Entrevista: Luís Portela Morais encara o Dakar 2025 com resiliência e ambição

Por a 20 Dezembro 2024 10:36

O piloto português Luís Portela Morais prepara-se para enfrentar mais uma edição do mítico Dakar, agora inserido numa equipa oficial e com um carro novo, mas carregando a experiência acumulada nas provas anteriores.

Na procura da medalha de ‘finisher’, Portela Morais destaca a importância da preparação psicológica, a superação de desafios diários e o apoio da sua equipa e família para ‘conquistar’ um dos ralis mais difíceis do mundo.

Entre a dureza das pedras, as traiçoeiras dunas do deserto saudita e a procura pela regularidade, o objetivo pessoal é claro: terminar a prova e contribuir para o desenvolvimento do carro, enquanto mantém vivo o espírito que o Dakar exige.

Como a tua experiência nas edições anteriores do Dakar influenciará a tua abordagem este ano?

A experiência que obtive nos Dakar anteriores será muito importante, como é óbvio, para conseguir terminar esta edição da corrida. É um Dakar em que, infelizmente, não vou estar tão bem preparado como queria, mas também vou com melhores condições por estar com uma equipa oficial muito bem preparada, com muita experiência, com pessoas com muita experiência. Assim, o que tenho em falta de preparação é compensado por uma equipa maior e que me vai permitir estar mais concentrado na corrida.

Depois tenho um grande navegador, que é o David, é o meu melhor amigo, e que tem uma experiência em corridas que poucas pessoas em Portugal têm. O nosso objetivo é conseguir fazer tudo com muita calma e não ter problemas, que é sempre o pior do Dakar.

Revelaste há tempos que estás agora bem melhor preparado mentalmente do que em 2017, ainda no tempo das motos. Agora sabes com o que contas, quais são os aspetos mentais mais complicados de ultrapassar?

Sem dúvida alguma, para mim, a parte psicológica é o mais importante para participar no Dakar. Ainda para mais com a limitação física que tenho este ano, a parte psicológica vai ter de me ajudar a ultrapassar essa limitação física. Eu sinto-me bastante mais preparado do que estava em 2017, porque eu não sou piloto profissional.Sou alguém que tem de conciliar uma vida profissional de dia a dia de trabalho, como gerir a minha empresa, com a família, com os meus filhos, ser marido, ser filho, ser irmão e, ao mesmo tempo, ser piloto.

Portanto, em termos psicológicos temos de estar muito fortes, porque os problemas que surgem são muitos. No Dakar, a pessoa tem de estar preparada porque os problemas podem aparecer logo no prólogo ou na última etapa.

E não podemos ir abaixo, tem de se ter a capacidade de solucionar os problemas e continuar. Eu tenho a sorte de estar acompanhado pelo David e de ter uma grande equipa à minha volta e sei que estamos mais preparados do que alguma vez estivemos. O David é alguém que tem muita experiência e isso vai nos ajudar, de certeza, a ultrapassar as dificuldades.

E depois a parte psicológica vai-me ajudar também a ultrapassar as limitações físicas com que estou este ano, devido a um problema de saúde que tive, mas do qual já recuperei felizmente. Tenho um mês para tentar recuperar seis meses de treino. Mas, vamos bem preparados e inseridos numa boa estrutura, com um bom carro e uma grande equipa e com o apoio da família, que também é importante.

É tentar fazer as coisas sem erros e acabar.

Quais são os principais desafios de competir num SSV em comparação com as motos, o que é mais fácil e difícil em cada um dos casos?

O Dakar na categoria moto é sem dúvida a competição desportiva mais dura do mundo. Não há nada mais duro. Fui desportista de alta competição e toda a minha vida pratiquei desportos duros como o rugby. Fiz jogos internacionais e joguei rugby ao mais alto nível durante 10 anos e não há nada tão duro como competir em moto no Dakar.

As diferenças entre a competição de carros e motos são imensas. De mota começamos muito cedo e estamos sozinhos o dia inteiro e o perigo de acidente está sempre presente e alguns podem acarretar lesões graves para o piloto.

Num SSV somos uma equipa. Temos uma pessoa ao nosso lado e sentimo-nos acompanhados. São duas pessoas a decidir e é um trabalho em equipa. Também temos uma equipa maior atrás de nós a ajudar-nos. Por isso conseguir fazer um Dakar de SSV sem ambições de ganhar e apenas terminar acaba por ser mais fácil que de mota.

Um piloto de mota anda rápido e a um ritmo que, mesmo que seja apenas para acabar, é sempre perigoso.

Nos automóveis duas cabeças a pensar ajudam-se sempre muito mais. Ambas as categorias são difíceis, mas não há competição mais difícil que fazer um Dakar de mota. E por isso para mim todas as pessoas que fazem o Dakar de mota são uns heróis.

A integração numa equipa oficial alterou em alguma coisa a tua estratégia e a preparação para o rali?

Ir integrado numa equipa oficial é sempre diferente do que qualquer outra oportunidade que eu tenha tido. Na minha última participação no Dakar eu construí, com os meios que tinha, uma equipa que trabalhou ao mesmo nível que uma equipa oficial. A realidade é que vou mais descansado porque não tenho ao meu encargo toda a logística da preparação da prova. Vou trabalhar com bons engenheiros e bons mecânicos, o que ajuda muito no dia a dia. Vai ser uma experiência diferente. Mas, o que interessa é a entrega e o profissionalismo das pessoas e isso vai sem dúvida fazer a diferença no final

Quais são os teus objetivos pessoais e os da equipa para esta edição do Dakar?

Em termos de objetivos pessoais só tenho de acabar o Dakar e fugir dos problemas. Tenho de fazer um bom Dakar e levar o carro até ao fim. Na equipa tenho objetivos a longo prazo. Vou estrear um carro novo. Ainda não é a última versão do carro, pois vamos começar com o trabalho de evolução agora durante o Dakar. A equipa tem umprojeto de vencer o Dakar nos próximos anos. O meu objetivo é desenvolver o carro e a equipa vai preparar-se o melhor possível para poderem vencer o Dakar. Ao nível pessoal a meta é acabar e ajudar a equipa a desenvolver o carro o máximo possível.

Quais são as tuas expectativas em relação ao percurso deste ano na Arábia Saudita, dá exemplos do que são as condições desafiantes do deserto ou doutros locais da prova?

O percurso do Dakar desta edição vai ter uma primeira semana muito dura onde o objetivo é sobreviver. Nós temos a limitação de ter apenas dois pneus suplentes dentro do carro e todas as etapas com pedra são muito dolorosas para nós pilotos porque temos de guiar com pinças para fugir dos furos. A primeira semana terá etapas muito longas, duras com muita pedra e areia em algumas delas. Temos de ter muito cuidado para não ficar sem pneus suplentes porque podemos perder muitas horas e não queremos isso. É difícil, mas tenho que conseguir adaptar a minha condução ao máximo para fugir dos furos. A segunda semana parece mais fácil porque as etapas são mais curtas. São etapas com muita areia. Felizmente nos últimos anos dei-me sempre bem nas etapas de areia tanto no Dakar 2022 como nas corridas que fiz de moto. Eu gosto de andar nas dunas e na areia. Com este carro, apesar de ser um pouco mais difícil porque é um carro com caixa, espero conseguir manter o nível na segunda semana. Mas, para isso tenho que lá chegar e tenho de conseguir ultrapassar a primeira semana pois o objetivo é chegar ao final e trazer para casa a medalha de finisher.

Quem é que achas que vai ganhar os Challenger e os SSV este ano e porquê?

É impossível fazer prognósticos de quem vai ganhar o Dakar. Na edição anterior vimos que se pode perder na última etapa e acho que a categoria T4 está muito forte. A classe T3, sou honesto, não está tão forte como em anos anteriores, mas há sempre pilotos muito fortes. Acho que a regularidade é sempre o mais importante, por isso não faço ideia quem poderá ganhar. Os T3 estão menos fortes porque a maioria dos pilotos mudou para a categoria Ultimate ou então voltaram para os T4. Temos alguns portugueses que podem fazer bons resultados nos T4 e eu estarei lá para os apoiar, como espero que também me apoiem quando for preciso. Espero que não seja preciso, mas estaremos a apoiar uns aos outros que é uma das coisas boas por termos uma comitiva forte nas corridas.

O que gostas mais no Dakar e o que gostas menos?

O que menos gosto é o tempo que estamos fora de casa. Eu sou uma pessoa que gosta de estar junto da família e estou habituado a estar com eles todos os dias e sempre que estou longe de casa é difícil. O que mais gosto é o desafio e o facto de termos que nos superar todos os dias. Todos os dias enfrentamos adversidades e temos de ser melhores. O facto de testarmos as nossas capacidades todos os dias isso para mim é o mais estimulante. Esta sensação que temos que vencer todos os dias e qualquer quilómetro de corrida é uma vitória. Eu costumo dizer que no dia em que um piloto acaba o Dakar odeia aquilo. Mas, no momento a seguir está a pensar como é que vai voltar porque este desafio constante é o que nos motiva e o que nos move todos os dias.

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