O derradeiro desafio
Mais do que uma simples corrida, o Dakar é o rali mais exigente do mundo: duas semanas de esforço e milhares de quilómetros de pista programados. Os que nele participam, veteranos ou estreantes, vão movidos por um único desejo: o de conhecerem os seus limites. E de os superar a cada dia, desafiando o limite da resistência humana e das máquinas que tripulam.
Todos os anos, desde 1979, homens e mulheres vindos dos quatro cantos do mundo alimentam uma rivalidade intensa em pleno deserto. A sentença final designa sistematicamente vencedores de excepção: de Stéphane Peterhansel a Ari Vatanen; de Edi Orioli a Cyril Neveu; de Karel Loprais a Vladimir Tchaguin, para só citarmos os que mais vezes festejaram à chegada em cada uma das principais categorias.
Mais do que em qualquer outra modalidade do desporto motorizado, o sucesso no Dakar resulta de uma combinação de desempenho, determinação e regularidade. Acima de tudo, e para além da vitória, a essência do Dakar consiste no desafio. E só depois no engenho de os conseguir ultrapassar a cada etapa.
Morte à espreita
Andando sempre no limite da resistência física, não admira que a tragédia tenha espreitado tantas vezes o pelotão, particularmente entre os aventureiros das duas rodas. Ano após ano, a estatística não tem parado de crescer. Às mortes de José Manuel Perez Sala, Fabrizio Meoni (ambas em 2005) e Andy Caldecott (2006), juntou-se na última edição a de Elmer Symons, um sul-africano de apenas 29 anos que cumpria em 2007 a sua estreia como concorrente, após duas edições como mecânico.
A própria filosofia da prova não ajuda. Cada um dos concorrentes mede-se em relação aos outros, num contexto que o convida a exceder-se e raramente a ser humilde perante a adversidade ou os meios superiores das equipas adversárias.
Na véspera do arranque da primeira edição, foi o próprio Thierry Sabine que, sabedor das armadilhas do percurso africano, lançou um último aviso aos concorrentes: «Podem morrer, e devem sabê-lo antes de partir». Imunes aos avisos, o número de participantes não para de crescer, estabelecendo-se a cada edição um número recorde de inscrições.
Recuperar a mística
Mas não é só a segurança (ou a falta dela!) a preocupar os organizadores. Os mais puristas há muito que defendem que o Dakar perdeu a sua mística, afastando-se cada vez mais do espírito aventureiro das primeiras edições e transformando-se numa profissional corrida contra o tempo onde, invariavelmente, ganham os mais fortes. Dos primórdios, defendem, a grande maratona guarda apenas o nome.
Contrapõe a organização dizendo que aquilo que o Dakar perdeu em amadorismo ganhou em mediatismo, espectáculo e negócio, tornando-se num ritual visto por milhões em todo o mundo. Verdade que sim, se bem que os resumos diários, cuidadosamente editados, escondem, ainda e sempre, um outro Dakar.
Um Dakar raramente visto e onde os orçamentos milionários das grandes equipas contrastam com o limiar de pobreza em que vivem as milhares de crianças que diariamente cercam o acampamento: à espera de um pedaço de pão, um resto de refrigerante.
Por estas e por outras é que o rali ainda é visto por muitos como um insulto à dignidade dos povos africanos, uma ostentação inadmissível perante gente da mais pobre do planeta. Para fazer face às críticas, a organização passou a levar camiões com ajuda médica e alimentar que vai sendo distribuída à passagem do rali.
Acções que, no entanto, não parecem comover os fanáticos ambientalistas. Para eles nada paga a degradação deixada pelo avançar furioso das máquinas a cada etapa. Sorte a deles que a maioria dos aventureiros fica invariavelmente pelo caminho: ou por culpa da mecânica, ou porque o físico não resistiu à dureza do deserto africano. Assim é, invariavelmente, desde 1979.
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