WRC/Rali da Croácia: A melhor vitória de Kalle Rovanpera
FOTOS @World/André Lavadinho
Kalle Rovanpera venceu pela quarta vez na sua carreira, deixando completamente claro que é forte candidato a vencer o WRC, aos 21 anos. Loeb e Ogier ganharam o seu primeiro título aos 30 anos. Foi para a PowerStage 1.4s atrás de Ott tanak mas esteve brilhante e reverteu as contas a seu favor, numa especial que ficará para a História do WRC.
Há muito que sabemos que Kalle Rovanpera está talhado, e foi preparado, para grandes feitos no WRC. Mas tendo em conta que sabemos, que esta não é uma disciplina para chegar, ver e vencer, é sempre preciso cumprir um caminho, a verdade é que o jovem finlandês está a cumpri-lo ‘saltando’ degraus. O que saltou hoje, deixou meio mundo dos ralis de boca aberta.
Há muito que se fala no G.O.A.T (Greatest of All Time) do WRC. A continuar assim, este jovem finlandês parece mesmo capaz de reescrever todos os livros de recordes.
Agora, venceu o Rali da Croácia, mesmo sob pressão de um piloto que, mesmo andando na mó de baixo em termos de resultados, é dos mais rápidos pilotos da atualidade: Ott Tanak. Se porventura a Hyundai resolver os seus problemas, e pudermos assistir a uma luta cara a cara entre o finlandês e o estónio, pensamos poder prepararmo-nos para espetáculos enormes.
O Rali da Croácia, terceira prova do Mundial de Ralis, serviu para clarificar várias coisas no WRC. A primeira delas, é que Kalle Rovanpera está mais do que pronto para lutar pelo título Mundial de Pilotos, a Toyota é novamente a equipa a bater, a Hyundai está bem mais forte em termos de andamento face ao que se viu no Rali de Monte Carlo, mas ainda sofre com problemas de fiabilidade nos seus carros, que, por exemplo, impediram Thierry Neuville de obter um resultado melhor, no mínimo, lutar pela vitória, talvez, ganhar.
A penalização que sofreu, sucedeu porque se viu obrigado a ‘prevaricar’ por excesso de velocidade numa ligação. Se retirássemos o 1m50s de penalização, teria ficado bem mais perto. Terminou a 2m21s porque ficou sem intercomunicadores na Power Stage e quase desistiu, pois o carro fez um pino, depois de um forte toque.
Por fim a Ford. No final do Rali de Monte Carlo, muitos ficaram com a ideia que o Puma poderia ser este ano o melhor carro dos três Rally1. Até pode ser, pois foi o que teve mais tempo de desenvolvimento, e a M-Sport é reconhecidamente boa nesse aspeto, mas três provas já deram para perceber que não vale de muito ter o melhor carro, sem pilotos à altura da concorrência.
No passado recente vimos Craig Breen fazer grandes ralis, o que ainda não conseguiu fazer com o Puma. Esperava-se muito mais do irlandês.
Talvez ainda lá chegue, mas é para nós a maior desilusão do campeonato até aqui, pois esperávamos mais dele. Será curioso perceber em Portugal, se o Puma volta a ‘andar’…
O Rali da Croácia mostrou-se uma prova muito complicada, pois com a chuva, nevoeiro, e os cortes de bermas, tudo isso tornou o cocktail muito complicado para todos os pilotos, um pouco menos para quem rodava à frente, e Kalle Rovanpera tirou muito bom partido disso no 1º dia de prova. Fez isso e juntou-se uma soberba exibição.
Kalle Rovanpera fez uma prova quase perfeita. Terminou o primeiro dia na frente do rali, com mais de um minuto de avanço para os segundos classificados, venceu seis dos oito troços do dia, aproveitando da melhor maneira o facto das condições das classificativas estarem muito complicadas, com muita água na estrada, nevoeiro, e para quem rodava atrás de Rovanpera, gravilha dos cortes das curvas e lama desses mesmos cortes.
Depois de ter perdido a oportunidade de aprender as estradas há 12 meses quando se despistou no troço de abertura, teve desta feita uma prestação quase brilhante, exceção feita ao furo no segundo dia, que abriu as portas para Tanak poder vencer.
Teve o azar de perder todo o avanço que tinha, fruto da má escolha de pneus numa especial em que choveu e os pneus que levava eram completamente errados, tinha pouco espaço para recuperar, pois só faltava a Power Stage, mas para que se perceba o que o jovem finlandês andou na Power Stage, na tentativa de recuperar o 1.4s que trazia de atraso para Ott Tanak, bateu o estónio por 5.7s em 14.09 Km, e deixou o terceiro classificado na PS, Elfyn Evans, a… 21.9s.
Algo nunca visto, e um sinal claro do piloto que se está a tornar. Absolutamente fantástico. Grande rali pudemos testemunhar.
Belo regresso da Hyundai aos bons resultados. Depois do que se viu no Rali de Monte Carlo, muito se trabalhou para os lados de Alzenau, ainda que as coisas estejam ainda longe de estar perfeitas, especialmente em termos de fiabilidade.
A rapidez do carro já foi vista neste Rali da Croácia, pois apesar da qualidade dos pilotos, colocar dois carros no pódio não é possível com um carro mau. No pólo oposto, veja-se a M-Sport/Ford, que com um carro que venceu e convenceu no Monte Carlo, fica aqui a mais de três minutos da frente.
Tanak bem tentou
Grande mérito de Ott Tanak, que acreditou sempre ser possível. É verdade que a escolha de pneus do último dia foi decisiva, e pelos vistos o meteorologista da Hyundai teve um dia melhor que o seu congénere da Toyota. Tudo é importante a este nível nos ralis, e não é novidade para ninguém que a ‘meteo’ sempre foi e vai continuar a ser fulcral na história do WRC. Mas Rovanpera esteve brilhante e venceu.
Ott Tänak/Martin Järveoja (Hyundai i20 N Rally1) foram batidos ‘no braço’, num troço em que levavam pneus melhores para o tipo de piso, mas ainda assim, um grande resultado, o segundo lugar, e finalmente o seu regresso às lutas pelos triunfos nos ralis.
No primeiro dia, tendo em conta o estado em que encontraram os troços, os heróis do dia foram Tänak e Järveoja, que no entanto cederam 1m23.8s para o líder.
Tinham o carro demasiado duro para as estradas escorregadias, mas não andaram nada mal face ao que tiveram pela frente. Grande mérito, pois aquela posição na estrada não se coadunava com a classificação após a PE8. Grande trabalho.
No segundo dia, devido ao furo de uma das rodas do Toyota de Rovanpera, Tänak cortou a vantagem deste em mais de um minuto. No último dia, sem nada a perder, arriscaram na escolha de pneus, perderam inicialmente, mas no penúltimo troço passaram para a frente do rali, por 1.4s, sendo depois batidos na PowerStage por um super Rovanpera.
Hyundai muito melhor
Dois carros no pódio é um belo prémio para a Hyundai e a prova que fizeram Thierry Neuville/Martijn Wydaeghe (Hyundai i20 N Rally1) não deixa dúvida a ninguém: o carro é rápido, mas ainda é preciso trabalhar na fiabilidade.
O belga passou um amorfo Craig Breen no último dia, e sem os problemas mecânicos teria quase certamente lutado pelo triunfo no rali.
No primeiro dia, Neuville descreveu as condições dos troços como ‘horríveis’ mas conseguiu chegar no segundo lugar, mesmo penalizando 40 segundos quando o alternador do seu carro falhou, levando-o a ter que empurrar o seu carro durante cerca de 800 metros, até à assistência. Chegou 4 minutos atrasado ao controlo, penalizou 40s, caiu para 4º e ainda voltou a ser penalizado, por excesso de velocidade numa ligação, o que sucedeu devido à avaria. A ‘pressa’ vinha daí…
Era segundo e estava na luta quando começou a ter problemas. Mas estes teimam em não largar a Hyundai. Sai da Croácia com a certeza que o carro está melhor e é o que precisa para voltar aos triunfos, que não deverão demorar. Terminou no pódio, o melhor que podia almejar com tanto azar. Ainda apanhou um susto na Power Stage, mas ‘safou-se’…
Não sabemos se é a pressão de ser agora o chefe-de-fila, ou ainda não se entendeu melhor com o carro, uma uma mistura de coisas, mas a verdade é que se esperava bem mais de Craig Breen/Paul Nagle (Ford Puma Rally1).
Tendo visto o que o carro andou em Monte Carlo, a forma como foi batido nesta prova impressiona negativamente, pois termina o rali a quase três minutos da frente. No 1º dia queixou-se das condições (quem não as teve) teve uma ligeira saída de estrada, e terminou o 1º dia com um lisonjeiro 3º lugar.
Cometeu alguns pequenos erros, num rali em que não conseguiu mostrar que o Puma é mesmo um carro muito bom. Inclinamos-nos muito mais para a possibilidade de ser o piloto que está longe de tirar o melhor partido do carro que tem nas mãos.
Elfyn Evans/Scott Martin (Toyota GR Yaris Rally1), terminaram em 5º, o melhor que podiam almejar depois de um 1º dia muito difícil. Ao rodar atrás, apanhavam condições muito mais complicadas que quem rodava mais à frente. Tiveram dois duros com o respetivo atraso, provavelmente devido aos cortes nas curvas. Com a estrada a piorar a cada carro que passava, era preciso escolher: abrandar ou arriscar furos. Calharam-lhes os furos.
Depois disso, foi apenas levar o carro até ao fim e colher o máximo de pontos possível.
O ano passado por esta altura tinha dois 2º lugares e um 5º. As coisas estão bem mais complicadas este ano.
Takamoto Katsuta/Aaron Johnston (Toyota GR Yaris Rally1) não gostam nada destas condições de troços. Terminaram o 1º dia em 7º e 3m28s da frente, dois furos, um cruzamento falhado, uma prova muito apagada em que o melhor foi mesmo o resultado, 6º lugar.
A fechar o top 10 ficaram quatro equipas do WRC2, mas desses falaremos noutro lado.
Pierre Loubet/Vincent Landais (Ford Puma Rally1) teve um rali agridoce. No 1º dia, entrou com ganas e furou duas vezes. Abandonou pouco depois com um 3º furo. Quando regressou, nunca fez melhor que 8º nos troços, aqui e ali com um andamento melhor, mas tem um longo caminho a percorrer pela frente. Continua no mesmo registo pobre do último ano, mas com um ‘fogacho’ aqui e ali. Está a comparar-se com pilotos muito bons, tem que fazer esse caminho.
Esapekka Lappi/Janne Ferm (Toyota GR Yaris Rally1) cometeu logo a abrir o rali um erro monumental ao acertar de raspão numa pedra enorme, impossível de não ver. Desistiu logo na PE1 com danos na suspensão dianteira direita. Explicou que pensava que o carro fosse escorregar mais. ‘Tramou-se’. Depois disso, fez alguns brilharetes, com triunfos em troços, mas o resultado estava condicionado. Registamos uma frase: “nunca guiei tão depressa em asfalto sujo”
Gus Greensmith/Jonas Andersson (Ford Puma Rally1) cedo começou a furar, o que os atirou para posições muito atrasadas, abandonando depois com um terceiro furo. Enquanto andou, esteve muito longe do que fez em Monte Carlo.
Oliver Solberg/Elliott Edmondson (Hyundai i20 N Rally1) terminaram o seu rali com o carro a arder, depois duma saída de estrada após uma monumental atravessadela de traseira.
Terminou o 1º dia em 5º, depois de um pião, na PE6, um aquaplaning causou um facelift no seu i20 N Rally1, teve alguma dificuldade com as notas novas, mas andou bem, no contexto, terminando o dia a 2m38.5s da frente. no segundo, logo a abrir despistou-se. O carro pegou fogo e o abandono foi inevitável. O calor do escape causou o incêndio, e a luz vermelha do carro ligou-se! Game Over!
Adrien Fourmaux/Alexandre Coria (Ford Puma Rally1) em dois troços, perderam 1m08s para o líder, no troço seguinte, ‘duraram’ 200 metros na estrada. Um aquaplaning e ficaram estacionados num jardim de uma casa com danos irreparáveis para regressar no dia seguinte. Depois do acidente de Monte Carlo, e do abandono por avaria na Suécia, era o que menos precisavam. Algo se passa com o francês, que é bom piloto, mas parece estar a retroceder. Será uma questão mental?
Agora, o WRC ruma a Portugal, onde vão estar Sébastien Ogier (Toyota) e Sébastien Loeb (Ford). Arganil, Fafe, Marão, Aboboreira, Vieira do Minho cá os espera…