Paulo Gonçalves: “Os dois ou três primeiros dias do Dakar serão decisivos para a estratégia da Honda”

Por a 21 Dezembro 2013 21:29

Aos 34 anos, Paulo Gonçalves está no topo das suas capacidades como piloto de Rally Raids. O campeão do Mundo de TT ganhou outro reconhecimento dos media generalistas com o feito obtido no Rali de Marrocos, mas desde então não mudou muito a sua preparação habitual para a prova mais importante do ano: o Dakar. Entre uma homenagem na ‘sua’ cidade de Esposende e felicitações diárias quando sai à rua, ‘Speedy’ mantém um plano de treinos que até já incluiu outra visita a Marrocos, como contou ao AutoSport:

“Continuo a fazer uma preparação em três vertentes: treino físico, de pilotagem e de navegação. O trabalho físico inclui ginásio, bicicleta, natação e corrida. Tudo é dividido entre intensidade e resistência, para simular o mais possível as exigências de um Dakar. No ginásio, por exemplo, divido-me entre cargas (intensidade) e fitness (resistência), na bicicleta também faço treinos de duas horas e meia, que já dá para simular uma etapa do Dakar. Depois temos a pilotagem, e aqui eu tenho uma experiência de 20 anos nas pistas de Motocross e Supercross, que são uma grande escola para o TT. É bom para treinar os reflexos e a rapidez. Depois temos o capítulo da pilotagem e depois do título mundial, eu e o (Joan) Barreda já fomos para Marrocos fazer treino específico de navegação, que é o aspeto onde se decidem as grandes corridas. Na prática, vamos para pistas no deserto com GPS a tentar simular eventuais problemas de navegação e a forma de os resolver. A navegação era o meu ponto fraco mas considero que evoluí bastante e nesta época do Campeonato do Mundo só cometi um erro grave, que foi na Argentina. Tenho a plena consciência que é aqui que se pode fazer a diferença no Dakar”, comenta Paulo Gonçalves.

Duas equipas numa só

O organigrama do milionário projeto da Honda para o Dakar é curioso. Com, teoricamente, três pilotos de ponta – Joan Barreda, Paulo Gonçalves e Hélder Rodrigues -, de um lado está a estrutura ‘holandesa’ com Rodrigues, Sam Sunderland e Javier Pizzolito, e do outro a estrutura ‘alemã’ com Barreda e Gonçalves. A organização interna assume especial relevância se pensarmos que um piloto de topo precisa necessariamente do auxílio de um ‘mochileiro’ para lutar pela vitória. No caso de Rodrigues, está estabelecido que Pizzolito terá esse papel. Mas e se os pilotos da Speebrain Honda precisarem de ajuda em pleno troço? “Penso que os dois ou três primeiros dias de prova vão ser decisivos para a HRC definir estratégias. Tudo vai depender da posição de cada um dos pilotos, mas acredito que todos nos vamos ajudar uns aos outros porque o que interessa são os interesses da marca. Ou seja, que uma Honda vença o Dakar.” Paulo Gonçalves vai agora passar Natal em família e depois voar para a Argentina no próxima dia 30. O Dakar, recorde-se, inicia-se a 5 de janeiro em Rosário (Argentina) e termina no dia 18 de janeiro em Valparaíso (Chile).

Bolívia será desafio pela altitude e gestão dos pneus

 

Estreia absoluta no Dakar é a incursão pela Bolívia, embora nesta edição apenas o pelotão das motos e dos quads tenha uma etapa competitiva no país. Será na sétima e oitava etapas que os motards da prova atravessarão o território boliviano e Paulo Gonçalves, também aqui, tem a lição bem estudada, apesar da novidade: “Será um desafio por dois motivos: primeiro pela altitude, pois vamos passar a mais de 3500 metros de altitude em ritmo de corrida. Já tivemos passagens a 5.000 metros em edições anteriores, mas não em esforço. Eram apenas travessias de fronteiras. Este ano será diferente e a exigência física será maior. Depois há a questão de ser a etapa maratona. Vamos fazer mais de 1600 quilómetros sem equipa de assistência e os pneus vão aquecer bastante pois estaremos num gigantesco lago salgado, onde normalmente as médias são muito rápidas e há um sobreaquecimento das mousses. Depois, no final do dia, os pilotos não terão pneus novos e apenas poderão trocar um ou outro pneu entre si, dependendo da classificação e das equipas. Vai ser duro”, antevê o piloto português.

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