Dakar: Guia da prova
Marc Coma deu o aviso: a edição de 2017 do Dakar será a mais dura dos últimos anos, à conta do percurso em altitude e da navegação. O desafio começa no Paraguai, a 2 de janeiro
Já se sabia que três países fariam parte desta nona visita ao continente sul-americano. Mas só a 23 de novembro é que o figurino foi revelado na íntegra, com a manutenção da Argentina e Bolívia, e a entrada do Paraguai – o ponto de partida da edição de 2017 do Rali Dakar. Após a saída do Chile, em 2015, país que, a exemplo da terra das ‘Pampas’, desde sempre tinha integrado a variante ‘latina’ do Dakar, suspeitava-se que o evento começasse a perder parte da sua importância e credibilidade. Não era uma situação isolada (de 2009 a 2011, a Argentina e o Chile organizaram em exclusivo a prova, enquanto o Peru juntou-se a estes em 2012 e 2013, sendo substituído pela Bolívia a partir de 2014). Mas a baixa repentina do Peru na última edição do Dakar, incitada pelos efeitos da tempestade ‘El Niño’, tinha deixado concorrentes e fabricantes desconfiados quanto ao futuro da mais famosa prova do TT mundial.
A entrada de um novo país em 2017 veio ‘atenuar’ esse problema, até porque as maiores críticas assentavam na ausência de uma travessia por entre a areia do deserto – algo que só o Peru e o Chile tinham garantido até aqui. Agora, “adeus rali, bem-vindo rally-raid” é a expressão que todos querem mencionar após a conclusão da prova. “Esta será a mais dura edição na história dos Rally-Raids sul-americanos”, garante o diretor desportivo Marc Coma, acerca do percurso que poderá conhecer ao detalhe nas páginas seguintes.
Além da visita ao Paraguai, a rota definida explorará as montanhas da Bolívia, depois de diversas incursões pelo deserto salgado de Unyuni. As cinco etapas previstas no país levaram um mês a serem palmilhadas a pente fino durante os reconhecimentos e irão “surpreender os concorrentes”. Areia, dunas e obstáculos estarão à sua espera, num percurso “africano”, descreve o antigo motard espanhol. A bem da verdade desportiva, Coma desejará ainda que os problemas sentidos na edição de 2016 ao nível do controlo dos tempos tenham sido erradicados.
CONTINGENTE LUSO
Ao contrário das edições anteriores, Portugal não terá nenhum piloto na categoria dos automóveis. A representação lusa está, no entanto, garantida por intermédio dos navegadores Filipe Palmeiro e Paulo Fiúza, o primeiro ao lado do chileno Boris Garafulic, no MINI All4 Racing nº 314, e o segundo a bordo do MINI nº 325 conduzido pelo alemão Stephan Schott. Já nos camiões, José Martins fará companhia a Thomas Robineau e Dave Berghams no Iveco nº 529, enquanto Armando Loureiro foi escolhido para secundar Georges Ginesta e Christophe Allot no MAN nº 544.
Quatro navegadores no mundo das quatro rodas, embora em cada uma destas duas categorias seja difícil apontar à vitória – algo que não sucede nas motos. Aqui, Paulo Gonçalves (Honda nº 17) e Hélder Rodrigues (Yamaha nº 5) – os mais sérios candidatos a trazerem para ‘casa’ o tão ambicionado primeiro triunfo à geral – encabeçam a lista de 11 representantes lusitanos. Com ambições mais modestas seguem-se Joaquim Rodrigues (Hero nº27), Mário Patrão (na equipa oficial da KTM nº28), que volta a tentar vencer na categoria Maratona, Gonçalo Reis (KTM nº 64), Pedro Bianchi Prata (Honda, nº 75) Luís Portela de Morais (KTM nº 104), David Megre (KTM nº 114), Fernando Sousa Jr. (KTM nº 131), Rui Oliveira (Yamaha nº 151) e Fausto Mota (Yamaha nº 152). Se nos autos salientamos a ausência de Carlos Sousa/Miguel Ramalho, nas motos é de destacar a ausência de Ruben Faria, cuja última lesão acabou por forçá-lo a colocar um ponto final na carreira. O piloto irá, contudo, deslocar-se à América do Sul e acompanhar todos os detalhes do Dakar deste ano, depois de ter sido promovido a novo diretor desportivo da Husqvarna. A entrevista dedicada surge mais à frente neste especial.
FAVORITOS
Apesar da introdução de um novo carro na X-Raid, é impossível não apontar a Peugeot como a grande favorita a revalidar o triunfo conquistado na edição do ano passado. A equipa de sonho composta por Stéphane Peterhansel, Carlos Sainz, Sébastien Loeb e Cyril Despres mantém-se inalterada e conta também com um renovado Peugeot 3008 DKR (no lugar do 2008) para cimentar esse estatuto. Segue-se depois a Toyota, que recrutou os antigos vencedores Giniel de Villiers, Joan ‘Nani’ Roma e Nasser Al-Attiyah para levar a Hilux ao triunfo, enquanto a X-Raid de Sven Quandt enfrenta uma fase de transição, mesmo estreando um novo MINI All4 Racing. Mikko Hirvonen será o líder da estrutura alemã, seguido por Orlando Terranova, Yazeed Al Rahji e o rookie Bryce Menzies – os únicos a contarem com a mais recente evolução do MINI. Por falar em estreantes, destaque para Khalid Al Qassimi (Peugeot) e Nicolas Fuchs (HRX) – duas figuras dos ralis que irão aventurar-se pela primeira vez nestas lides, fazendo companhia as outras duas caras conhecida do WRC, Xavier Pons (Ford) e Martin Prokop (Ford), e à estrela do WEC e de Pikes Peak, Romain Dumas (Peugeot). Os irmãos Tim e Tom Coronel também irão estar presentes, enquanto a espanhola Cristina Gutierrez Herrero se assume como a única mulher da categoria. Se na velocidade os Peugeot e Toyota aparentam estar em vantagem, o MINI deverá ser superior na fiabilidade, como se viu o ano passado.
Nas motos, o australiano Toby Price assume-se como o grande candidato à vitória e chefe-de-fila da KTM após a exibição do ano passado. Mas tanto Paulo Gonçalves (ainda mais com a retirada surpresa de Kevin Benavides, que se lesionou a duas semanas do início da prova enquanto treinava para o evento) como Hélder Rodrigues vão procurar garantir que a Honda e a Yamaha podem desafiar a armada austríaca. O chileno Pablo Quintanilla lidera os esforços da Husqvarna, ao passo que Juan Pedrero Garcia e Adrian Metge comandam a Sherco. Ainda assim, não faltam potenciais vencedores, de Ricky Brabec a Joan Barreda Bort, passando por Adrian van Beveren, Michael Metge, Matthias Walkner e Stefan Svitko. Nos camiões, destaque para Gerard De Rooy (Iveco), Ayrat Mardeev (Kamaz) e Alex Loprais (Tatra).
DIFICULDADES
Para lá de terem de suportar a extensão das etapas (sete setores seletivos terão mais de 400 km), os concorrentes vão ser forçados a ‘cruzar’ seis dias da competição a mais de 3000 m de altitude, transpor em Uyuni uma etapa maratona em que a assistência será limitada e suster o pesadelo dos mais de 1000 km (entre ligações e percurso cronometrado) da ‘Super Bélen’. O principal desafio da edição desta 39ª edição do Dakar assenta, contudo, nas limitações impostas na navegação, igualmente explicadas neste jornal por Filipe Palmeiro e Paulo Fiúza. Além de restrições no número de funcionalidades do GPS, fazendo com que a bússola assuma novamente um papel de destaque no Dakar, a margem de erro será menor devido ao maior número de pontos de passagem obrigatórios (WPC).
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