WRC: Ott Tanak vence o Rali da Sardenha

Por a 5 Junho 2022 12:13

Finalmente, um triunfo da Hyundai, o que já não sucedia desde a Catalunha 2021. Ott Tänak/Martin Järveoja ofereceram ao Hyundai i20 N Rally1 o seu primeiro triunfo, numa prova que dominaram quase por completo.

Um balão de oxigénio para a Hyundai, que depois de muitos problemas, regressa novamente ao caminho dos triunfos, mostrando pelo meio que o novo carro nasceu bem, mas de parto tardio.

O Rali da Sardenha costuma sorrir à Hyundai, com três vitórias nos últimos quatro anos, e finalmente vimos um Tanak, que sem problemas, mostrou o que o levou a ser campeão em 2019.

Há muito que se sabe que a Hyundai tem sido sempre a equipa com mais abandonos, ou pelo menos ex-aequo, várias vezes temos visto nos últimos anos os seus pilotos a dominar provas, ou na liderança e a perderem-na devido a ‘gremlins’ mecânicos e como também já se sabia, sempre que a fiabilidade dá uma trégua à equipa, os pilotos têm sempre muito mais hipóteses de vencer, e foi exatamente isso que aconteceu na Sardenha.

É óbvio que isto é muito bom para o campeonato, já que esta é apenas a segunda prova em pisos de terra do ano, e agora que se percebeu que a Hyundai Motorsport já está a ‘acertar agulhas’, o leque de candidatos a vencer aumenta substancialmente pois pelo menos Tanak e Neuville serão favoritos sempre.

Resta agora perceber se a fiabilidade melhora, pois não é preciso ir mais longe que este mesmo Rali da Sardenha, para perceber que esse é ainda um item em aberto na Hyundai: basta olhar para os problemas que teve Thierry Neuville.

Esta questão da fiabilidade já se colocava no início da época, por serem carros novos, e a questão foi muito visível nas primeiras provas para os lados da Hyundai, mas pelos menos aqui na Sardenha, Tanak teve uma prova limpa, e o resultado ficou de imediato à vista.

Outra coisa que percebemos na Sardenha é que a M-Sport dificilmente vai lutar pelo campeonato, ainda que possa vencer aqui e ali. Não tem pilotos para isso. Craig Breen é bom piloto, mas não está ao nível dos dois melhores da Toyota e da Hyundai. Mas está a melhorar, e cada vez está mais confortável com o carro. Pode vencer, aqui e ali, continuar a ser regular, como tem sido, mas fazer o que fez Sébastien Loeb no Monte Carlo e na 1ª manhã em Portugal, não é para ele. A frustração é que sem um piloto de ponta, a M-Sport vai sempre produzir números abaixo do nível do carro. O que é uma pena.

A Toyota teve na Sardenha uma espécie de ‘coito interrompido’. Kalle Rovanpera teve bem mais dificuldades ao abrir a estrada, Esapekka Lappi estava a substituir de forma fantástica, Sébastien Ogier, liderava o rali, mas bateu de forma inglória e abandonou. Elfyn Evans está a ter uma época má demais. Apenas em Portugal esteve ao seu nível. Alguns azares, mas também outros auto-infligidos.

Por fim, fica por dizer que o antigo Rali Costa Esmeralda era uma boa prova do Europeu de Ralis, mas não foi por acaso que nunca pertenceu ao Mundial até ao Séc. XXI.

A prova é diferenciadora, pois é muito técnica, troços estreitos, duros, as paisagens junto ao mar são de beleza cénica interessante, mas os troços, por exemplo comparados com os portugueses, é algo como a beira da estrada e a estrada da Beira. Que saudades do Sanremo com a sua etapa de asfalto e o resto da prova na Toscana.

Curta-metragem

A história do rali foi simples: Elfyn Evans foi para a frente, aproveitando a boa posição na estrada, perseguido de perto por Ott Tanak com Thierry Neuville muito aflito com o pó, a perder tempo.

Com todos ainda muito juntos, Esapekka Lappi foi para a frente, três pilotos cabiam em três segundos. Depois foi a vez de Tanak liderar, quando Evans desistiu com problemas de motor decorrentes de uma pedra que danificou o carter. Tanak e Lappi lutavam segundo a segundo, Lappi foi para a frente na PE7, depois de Tanak ter tido um problema com a transmissão do Hyundai.

Logo no arranque do 2º dia, Lappi abandonou devido a acidente e a partir daí Tanak ficava com 21.5s de avanço para Craig Breen. Basicamente, Game Over na luta pela dianteira.

O interesse passou para a luta pelo 2º lugar com Dani Sordo, que começou mal o rali, a melhorar muito e a aproximar-se fortemente de Breen, que reagiu bem. Entre avanços e recuos, o piloto da M-Sport manteve o espanhol bem atrás, e assim chegámos ao último dia com todos à espera da PowerStage. Sem contratempos, tudo estava decidido no arranque de domingo.

Tanak imparável

Ott Tänak/Martin Järveoja (Hyundai i20 N Rally1) começaram o rali em segundo, foram para a frente na PE4, mas de tarde uma falha na transmissão de uma roda, perderam tempo e a liderança da prova. No segundo dia, depressa foi para a frente, mesmo sem o despiste do Lappi, nos ‘splits’ já liderava, e a partir daí esteve imparável, e mesmo a controlar e gerir o andamento, venceu troços atrás de troços. Esteve sempre no controlo das operações, foi aumentando a margem para Craig Breen, primeiro para 29.8s, depois para 30.9s, 37.2s, o rali estava ganho, era só controlar.

Craig Breen/Paul Nagle (Ford Puma Rally1) andou sempre na luta, mas pelo 2º lugar.

Terminaram o 1º dia a 15.5s da frente, em 4º, bom andamento, mas pequenos erros a reverter o tempo ganho com esse andamento. No 2º dia, boa luta com Dani Sordo. Ele e o espanhol depressa passaram Pierre-Louis Loubet, Breen viu um pneu sair da jante. Sordo chegou a estar a 1.5s mas Breen reagiu sempre e o erro do espanhol na PE16 cavou a dificilmente recuperável diferença.

Dani Sordo/Candido Carrera (Hyundai i20 N Rally1) começaram o 1º dia mal, mas melhoraram e chegaram ao 5º lugar a 16.1s da frente, colocando-se na luta pelo pódio. No 2º dia, pequenos erros colocaram-no fora da luta pelo 2º lugar. Por exemplo, um capot ficou mal fechado a dificultar-lhe a visão, e principalmente o tempo que perdeu com o ‘engasganço’ do motor do Hyundai depois de passar uma ribeira.

O melhor resultado de Pierre Loubet/Vincent Landais (Ford Puma Rally1) era um 7º lugar no WRC, com um carro de topo, mas desta feita, um piloto de três posições: 4º lugar, e uma grande exibição a deixar os pilotos da M-Sport a franzir a testa.

Começou o rali com problemas com o pó, ainda assim era 3º, perdeu duas posições depois de um pião, regressou ao 3º lugar e continuou sempre a fazer o seu melhor rali da era WRC. Chegou a ser o melhor Ford, fez bem em não querer ir atrás de Breen e Sordo, pois ainda não tem ‘cabedal’ para isso, e manteve o quarto posto.

Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota GR Yaris Rally1) foram quintos e…aumentaram a liderança do campeonato. Sem pó, mas com muita terra para ‘limpar’, não houve ‘milagre’ como em Portugal. Foi cedendo tempo e no final do 1º dia era 8º a 1m13.1s. Recuperou posições, terminou em quinto mas a mais de três minutos dos vencedores.

Takamoto Katsuta/Aaron Johnston (Toyota GR Yaris Rally1) foram sextos, no rali mais apagado dos últimos tempos. Será que a ‘derrota’ em Portugal o afetou. Cometeu alguns erros, o maior na PE11, mas andou sempre por posições modestas. Um rali ‘fraquito’ face ao que já fez recentemente.

Gus Greensmith/Jonas Andersson (Ford Puma Rally1) ficaram cedo sem esperanças de um bom resultado depois de um problema técnico na sequência de um pião, cedendo quase dois minutos ainda no 1º dia. O carro não pegava, e o resultado ficou estragado.

Adrien Fourmaux/Alexandre Coria (Ford Puma Rally1) começaram o rali em 6º, o piloto vinha a ganhar confiança e a fazer uma melhor prova do que em Portugal, teve pequenos percalços, como todos, mas o que não estava no programa foi ter voltado a bater, desta vez no último troço do 2º dia, quando já sofria a pressão de Rovanpera. Mais valia tê-lo deixado passar sem luta do que bater, mais uma vez. Andou demasiado tempo sem ninguém por perto, mas quando houve, borrou a pintura…

Elfyn Evans/Scott Martin (Toyota GR Yaris Rally1) está a ter uma época complicada, o andamento está lá, mas o azar também. Abandonaram depois de terem passado pela liderança. Um toque numa pedra, e alguns momentos depois, as temperaturas no motor a ‘disparar’. O abandono foi inevitável.

Voltou a ter problemas, na PE16, com uma suspensão partida. Mais um rali azarado.

Thierry Neuville/Martijn Wydaeghe (Hyundai i20 N Rally1), se em Portugal tinham perdido mais de um minuto com uma falha do eixo de transmissão, desta vez, uma nova avaria na transmissão redundou em ainda mais perda de tempo. Foi logo Game Over quanto a um bom resultado.

Estava a andar bem no segundo, perdeu mais alguns segundos para salvar a vida de um cão que se atravessou na estrada, mas na PE12 capotou.

Esapekka Lappi/Janne Ferm (Toyota GR Yaris Rally1) fizeram inicialmente esquecer Sébastien Ogier, depressa foram para a frente do rali, Tanak foi para a frente depois de Lappi furar, sem perder muito tempo ficando a 3.7s da frente. Depois o estónio teve um problema mecânico na PE7 o que permitiu a Esapekka Lappi passar para a frente. Depois, o acidente. Uma pedra na estrada catapultou-o para fora da trajetória e desgovernado bateu em tudo o que lhe apareceu na frente. Foi muito azar.

Resumindo, Hyundai bem vinda de volta, e a promessa de boa luta pelos triunfos nas sete provas que faltam. Só fica a faltar que também a M-Sport possa lutar por triunfos sem precisar de Sébastien Loeb. Segue-se o Quénia, onde vão estar Loeb e Ogier…

Nikolay Gryazin/K. Aleksandrov (Škoda Fabia Rally2 evo) venceram o WRC2 Open 28.0s na frente de Jan Solans/Eusebio Sanjuan (Citroën C3 Rally2) com Jari Huttunen/Mikko Lukka (Ford Fiesta Rally2) em terceiro a 33.1s. Chris Ingram/Craig Drew (Škoda Fabia Rally2) foram quartos a 38.9s

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3 Comentários
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Pecamisto
Pecamisto
2 anos atrás

Viva a alternância. O WRC quer se com muitos vencedores e estava mais do que na hora, de voltar a ver o Tanak e um Hyundai a vencer uma prova do wrc. Pois isto de correr com 2,33 construtores… É preciso competitividade e é urgente ter o I20 a vencer mais para não corrermos o risco de ver a Toyota a correr sozinha. É uma pena ver o Puma sem um ponta de lança e a sensação que o Breen dá é a de não querer fazer asneira para não colocar o lugar em risco na M Sport, pois a… Ler mais »

Homem_do_Leme
Homem_do_Leme
Reply to  Pecamisto
2 anos atrás

Realmente parecem existir dois Puma diferentes, um com o Loeb e outro sem ele! O carro parece bem nascido e o Breen apesar de ser um bom piloto não está (pelo menos actualmente) ao nível dos das marcas rivais, para além de ser o único ponta de lança da M-Sport, mas como se costuma dizer sem ovos (orçamento) não há omeletes… Quanto ao rali foi muito bom ver a Hyundai a ser muito competitiva e a vencer novamente (apesar do Kalle no final do rali ter aumentado ainda mais o avanço para o 2º classificado). Agora esperemos que esta competitividade… Ler mais »

Billy Bob
Billy Bob
2 anos atrás

Esperava muito mais animação mas… Nem o Duelo Lappi Tanak existiu…Também não aconteceu Breen vs Sordo. Enfim, os Ralis são como são, e este foi… como foi. Parabens á Hyundai, dois no Pódio. Nota bem positiva para o Pierre-Louis Loubet, (tira pontos ao Rovanperä) bom Rali, mas sem esquecer claro, Breen, e por fim, a Power Stage. Neuville voou!!! Mas Rovanperä tentou. Um Hyundai voador Neuville, seguido de quatro GR Yaris!!! admirei-me que Tanak (e outros) não atacassem minimamente os pontos da P.S. mas reflete também a importancia desta boa vitoria para a Hyundai, depois de seis Ralis sem ganhar,… Ler mais »

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