Dakar 2023: Magia das 1001 noites…
Arranca no fim do mês a edição 2023 do Dakar, com os ‘suspeitos’ do costume na luta pelo triunfo, que, este ano, deverá ser bastante mais aberto, já que a Audi deverá estar mais forte, a BRX dá cada vez mais luta na frente, e a Toyota prevê-se que seja a equipa a bater. A Mini, para já, tem um novo T1+, mas não tem pilotos para lutar pelo triunfo…
A par com as 24 Horas de Le Mans e provavelmente as Indy 500, dependendo do ponto do globo onde vivemos, o Dakar é aquele momento do ano em que o interesse dos adeptos se aglutina na grande maratona das areias. Le Mans e Indy 500 também reúnem muitos adeptos, talvez mais, mas nenhum deles por tanto tempo quanto o Dakar. O evento da ASO, apesar de se realizar apenas uma vez no ano, congrega quase tantos adeptos nas redes sociais quanto o WRC o ano todo, tem mais 50% que a Fórmula E, e quatro vezes mais que o WEC, Mundial de Endurance. Significativo!
São duas semanas inteiras de adeptos presos à TV ou à internet, a seguir quase ao segundo a grande maratona, e como é lógico, este ano não será exceção.
Talvez, também porque junta diversas especialidades, Autos, Motos, SSV, Camiões, traz adeptos de mais lados, mas o Dakar há muito que é uma ‘religião’.
Novo figurino
A 45ª edição do Dakar terá lugar pela quarta vez na Arábia Saudita, realiza-se de 31 de dezembro de 2022 a 15 de janeiro de 2023. O percurso foi desenhado entre dois mares, há 15 dias de corrida, quatro deles no ‘Empty Quarter’, areia para todos os gostos.
Os concorrentes vão percorrer 8549 km, 4706 km deles ao cronómetro. A prova arranca com um bivouac XXL montado numa praia do Mar Vermelho e um dos pontos interessantes, é que, 40 anos depois, agora no Dakar Classic, Jacky Ickx, vencedor da prova em 1983, está de regresso como patrono da prova deste ano.
Nesta ‘corrida’ a navegação tem ainda mais importância que a habitual, e presentes voltam a estar as grandes marcas das motos, desde as KTM de Kevin Benavides e Matthias Walkner, às motos GasGas do vencedor de 2022, Sam Sunderland e o seu companheiro de equipa Dany Sanders, as Honda de Adrien Van Beveren, Ricky Brabec ou Pablo Quintanilla, ou mesmo a Husqvarna montada por Skyler Howes ou o Sherco de Lorenzo Santolino.
Na categoria auto, será também mais um grande teste para os renovados Audi conduzidos por Stéphane Peterhansel, Carlos Sainz e Mattias Ekström, depois do ano de aprendizagem, todos determinados em vencer, sendo Nasser Al-Attiyah, líder da equipa Toyota, o Rei a destronar.
O catari, é acompanhado por Yazeed Al-Rajhi e Giniel De Villiers, enquanto os BRX Hunter da Prodrive, conduzidos por Sébastien Loeb, Guerlain Chicherit e Orly Terranova também parecem estar equipados para levar ainda mais a luta até ao topo da classificação geral.
Nas outras categorias também se espera muita luta, já que nos Camiões, sem a armada russa da Kamaz, que fica em casa, a corrida fica muito mais aberta do que habitualmente, o que já sucede normalmente nos quad, SSV T3 ou SSV T4. Para o primeiro acto, a cortina levanta-se no ‘Sea Camp’ a 31 de dezembro.
Contingente luso
A presença lusa não difere muito, em termos de números, dos últimos anos, mas há uma novidade fantástica. João Ferreira leva Filipe Palmeiro ao lado e corre pela Yamaha X-Raid Supported Team nos T3, o que é mais um grande passo do jovem piloto luso que tão bem se tem afirmado no TT ao mais alto nível. Ricardo Porém também regressa, inserido na mesma estrutura, a Yamaha X-Raid Supported Team.
Nos Autos, Vaidotas Zala volta a levar Paulo Fiúza ao lado mas agora num BRX Hunter T1+, e outra grande novidade é a vinda de Hélder Rodrigues para as quatro rodas. Com Gonçalo Reis ao lado, o ‘estrelinha’ corre pela BRP South Racing Can-Am em estreia absoluta, no Dakar, nas quatro rodas.
Há quatro navegadores lusos no T4, e mais dois pilotos nos Camiões.
E como sempre, muitos portugueses nas equipas, nas mais variadas funções, com a maioria, como mecânicos. E há outro detalhe muito interessante: o Diretor de Prova dos autos, é Pedro de Almeida, ex-Diretor do Rali de Portugal.
Quem são os favoritos?
Dificilmente o vencedor não sai do trio Toyota, BRX e Audi. A Mini tem um palmarés fantástico no Dakar, mas só este ano traz o seu novo T1 Plus, e com os pilotos que nomeou, só em condições muito especiais leva de vencida a prova.
Olhando para o que é o palmarés da prova na última década, é claramente a Mini que tem mais vitórias, seis face às duas da Peugeot e também duas da Toyota.
Se estreitarmos mais a análise, nos últimos quatro anos, só a Mini e a Toyota venceram o Dakar, duas cada. A BRX já conseguiu um segundo lugar no ano passado, deu luta pelo triunfo, mas ainda não está no nível de fiabilidade de rapidez da Toyota.
E se aprofundarmos um pouco na questão, verificamos que a Toyota tem sido consistente nas lutas da frente, mas só em 2019 se estreou a vencer. E teve que esperar mais três anos para vencer outra vez. A Mini ganhou em 2021, mas o ano passado ‘desapareceu’. Desde que Sven Quandt fundou a
Q Motorsport GmbH e se ligou à Audi, numa equipa que ‘roda’ em paralelo com a X-raid Team, não há milagres, a atenção, o foco, diluem-se.
Entre 2017 e 2019 a Peugeot venceu duas vezes e chegou a ‘meter’ os seus três carros no pódio em 2017, mas o programa terminou e o Dakar ficou órfão duma marca histórica no Dakar, pois continua a ser, depois da Mitsubishi, a segunda marca mais vitoriosa na grande maratona.
Portanto, este Dakar tem tudo para ser uma edição imprevisível. A Toyota nunca venceu duas vezes seguidas, a embora a Mini não tenha condições, em teoria, para o conseguir, a BRX está cada vez mais perto e a ‘gigante’ Audi olhou para tudo o que fez mal em 202, e corrigiu-o com um novo carro, o Audi RS Q e-tron E2. Recordamos que a Audi venceu quatro etapas e ‘meteu’ 14 equipas nos pódios nas 12 etapas da edição passada, e tinha um carro e tecnologia completamente novas.
Contudo, temos também que dizer que a Toyota e a BRX estreavam os T1+, carros que não podiam ainda dominar por completo em termos de conhecimento.
Este ano, tudo isso se esbate, a Audi traz um novo carro, que foi muito trabalhado durante o ano, pelo que se não for a principal favorita, certamente dará outro tipo de luta que a fiabilidade não permitiu o ano passado. Até porque quem tem Stéphane Peterhansel, Carlos Sainz e Mattias Ekstrom, só pode esperar boas coisas se o carro ajudar…
A Toyota tem em Nasser Al-Attiyah um tetra vencedor, e um grande líder da armada Toyota. Mas Giniel De Villiers e Yazeed Al-Rajhi são dois grandes ‘tenentes’. O nível a que chegou a equipa, uma Hilux T1+ ainda mais aprimorada são tudo trunfos, mas só quando a prova se ‘abrir’ se irá perceber melhor a correlação, que para já é teórica, de forças.
Quanto à BRX, é bem provável que esta edição esteja ainda mais forte, porque o ano passado teve que construir e desenvolver um carro novo, em cima do anterior que ainda estava em evolução. Portanto, este sendo o segundo ano com o novo carro, tudo leva a crer que serão mais competitivos, e tendo em conta que o ano passado, Sébastien Loeb colocou o carro no segundo lugar, o que sabemos do francês é que se o carro estiver ‘au point’ , ele faz o resto, pois no plantel não há nenhum piloto mais rápido e o que Loeb tinha a aprender do Dakar, já aprendeu.
Quanto à Mini, vai competir neste Dakar com dois novos John Cooper Works Plus na categoria T1+.Dizem querer ter uma palavra a dizer na luta pela vitória à geral mas com Kuba Przygonski e Sebastian Halpern isso parece pouco provável. Denis Krotov e khalid Al-Qassimi correm com os Mini John Cooper Works Buggy, mas como vários outros pilotos, são candidatos ao top 10 e nada mais do que isso.
Outsiders
Se falarmos em níveis de favoritismo, claramente Al-Attiyah, Loeb, Peterhansel e Sainz estão num primeiro nível, seguidos de Giniel de Villiers (Toyota Gazoo Racing), Mattias Ekstrom (Audi Team Audi Sport), Yazeed Al Rajhi (Toyota Hilux T1+, Overdrive Racing), Orlando Terranova (Bahrain Raid Xtreme), Guerlain Chicherit (BRX Hunter T1+ GCK Motorsport) e Kuba Przygonski (X-Raid MINI JCw Team).
Num terceiro nível colocaríamos Sebastian Halpern (X-Raid Mini JCW Team), Brian Baragwanath (Century Racing Factory Team), Henk Lategan (Toyota Gazoo Racing) e Khalid (X-Raid Mini JCW) e por fim, num quarto nível, sem ordem específica, Mathieu Serradori (Century Century Racing Factory Team), Martin Prokop Cze (Ford Orlen Benzina Team), Vaidotas Zala (BRX Hunter T1+ Teltonika Racing), Benediktas Vanagas (Toyota Gazoo Racing Baltics), Erik Van Loon (Toyota Overdrive Racing)
Christian Lavieille (Optimus Md Md Rallye Sport) e Denis Krotov (X-Raid Mini JCW Team).
Claro que há sempre muita coisa a alterar a ordem natural das coisas, mas isso é o Dakar a ser Dakar…
Agora, resta esperar pelo dia 31 de dezembro para o arranque da grande maratona, sendo certo que temos pela frente um grande espetáculo.
FOTOS Red Bull Content Pool; Edoardo Bauer/RallyZone/Frederic Le Floc/F. Gooden/DPPI/ASO