WRC: Os Rally1 foram um erro? Os Rally2 são a solução? Falemos de custo/retorno…
Gerard Quinn, foi durante muito tempo responsável máximo pela Ford Performance na Europa, entre 2009 e 2020, trabalhou na Ford Motor Company, 32 anos, e em resposta a um artigo do Dirtfish, em que Andrea Adamo, ex-Chefe de Equipa da Hyundai Motorsport defende que os atuais Rally1 do WRC foram um erro, e que tudo começou com a escalada de preços do WRC a partir de 2017.
Disse o que muita gente pensa, mas que nunca até aqui acolheu grandes ‘simpatias’ na FIA e no Promotor do WRC: “O retorno não era o que as equipas de marketing e finanças dos fabricantes pretendiam, pelo que estes levaram os seus orçamentos para outros locais, para obterem um melhor retorno.
Os ralis já não são uma forma significativa de mostrar aos consumidores produtos interessantes, para além do pequeno grupo de adeptos dos ralis que já são leais a uma qualquer marca. Com efeito, os adeptos falam entre eles em vez dos fabricantes entregarem mensagens relevantes aos consumidores. A proposta dos RC2 (Rally2) com tecnologia de terceiros foi rejeitada.
O único modelo de negócio de ralis sustentável, comprovado, é o sucesso dos programas RC2/WRC2.
Basta pensar que essa é a cola que tem mantido a relação Ford/M-Sport junta desde 2012, e tem ajudado a manter o compromisso com o WRC por ambas as partes, até hoje, e mantido a M-Sport rentável, já a Ford, talvez não.
Basta pensar que se não houvesse a categoria RC2, o WRC hoje teria menos uma equipa a competir na categoria RC1.
Os ralis são um negócio, em primeiro lugar, e os maiores erros são as decisões tomadas com o coração e não com a mente.
A FIA acredita insensatamente que os fabricantes ainda tomam decisões baseadas no sentimento, que não tem sido o caso há décadas. Felizmente, a categoria RC2 entregou exatamente aquilo que foi concebida para fazer, ralis sustentáveis para todos, o que se prova em tantos campeonatos nacionais de sucesso que há por todo o mundo, onde tantas competições têm 20 RC2 como participantes mais destacados. Estes são os carros e concorrentes que sustentam o desporto e o negócio dos ralis.
Quantos preparados beneficiaram com os RC1, por exemplo? E eu poderia continuar, mas os dados estão lançados…”, escreveu Quinn.
Como se percebe, Gerard Quinn tocou na ferida.
É absolutamente indesmentível que os atuais Rally1, como foram, e especialmente estes, absolutamente fantásticos os WRC 2017-21, de que vale uma dúzia de carros, se tanto, a dar espetáculo, se a competição continua a apontar muito mais para o declínio do que para o crescimento?
A FIA e o Promotor dizem que continuam a conversar com fabricantes para vir para o WRC. Há anos que a conversa é a mesma…
Recuando uma década, tínhamos três equipas. As coisas estavam mal, mas melhoraram nos anos seguintes com a vinda da Volkswagen MotorSport em 2013 e Hyundai MotorSport em 2014. A Citroën saiu em 2016, mas regressou no ano seguinte com os novos WRC’17. Entrou a Toyota também, mas a Volkswagen foi-se embora.
Em 2017, 2018, 2019, Toyota, Hyundai, Ford e Citroën, que já não voltou em 2020, saindo do WRC, por causa dos custos, leia-sa também falta de retorno. Desde que a Toyota veio para o WRC em 2017, mais nenhum construtor a seguiu. Mas para a categoria principal, pois os R5/Rally2 foram tendo bom crescimento. E continuam…
Neste momento, há muito mais preocupação que alguma, ou algumas equipas saiam dos Rally1, do que o contrário…
A razão está identificada mas nunca se ouve a FIA, muito menos o Promotor a falar nos custos excessivos do WRC.
É verdade, os carros eram fantásticos e continuam fantásticos, mas a que custo?
A 11 de janeiro de 2020 escrevemos aqui, no Autosport o que disse Yves Matton, na altura, ‘Chefe dos Ralis’ na FIA: “Nos próximos cinco anos, passo a passo estamos a construir ferramentas para ter 20 carros de fábrica no arranque dos ralis” acrescentando mais à frente: “Temos que manter os custos baixos de modo a que permitam um bom retorno do investimento para as marcas. E não me parece que hoje em dia essa relação custo/retorno permita que possamos ir mais longe quanto à tecnologia”, disse Matton, avisando, tenham lá cuidado com os custos, não abusem na tecnologia, pois é isso que encarece os custos…
A equação é muito simples, mas pelos vistos na FIA e no Promotor há demasiada gente que não percebe nada de matemática: Custos são demasiado altos para o retorno que dá o WRC. Se não se tem conseguido melhorar o retorno, há que baixar os custos.
E ao que parece, cada vez mais, estes últimos anos, tem-se andado a marcar passo.
Voltando ao que disse Yves Matton no início de 2020: “Todas as grandes competições têm limites, é claro que um engenheiro aeroespacial trabalha sem limites, eu consigo entender isso, mas em termos técnicos estes carros são muito mais evoluídos que os WRC de 2004, 2005 e 2006, e se as pessoas que estão agora a falar em dar um passo atrás, eu se calhar aconselho-os a falarem com os seus Chefes de Equipa para estes lhes explicarem o que são constrangimentos de orçamento.
Temos que manter os custos baixos de modo a que permitam um bom retorno do investimento para as marcas. E não me parece que hoje em dia essa relação custo/retorno permita que possamos ir mais longe quanto à tecnologia”, disse Matton.
Na altura, Matton achava possível chegar a um custo que rondaria o meio milhão de euros: “De acordo com os cálculos que fizemos, e a informação que recebemos dos construtores, ainda conseguiremos chegar a um objetivo de 500.000€ por carro”, disse Matton. Caso o conseguissem isso equivaleria a uma redução de 40% face aos WRC’17-21.
Não foi isso que aconteceu. Os carros custam, mais ‘coisa’, menos ‘coisa’, 1 milhão de euros. Quatro vezes mais que os Rally2.
Andrea Adamo é incisivo no que diz: “Estes carros do Rally1 nunca deveriam ter acontecido”, disse ao DirtFish.
“Uma espécie de Rally2 com um pouco mais de potência e mais de aerodinâmica é que era. Temos carros muito caros e nenhum fabricante [novo] virá. Lamento, mas esta é a verdade”, disse Andrea Adamo.
Será que o WRC tem que voltar a fazer uma revolução tão bem sucedida como foi a dos Grupos B para o Grupo A, que abriu caminho a algo ainda muito melhor, os WRC, em 1997?
Se quisermos resumir muito tudo isto a questão é muito simples: Os ‘Rally2 Plus’ serão a solução? Olhando pela perspetiva dos custos, sem a menor das dúvidas.
Mas nunca esquecendo que o que for feito nunca poderá permitir que o nível de espetáculo nos ralis caia demasiado.
Se o conseguirem salvam o WRC, porque controlar o nível de custos é tão importante como controlar o nível de espetáculo.
Se encontrarem o equilíbrio, tudo bem.
E não se esqueçam doutra coisa muita importante: os custos só são ‘tema’ se o retorno for pobre.
E este é atualmente o problema do WRC. Vejam o que disse Gerard Quinn. Não há retorno que chegue, as marcas vão embora e nenhuma outra quer entrar.
Veja-se o WEC. Os custos do WEC ficam acima do WRC. São bem maiores. Mas o WEC, depois de ter estado em crise, está a reerguer-se: Cadillac, Ferrari, Glickenhaus, Peugeot, Porsche e Toyota são as marcas do Mundial de Endurance que se avizinha.
Sabem onde está o segredo? O retorno das 24 Horas de Le Mans. Fala-se de custos no Dakar? Não. Porquê? O retorno do Dakar chega e sobra. A FIA até tem campeonatos agregados a reboque de Le Mans e do Dakar. Alguém sabe quem ganhou as provas do WEC e do W2RC aparte de Le Mans e do Dakar?
Estes Rally1 têm de ficar até 2024. Esperamos que as ‘cabeças pensadoras’ trabalhem bem e façam em dois anos o que não conseguem fazer há muito tempo nos ralis: o retorno ser aceitável o suficiente para os construtores.
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Muito bem, sem duvida que algo de extraordinário precisa ser feito, tendo em consideração que o WRC, tem vindo a perder carisma junto dos adeptos, até para se entrar dentro de um parque de assistência se tornou complicado, antigamente para o comum dos mortais o nome dos pilotos de topo era conhecido, hoje em dia, muitos dos comuns mortais não sabe quem oi o campeão em 2022.
Na minha opinião a criação dos Rally 1 com motores baseados nos anteriores WRC em vez de se optar pela motorização dos Rally 2 (mais puxados) foi um grande erro. Claro que é muito mais interessante ver os Rally 1 do que os Rally 2, mas por um lado os Rally 2 mais rápidos são bastante interessantes, com mais potência disponível ainda mais interessantes seriam, por outro lado com base nos motores dos Rally 2,além dos custos muito inferiores, seria muito mais fácil um fabricante dar o salto da 2ª divisão para a 1ª, dado que já haveria trabalho de… Ler mais »