WRC, Rali da Acrópole/Grécia: A vez de Thierry Neuville
Thierry Neuville venceu o Rali da Acrópole/Grécia, naquela que é a terceira vitória seguida da Hyundai, a quarta do ano. Há algumas semanas, quem diria! A Toyota teve uma espécie de ‘harakiri’, há ralis assim e a M-Sport/Ford obteve o melhor resultado do ano após o 1-3 do Monte Carlo.
É bem evidente a mudança de paradigma que se tem vindo a passar na Hyundai MotorSport. O ano começou mal, como todos sabemos e daí para cá a equipa entrou em modo recuperação, fazendo o trabalho que não conseguiram fazer tão depressa quanto a Toyota e a M-Sport/Ford, devido às condicionantes já conhecidas, mudança de projeto e posterior atraso no mesmo, e decisão tardia da Hyundai Motorsport em confirmar a manutenção no WRC. Só que o trabalho que tem vindo a ser feito na Hyundai já começou a dar frutos há algum tempo, e três triunfos seguidos não deixam dúvidas a ninguém, todos eles em ralis bem distintos: terra suave, asfalto e agora terra ‘destruidora’.
É óbvio que três carros no pódio não é a correlação de forças atual, simplesmente a Toyota teve na Grécia o seu pior rali do ano. Acontece, o WRC é dinâmico, o que sucede nas provas é resultado de muitos fatores e por vezes as coisas correm bem às equipas, noutras mal, foi o caso.
Na M-Sport, depois de uma sequência incrível de maus resultados, algo para sorrir.
Não tanto pelo resultado, mais pela exibição. Um quarto e um quinto lugar são o melhor resultado do ano após o triunfo e o pódio de Loeb e Breen no Rali de Monte Carlo.
Nesta prova houve ainda outro dado interessante, o facto da Hyundai ter colocado três carros no pódio. De longe o melhor resultado do ano. Mas as coisas não estão ainda perfeitas, com o carro, e também com o ambiente na equipa. Críticas recentes de Ott Tänak à gestão da equipa deram o mote, na Bélgica houve alguma confusão entre os dois pilotos mais destacados da equipa, Tanak e Neuville e na Grécia foi preciso a intervenção direta do presidente da Hyundai Motorsport, Sean Kim, para que os pilotos mantivessem as posições com que terminou o dia de sábado, evitando ‘azares’, que podiam colocar em risco o excelente resultado. E assim foi, Tanak ficou quieto e Thierry Neuville assegurou a sua primeira vitória do ano no WRC.
Nova Hyundai
Quem diria há algumas semanas que a Hyundai poderia vencer três ralis seguidos? É óbvio que os ralis estão sempre em aberto e qualquer coisa pode acontecer, mas olhando para a lógica do que tem sido o ano, poucos, ou nenhuns, esperavam que a Hyundai acertasse o passo desta forma. Thierry Neuville venceu na frente de Ott Tänak e Dani Sordo.
Todos sabíamos que o Hyundai i20 N Rally1 é rápido, bastava ver o carro andar face à concorrência numa reta extensa para perceber que ‘alma’ nunca faltou naquele motor.
Mas quando tudo o resto tinha que entrar na equação, o menor refinamento aerodinâmico do carro e a fiabilidade resultante de tudo o que já sabemos, as coisas eram bem diferentes, e ainda não estão 100% resolvidas.
Portanto, a Toyota vencer cinco das primeiras sete provas não foi novidade para ninguém, embora se esperasse que a M-Sport pudesse fazer melhor do que ‘apenas’ o triunfo no Rali de Monte Carlo. Já na Sardenha, um bom sinal com o triunfo de Ott Tanak, mas em Alzenau continuou-se a trabalhar afincadamente e os resultados começaram a aparecer.
O triunfo na Finlândia e na Bélgica, duas provas de cariz totalmente antagónico, não deixaram dúvidas a ninguém que o campeonato teria sido bem mais interessante se a Hyundai estivesse neste patamar de agora, no início do ano, e a M-Sport tivesse pilotos que estivessem à altura da valia do carro.
O rali teve muitas incidências: nenhuma dupla terminou o segundo dia de prova na mesma posição que terminou o primeiro. Sebastien Loeb estava na frente, abandonou. Pierre Louis Loubet era segundo, terminou o segundo dia em quinto. Esapekka Lappi era 3º, tinha dois Ford à frente, mas não aguentou os três Hyundai, caiu na classificação e depois teve problemas e abandonou.
Thierry Neuville era quarto, passou a liderar e venceu, Dani Sordo era 5º subiu para 3º, Ott Tanak 6º, terminou em 2º, Gus Greensmith, 7º, desistiu com problemas mecânicos, Elfyn Evans, 8º, era quarto, perto do pódio, desistiu no último dia, Kalle Rovanpera era 9º, terminou muito atrasado, Takamoto Katsuta, 10º subiu para 6º, Craig Breen, 11º, terminou em quinto. Nem um manteve a posição.
O bom, mau e mais ou menos…
Das três equipas presentes a Hyundai fez um belo resultado, a Toyota esteve no polo oposto e a M-Sport/Ford esteve bem enquanto andou.
Thierry Neuville fez uma boa prova, teve problemas com o pó, inicialmente, terminou o primeiro dia em quarto a 16.0s da frente, queixando-se um pouco da maneabilidade do carro. No segundo dia, venceu a PE9, bateu Ott Tanak por 8.2s e assumiu a liderança face ao abandono de Loeb. Logo a seguir, o estónio teve um ‘stress’ mecânico e Neuville ficou com 31s de avanço para Lappi.
Foi o momento-chave do rali, pois pouco perdeu até ao fim do dia, confirmando a vitória. Não ganhava um rali desde Espanha 2021. Já merecia.
Se Ott Tänak e a Hyundai tivessem ‘acordado’ mais cedo, outro galo cantaria no campeonato. Com uma diferença agora menos, ainda assim é muito difícil. Podia ter lutado pelo triunfo, mas um motor a sobreaquecer e problemas com o diferencial e ainda o sistema híbrido, tramaram-no. Os problemas de bateria afetaram os três Hyundai. Teve de se contentar com o segundo lugar.
Dani Sordo Dani só sabe terminar o no pódio. É verdade que teve um pouco de sorte com os abandonos à sua frente, teve altos e baixos durante o rali, mas continua muito consistente, foi subindo na classificação na PE9 já era quarto, queixou-se da aderência, mas teve um justo prémio no final ainda que o abandono de Elfyn Evans nos tenha privado de uma boa luta no último dia de prova. O galês teve uma prova estranha, demasiado atrás no primeiro dia, melhorando pouco no segundo. A Toyota não descobriu a melhor afinação para o tipo de troços. Teve ainda um pequeno problema com o motor, e no último dia, desistiu a caminho do primeiro troço novamente com problemas no motor.
Foi pena o que sucedeu a Pierre-Louis Loubet. Chegou a liderar o rali, na PE6, terminou o 1º dia muito perto de Loeb, a 1.7s, calculava-se que lhe fosse difícil manter a posição, pois Esapekka Lappi e Thierry Neuville não estavam longe, mas lamenta-se o que lhe sucedeu na PE9 quando furou e caiu de 3º para 7º ficando sem hipóteses de um resultado bem melhor, que estava a fazer por merecer.
Craig Breen não merece todo o azar que está a ter. É verdade que auto infligiu muito do azar que tem tido durante a época, mas não conseguir uma prova limpa, é demais.
Ainda por cima a ver Loeb e Loubet fazerem um brilharete para a M-Sport no 1º dia ao terminarem em primeiro e segundo. Um furo na PE4, ‘tramou-o’, caiu de 5º para 20º, no segundo dia foi ganhando posições, mas com um andamento cauteloso, terminou em quinto, após três provas que acabaram em ‘desastre’.
Takamoto Katsuta esteve muito apagado nesta prova. Até parece que os Toyota não quiseram nada com a Grécia, mas foi apenas uma coincidência. Pouca coisa lhe correu bem, quase nunca teve ritmo, e tudo teve a ver com a aderência. O sexto é lisonjeiro.
Já se sabia que Kalle Rovanperä iriam ter muitas dificuldades no 1º dia, mas não se esperava que perdesse mais de um minuto. Em Portugal perdeu 13.6s e na Sardenha cedeu 1m13.1s, portanto não foi novidade. Mas a restante prova foi igual e não sofria da questão de abrir a estrada, tal como os colegas de equipa, muito se deveu à aderência. No segundo dia ainda bateu forte e abandonou, regressando no último dia.
Esapekka Lappi terminou o primeiro dia em 3º muito perto da frente, mas o 2º dia não lhe correu bem, depressa começou a perder muito tempo, até que na PE12, uma falha na bomba de combustível levou-o ao abandono.
Gus Greensmith estava a fazer uma prova muito apagada, por isso quase não se deu por ele quando ‘encostou à boxe’ na PE11. Problemas de travões no 1º dia, desistiu quando era sexto.
Sébastien Loeb liderava o rali com 19.0s de avanço para Thierry Neuville quando desistiu com a correia do alternador partida. Ainda tentaram reparar mas excederam o tempo de penalização. O francês mais velho e o mais novo mostraram nesta prova que os Ford Puma Rally1 são bons carros, podem andar nas lutas da frente, mas como todos os outros, de vez em quando avariam, e Loeb teve esse azar. Sem ele, provavelmente estaria a disputar a vitória na prova, mas isso nunca iremos saber.
A M-Sport perdeu aqui uma bela hipótese de vencer, Loeb tinha andamento para isso e demonstrou-o, mas uma correia de alternador, ‘tramou-o’. Não é uma ‘peça’ que parta muitas vezes, teria quilómetros a mais? No Safari, uma peça de poucos cêntimos, atrasou-o, aqui uma correia partida. Não quis voltar no domingo, disse que não valia a pena: “Três troços, limpar a estrada…”.
A M-Sport tem apenas quatro dias para preparar o Puma Rally1 antes de embarcar para a Nova Zelândia, e isso também foi um fator. Por fim, Jourdan Serderidis, que abandonou na PE11 quando era 23º. Pelo menos divertiu-se até aí. Qualquer um de nós gostaria de ter estado no lugar dele…