Brincar ao Dakar
Veja o vídeo no seguinte
Um mero exercício de estilo? Um carro de competição? Afinal o que é o smart Adventure que apadrinhou a última edição do Euromilhões Lisboa Dakar? Um brinquedo pequeno no tamanho e grande no prazer…
Se o Euromilhões Lisboa Dakar se saldou por um tremendo banho de água fria para todos os seus intervenientes, houve quem conseguisse salvar a sua pele. É o caso do pequeno smart Adventure projectado para publicitar a imagem do rali e que rapidamente se transformou na “mascote” da prova. Nascido de uma duma parceria estratégica da smart Advertising e os Jogos Santa Casa, o pequeno smart é a prova de que os carros não se medem aos palmos e de que com um pouco de imaginação, algumas horas de trabalho e “alguns” euros a mais, se pode dar vida a um projecto, no mínimo, inovador.
À sua passagem, este fortwo de “saltos altos” é capaz de fazer soltar murmúrios de exclamação, originar uma torrente de perguntas curiosas (com direito a respostas do género: “oh amigo…tenho mulher e filhos e não posso ficar aqui a explicar-lhe durante 16 horas tudo sobre o carro!) ou até rivalizar a atenção com a espampanante loira de descapotável parada em qualquer semáforo deste país. Ok, este último “round” o smart já vence com dificuldade, mas o que interessa é que vence!
Todo “pintas” por dentro
Mas de onde vem afinal tamanho encanto? Ora, tal como os “éclairs”, “bolas de berlim” ou “pastéis de nata” em miniatura são mais saborosos que os de tamanho normal ou o pequeno Lavrador da Scotex é mais giro que os seus pais, também o conceito de micro-machine apurado pela DaimlerChrysler e musculado pela MRacing é muito mais apetecível que qualquer normal “banheira” de quatro rodas “mascarada” de Dakar. Depois, o Adventure é glamour.
É um “tuning” de bom gosto, com soluções estéticas inspiradas nas areias do deserto ou nas histórias das “1001 noites”. É claro que não se pode esperar que dentro do minúsculo automóvel saia uma bailarina a praticar a dança do ventre (até porque não cabia!), mas o acolhedor habitáculo transborda “simpatia” e é também bem capaz de nos deixar com “água na boca”… prontos para passar à acção. Antes disso, contudo, vale a pena observar os pormenores.
Um volante e duas “bacquets” Sparco de competição minimamente confortáveis, dois cintos de seis apoios, extintor, macaco e chave de cruz, revestimento do piso em alumínio, bem como cintas de reboque e um GPS Garmin profissional mesmo ao lado do Terratrip, sem esquecer um “roll bar” feito ao milímetro para aumentar a rigidez estrutural da “casa de bonecas”. Roam-se de inveja, os amantes do TT turístico! E nem o facto do conta-quilómetros, conta-rotações e a alavanca de caixa de velocidades serem de série refreiam a vontade de saltar definitivamente lá para dentro.
Por contraste, cá fora, o olhar ainda fica mais preso. A verdadeira “personalidade” do “puto maravilha”adivinha-se no exterior. A calandra de faróis dianteiros dá-lhe o primeiro toque “racing” que é depois complementado com a adopção de dois pneus suplentes colocados verticalmente na traseira, entre os quais se situam dois “jerricans” de 20 litros cada, tudo opcionalmente escondido por uma cobertura feita em fibra de material compósito.
À estrutura tubular exterior que protege a frente e se prolonga até ao tejadilho, numa opção mais estética que pragmática, acresce a montagem de duas rampas de areia e uma pá no tejadilho, num conjunto particularmente útil caso não se consiga controlar a adrenalina e se termine o dia enterrado na areia do deserto ou, mais realisticamente, duma praia não vigiada.
Toys’u’rus
Mal se roda a chave (esqueçam botões eléctricos ou sofisticados corta-correntes), ficamos em sentido. De imediato, o “puto” com voz de “gasganete” começa a dar ordens. Um tom rouco suficientemente agressivo para alterar as “rotações” do coração fazem com a estrada de terra seja um apelativo chamariz.
Em recta, o motor do Brabus de litro e turbocomprimido é capaz de expressar os seus 100 cavalos (valor aproximado e conseguido após a alteração de um sistema de escape que perdeu o catalizador) de forma rápida, mostrando homogeneidade em todos os regimes, apenas perdendo algum furor nas passagens de caixa (automática ou manual sequencial). Mas, chegadas as curvas, o gozo não diminui sobretudo nas de maior raio já que o facto das enormes jantes de 15 polegadas fazerem os pneus roçar na carroçaria (ainda assim, com vias alargadas) torna problemática e irritantemente “sonora” a abordagem a ganchos ou a curvas de baixa velocidade.
Mas, mesmo com o piso irregular, o “miúdo” mostra-se traquina não levantando demasiado as rodas em desapoio apesar da suspensão distar da altura ao solo cerca de 60 cm. Aliás, não fossem os barras de direcção demasiado frágeis e o smart poderia aguentar mais “tareia” uma vez que as alterações de ancoragem da suspensão dianteira que permitiram a montagem de amortecedores de maior curso e reguláveis em compressão e que permitiram também adoptar molas com taragens diferentes, deram a possibilidade ao “liliputiano” de tratar quase “por tu” os buracos.
O “quase” é quando as crateras aumentam de volume e um enorme estrondo sugere que o batente foi atingido e que, senão se baixar o ritmo, é bom ter o número do reboque do ACP à mão.
A maior surpresa, todavia, está reservada para as pistas de areia onde nem o facto da versão do Brabus ter apenas tracção atrás, impede a sua progressão. Ela é feita com algum esforço, é certo, mas, ainda assim, capaz de fazer inveja ao “buggy“ de Jean-Louis Schlesser (sobretudo quando este já tiver enterrado!) não só devido ao baixo peso do conjunto como também às protecções inferiores do chassis que ajudam no deslizamento sobre a areia.
É verdade que se Bernardo Vilar (o piloto que se associou ao projecto) tivesse tentado levar este protótipo até Dakar, cumprindo o percurso traçado para a prova, dificilmente deveria conseguir atingir as pistas de Marrocos, mas, de qualquer modo, o smart Adventure encarna na perfeição o “espírito” do Dakar que se depender deste protótipo está vivo e recomenda-se…
500 horas de trabalho na oficina da MRacing
Um mês e meio a trabalhar a fundo, o correspondente a 500 horas de trabalho foi o tempo necessário para transformar o smart Adventure que deveria ter inaugurado a partida Euromilhões Lisboa Dakar antes do primeiro concorrente, ter chegado a Portimão, conhecido o primeiro bivoauc de Marrocos e apresentar-se à chegada de Dakar, sempre com Bernardo Vilar ao volante.
Com a experiência da MRacing do piloto-preparador Manuel Russo, esta “caixinha de surpresas” não tardou a ganhar uma nova aparência num trabalho que segundo o Russo, «não foi fácil e obrigou a alguma ginástica. Procuramos reforçar o carro nas partes mais frágeis como a suspensão. Construímos quase um fundo plano para o carro para melhor protecção. Depois tivemos que mexer nalguns sensores de electrónica para “enganar” a centralina e criamos também umas entradas de ar laterais elevadas para o motor para evitar o pó.
Colocamos um escape em inox que deu um ronco mais potente ao motor». De qualquer modo, «houve muita coisa que não tivemos tempo para mexer como a embraiagem que é centrifuga e que é talvez um dos elementos mais frágeis do carro», assegura o seu “cirurgião plástico”. De resto, para Russo o carro poderia evoluir mais, mas «nunca para servir de base para um troféu monomarca no Nacional de TT dadas as limitações das duas rodas motrizes e da própria concepção do veículo».
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