar para Portugal: mostrar que é um país turístico, que preserva a sua paisagem e que tem condições para organizar iniciativas de grande dimensão. Aliás, o Turismo é um dos grandes patrocinadores do Lisboa-Dakar. Depois da opção pelo interior alentejano, a ida para a Comporta teve como objectivo dar a conhecer um litoral ainda selvagem, enquanto a opção pelo Ribatejo permite mostrar um outro Portugal, bem perto de Lisboa, que a maioria dos estrangeiros não conhece. Não nos podemos esquecer que o Dakar é uma prova para a televisão do mundo inteiro e nós queremos passar imagens belas, para motivar a vinda de turistas.

Então não se trata de uma imposição da A.S.O., mas sim de um princípio da Lagos Sport?

Sim, até porque as etapas de Portugal são da responsabilidade da Lagos Sport, sendo apresentadas à ASO como produto final. É claro que a parte desportiva vem ver o traçado, mas temos carta branca para fazer o percurso do modo que entendermos. O ano passado, eles próprios ficaram surpreendidos com a ideia da areia. Sabíamos que íamos ter problemas, que íamos ter pilotos atascados, mas porque não? Estamos a falar de um Dakar, não de um rali de todo-o-terreno, mas de uma prova de todo-o-terreno.

Então é certo que vamos ter uma primeira etapa nova na edição de 2009?

Sim, o percurso não será disputado na Comporta, nem no Campo de Tiro. O princípio que preside à escolha do percurso da primeira etapa é mostrarmos diferentes zonas do país.

Mas o Algarve contraria a lógica de não repetição do percurso…

A segunda etapa é excepção, porque a Câmara de Portimão, como patrocinadora, tem pedido para mantermos o percurso no concelho. A autarquia fez um grande investimento, que tinha e tem de ser rentabilizado. Não só em termos de percurso, mas também das condições proporcionadas aos espectadores. Exemplo disso, é o facto de, este ano, se ter conseguido duplicar a capacidade do público da zona espectáculo situada no final que, em 2007, já albergou cerca de 17.500 pessoas.

Quantas pessoas trabalham na definição do percurso?

Por causa do secretismo da prova, trabalho sozinho. Apenas vou dando conhecimento à direcção técnica da A.S.O. das ideias que tenho e do que vou fazendo e como há sempre uma altura do ano em que os seus responsáveis vêm a Portugal, aproveito para lhes dar a conhecer o percurso escolhido.

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