Fórmula 1: Os desafios de cada uma das equipas

Por a 2 Julho 2020 18:39

Este é o fim-de-semana do início da temporada de 2020 do Campeonato do Mundo de Fórmula 1 e, num momento em que o mundo passa por dificuldades, também as equipas terão os seus “demónios” para domar. O AutoSport aponta quais os desafios que cada uma delas terá de ultrapassar este ano.

Mercedes

Como é habitual desde há longos anos, a equipa dos “Flechas de Prata” inicia a temporada como a grande favorita aos títulos, mas existe alguma indefinição em Brackley que se poderá reflectir em pista.

A Mercedes não tem qualquer piloto contratado para o próximo ano e, se Lewis Hamilton tem o seu lugar mais que assegurado, Valtteri Bottas tem o seu volante em risco, dependendo de uma boa época para não se ver substituído por George Russell, um jovem bastante considerado por Toto Wolff.

Por seu lado, o austríaco também ainda não tem definido o seu papel para lá do presente ano. Parece seguro que permanecerá na Mercedes, mas poderá assumir um cargo com menos impacto na equipa, o que poderá espelhar-se de forma negativa nas prestações desta.

A formação de Brackley tem ainda de lidar com a saída de Andy Cowell da liderança do departamento de motores, em Brixworth. O inglês foi instrumental na superioridade técnica da Mercedes ao longo dos últimos anos e a sua saída terá reflexo evidente na estrutura, por muito competentes que sejam os seus sucessores.

Como se tudo isto não bastasse, a estrutura do construtor de Estugarda terá ainda de lidar com a polémica em que está envolvido o DAS, não estando colocado de parte a apresentação de um protesto por parte da Red Bull.

Ferrari

A “Scuderia” entra na temporada de 2020 com as expectativas muito baixas, depois de, segundo a própria equipa, ter falhado nos objectivos com o seu monolugar de 2020, o SF1000.

Mattia Binotto já revelou que a equipa reviu toda a filosofia do seu carro, delineando um programa desenvolvimento distinto daquele que tinha previsto. Mais uma vez, a Ferrari está em modo de recuperação e, se tal como no ano passado, não se verificar efectivamente uma recuperação, a confiança em Maranello vai ser abalada, ficando até a posição de Binotto em risco.

Para além das questões técnicas, o italiano tem ainda de gerir a relação entre os seus pilotos que, no passado ano mostraram não estar muito interessados em fazer jogo de equipa, com diversas questões entre eles e até um toque que resultou no abandono de ambos.

Para agravar a situação, Sebastian Vettel sairá no final da época e dificilmente terá a tendência para seguir as ordens de equipa, sobretudo se isso prejudicar os seus resultados face a Charles Leclerc.

Red Bull

No segundo ano do seu casamento com a Honda, a formação de Milton Keynes aponta para 2020 como a data do seu regresso à luta pelos títulos.

Os homens da Red Bull têm vindo a mostrar um profundo apoio à Honda, tendo sublinhado que os japoneses entregam o que prometem, num ataque velado à Renault, que era criticada por raramente concretizar as expectativas geradas.

A questão passa por perceber a reacção das personalidades da equipa na eventualidade de a Honda não ter ainda o nível de performances da Mercedes ou da Ferrari, podendo dar início ao fim da lua de mel que as duas partes ainda vivem.

Contudo, sem grandes opções para além do construtor nipónico, Helmut Marko, Christian Horner e Max Verstappen terão sempre de refrear os seus ânimos no caso de sentirem que não poderão estar na luta por títulos devido à Honda.

No campo das incertezas a Red Bull tem de lidar com o piloto que colocará ao lado do holandês em 2021. Alex Albon realizou uma meia temporada meritória em 2019, mas como é sabido, os responsáveis da equipa exigem que, no mínimo, o segundo piloto da escuderia possa ajudar Verstappen nas suas lutas e, para isso, o tailandês terá de dar um passo em frente relativamente às suas performances de 2019.

Ainda assim, no seio da Red Bull a confiança que, para já, reina não deverá ser abalada por questões fora de pista.

McLaren

Seis meses é muito tempo na Fórmula 1 e a McLaren bem o pode aferir, tendo terminado 2019 em alta, com o quarto lugar no Campeonato de Construtores, e agora estar a braços com uma crise financeira que, se não for uma ameaça para a sua existência, condicionará o seu futuro com o adiamento da construção de um novo túnel de vento e protelamento da criação de um simulador mais actual.

Estes são desenvolvimentos que poderão não ter um impacto directo nas performances em pista, mas serão seguramente uma distração para Zak Brown e Andreas Seidl que tentarão blindar a estrutura de corridas para que possa continuar a sua evolução do último ano.

A McLaren tem ainda um piloto de saída no final do ano, Carlos Sainz ruma à Ferrari, o que acaba por ser um movimento disruptivo, dado que, a partir de um certo momento, o espanhol deixará de estar envolvido na evolução do monolugar que tripula.

Para além disso, num período em que o desenvolvimento está praticamente congelado – os chassis deste ano terão de ser usados também em 2021 – a equipa de Woking terá de mudar de motor, o que a obrigará a adaptar o actual chassis e esta não é uma solução ideal, podendo condicionar toda a sua temporada do próximo ano.

Renault

A Renault sofreu em 2019 a ignominia de ser ver batida por uma cliente sua, a McLaren, no Campeonato de Construtores. Para lançar sal sobre a ferida aberta, a formação de Woking foi buscar Daniel Ricciardo, o piloto de estrela da formação de Enstone, para substituir Carlos Sainz em 2021.

A equipa do construtor gaulês parte para a temporada deste ano com um piloto que sabe que não continuará para lá de 2020 e foi visível o desconforto de Cyril Abiteboul quanto à situação quando tudo se espoletou, o que pode contribuir para um ambiente pesado nas boxes da Renault.

No plano competitivo, depois de anos em evolução, 2019 foi uma decepção e os responsáveis da equipa desejam provar que a temporada passada foi apenas um pequeno desvio e, dessa forma, justificar a decisão da empresa-mãe em continuar com o projecto de Fórmula 1.

Contudo, o meio do pelotão será este ano palco de uma luta ainda mais intensa e os homens de Enstone terão de dar o seu melhor para que a confiança regresse à Renault.

AlphaTauri

As expectativas da formação de Faenza nunca são muito elevadas pelo simples facto de o seu objectivo ser assumir-se como uma “bengala do da Red Bull”, sobretudo, no que diz respeito à formação de pilotos e técnicos.

A sua existência não está em risco e, com a nova regulamentação financeira, poderá até melhorar a sua posição relativa.

No campo dos pilotos tanto Daniil Kvyat como Pierre Gasly são confiáveis e capazes de garantir resultados e cobiçam o lugar de Alex Albon na Red Bull e isso poderá, pontualmente, levá-los a olhar mais para os seus interesses que para os da equipa, mas tirando isso, pouco mais haverá para destabilizar a AlphaTauri.

Racing Point

Este será último ano em que estrutura de Silverstone utilizará a sua actual nomenclatura, passando em 2021 a ser conhecida como Aston Martin – o quinto nome pelo qual será conhecida na sua história –, e para terminar não poderia arranjar um motivo mais evidente para ser o foco de uma enorme polémica – copiar o carro de 2019 da Mercedes.

O “Mercedes Cor de Rosa” mostra ser bastante competitivo, mas nos bastidores serão muitas as forças para tentar descredibilizar os resultados da equipa.

Normalmente, alheada deste tipo de situações uma das questões será perceber como a estrutura ultrapassará todas as políticas e se estas não terão reflexos nos seus resultados.

Alfa Romeo

A equipa de Hinwil parte para temporada de 2020 com diversas indefinições em diversas áreas. Kimi Raikkonen termina o seu actual contrato este ano, ao passo que Antonio Giovinazzi não tem garantias de continuar na estrutura para além desta temporada.

A Alfa Romeo que dá nome à equipa e contribui de forma decisiva para o budget da formação Suíça termina o seu acordo este ano e com o desaparecimento de Sergio Marchionne, o arquitecto por detrás do regresso da marca de Arese à Fórmula 1, e as parcas vendas do construtor italiano poderão ser determinantes para que o casamento chegue ao seu fim.

Haas

A continuidade da formação norte-americana na Fórmula 1 está em risco, muito embora Guenther Steiner assegure que as mais recentes medidas para controlar os custos de participação na competição máxima do desporto automóvel são suficientes para que Gene Haas continue a passar cheques.

No entanto, esta indefinição e as dificuldades criadas pela pandemia da COVID-19 já levaram a que as evoluções para o carro deste ano da Haas tenham sido colocadas em “stand by”, o que seguramente terá um reflexo directo na performance em pista da equipa.

Para além disso, Romain Grosjean e Kevin Magnussen têm a tendência de se envolverem em toques que condicionam os seus resultados, contribuindo para mais problemas no seio da formação.

Será uma época de capital importância para a Haas e, para que a sobrevivência da equipa fique assegurada, todas as oportunidades terão de ser aproveitadas.

Williams

A vida da equipa que dominou parte dos anos 80 e 90 não tem sido fácil nos últimos anos, tendo terminado no último lugar do Campeonato de Construtores nas duas últimas temporadas.

Esperava-se que em 2020 pudesse iniciar uma recuperação que, pelo menos, a levasse até à respeitabilidade – estar em posição de lutar com outras equipas em vez de estar confinada aos últimos lugares das classificações.

Contudo, a pandemia da COVID-19 bateu com força em todo o mundo e a Williams está a sofrer, tendo perdido o seu patrocinador-título para este ano.

Com a necessidade de encontrar um investidor com bolsos fundos rapidamente, dificilmente as operações em pista não serão abaladas por esta situação e, se após os testes de Inverno parecia que a equipa de Grove poderia estar na luta do segundo pelotão, no final do ano, se conseguir fugir ao último lugar do Campeonato de Construtores já seria uma vitória.

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