WRC: O percurso de Sébastien Ogier rumo à conquista do 4º título mundial
Foi festejado a duas provas do fim do campeonato, é certo. Mas esteve longe de ser o mais fácil, sobretudo a nível psicológico. Sébastien Ogier é o novo campeão do mundo de ralis, com o “novo” a situar-se como algo entre uma hipérbole e um pleonasmo, pois há quatro anos que o título permanece nas mesmas mãos. O feito significa ainda que o francês pertence hoje a uma lista de eleitos, já que apenas quatro pilotos se sagraram tetracampeões na história do campeonato: Juha Kankkunen, Tommi Makkinen, Sébastien Loeb… e o próprio, a partir deste momento.
Após um início prometedor nos ralis de Monte-Carlo e da Suécia, a entrada na fase de terra, com seis provas consecutivas a terem lugar exclusivamente neste piso, desgastaram como nunca o piloto da Volkswagen. A ordem de partida possibilitou um rol de vencedores distintos inédito na história do campeonato, com Jari-Matti Latvala a vencer no México, Hayden Paddon na Argentina, Kris Meeke em Portugal, Thierry Neuville na Sardenha, Andreas Mikkelsen na Polónia e Kris Meeke novamente na Finlândia, até ao regresso ao asfalto e aos triunfos de Ogier, no Rali da Alemanha.
A ‘seca’ vivida nestes seis meses foi a maior da sua carreira desde que venceu pela primeira vez no campeonato do mundo, em Portugal e contra Sébastien Loeb, corria o ano de 2010. E o número 1 da Volkswagen não gostou de ter passado por essa fase, até porque habituou-se a dominar todas as provas desde que o construtor alemão entrou em cena, em 2013, e Loeb anunciou a retirada. Mas o que o deixava totalmente desconfortável, incomodado, possesso, era a questão da abertura da estrada. De as regras definirem que o líder da classificação teria que abrir a estrada em dois dos três dias de competição, passando a refletir-se o alinhamento da prova a partir de domingo.
Nos ralis de terra, o piso que domina a competição, essa seria sempre uma grande desvantagem que não queria mais combater, depois de ter feito o mesmo em 2015. Este ano, contudo, tornou-se mais difícil vencer ralis ainda assim, já que os adversários não ficaram a dormir e também melhoraram o seu jogo.
Numa entrevista exclusiva ao AutoSport, Sébastien Ogier revelou o que lhe ia na alma sobre esta matéria:
“A regra não é correta! Penso que as pessoas já perceberam que não quero falar demais nessa questão, até porque vai haver um reunião sobre isso, onde se irá encontrar, espero, uma solução melhor. É uma questão difícil, há muitas soluções possíveis, e para mim a única coisa que quero é justiça. Haver uma regra o mais justa possível. Todos nós sabemos que nos ralis é completamente impossível haver condições 100% semelhantes para todos, muda à passagem de cada carro, mas há muitas possibilidades que podem evitar que em 80% de um rali seja o mesmo piloto a abrir a estrada e a ter a desvantagem. Julgo que seria um grande ganho para o Campeonato se ultrapassássemos este assunto. Este assunto está na cabeça das pessoas em todos os momentos, é impossível evitá-lo. Tem uma influência enorme na performance e no resultado de toda a gente. Não há como fugir da questão quando sou questionado sobre a forma como me está a correr um rali. Toda a gente sabe que tentei sempre andar o mais depressa possível, e provei-o sempre que tive essa possibilidade nas PowerStage. Portanto, só quero algo que seja aceitável, o mais justo possível. É só isso! O desporto será de certeza melhor. Com mais construtores a chegar, penso que mais jovens pilotos podem dar o salto e poder lutar com os melhores do WRC. Hoje já existem muitos pilotos com condições de vencer ralis no WRC, o que nem sempre sucedeu na história da modalidade. Por favor, só desejo poder lutar com condições similares. Se as regras mudarem, os ralis serão mais excitantes, em vez de ter apenas dois pilotos a lutar pela liderança só porque partir da 10ª ou 15ª posição na estrada. Talvez assim tenhamos, digamos, quatro pilotos a lutar pela liderança em cada rali…”
O MELHOR DE UMA GERAÇÃO
Mesmo sem ganhar tantos provas como no passado, Ogier minimizou sempre as perdas, terminando em segundo (México, Argentina) e terceiro (Portugal, Sardenha) nos quatro ralis que se seguiram após o seu triunfo na Suécia. Na Polónia foi 6º, a primeira vez que se revelou impotente perante as dificuldades da ordem de partida, e na Finlândia, 24º, após ter cometido um erro pouco comum que o deixou preso numa vala.
O Rali da Alemanha serviu por isso para voltar a demonstrar a sua autoridade. E o mesmo sucedeu com a prova que se seguiu, o Rali de França, na Córsega. Na Catalunha precisava de apenas 16 pontos para levar o título para casa. Mas a saída de Andreas Mikkelsen da competição, após espetacular despiste, tornou essas contas ainda mais fáceis: ficava a faltar um ponto. Terminando em 10º. Ficando em terceiro na Power Stage. Ou simplesmente esperando que Thierry Neuville não vencesse a prova.
O quarto título era assim uma formalidade. E novamente porque os rivais não o conseguiram acompanhar, pelo menos no que à consistência diz respeito. E também porque nas duas provas que Kris Meeke venceu, o britânico impediu que outros pilotos conquistassem pontos importantes para o campeonato.
Em quase todas as provas deste campeonato do mundo, Ogier foi ganhando terreno ao segundo classificado, fosse ele Mikkelsen, Paddon ou Neuville, terminando os ralis à frente do piloto que naquele momento ocupava essa posição na tabela classificativa e amealhando ao mesmo tempo a pontuação máxima na Power Stage (fê-lo em Monte-Carlo e na Súecia, que venceu, no México, onde terminou em 2º, em Portugal e Itália, que concluiu no lugar mais baixo do pódio, e na Polónia, onde foi apenas 6º). Exceptuando a ida à Finlândia, o francês somou, na verdade, pontos extra em todos os ralis, com os pontos nos eventos referidos a juntarem-se ao ponto obtido na Argentina, Alemanha e Córsega por ser o terceiro mais rápido da Power Stage.
Sébastien Ogier poderá não ser o melhor piloto de todos os tempos – uma avaliação que é sempre difícil e perigosa. Nas estatísticas globais, ainda tem um senhor chamado Sébastien Loeb à sua frente. Mas é com certeza o melhor da sua geração (venceu 37 das 108 presenças no WRC), como a Volkswagen é provavelmente a marca mais profissional e dedicada que alguma vez passou pelo campeonato.
Desde 2012, o Volkswagen Polo R WRC venceu 41 dos 50 ralis em que participou, já a contar com a Catalunha. Domínio semelhante só o da Citroën e Lancia. Mas o que é ainda mais impressionante é que 30 dessas vitórias são de Ogier, com Latvala a ficar com os louros de nove e Mikkelsen a celebrar duas.
André Bettencourt Rodrigues
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“Mas é com certeza o melhor da sua geração..” Esta André não sei quantas tem de perceber que no jornalismo tem de haver alguma isenção. Como é que se pode comparar números se Ogier foi sujeito a regulamentos diferentes de Loeb, onde a FIA até “lhe ofereceu” a Qualifying Stage para se manter em 2012? Depois, Ogier pode não ter sido da geração de Loeb, mas bateu TODOS adversários de Loeb desde 2006 e mais alguns, pois ao contrário dos últimos 4ou 5 títulos de Loeb, Ogier foi campeão com numero superior de equipas e onde as diferenças de carros… Ler mais »