WRC, Yves Matton: “Será difícil ter uma nova equipa em 2022, mas a Hyundai conseguiu”
Por José Luís Abreu, com Martin Holmes
FOTOS @World/André Lavadinho
O orador convidado no dia da abertura do Autosport Show, em Birmingham, foi o Diretor de Ralis da FIA, Yves Matton, que deu a todos nós uma visão dos dois primeiros anos do seu trabalho. Falou-se do futuro do WRC, do novo carro para 2022, mas também da vontade de a FIA criar condições para descobrir jovens talentos para os ralis.
Possivelmente no topo da sua agenda neste momento estão os regulamentos dos novos carros para 2022. É um passo na direção certa para os ralis, passarem a híbridos. Acha que é suficiente?
“Acho que é suficiente. Ok, primeiro temos que falar sobre o Mundial de Ralis. O Campeonato do Mundo é para profissionais e amadores, isso faz e sempre fez parte do ADN dos ralis, e os ralis têm de ser feitos com alguns carros dos fabricantes e também alguns carros de pilotos amadores e privados. Para termos fabricantes envolvidos no campeonato, precisamos de ter carros híbridos, caso contrário eles deixam de estar interessados, pois para eles os ralis são uma ferramenta de marketing.
Penso que estamos perto agora, o principal foi votado pelo Conselho Mundial da FIA em dezembro. Acho que o novo regulamento é um bom compromisso para permitir, primeiro, as tecnologias que eles querem apresentar, mas também para permitir que diferentes tipos de carros estejam presentes.
Eu diria que há 10 anos era bastante fácil entender o que era um carro do segmento B, e o que era um carro do segmento C. Hoje em dia, cada fabricante tem a oportunidade de ter a sua própria visão sobre que tipo de carro quer promover, por isso precisamos de lhes dar alguma flexibilidade a esse nível.”
Com o novo regulamento vem também um custo extra. Malcolm Wilson, ‘chefe’ da M-Sport, expressou recentemente preocupações reais sobre o custo da próxima geração, com carros de ralis potencialmente a custar um milhão de euros. Como é que isso se coaduna com o que acabou de dizer, que os ralis são para amadores, e fabricantes. Corre-se o risco de que os custos se tornem proibitivos em termos de desenvolvimento do campeonato?
“Com certeza é onde podemos chegar, com um carro a custar um milhão de euros. Mas posso dizer-vos que estamos a trabalhar com os fabricantes para ficarmos longe disso. Isso faz parte do trabalho que estou a fazer com os chefes de equipa. Eu diria que há dois níveis de trabalho. Um são os engenheiros e o pessoal técnico que está a trabalhar na especificação do carro, não se preocupando realmente com o que vai custar no final. E depois são as pessoas que os vão ter que pagar. O dinheiro não sai do bolso dos Chefes de Equipa, mas eles têm que ir às suas administrações para ter o orçamento. Posso dizer-vos que estamos a trabalhar arduamente com todos os Chefes de Equipa para tentar ter um carro que finalmente estará perto do que temos neste momento”.
A atual geração de World Rally Cars tem tanto de bom: a aparência, a potência, o espetáculo nos troços. Garantir que isso transita para a próxima geração é um desafio?
“Sim é um desafio, mas também diria que será um grande carro para pilotar, e é isso que todos os pilotos me têm dito. Será um grande carro também para os adeptos. Mas é verdade que aumentámos o custo entre este carro atual e o anterior, e, talvez, se tivermos perdido algo tenha sido o facto de que o custo operacional deste WRC de agora ser muito alto para ter Gentleman Drivers que sejam capazes de o usar, e isso é algo que nós temos de ter em consideração para a próxima geração de carros. Temos um objetivo, que é ter 20 carros de fábrica em cada prova do Campeonato do Mundo de Ralis no futuro. Ok, sabemos que isso não será feito em um ou dois anos, a meta são cinco anos, e para isso precisamos de encontrar soluções para ter alguns pilotos não profissionais para pilotar os novos carros, no futuro.”
Os regulamentos de 2022 foram claramente concebidos para serem atraentes para novos fabricantes. Qual é o interesse? Tem falado com alguns fabricantes novos, acha que vamos ver alguns novos ‘players’ na grelha quando chegarmos a 2022?
“Alguns fabricantes estão a seguir o que estamos a fazer. Penso que agora o próximo passo será quando tivermos o regulamento técnico completo para lhes mostrar. A tecnologia híbrida faz sentido para muitos deles. Temos alguns que realmente querem estar envolvidos nos ralis, porque também pensam que os ralis são uma boa ferramenta de marketing, mas penso que será difícil ter uma nova equipa em 2022, porque já estamos em 2020.
Os novos fabricantes com quem estamos a falar, eu diria que eles não têm por enquanto a estrutura para fazer algo.
Mas vimos no passado o que a Hyundai foi capaz de fazer em dois anos, portanto não é impossível, mas, honestamente, é bastante difícil. Mas tenho a certeza que com este novo regulamento teremos alguns dos que estão agora à volta da mesa interessados.”